Aula 6 - Ética e Pesquisa Flashcards

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Q

1 O que é ética

A

[FIGURA 1]
A palavra “ética” vem de ethos, no grego, que significa costume ou hábito e pode ser
traduzido por mores, no latim, raiz da palavra “moral”. Mas, enquanto a ética se volta para
os princípios e valores gerais e mais filosóficos que se encontram por trás dos costumes e do
bom hábito, a moral diz mais respeito à ação prática, ao bem agir em situações pontuais.
Outra forma de distinção diz respeito ao uso da razão. A moral não tem a pretensão de ter
embasamento racional, ela é emotiva, cultural e baseada na tradição, é “encantada” muitas
vezes, no sentido weberiano do termo. Já a ética tem fundamento racional, é secularizada e
não pode ser influenciada pelo calor das emoções, nem pela religião e pela tradição.
Os valores do bem e da justiça são comuns e a ética nada mais é do que uma racionalização destes,
ou seja, uma análise desses valores comuns à luz da razão e da antropologia filosófica, que é o
saber e estudo acerca da humanidade.
Assim, a ética está ligada à própria estrutura do ser humano, seus princípios de
“funcionamento” e seus valores. Já a moral é mais pontual e específica, e está mais ligada
à maneira de agir, ao comportamento adequado a cada contexto social específico. A ética
vai mais fundo e se encontra na personalidade, no caráter da pessoa, e não apenas na sua
forma de agir em determinada situação particular. Trata-se de uma questão de estilo de ser,
de postura diante da vida.
Enquanto os valores morais são relativos, podendo haver pontos de vista diferentes,
como a moral do bandido, do corrupto, a ética lida com princípios universais, perenes, ou
seja, que se referem à eternidade, como os direitos humanos, por exemplo.
Só isso já teria aplicações fantásticas na pesquisa científica e explicaria o porquê
de tantas especificações de linguagem, normas, como as da Associação Brasileira de Normas
e Técnicas (ABNT), e normalizações como o Guia de Normalizações do Senac. Não se trata
apenas de legalismo, formalidades ou de um ritualismo imposto pelas autoridades científicas
para perturbar a vida do pobre acadêmico. Trata-se antes de normas e regras que respeitam
principalmente o direito do autor original da obra citada, que precisa ser respeitado. Já a
ética envolve uma racionalidade e um respeito a direitos. Por isso, pelo respeito aos direitos
humanos é que se criou a ética da pesquisa.

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2 Virtudes e vícios da escrita acadêmica: como trabalhar eticamente na pesquisa
científica

A

Vamos tomar o exemplo das
virtudes cardeais, como elas foram chamadas por Aristóteles (2001). Algo “cardeal” significa
que seja “angular”, um grande expoente orientador, como os “pontos cardeais”. Trata-se
daqueles valores universais que são as vigas-mestras e orientadoras básicas dos valores
humanos de todos os tempos, e que são válidos para toda a humanidade.
São elas:

2.1 Justiça

O conceito clássico de justiça é “dar a cada um o que lhe é devido”. Ou seja, quando
alguém lhe faz um favor, ou mesmo quando faz o que não passa de sua obrigação.Mas é claro
que essa gratidão e o reconhecimento do serviço prestado aumenta quanto mais excelente
for esse serviço. Nesse sentido, deve-se lembrar também das regras de citação, que fazem justiça tanto
ao autor original quanto a quem queira conferir com facilidade os trechos citados nas obras
de origem.

2.2 Prudência

O prudente é o que conhece o risco e sabe quando arriscar. Ou seja, ele
é mestre em tomar decisões acertadas, que em geral vão resultar em sucesso. Para se ter
essa visão, não basta ser estudado e inteligente, é preciso mais: deve-se reconhecer as coisas
como são, que é o alvo ambicionado por todo pesquisador honesto.

2.3 Temperança

A temperança também é chamada de moderação, equilíbrio ou capacidade de resistir
aos vícios que acabam, todos, na autodestruição. Nesse sentido, até as virtudes podem ser
exageradas e assim acabar se corrompendo e se transformando em vícios, por exemplo
aquele pesquisador meticuloso demais e que acaba se perdendo nos detalhes, deixando de
lado o todo da pesquisa.

2.4 Fortaleza

Essa é a virtude da perseverança, ou seja, da persistência e capacidade de não desistir,
mesmo quando a situação é cheia de obstáculos, aquela força demonstrada especialmente pelos aparentemente mais fracos. O desânimo e a falta de autoconfiança são alguns dos obstáculos mais frequentes no trabalho acadêmico. Para isso, é preciso que ele tenha a capacidade de sonhar e ter visões, que lhe são proporcionadas pela virtude da prudência, mas ela de nada adiantará se ele não tiver longanimidade e capacidade de levar adiante o projeto, apesar dos empecilhos e obstáculos que surgirão naturalmente no
meio do caminho.

Quanto aos vícios, na teologia, trata-se dos sete pecados capitais. Poderíamos reconhecer facilmente como esses “pecados” se metem na pesquisa
científica, ameaçando destruir todos os seus méritos e benefícios à humanidade. O mais destacado é sem dúvida o orgulho.

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3 Comissão de ética

A

O que justificaria o arranjo de uma comissão, que julgue cada caso colaborativa e democraticamente? É claro que não são todas as pesquisas que demandam já o estabelecimento de uma
comissão, mas particularmente aquelas que fazem experimentos que envolvam riscos aos
seres humanos (e até a animais, pelas leis de proteção ao animal) e ao meio ambiente.
O exemplo são as pesquisas na área da saúde, da farmácia, de produtos cosméticos, da
alimentação, da agricultura, da pecuária, da energia, etc. Na área de humanas, podemos citar
as pesquisas que envolvem entrevistas e o trato de questões polêmicas e delicadas que dizem
respeito aos direitos das pessoas entrevistadas e à necessidade de manter o sigilo delas.

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4 Desafios contemporâneos da Ética na Pesquisa

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4.1 A busca por reconhecimento

Quando se trata do conhecimento científico, há todo um ritual necessário para que haja
reconhecimento de um saber como sendo científico: é necessária a publicação em veículos
por sua vez reconhecidos, é preciso passar pelo aval de uma comunidade científica, registrar patentes e conquistar prêmios. A degradação começa quando a pesquisa se volta mais para a finalidade do reconhecimento e para o exercício do poder que ele confere do que para a legitimidade científica.

4.2 A busca pelo poder econômico

Ao contrário do que ocorria nos primórdios da ciência, quando nem ao menos se tinha
o capitalismo, hoje a pesquisa é em grande parte apoiada pela indústria e os interesses
econômico-financeiros. Mesmo quando os órgãos de fomento são públicos, a própria política
está hoje submetida aos interesses e à realidade da globalização do sistema capitalista.

4.3 A busca pelo poder ideológico-político

A ciência entra em degradação sempre que os seus fins são distorcidos e desvirtuados. É por isso que precisamos da ética, de seus códigos e suas comissões,
para evitar os excessos e abusos da parte dela, A ciência entra em degradação quando se mistura com a política e toma o poder nas suas próprias mãos, o que impediria qualquer comissão de ética.

4.4 A questão do plágio

Além de ser a “ação de apresentar alguma coisa (trabalho, livro, teoria etc.) como se esta fosse de sua própria autoria, embora tenha sido criada e/ou
desenvolvida por outrem”, plágio é crime e pode ser punido com multa. Enfim, o exemplo do plágio resume em si o reverso de tudo o que procuramos defender
aqui com relação à ética e ao respeito e cuidado devido ao trabalho acadêmico.

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