Das Pessoas (arts. 1º a 78) Flashcards
O que é pessoa para o Direito Civil?
Pessoa é todo aquele que titulariza direitos. Não se confunde, portanto, com “ser humano”, pois pessoa para o Direito Civil pode ser natural (ou física), ou então, jurídica (ou coletiva).
Quais são os absolutamente incapazes elencados pelo CC?
Somente os menores de 16 anos, após as modificações introduzidas pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n° 13.146/2015).
Qual a teoria adotada pelo Brasil quanto à aquisição de personalidade civil?
Código Civil:
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Teoria natalista:
Art. 2° A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
Doutrina e jurisprudência contemporâneas
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Teoria concepcionista
- reconhece que o nascituro tem direitos da personalidade
O que é a teoria da personalidade condicional?
Além das teorias natalista e concepcionista, há a teoria da personalidade condicional.
Tal teoria, defendida por Serpa Lopes, prega que o nascituro seria dotado de personalidade apenas para direitos existenciais (como o direito à vida). Se, todavia, fosse para direito negocial ou econômico o seu exercício dependeria do nascimento com vida, ou seja, ficaria condicionado.
Dê exemplos jurisuprudenciais de aplicação da teoria concepcionista.
- direito à reparação por dano moral em favor do nascituro (STJ)
- possibilidade de alimentos gravídicos
- Admite-se que pais possam ser indenizados (seguro obrigatório DPVAT) quando há morte do nascituro envolvendo veículo automotor
O CC prevê que a capacidade dos índios é regida pela legislação específica (art. 4°, p.u.).
O que tal legislação específica prevê a respeito dos atos praticados por índios?
A Lei nº 6.001/73 que trabalha o Estatuto do Índio estabelece, no art. 8º, que:
- O índio não inserido na sociedade, caso pratique algum ato, esse ato será nulo.
- Por outro lado, caso o índio esteja inserido na sociedade (integrado), os atos serão válidos.
O ordenamento jurídico pátrio admite a utilização de células-tronco embrionárias para fins de pesquisa e terapia?
SIM, desde que sejam embriões inviáveis, assim entendidos aqueles congelados há 3 anos ou mais, na data da publicação da Lei da Biossegurança (11.105/2005), ou que, já congelados na data da publicação da referida lei, completarem 3 anos contados a partir do congelamento.
Ademais, é indispensável o consentimento dos genitores.
Ou seja, vê-se que a utilização de células-tronco embrionárias é excepcional, pois a regra é a não utilização (reforçando a teoria concepcionista).
Quais as formas admitidas na legislação civil brasileira para declarar o fim da existência da pessoa natural?
- morte natural ou física
- morte presumida com declaração de ausência
- morte presumida sem declaração de ausência
Quais atos serão registrados em registro público, conforme art. 9º do CC?
- os nascimentos, casamentos e óbitos;
- a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz;
- a interdição por incapacidade absoluta ou relativa;
- a sentença declaratória de ausência e de morte presumida.
Quais atos serão averbados em registro público, conforme art. 10 do CC?
- sentenças que decretarem a nulidade ou anulação do casamento, o divórcio, a separação judicial e o restabelecimento da sociedade conjugal;
- atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a filiação;
Em quais hipótese cessará, para os menores, a incapacidade?
Art. 5º, pu, CC: EM TODAS AS HIPÓTESES O MENOR DEVERÁ TER 16 (DEZESSEIS) ANOS OU MAIS
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EMANCIPAÇÃO VOLUNTÁRIA:
- pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial
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EMANCIPAÇÃO JUDICIAL:
- por sentença do juiz, quando concedida a pedido do tutor
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EMANCIPAÇÃO LEGAL:
- pelo casamento;
- pelo exercício de emprego público efetivo (dispositivo inócuo atualmente);
- pela colação de grau em curso de ensino superior;
- pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.
É possível que a emancipação seja desconstituída por vício de vontade?
Sim.
Enunciado nº 397 da CJF: A emancipação por concessão dos pais ou por sentença do juiz está sujeita à desconstituição por vício de vontade.
O que é comoriência?
É o instituto civil previsto no art. 8º do CC segundo o qual serão presumidos simultaneamente mortos os indivíduos que falecerem na mesma ocasião, sendo impossível averiguar se a morte de um precedeu ao outro.
De que forma são tratados os atos da vida civil praticados por absolutamente incapaz sem representação legal?
São nulos de pleno direito.
O incapaz, por sua condição, responde civilmente pelos atos praticados em prejuízo de outrem?
Segundo o STJ, o incapaz pode vir a responder pelos atos praticados em prejuízo de outrem, sendo essa responsabilidade SUBSIDIÁRIA, CONDICIONAL e MITIGADA, ante o teor do art. 928, CC:
O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes
O que é capacidade de direito e capacidade de fato?
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Capacidade de direito
- toda pessoa possui
- consiste no gozo de direitos e deveres na ordem civil
- é pressuposto da capacidade de fato
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Capacidade de fato
- consiste no exercício dos direitos na ordem civil
- os absolutamente e relativamente incapazes não detêm plena capacidade de fato.
Diferencie capacidade e legitimação. Exemplifique.
A legitimação nada mais é que a capacidade especial para um determinado ato ou negócio jurídico.
Exemplo: necessidade de outorga conjugal para vender o imóvel, sob pena de anulabilidade do contrato.
Esta legitimação é conferida ao cônjuge. Veja, o cônjuge varão é plenamente capaz, no entanto, não pode vender o bem imóvel sem a outorga do outro, sob pena de faltar legitimação para o ato.
Analise a interdição do pródigo na visão do CC/2002 em cotejo com o CC/16 (prova oral do TJSP).
O pródigo é a pessoa que dissipa seus bens desvairadamente.
Pois bem. Pelo CC atual, de cunho constitucionalizado e pautado na dignidade da pessoa humana, a interdição do pródigo se justifica na proteção do mínimo vital para a sua sobrevivência (princípio da socialidade).
Já no CC de 1916, a finalidade era estritamente patrimonialista, sem maiores preocupações com a pessoa do pródigo. Ou seja, sua função era preservar o patrimônio para os herdeiros.
Na disposição gratuita do próprio corpo para depois da morte, com objetivo altruístico, a vontade contrária dos familiares invalida a manifestação expressa, em vida, do doador?
Não. A despeito da previsão do art. 4º da Lei 9.434/97, a doutrina (Enunciado 277 das JDC) entende que sua aplicação se limita à hipótese de silêncio do potencial doador, não podendo prevalecer em caso de manifestação expressa de sua vontade em vida.
Art. 4o, Lei 9.434/97: A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica, dependerá da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusive, firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte.
Enunciado 277: O art. 14 do Código Civil, ao afirmar a validade da disposição gratuita do próprio corpo, com objetivo científico ou altruístico, para depois da morte, determinou que a manifestação expressa do doador de órgãos em vida prevalece sobre a vontade dos familiares, portanto, a aplicação do art. 4º da Lei n. 9.434/97 ficou restrita à hipótese de silêncio do potencial doador.
Como se decidirá sobre a doação de órgãos do morto caso este não tenha manifestado expressamente, em vida, sua vontade a este respeito?
Quando a pessoa não manifesta, de forma expressa, que é doador de órgãos, a lei permite que essa decisão seja tomada por parentes.
O art. 4º da Lei nº 9.434/97 estabelece que a retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica, dependerá da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau, inclusive, firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte.
É solidária a obrigação alimentar devida ao idoso, podendo este optar pelo prestador?
Sim, conforme art. 12 da Lei 10.741/2003 (Estatuto do Idoso).
De acordo com o Código Civil, em quais hipóteses será possível a declaração da morte presumida sem declaração de ausência?
Art. 7º do CC.
- Se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
- Se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra.
Em ambos os casos, a declaração da morte presumida somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.
Existe alguma outra hipótese de morte presumida fora do Código Civil?
Sim. A Lei n. 9.140/95 reconhece a morte presumida das pessoas que tenham participado, ou tenham sido acusadas de participação, em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 5 de outubro de 1988, e que, por este motivo, tenham sido detidas por agentes públicos, achando-se, desde então, desaparecidas, sem que delas haja notícias.
Lei n. 9.140/95.
Art. 1o São reconhecidos como mortas, para todos os efeitos legais, as pessoas que tenham participado, ou tenham sido acusadas de participação, em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 5 de outubro de 1988, e que, por este motivo, tenham sido detidas por agentes públicos, achando-se, deste então, desaparecidas, sem que delas haja notícias (Redação dada pela Lei nº 10.536, de 2002)
Para fins jurídicos, de que forma se constata que o recém-nascido de fato viveu, segundo a teoria natalista?
Mediante o exame denominado docimasia hidrostática de Galeno, que consiste na submersão dos pulmões em água. O que teve contato com o ar submergirá enquanto o que nunca foi inflado afundará.
Desse modo, se o recém-nascido respirou, nasceu com vida.
A indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos e comerciais depende de prova do prejuízo? Há exceção?
Não depende de prova do prejuízo, em regra.
Súmula 403 STJ - Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais.
Todavia, entende o próprio STJ que a referida Súmula é inaplicável às hipóteses de divulgação de imagem vinculada a fato histórico de repercussão social.
A quem e em qual prazo deverá ser comunicada a internação psiquiátrica involuntária?
Ao MP estadual, no prazo de 72h, devendo esse mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva alta.
Conforme o art. 8º, § 1º, da Lei n° 10.216/2001.
O exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária?
Em regra não, conforme art. 11 do CC:
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
Nessa toada, por não se tratar de característica absoluta, a doutrina entende que há possibilidade de limitação voluntária do exercício dos direitos da personalidade, desde que não seja permanente nem geral (enunciado 4 das Jornadas de Direito Civil).
No mesmo sentido, o Enunciado 139 do CJF/STJ aduz:
Os direitos da personalidade podem sofrer limitações, ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo ser exercidos com abuso de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e aos bons costumes.
Em se tratando de morto, quem terá legitimidade para exigir que cesse a ameaça ou a lesão a direito da personalidade, bem como para reclamar perdas e danos?
Art. 12, pu, CC:
Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
É possível dizer que o instituto da morte civil, oriunda do direito romano, não existe no ordenamento jurídico brasileiro?
Não. Há resquícios da morte civil, tal como o tratamento do indigno como se fosse morto para efeitos sucessórios.
Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão.
Quais os requisitos para a averbação do patronímico do companheiro pela companheira na união estável?
- prova documental da relação por instrumento público
- anuência do companheiro
O inadimplemento contratual pode constituir argumento justificador de incidência de danos morais?
Em regra não. Todavia, quando o inadimplemento causar um sofrimento excepcional em algum dos contratantes, será possível a indenização por danos morais, conforme entendimento jurisprudencial.
É defeso o ato de disposição do próprio corpo em vida?
Sim, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.
Exceções:
- exigência médica
- fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial
Em que caso o juiz não nomeará curador ao declarar ausência de um desaparecido?
Quando este tiver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens (desde que o mandatário queira ou possa exercer o mandato).
Como se dá a escolha dos curadores na ausência?
O juiz escolherá, na ordem:
- O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de fato por mais de 2 anos antes da declaração da ausência.
- Em falta do cônjuge:
- os pais
- os descendentes
- entre estes, os mais próximos precedem os mais remotos
- Na falta de qualquer um daqueles acima mencionados, o juiz escolherá o curador.
Quais os prazos após a arrecadação dos bens do ausente para que os interessados requeiram a declaração da ausência e a abertura provisória da sucessão? O que acontecerá caso não haja interessados no prazo?
- 1 ano; ou
- 3 anos, se ele deixou representante ou procurador
Passado o prazo sem interessados, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao juízo competente.
Quem o CC considera como interessado a requerer a declaração de ausência e a consequente abertura provisória da sucessão?
- o cônjuge não separado judicialmente;
- os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;
- os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte;
- os credores de obrigações vencidas e não pagas.
A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória produzirá efeitos imediatamente?
Não. Somente 180 dias depois de publicada.
Na sucessão provisória, em que momento proceder-se-á à abertura do testamento, se houver, e ao inventário e partilha dos bens?
Logo que passe em julgado a sentença que determinou a abertura da sucessão provisória.
Para se imitirem na posse dos bens do ausente, os herdeiros deverão dar garantias da restituição deles?
Sim, salvo os ascendentes, os descendentes e cônjuge herdeiros, os quais poderão entrar na posse dos bens do ausente independentemente de garantia.