Da Responsabilidade Civil (arts. 927 a 954) Flashcards
Quais os pressupostos da responsabilidade civil subjetiva e objetiva?
Dos arts. 159 do CC/16 e 186 do CC/02, extraem-se os
pressupostos clássicos da responsabilidade civil subjetiva, quais sejam:
- ação ou omissão voluntária;
- culpa;
- nexo de causalidade e;
- dano.
Cuidando-se de hipótese de responsabilidade objetiva, todavia, dispensa-se a comprovação da culpa, não sendo necessário perquirir acerca de eventual erro de conduta por parte do ofensor. A obrigação de reparar o dano exsurge do próprio fato causador da lesão a um bem jurídico, tendo por fundamento precípuo o exercício de uma atividade de risco.
A responsabilidade civil objetiva pode exsurgir mesmo que não haja um nexo de causalidade (físico, natural) com o dano?
Em que hipótese o incapaz responde pela reparação civil?
O incapaz responde subsidiariamente, isto é, apenas quando os responsáveis não tiverem obrigação (por não estar o incapaz sob autoridade ou cuidado deles) ou não puderem responder por falta de meios suficientes para pagar os prejuízos.
Em regra, quem responde pela reparação civil dos prejuízos causados pelos incapazes? Tal responsabilidade é objetiva?
- os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;
- o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;
Tal responsabilidade é objetiva, ou seja, prescinde da demonstração de culpa dos responsáveis.
O roubo de carga mediante grave ameaça e emprego de arma de fogo constitui força maior e exclui a responsabilidade da transportadora?
Sim, desde que adotadas todas as cautelas necessárias para o transporte da carga, quais sejam:
- contratação de seguro de carga
- contratação de serviço de monitoramento e rastreamento de veículo
A partir de que momento será possível haver responsabilidade por dano moral decorrente de abandono afetivo de filho? O prazo prescricional da pretensão reparatória começa a fluir a partir de que momento?
Somente há que se falar em responsabilidade a partir do reconhecimento da paternidade.
Já o prazo prescricional da pretensão reparatória de abandono afetivo começa a fluir a partir da maioridade do autor.
A usurpação indevida do tempo útil caracteriza dano moral indenizável?
Sim.
“O descumprimento de normas municipais e federais que estabelecem parâmetros para a adequada prestação do serviço de atendimento presencial em agências bancárias, gerando a perda do tempo útil do consumidor, é capaz de configurar dano moral de natureza coletiva”. (REsp 1737412/SE, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/02/2019, DJe 08/02/2019)
O dano moral é presumido (re in ipsa) na violência praticada no âmbito doméstico ou familiar?
Sim, de acordo com a compreensão do STJ.
De que forma a indenização é medida, segundo o CC?
Pela extensão do dano. No entanto, se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização
Qual o prazo prescricional para a pretensão de restituição de valores pagos a título de comissão de corretagem ou de serviço de assistência técnico imobiliário?
3 anos, com fundamento no art. 206, §3o, IV, do CC, que trata do prazo trienal de prescrição para causas que envolvam ressarcimento de enriquecimento sem causa.
Em que hipótese aquele que ressarcir o dano causado por outrem não pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou?
Quando o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz.
A teoria da perda de uma chance é aplicável à prestação de serviços advocatícios?
Sim. O STJ reconhece a aplicação da teoria da perda de uma chance nos contratos de prestação de serviços advocatícios, avaliando a responsabilidade do advogado por conduta negligente a partir das reais chances de êxito na ação.
A conduta de agressão verbal de um adulto contra um adolescente configura elemento caracterizador da espécie do dano moral in re ipsa?
Sim. Segundo o STJ, a conduta da agressão, verbal ou física, de um adulto contra uma criança ou adolescente, configura elemento caracterizador da espécie do dano moral in re ipsa.
Como se define o quantum da indenização quando aplicada a teoria da perda de uma chance?
O quantum da indenização, segundo o STJ, é uma proporção do valor do dano final experimentado pela vítima, pois é a chance que é perdida, e não a própria pretensão.
Além daquele que pessoalmente tenha cometido o ato ilícito, o código civil brasileiro estabelece algumas outras hipóteses em que terceiros podem ser corresponsabilizados. Quais são elas?
Os casos de responsabilidade por fato de outrem (ou de terceiro) são arrolados pelo art. 932 do CC:
- de pais, tutores ou curadores pelo ato do filho, tutelado ou curatelado, que estiverem sob sua autoridade e companhia;
- de empregadores ou comitentes por atos de seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho ou em razão dele;
- de donos de hotéis e congêneres em que se hospede por dinheiro (hospedarias, casas, estabelecimento), mesmo para fins de educação, por seus hóspedes, moradores e educandos;
- do que gratuitamente receberam o produto do crime, mesmo que não tenha feito parte do delito, até a correspondente quantia.
Se houver concorrência de culpas e danos a ambas as partes, como se fixará a indenização?
A indenização deve se dar de forma proporcional à gravidade da culpa de cada um dos envolvidos ou, conforme parcela da doutrina, sobre a eficácia causal de cada conduta.
“Art. 945, CC. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo‐se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano”
Segundo a atual orientação do STJ, a reparação pela lesão extrapatrimonial deve seguir qual método na aferição do valor da indenização? Explique-o.
Método bifásico.
Na primeira fase, é fixado um valor básico de indenização de acordo com o interesse jurídico lesado e em conformidade com a jurisprudência consolidada daquele tribunal.
Na segunda fase, há a fixação definitiva da indenização de acordo com as circunstâncias particulares do caso concreto (gravidade do fato em si, culpabilidade do agente, culpa concorrente da vítima, condição econômica das partes, entre outros fatores).
A responsabilidade pelo fato do animal é objetiva ou subjetiva?
Objetiva, podendo ser afastada sim quando não houver nexo de causalidade.
A possibilidade legal de redução equitativa da indenização pelo juiz é também aplicável às hipóteses de responsabilidade objetiva?
Não.
A responsabilidade objetiva é reservada pelo ordenamento brasileiro às atividades que geram, por si só, risco social excessivo. Desse modo, seria contraditório permitir que, naquelas hipóteses em que o legislador considerou que a atividade gerava risco excessivo e por isto dispensou a prova da culpa do agente, o juiz levasse em conta a baixa intensidade da culpa para reduzir a indenização, relançando parte do risco sobre a vítima do dano.
O que é a teoria da causalidade alternativa?
Pela adoção da teoria da causalidade alternativa, todos os membros de um grupo podem ser responsabilizados, quando não seja possível determinar, dentre eles, quem deu causa à lesão.
Ex: responsabilidade decorrente de danos causados por objetos caídos ou lançados de um prédio.
Código Civil. Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido.
O que é responsabilidade sem dano?
A responsabilidade sem dano se enquadra nos casos de ausência de dano concreto e atual, mas presente a alta potencialidade provável de ocorrência do dano derivado dos riscos intoleráveis de determinada atividade (ex.:Lei n.° 7.347/85, art. 30) (Carvalho, 2008, p. 150-151). Alguns tribunais têm acolhido a responsabilização pelo dano ambiental futuro.
É possível a cumulação do benefício previdenciário de pensão por morte com pensão civil ex delicto?
Sim, pois possuem “fatos geradores” distintos.
O benefício previdenciário é diverso e independente da indenização por danos materiais ou morais, porquanto ambos têm origens distintas. Este, pelo direito comum; aquele, assegurado pela Previdência. A indenização por ato ilícito é autônoma em relação a qualquer benefício previdenciário que a vítima receba.
STJ. 4ª Turma. REsp 776338-SC, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 6/5/2014 (Info 542).
Como o STJ fixa a responsabilidade civil morte de filho menor?
Quanto aos danos morais: A indenização por danos morais em caso de morte de filho vem sendo normalmente fixada entre 300 e 500 salários mínimos. Vale ressaltar, no entanto, que este valor não é absoluto, podendo ser estipulado fora destes parâmetros de acordo com as peculiaridades do caso concreto.
Quanto aos danos materiais:
* é fixado um valor a título de danos emergentes - despesas com o tratamento, funeral e luto (art. 948, I, CC);
* e também uma pensão aos pais do falecido como lucros cessantes, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima (art. 948, II, CC);
Quanto a referida pensão, o STJ normalmente usa os seguintes critérios:
* no período em que o filho falecido teria entre 14 a 25 anos: os pais devem receber pensão em valor equivalente a 2/3 do salário mínimo;
* no período em que o filho falecido teria acima de 25 anos até 65 anos ou até o óbito dos benefíciarios - o que ocorrer primeiro: os pais devem receber pensão em valor equivalente a 1/3 do salário mínimo.
OBS: quanto à pensão, há também o dever de pagamento de uma pensão extra a título de décimo terceiro salário (REsp 1.279.173-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/4/2013).
OBS 2: tratando-se de família de baixa renda, há presunção de que o filho contribuiria para o sustento dos seus pais, o que deve ser passível de indenização. Então, nesses casos, a pensão será devida mesmo que a vítima não trabalhasse (AgRg no REsp 1228184/RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 28/08/2012, DJe 05/09/2012).
O que é culpa in vigilando?
É aquela que decorre da ausência de fiscalização.
O que é culpa in eligendo?
É aquela que decorre da má escolha do representante.
O que é culpa in omittendo?
É aquela que decorre de uma omissão, quando havia o dever de não se abster.
Nas indenizações por dano moral, a correção monetária incide desde que momento?
Desde a data do arbitramento (S. 362, STJ).
Nas indenizações por danos materiais, a correção monetária incide desde que momento?
Incide a partir da data do efetivo prejuízo.
Súmula 43 do STJ: Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo.
A decisão que reconhece a aquisição da propriedade de bem imóvel por usucapião descontitui hipoteca judicial que tenha gravado anteriormente o referido bem?
Sim. Com a declaração de aquisição de domínio por usucapião, deve desaparecer o gravame real constituído sobre o imóvel, antes ou depois do início da posse ad usucapionem, seja porque a sentença apenas declara a usucapião com efeitos ex tunc, seja porque a usucapião é forma originária de aquisição de propriedade, não decorrente da antiga e não guardando com ela relação de continuidade (nesse sentido, REsp 620.610-DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 3/9/2013).
Na hipótese de desconsideração da personalidade jurídica de sociedade limitada modesta, com apenas dois sócios detentores, cada um deles, de 50% do capital social, é possível responsabilizar pelas dívidas dessa sociedade o sócio que, de acordo com o contrato social, não exerça funções de gerência ou administração?
Sim. Segundo o STJ, a despeito da inexistência de qualquer restrição no art. 50 do CC/2002, a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica apenas deve incidir sobre os bens dos administradores ou sócios que efetivamente contribuíram para a prática do abuso ou fraude na utilização da pessoa jurídica.
Todavia, no caso de sociedade limitada modesta com dois sócios, cada qual com metade das quotas sociais, titularidade de quotas e a administração da sociedade se confundem, situação em que as deliberações sociais, na maior parte das vezes, ocorrem no dia a dia, sob a forma de decisões gerenciais. Nesse contexto, torna-se difícil apurar a responsabilidade por eventuais atos abusivos ou fraudulentos. Em hipóteses como essa, a previsão no contrato social de que as atividades de administração serão realizadas apenas por um dos sócios não é suficiente para afastar a responsabilidade dos demais. Seria necessária, para tanto, a comprovação de que um dos sócios estivera completamente distanciado da administração da sociedade
Qual o natureza da responsabilidade da imprensa pelas informações por ela veiculadas?
Subjetiva, não se cogitando a aplicação da teoria do risco ou a responsabilidade objetiva (REsp 1.297.567-RJ).
A empresa locadora de veículos responde civilmente pelos danos causados pelo locatário a terceiro, no uso do carro locado?
Sim, solidariamente (S. 492, STF).
O assalto à mão armada no interior de ônibus coletivo constitui caso fortuito apto a excluir a responsabilidade da empresa transportadora?
Sim. Segundo o STJ, trata-se de fato totalmente estranho ao serviço de transporte, configurando, portanto, força maior.
“Constitui causa excludente da responsabilidade da empresa transportadora o fato inteiramente estranho ao transporte em si, como é o assalto ocorrido no interior do coletivo. Precedentes.” (REsp 435865/RJ, 2º Seção, Rel. Min. Barros Monteiro, DJ 12.05.2003).
É possível a responsabilidade civil por dano incerto?
Não. A princípio, embora pareça aplicável aqui a teoria da perda de uma chance, convém ressaltar que esta se aplica quando o dano seja real, atual e certo, dentro de um juízo de probabilidade, e não mera possibilidade.