Asma Flashcards
Definição
A asma é uma doença inflamatória crônica caracterizada por hiperresponsividade das vias aéreas inferiores à alérgenos diversos e por limitação ao fluxo aéreo (doença obstrutiva).
É reversível espontaneamente ou com tratamento.
O fato de ser uma inflamação crônica, a longo prazo, pode levar a lesões irreversíveis, daí a importância do tratamento.
Apesar de poder ser reversível espontaneamente, deve ser tratada por diversos fatores: evitar crises; risco de morte; evitar o remodelamento e lesões irreversíveis que podem ocorrer.
Clínica
Episódios recorrentes de sibilância, dispneia, dor no peito (criança pequena não relata esse sintoma) e tosse.
A tosse é o que mais é percebido na clínica e ocorre sobretudo a noite e de manhã ao acordar.
Fatores de risco, agravantes, desencadeantes
Fatores genéticos, infecções respiratórias, fumo passivo, epitélio e pêlo de animais, ácaros, baratas, mofo, emoções, exercício.
Esses dois últimos são muito característicos da asma.
Rinite alérgica e dermatite atópica geralmente são outros quadros alérgicos que coexistem com a asma.
O aparecimento de asma na idade escolar está ligado a predisposiçõa genética enquanto que aparecimento de sibilância em menores de 3 anos parece estar associado a interrelação de fatores ambientais e imaturidade do sistema imunológico
Fator de proteção
O aleitamento materno é um fator de proteção indireto
O aleitamento materno exclusivo por tempo prolongado foi associado ao efeito protetor contra o aparecimento de sibilância e asma além de outras manifestações alérgicas.
Esse efeito foi atribuído as qualidades imunomoduladoras do LM e também ao consequente retardo da exposição a alérgenos alimentares.
Epidemiologia
A cada 300 milhões de pessoas no mundo, 20 milhões são asmáticos.
É a doença crônica grave da infância mais comum, sendo a 4ª causa de hospitalização pelo SUS (3ª em crianças e adultos jovens).
A mortalidade por asma está aumentando (quem mais morre é o paciente com a asma moderada porque muitas vezes deixa de tratar) e tem alta taxa de morbidade.
Prevalência de asma entre escolares e adolescentes : aproximadamente 20% em ambas as faixas etárias.
Fisiopatologia
Ocorre inflamação e broncoconstrição.
Com a inflamação há edema da parede do brônquio, que, somado a bronconstrição e a produção de muco espesso, leva a diminuição da luz brônquica.
Assim, na expiração, com o estreitamento da passagem do ar, há sibilância.
Comprometimento do transporte mucociliar de partículas de muco além da descamação do epitélio
Células que apresentam os antígenos, principalmente os linfócitos Th2, promovem a liberação de citocinas (especialmente IL4 e IL5) e que, então, darão início ao processo inflamatório e a manutenção dele.
Os linfócitos TH2 estimulam LB a produzir IgE (mediado por IL4), e criam memória para esses atgs.
O IgE estimula tanto mastócitos (prévia sensibilização) quanto eosinófilos
Os mastócitos levam a reação imediata (Hist/Leuc/PG) com broncoconstrição
Os eosinófilos levam a reações tardias e sustentam inflamação crônica
O paciente que já está sensibilizado, os processos inflamatórios ocorrem mais facilmente.
O paciente que já chega a um nível crônico de inflamação, promove remodelamento com obstrução irreversível, o que pode fazer com que ele
não perceba mais os sintomas. Essa situação é a mais preocupante na asma.
Alterações Inflamatórias
Lesões e alterações na integridade epitelial
Anormalidades no controle neural autonômico
Anormalidades no tônus da via aérea
Alterações na permeabilidade vascular
Hipersecreção de muco
Mudanças na função muco ciliar
Aumento da reatividade do músculo liso da via aérea
Dano e ruptura do epitélio ciliado
Depósito intersticial de colágeno na lâmina reticular da membrana basal
Alterações de Remodelamento
Hipertrofia e hiperplasia do músculo liso
Elevação no número de células caliciformes
Aumento das células submucosas
Alteração no depósito e degradação dos componentes da matriz extracelular
Como é feito Diagnóstico
Anamnese
Exame clínico
Sempre que possível: prova de função pulmonar (espirometria com prova broncodilatadora) e
Avaliação da alergia
Diagnóstico clínico
Dispneia, tosse crônica, sibilância, dor ou desconforto torácico que ocorrem principalmente à noite e nas primeiras horas da manhã.
Outros fatores também chamam atenção: sintomas episódicos, melhora espontânea ou com uso de broncodilatador ou anti inflamatório esteróides, variabilidade sazonal, história familiar de asma, exclusão de outros diagnósticos.
Sempre pensar em asma quando houver queixa de tosse crônica!
O grande problema para o diagnóstico é a criança que sibila de forma recorrente antes dos 5 anos de idade, porque existem outras causas que podem confundir (DRGE, alergia alimentar, corpo estranho, adenomegalia que comprima o pulmão, cardiomegalia).
50 a 80% das crianças asmáticas desenvolvem sintomas antes do quinto ano de vida.
Dentre esse grupo de crianças sibilantes menores que 5 anos, 65% são divididas em sibilantes transitórios (sibilam até os 3 anos e deixam de sibilar depois) e sibilantes transitórios não atópicos (crises de IRA obstrutiva desencadeada por vírus, geralmente melhoram na idade escolar).
Os outros 35% são sibilantes atópicos que são os verdadeiros asmáticos.
As manifestações mais sugestivas de asma em menores de 5 anos são:
- Episódios frequentes de sibilância (mais de 1x por mês)
- Tosse ou sibilos que ocorrem à noite ou cedo pela manhã (segue o ciclo da cortisona) provocados por riso, choro intenso ou exercício físico
- Sem relação evidente com viroses respiratórias
- Presença de atopia: especialmente rinite e dermatite atópica
- História familiar de asma e atopia em parente de primeiro grau
- Boa resposta clínica a B2 agonistas inalatórios, associados ou não a corticoides orais ou inalatórios
Diagnóstico funcional
Ø Espirometria: é feita com teste broncodilatador. Uma espirometria normal não descarta asma. Permite estabelecer o diagnóstico, determinar grau de obstrução e documentar as modificações decorrente de tratamento, mas tem limitação da idade (é feita geralmente em maiores de 5 anos)
Ø Pico de fluxo expiratório (Peak Flow): é mais utilizada para o acompanhamento, mas ainda assim não fornece tantos dados quanto a espirometria.
Ø Testes adicionais: testes de broncoprovocação com agentes broncoconstritores ou com exercícios. São muito pouco utilizados na pediatra.
Diagnóstico da alergia
Ø Provas in vivo: testes cutâneos por técnica de puntura
Ø Provas in vitro (dosagens de IgE específica): confirma e complementa os testes cutâneos
Classificação das crises
Divide a crise em leve a moderada, grave e muito grave e é válida para pacientes a partir de 5 anos de idade.
Até a crise grave, na impressão geral, o paciente está bem, só passa a ter alterações perceptíveis a partir do quadro de insuficiência respiratória com cianose, sudorese, exaustão.
No estado mental, a medida que vai piorando o quadro, o paciente tem agitação, mas quando atinge o estado muito grave ele pode ter também confusão e sonolência (pela hipoxemia).
A dispneia é ausente ou leve na crise leve a moderada, depois evolui com moderada e, por fim, torna-se intensa na crise muito grave.
Nos casos de crise mais graves, o paciente pode chegar a ter dificuldades em formar frases, apresentar retrações acentuadas de musculatura acessória, sibilos ausentes ou com MV diminuído, frequência respiratória aumentada, taquicardia (<140) ou bradicardia, PFE <30% do previsto, SatO2 ≤ 90%, PaO2 <60 e paCO2 ≥ 45.
Crise de asma leve a moderada
Impressão geral: sem alterações
Estado mental: normal
Dispneia: leve ou ausente
Fala: fala frases completas
Musc ascessória: ausente ou leves retrações
Sibilos: ausente (com MV) ou localizado/difuso
FR: normal/aumentada
FC: até 110
PFE: >50%
SatO2: >95%
PaO2: normal
PaCO2: <40
Crise de asma grave
Impressão geral: sem alterações
Estado mental: normal ou agitado
Dispneia: moderada
Fala: frases incompletas
Musc ascessória: retração acentuada
Sibilos: localizados/difusos
FR: aumentada
FC: >110
PFE: 30-50%
SatO2: 91-95%
PaO2: Ao redor de 60
PaCO2: >45
Crises de asma muito grave (insufc respiratória)
Impressão geral: cianose, sudorese, exaustão
Estado mental: agitado, confuso, sonolência intensa
Dispneia: intensa
Fala: frases curtas ou monossilábico
Musc ascessória: retração intensa
Sibilos: ausentes sem MV
FR: aumentada
FC: > 140 ou bradicardia
PFE: <30%
SatO2: <= 90%
PaO2: <60
PaCO2: >= 45%
Classificação da Asma pelos níveis de controle
É mais importante que a classificação anterior, avalia sinais e sintomas do paciente nas últimas 4 semanas, mas também se aplica somente aos maiores de 5 anos.
Divide a asma em controlada, parcialmente controlada e não controlada.
Critérios
1) Sintomas diurnos mais de 2x por semana?
2) Alguma limitação de atividades?
3) Algum despertar noturno devido a asma?
4) Necessidade de medic de alívio mais de 2 x por semana
Controlada: escore 0
Parcialmente controlada: 1-2
Não Controlada: 3-4
Essa classificação faz cair a ideia de que um paciente sem crises é um paciente controlado. Por exemplo, uma pessoa que não tem crises mais que tem sintomas com exercício físico é, no mínimo, um asmático não controlado.
Se tiver uma crise no último mês o paciente é automaticamente um asmático não controlado.
Além disso, qualquer exacerbação é indicativa da necessidade de revisão do tratamento de manutenção, pois o paciente não está controlado.