Parasitologia II - Larva Migrans Flashcards
Com relação à Larva migrans: quais são as possíveis manifestações clínicas? E quais são os agentes etiológicos relacionados com essas manifestações?
Larva migrans Cutânea:
As larvas envolvidas e infectantes são a Ancylostoma braziliense e Ancylostoma caninum. Esses parasitas são os mais comuns e, em geral, infectam o intestino delgado de cães e gatos.
As denominadas larvas migrans apenas completam seu ciclo no hospedeiro animal. Dessa forma, quando infectam os indivíduos humanos, essas larvas migram pelo tecido subcutâneo e visceral, causando a patologia.
Larva migrans visceral ou ocular: Toxocara canis;
É um geohelminto;
Com relação à Larva Migrans: quais são as suas formas evolutivas e como diferenciar?
Verme adulto: fêmeas e machos possuem asa cefálica e são de tamanho menos pronunciado do que o A. lumbricoides.
Só é possível encontrar o ovo embrionado em fezes de cães e gatos. Lembrando que, no homem, independente da manifestação clínica, a larva não é capaz de completar o seu ciclo (não encontramos verme adulto no homem);
Com relação à Larva migrans: Como é o ciclo biológico do patógeno?
Larva migrans cutânea: as fêmeas põem ovos que são liberados junto às fezes dos gatos e cachorros infectados. Diante de condições climáticas ideais, as larvas se desenvolvem em L1 dentro do ovo, posteriormente, ocorre a eclosão e esses organismos se alimentam no solo de matéria orgânica. Após um período de tempo, essas larvas se modificam duas vezes e tornam-se a forma infectante L3. Os animais se infectam pela via oral, cutânea e transplacentária. A larva L3 sofre duas mudas, alcança o intestino delgado e atinge a maturidade sexual em quatro semanas.
No humano as larvas L3 penetram ativamente pela pele e migram no tecido subcutâneo por semanas ou meses. Depois disso, essas larvas morrem.
Larva migrans visceral: os cães são infectados pela ingestão de ovos contendo L3. A L3 eclode no intestino delgado e atravessa a parede intestinal. Através da circulação, o parasita chega ao fígado, coração e pulmão, onde torna-se L4. Elas migram para alvéolos, brônquios e traquéia, local onde são deglutidas. Quando chegam ao intestino, adquirem maturidade sexual. Após o segundo mês, os cães adquirem resistência ao parasito e a migração torna-se quase nula. Dessa forma, as larvas L3 seguem para a circulação arterial, se distribuem aos tecidos e ficam quiescentes.
Nos humanos: ingestão de água ou alimentos contaminados com ovos contendo L3. A eclosão dos ovos ocorre no intestino delgado e as L3 penetram a mucosa intestinal, alcançando a circulação e, consequentemente, se distribuindo pelo organismo. Após isso, elas atravessam capilares e infectam outros tecidos. A partir desse ponto, a larva realiza sua migração no tecido e promove o granuloma alérgico. Algumas larvas encistam-se.
Com relação à Larva migrans: como ocorre a transmissão da doença? Quais são as apresentações clínicas e sintomas?
Larva migrans cutânea: não é uma doença transmitida de humano para humano, o contágio depende do contato com larvas L3 no ambiente. Lembrando que os agentes etiológicos são o Ancylostoma caninum e o Ancylostoma braziliense. A migração largaria leva a formação de um rastro saliente, com formação de túneis entre epiderme e derme, invasão subcutânea pela presença da hialuronidase, infiltrado inflamatório com eosinofilico e com células mononucleares. O prurido aumenta a suscetibilidade à infecções secundárias.
Sintomas:
- Lesões múltiplas causadas pela migração da L3;
- Eritema;
- Prurido;
- Síndrome de Loeffler: acometimento pulmonar com sintomas alérgicos. É uma condição rara.
Larva migrans visceral ou Toxocaríase: transmissão por ingestão do ovo não eclodido, síndrome causada pela migração da larva em um caminho semelhante ao que seria realizado no cão. De qualquer forma, essas larvas são incapazes de atingir o estágio adulto. A espécie mais importante envolvida nesse processo é a Toxocara canis.
Sintomas: são variáveis de acordo com o local que ocorre a infecção. Quadro clássico:
- Leucocitose;
- Hipereosinofilia sanguínea;
- Hepatomegalia;
- Linfadenite.
Podem ser relatados infiltrados pulmonares associados à tosse, dispneia, anorexia e desconforto abdominal. Além disso, quando ocorre acometimento do sistema nervoso, tanto pela larva quanto pelos granulomas, o paciente pode apresentar ataques epilépticos, meningite e encefalite. A migração da lava favorece a formação de granulomas que, por sua vez, podem facilitar a adesão de bactérias como o S. aureus e o desenvolvimento de abscessos.
Larva migrans ocular ou Toxocaríase ocular: trata-se do acometimento ocular promovido pela Toxocara canis. Nessa situação não há hipereosinofilia e a resposta imune é menos pronunciada quando comparada à observada na larva migrans visceral.
Sintomas: tende a se manifestar de forma unilateral;
- Dor;
- Hiperemia ocular;
- Redução da acuidade visual;
- Leucocoria: reflexo branco na pupila;
- Estrabismo;
- Amaurose;
- Abscesso eosinofílicos;
- A endoftalmia crônica é a forma mais comum e envolve coróide, retina e humor vítreo, promovendo a perda da visão. Além disso, pode ocorrer granuloma no polo posterior do olho, granuloma periférico, hemorragia retiniana, papilites, iridociclites, catarata, ceratite e lesões orbitárias.
Há outras formas de acometimento, como a Toxocaríase oculta (sorologia positiva, distúrbios gastrointestinais, fraqueza e letargia) ou Larva Migrans Neurológica (epilepsia parcial e ELISA reagente).
Com relação à Larva migrans: como é a imunopatogênese da doença?
Espera-se resposta imune granulomatosa com linfocitose e eosinofilia, com alta de IgE. Em casos de infecção visceral, a resposta granulomatosa hepática tem importância acentuada. Importante relembrar que, nos casos de Larva migrans ocular, a hipereosinofilia, haja vista que a resposta é mais local e trata-se de um sítio imune privilegiado.
Com relação à Larva migrans: quais são as técnicas laboratoriais mais recomendadas para a investigação diagnóstica?
Larva migrans cutânea: ocorre por meio de um exame clínico que avalia os sintomas e aparência da lesão.
Clínico-epidemiológico que avalia os sintomas e aparência da lesão.
É importante eliminar diagnósticos diferenciais como: Eritema Anular Centrifugum, Poroqueratose de Mibelli, Granuloma Anular;
Larva migrans visceral: o teste de escolha é o ELISA para a identificação de anticorpos anti-Toxocara. Laboratorialmente observa-se:
Leucocitose acima de 10.000/mm³;
Eosinofilia persistente e aumentada em mais de 10% quando comparada ao número total de leucócitos;
IgG e IgM totais acima dos valores de referência;
Além disso, nota-se possível hepatomegalia.
O título de isohemaglutinina anti-A positivo na diluição igual ou maior que 1:200 (as larvas apresentam antígenos similares, então pode ocorrer reação cruzada).
Larva migrans ocular: a baixa carga parasitária faz com que não existam alterações no hemograma. São avaliados sinais clínicos e epidemiológicos, uma vez que idosos e crianças estão mais propensos a essa manifestação. Além disso, é coletado o humor aquoso para a detecção de anticorpos anti-Toxocara. Em relação à sorologia, é comum que não seja reagente, também devido à baixa carga parasitária. Necessário descartar uma toxoplasmose congênita.
Não apresenta alterações do hemograma.
Com relação à Larva migrans: quais fatores clínicos e epidemiológicos relacionados com a doença?
Larva migrans visceral: Baixa prevalência e acomete crianças principalmente com idade média de 2 anos.
Larva migrans ocular: Baixa prevalência e acomete crianças mais velhas e adultos com história de geofagia e/ou exposição a cães e gatos.
Prevenção: a partir de cães e gatos infectados, a partir da vermifugação, destacando-se o tratamento de fêmeas prenhas, já que existe a possibilidade de transmissão transplacentária. Evitar contato com locais que são utilizados para atividades de lazer humano. Eliminação de ovos no ambiente a partir de produtos que podem ser utilizados, bem como solução de hipoclorito.
Com relação à Larva migrans: qual o tratamento dessa doença?
Larva migrans cutânea: a maior parte dos casos o tratamento é dispensado uma vez que a infecção se resolve sozinha. Mas é recomendado o tratamento para encurtar esse período;
- Medicamento para o uso tópico: tiabendazol.
- Em casos de infecções múltiplas usa-se o tiabendazol pela via oral 25 mg/kg, duas vezes ao dia por dois dias.
- Uso oral de Albendazol ou Ivermectina (não pode ser utilizado em crianças com menos de 5 anos ou de 15 kg);
Podem ser utilizados anti-histamínicos e esteróides tópicos.
Larva migrans visceral: Albendazol; Tiabendazol (ação melhor para as larvas, mas o efeito colateral é mais acentuado do que o do Albendazol); Ivermectina; Levamisol;
Tratar os sintomas apresentados com anti-histamínicos e corticosteróides.
Larva migrans ocular: Corticóides e Anti-helmínticos no início da infecção.
A inflamação pode ser exacerbada devido à morte do parasita;
Com relação à Larva migrans: qual forma de apresentação clínica estaria relacionada com sintomas respiratórios, hepatomegalia, alterações do hemograma e EPF negativo?
Larva migrans visceral;
Podem ser justificados pela migração da larva para o sistema respiratório, bem como para o fígado, além da ativação de uma resposta imune que poderia levar à hepatomegalia relatada, haja vista que o fígado apresenta papel primordial na produção de elementos pró-inflamatórios, sendo uma possibilidade também a lesão hepática em decorrência da presença da larva (o que também é justificado pelo seu ciclo biológico). Dessa forma, no sistema respiratório, ocorre uma resposta imune do tipo granulomatosa, com grande presença de eosinófilos, gerando uma pneumonia eosinofílica (o que pode acarretar a Síndrome de Loeffler). As alterações do hemograma com leucocitose hipereosinofílica são sugestivas de helmintíases e também de reações alérgicas, com uma resposta perfil Th2 acentuada. Já o EPF negativo pode estar relacionado ao não acometimento do sistema digestório, ou seja, não há parasita no intestino, bem como a ausência da larva nesse sistema. É importante salientar que o EPF negativo também poderia sugerir uma helmintíase com o ciclo de Loss presente, podendo o acometimento pulmonar estar relacionado com a Síndrome de Loeffler; contudo, o aspecto temporal poderia eliminar essa hipótese.
A Larva migrans visceral pode acometer ainda: coração e sistema nervoso central. Pode apresentar esplenomegalia e hepatomegalia.