Aula 1 - O que é linguagem e sua relação com a ciência Flashcards
1 A linguagem, essa misteriosa:
A complexidade da linguagem: Ou seja, tudo o que está escrito tem uma visão de mundo por trás: política, de gênero, racial, religiosa, cultural. É impossível escrever sem expor nossas posições, emoções e características pessoais. Por isso, não dá para ter uma escrita (ou fala) neutra.
2 Duas abordagens da linguagem:
Houve uma época, entre os anos 1970 e 1980, em que era comum falar e pesquisar sobre o chamado “déficit cultural”. Trata-se daquela condição desfavorável na qual se acreditava que se encontravam os alunos de procedência de regiões carentes do Brasil e de famílias de baixa renda.
O pressuposto que se usava, sem muitas vezes o explicitar, era o de que o aluno com dificuldades de aprendizagem devia esse “fato inconteste” à sua condição socioeconômica e que toda criança proveniente de condições socioeconômicas desfavoráveis, necessariamente, teria problemas de aprendizagem devido a esse déficit.
Com o desenvolvimento da crítica, temos a adoção de novos autores, principalmente da área de educação, como Lev Vygotsky, para quem a linguagem tem que ser significativa e intimamente relacionada com o pensamento. Ele estuda a fundo a mencionada influência das visões de mundo na construção do pensamento e do conhecimento pelas pessoas,
principalmente dos educadores e políticos, abordando a questão do social, que é considerada elemento primordial e singular nessa construção, que é interativa e dinâmica. Outro pensador adotado mais recentemente, também russo, chamado Michael Bakhtin
frisava que toda linguagem é relacional e que ela sempre visa à comunicação e, portanto,
depende de interlocutores que estabelecem uma relação de diálogo entre si.
Com isso, ultrapassou-se o nível somente da denúncia, ou seja, de só identificar problemas e defeitos, apoiadas no argumento do déficit ou desvantagem educacional, que se atribuía necessária e irremediavelmente à relação entre a construção da linguagem e a pobreza, ou seja, não havia chance de superação a toda a criança proveniente de classe inferior, já que elas estavam determinadas, pela questão da pobreza, em ter um desenvolvimento pior do que as crianças
de classes mais abastadas. Autores como Vygotsky e Bakhtin passam a buscar um anúncio, ou seja, propostas concretas para colocar-se no lugar vazio deixado pela
ideologia dominante desconstruída. Então, Bakhtin confirma e aprofunda as visões de Freire, procurando estabelecer um diálogo entre as partes envolvidas na sociedade e na educação de uma forma construtiva de um mundo melhor.
A outra abordagem que gostaríamos de considerar é menos científica ou até crítica e mais filosófico-teológica, ora, se fomos criados pela palavra, somos todos, sem exceção ou acepção, seres linguísticos e temos uma relação íntima com a linguagem. O mistério da origem da linguagem acaba, assim, confundindo-se com o mistério da origem do próprio ser
humano. Dessa forma, a linguagem é, ao mesmo tempo, una e diversa: una porque reflete toda a humanidade, que é universal; diversa porque revela a diversidade de seres criados de forma única e com personalidade própria.
3 A linguagem e o conhecimento:
Estamos cada vez mais conscientes de que a ciência está longe de ser o único tipo de conhecimento (ao lado do empírico, filosófico, teológico, artístico, o senso comum e tantos outros), e que cada era tem o seu paradigma ou conjunto de crenças e pressupostos, que são quebrados pela era seguinte para o alcance de um novo patamar.
Por isso, usamos cada vez mais os paradigmas da complexidade, da polissemia (ou pluralidade de
significados da linguagem), da estrutura sistêmica e da imagem da rede como aportes para a pesquisa científica e para as nossas percepções do mundo.
É preciso que o conhecimento expresso tenha
passado por etapas determinadas, tenha usado uma metodologia reconhecida como válida pela ciência e que seja chancelado pela chamada “comunidade científica”. Todo conhecimento reflete pressupostos filosófico-políticos e até religiosos, que têm de ser levados em conta e criticados. Assim, a ciência não deve ser aceita acriticamente.