Aula 12 - O que é metodologia? Flashcards

1
Q

1 Conceito de metodologia

A

Na prática da pesquisa, um dos segredos é o planejamento. E planejar significa projetar,
lançar adiante o que ainda não existe, visando atingir determinados objetivos. Para isso, é
preciso fazer perguntas básicas como:
[FIGURA 1]
A metodologia nada mais é do que a pergunta pelo como, ou seja, o procedimento
de acordo com o qual se pretende alcançar determinado objetivo. Mas essa pergunta não
é apenas pragmática, ela também é filosófica. A metodologia da pesquisa é estudada pela
filosofia da ciência, que é uma parte específica da filosofia.
E para refletir-se sobre algum assunto filosoficamente, é importante perguntar-se sobre
o seu significado. Metodologia vem de methodos, significando, em grego, “caminho”, que
também pode ser interpretado como “meio”. E esse meio não diz respeito apenas às técnicas
operacionais, mas também aos processos racionais. Então, o método, que é objeto de estudo da metodologia, envolve táticas e técnicas, as
quais devem estar à serviço dele.
A metodologia é o encontro entre a teoria e a
prática da pesquisa, abrangendo um lado mais filosófico em diálogo com um mais operacional.
Um faz o papel do mapeamento do caminho a ser seguido, o outro, de controle de qualidade
do processo e produto final.
Da mesma forma que os pensadores da ciência se dividem naqueles que valorizam mais
a teoria, a razão; e aqueles que dão mais ênfase à prática ou experimentação, também as
técnicas se dividem nas mais voltadas para a reflexão e aquelas voltadas para o campo.
E as voltadas para o campo, por sua vez, dividem-se naquelas que valorizam mais os seus
aspectos quantificáveis, objetivos e as que valorizam mais as qualidades e a subjetividade.

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Q

2 Abordagem quantitativa e qualitativa

A

Como o próprio termo diz, a abordagem quantitativa lida com números e cálculos, ou
seja, seu aspecto relevante é a quantidade. Ela é sustentada pela filosofia positivista, que tem
em Comte e Descartes os seus representantes mais iminentes. A filosofia positivista diz que
a ciência, que é objetiva e depende exclusivamente da qualidade da aplicação de métodos numéricos para alcançar resultados seguros, precisos, delimitados e verdadeiros, porque são
científicos, é a detentora da verdade absoluta. Nela, o pesquisador deve ser o mais neutro
possível, não se envolvendo com a realidade e os sujeitos pesquisados. O contexto ideal para
a realização de experiências científicas é o laboratório e circunstâncias controladas.
Mas o fato de ser quantitativa não torna a pesquisa já positivista; pode ser simplesmente
objetiva, de levantamento de dados, tipo de pesquisa que está sendo cada vez mais usado,
como veremos com mais detalhes em outra aula.
Já na pesquisa qualitativa, o que vale mais é a qualidade dos resultados obtidos, ou
seja, suas características imensuráveis, contando aí aspectos ligados aos valores e à ética, à
cultura, ao meio ambiente, à sociedade etc. Sua base filosófica é a fenomenologia, a dialética
e a lógica indutiva. O pesquisador envolve-se no contexto da pesquisa, que é o mais natural
e intocado pela ciência quanto possível.
É importante ressaltar ainda que, na pesquisa qualitativa, vale mais o processo do que
o produto propriamente dito. Ou seja, o próprio fato de se estar pesquisando entra como
dado a ser considerado na análise e discussão da pesquisa, uma vez que o processo de
desenvolvimento das atividades é muito importante.
A decisão sobre o uso da metodologia é determinada pelo objetivo e pergunta-problema,
que pode ser mais facilmente respondida com números ou qualidades, o que, por sua vez,
depende do seu nível de objetividade.Além do aspecto da objetividade, outra diferença entre a abordagem qualitativa e
a quantitativa é o tamanho da amostra. Enquanto na qualitativa é menor, podendo ser de
uma pessoa só, no estudo de caso, por exemplo, o tamanho tem que ser significativo na
quantitativa. Existem até mesmo cálculos que indicam qual o tamanho que a amostra deve
ter para que a pesquisa tenha validade científica, ou seja, para que seus resultados possam
ser projetados para toda uma população.
E também, o instrumento de coleta de dados muda de acordo com a metodologia
adotada. O pesquisador vale-se, além de questionários e roteiros de entrevista, de outros
instrumentos de coleta, como fichas para análise de fotos e filmes, roteiros de filmagem etc.
Enquanto a abordagem quantitativa adota questionários com respostas, na maioria da vezes,
fechadas e entrevistas estruturadas, ou seja, que seguem um roteiro fixo e previamente
determinado, com vistas à uniformidade e capacidade de comparação dos resultados;
a qualitativa parte mais para questionários de perguntas abertas e entrevistas semi e não
estruturadas. Mas, tanto na pesquisa quantitativa quanto na qualitativa, os entrevistados são
previamente escolhidos, segundo critérios claros e objetivos.
Há diferença ainda e principalmente, na análise dos dados – que é o estudo e análise de
todos os dados coletados por meio dos diversos instrumentos de coleta usados na pesquisa,
desde entrevistas até anotações em diário de campo, fotografias e assim por diante, de
acordo com os objetivos traçados, que precisam estar bem claros desde o começo – e na
forma de apresentação dos resultados. A análise dos dados na abordagem quantitativa é
basicamente estatística, como veremos em detalhe em uma aula à parte. Já na qualitativa, a
análise acontece de forma mais intuitiva, usando a capacidade de leitura e interpretação da
fala dos entrevistados, quando há uso de entrevistas ou dos outros instrumentos utilizados.
Semelhantemente, na pesquisa quantitativa, a apresentação dos resultados ocorre
em forma de índices, estatísticas, tabelas e gráficos, que são discutidos e comparados. Já
na qualitativa, trata-se de um relatório mais narrativo, com descrição e interpretação de
depoimentos e análise dos dados coletados

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3 Tipologia das metodologias

A

Quer sejam quantitativas, quer qualitativas, quer um misto entre elas, há uma tipologia
de metodologias, que vamos abordar a seguir.
Quanto à lógica utilizada no raciocínio e procedimento da pesquisa, temos os seguintes
tipos de pesquisa.

1 Método Dedutivo:

De acordo com a parte da filosofia que estuda o método, a lógica, o método dedutivo
parte do universal ou geral para dele inferir uma conclusão particular (ex.: Todo homem é
mortal; Sócrates é humano; logo, Sócrates é mortal).

2 Método Indutivo:

Segundo a lógica ainda, o método indutivo parte de observações particulares controladas,
estabelecendo conexões de causalidade entre elas, até delas extrair leis gerais.
O método indutivo compreende as seguintes etapas: Observação, por meio de
instrumentos de precisão; levantamento de hipótese(s); experimentação controlada e
reproduzível, para verificação ou comprovação da hipótese; comparação ou classificação,
análise e crítica dos dados recolhidos; abstração ou verificação dos pontos de acordo e de
desacordo dos dados recolhidos; e generalização ou levantamento de casos semelhantes, em
que se verifica o conceito ou fenômeno observado.
De acordo com Karl Popper (1980), este método não é científico porque é redundante:
prova apenas os seus próprios pressupostos. Um conhecimento só é científico se for
claramente refutável ou falseável, e não, se for simplesmente confirmado pela experiência.
Já Kuhn diz que nenhum conhecimento pode, nesse sentido, ser totalmente científico, não
no sentido racional, pelo menos, pois se insere sempre em um contexto histórico, cultural e
social relativo. Portanto, nenhuma pesquisa é neutra ou definitiva.

3 Método Hipotético-dedutivo:

Os estudos que seguem este método são considerados
[…] lógicos por excelência. Acha-se historicamente relacionado com a experimentação,
motivo pelo qual é bastante usado no campo das pesquisas das ciências naturais. Não é
fácil estabelecer a distinção entre o método hipotético-dedutivo e o indutivo, uma vez
que ambos se fundamentam na observação. A diferença é que o método hipotéticodedutivo
não se limita à generalização empírica das observações realizadas, podendose,
através dele, chegar à construção de teorias e leis. (ANDRADE, 1997, p. 21).

4 Método Dialético:

Além de envolver questões sociais e ideológicas, este método toma por objeto as
contradições e relações recíprocas (simultâneas) entre os elementos da realidade.
Há certos princípios comuns a toda abordagem dialética:
a. Princípio da unidade e luta de contrários. Todos os objetos e fenômenos
apresentam aspectos contraditórios, que são organicamente unidos e constituem a
indissolúvel unidade dos opostos. (…)
b. Princípio da transformação das mudanças quantitativas em qualitativas.
Quantidade e qualidade são características imanentes a todos os objetos e fenômenos,
e estão inter-relacionados (…)
c. Princípio da negação. O desenvolvimento processa-se em espiral, isto é, suas
fases repetem-se, mas em nível superior. (ANDRADE, 1997, p. 21)

  1. Método Fenomenológico:

É o método que se concentra não na realidade empírica, como no método indutivo,
nem nas leis universais, como no dedutivo, mas nos fenômenos, que são as formas como
a natureza se revela, apresenta-se e torna perceptível para a mente, mesmo que de forma
invisível para os órgãos do sentido externos. Mais do que um bom microscópio, telescópio
ou outro instrumento de medição, nesse tipo de pesquisa é preciso apelar para a intuição,
ou seja, para outros órgãos de percepção internos e mais subjetivos do que os tradicionais.
Para usar esta metodologia, é preciso ainda saber interpretar os fenômenos, extraindo-lhes
a significação. As ciências que focam nos fenômenos são, em geral, as humanas, como a
psicologia, a sociologia e a educação, que não estudam fatos ou leis, mas acontecimentos e
relações presentes em realidades complexas, ou seja, que envolvem mais fatores e interações
entre eles. Um fenômeno complexo pode ser comparado a uma rede, que envolve vários fios
interligados por diferentes nós, que nem sempre têm um centro especificado.
Mas, além do critério da lógica deduditva, indutiva etc., há outros com os quais podemos
classificar os tipos de métodos, como as naturezas, abordagens, objetivos e métodos, que
resumimos em:
[QUADRO 1]
A pesquisa básica é aquela que se volta para determinado assunto de forma “pura”, ou
seja, concentrada no nível do conhecimento teórico ou experimental sobre aquele assunto.
Em contraposição, a pesquisa aplicada, como o termo já diz, está voltada para uma aplicação
prática. Por exemplo, o estudo sobre a reprodução das amebas é uma pesquisa básica,
enquanto o estudo sobre a presença de amebas na água mineral como fator redutor de sua
qualidade e potencial periculosidade para a saúde seria exemplo de uma pesquisa aplicada.
Temos a própria classificação das ciências em áreas, as chamadas ciências puras ou
duras, como a filosofia e a matemática; e as ciências aplicadas, como a administração e as
ciências sociais aplicadas.
Quanto à pesquisa quantitativa e qualitativa, como já mencionamos anteriormente, a
distinção acontece desde o início da pesquisa, da postura do pesquisador, de sua justificativa
e estabelecimento de objetivos, até a análise dos dados e os instrumentos de coleta, se é com
base em estatísticas e números ou em dados subjetivos e interpretações subjetivas deles.
Já quanto à abordagem, Reis (2015), que usa a mesma nomenclatura e classes de Casarin
e Casarin (2011), afirma que a pesquisa exploratória se confunde com a bibliográfica e faz
parte da primeira fase de qualquer pesquisa, que visa uma primeira aproximação do tema.
Ou seja, toda pesquisa, mesmo a quantitativa, envolve um referencial teórico. Para a autora,
tanto a pesquisa bibliográfica quanto a exploratória têm os seguintes objetivos:
• facilitar a delimitação do tema de pesquisa;
• orientar a elaboração dos objetivos e a formulação das hipóteses;
• descobrir uma nova abordagem sobre o assunto;
• aproximar o pesquisador do tema e do objeto de estudo;
• construir questões importantes para a pesquisa;
• proporcionar uma visão geral acerca de determinado fato ou problema;
• aprofundar conceitos preliminares sobre determinada temática;
• identificar um novo aspecto sobre o tema a ser pesquisado;
• possibilitar a primeira aproximação que o pesquisador tem com o tema em
estudo, quanto à análise de exemplos que estimulem a compreensão do assunto
pesquisado. (REIS, 2015, p. 59, grifos da autora).
Em outras palavras, esta fase é bem complexa, rica em informações e demorada, pois
tem muitos objetivos a serem alcançados.
Quanto aos objetivos ainda, a pesquisa também pode ser descritiva, o que significa que
ela busca:
• identificar, relatar e descrever características de determinada população ou
fenômeno;
• comparar o estabelecimento de relações entre as variáveis de determinado
fenômeno ou população;
• estabelecer a inter-relação entre os fenômenos e a população (grupo social)
usando as variáveis;
• descobrir a frequência com que os fatos acontecem no contexto pesquisado.
(REIS, 2015, p. 60).
Ou seja, a razão de ser de uma pesquisa assim é tirar um retrato da realidade, fato,
fenômeno ou objeto de pesquisa. O pesquisador pode imaginar que os seus leitores ou
colegas pesquisadores interessados em seu assunto sejam cegos e que seu papel seja o de
fazer as vezes dos seus olhos.
Finalmente, a pesquisa explicativa, como o próprio nome já diz, busca os motivos e
razões para determinado fato, fenômeno ou problema, de modo que o pesquisador terá que
usar muito de lógica e argumentação em seu texto.
O primeiro tipo de pesquisa que ela analisa é a bibliográfica, que ultrapassa uma mera
técnica e torna-se um instrumento essencial para levantar explicações e reflexões de outros
autores sobre o assunto a ser investigado. Trata-se da revisão da literatura sobre o tema.
Ela ajuda na apresentação dos autores referências no assunto, na conceituação de palavraschave
da pesquisa, no levantamento de informações secundárias (ou seja, que não vieram da
pesquisa direta, mas de outros autores) sobre o tema, de modo que o pesquisador estabeleça
o que já foi pesquisado para evitar a repetição e contribuir efetivamente para que o nível de
conhecimentos a respeito do assunto seja superado e avançado.
A pesquisa bibliográfica é a mais simples e a primeira que o estudante aprende ao
participar de um programa de iniciação à pesquisa. Em relação à pesquisa como um todo, a
bibliográfica permite dar a fundamentação teórica do projeto ou trabalho acadêmico.
A autora faz distinção entre a pesquisa bibliográfica e a documental no sentido de que
a última limita a sua fonte de dados a documentos que podem ser pessoais (fotos, diários,
vídeos, cartas, mensagens eletrônicas, memórias etc.) ou institucionais (dados estatísticos,
boletins, periódicos, informativos, memorandos, leis e decretos, jornais etc.). O objetivo
é “[…] selecionar temas e organizar as informações e dados sobre fatos passados que se
encontram dispersos, como registro de memórias que poderão servir de fonte de consulta
para futuros estudos” (REIS, 2015, p. 57).
Em seguida, a autora dedica-se ao Estudo de caso (que não é abordado por Casarin
e Casarin, 2011), que tem base empírica, ou seja, funda-se na experiência e conta com a
colaboração dos participantes da pesquisa. Mas é preciso observar, para além do que diz a
autora, que esse tipo metodologia pode girar em torno de um fato ou fenômeno único ou
estudar determinada pessoa ou grupo pequeno de pessoas bem delimitadas no tempo e no
espaço, determinada sociedade ou determinada instituição. Então, ao contrário da pesquisa
de campo, que pode ser usada em diferentes tipos de investigação e que tem que contar
com uma amostra relevante, o estudo de caso põe sob a lupa uma realidade mais pontual e
diminuta, que é um caso excepcional de determinado fenômeno, por exemplo, uma empresa
que encontrou uma solução diferente para o problema da alta rotatividade de funcionários
ou para o desenvolvimento de sua responsabilidade social ou sustentabilidade.
A pesquisa de campo é importantíssima e diz respeito à pesquisa que estabelece uma
amostra em determinada população para aplicar nela determinado questionário ou fazer
entrevistas estruturadas, semiestruturadas ou não estruturadas, dependendo do nível de
preparo das perguntas a serem feitas aos entrevistados. Ela pode ter tratamento de dados
quantitativo ou qualitativo. Para isso, é preciso que o instrumento de coleta de dados seja
preparado com muito cuidado para que a análise posterior seja possível. Por exemplo, é
preciso evitar ambiguidade, ou seja, duplo sentido nas perguntas a fim de resguardar-se
de respostas erradas ou questões deixadas em branco, o que também pode acontecer se a
pergunta for, de alguma forma, constrangedora.
Mas a pesquisa experimental, que pode ser quantitativa ou um misto entre quantitativa
e qualitativa, também é definida, de forma semelhante por Reis (2015) e Casarin e Casarin
(2011), como sendo aquela que cria situações em que variáveis são controladas para isolar e
relacionar causas e efeitos, chegando à explicação de determinados fenômenos, que buscam
“[…] evidenciar as relações entre os fenômenos e as teorias relacionadas” (REIS, 2015, p. 58).
De acordo com Casarin e Casarin (2011, p. 47): “A pesquisa genuinamente experimental
pressupõe algum tipo de intervenção sobre o grupo estudado e a verificação dos efeitos dessa
intervenção”. Pode-se dar o exemplo do estudo da reação de seres humanos a determinada
substância para o combate de determinada doença. A intervenção é a submissão do grupo
de controle ou principal à ingestão da substância, enquanto o outro grupo, de contraste, não
a ingere.
É claro que os tipos de pesquisa não podem ser separados de forma estanque ou rígida:
elas se sobrepõe e entrecruzam. Por exemplo: uma pesquisa pode ser aplicada, quantitativa
e de campo ao mesmo tempo, sem que uma coisa anule a outra.

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