Vias Ascendentes Flashcards
Que tipos de dor temos e como pode esta ser transportada para o SNC?
A dor pode ser dividida em 2 tipos: dor lenta e dor rápida. A dor rápida é sentida 0.1 segundos após a receção do estímulo; a dor lenta é sentida 1.0 segundos ou mais após o estímulo. A dor rápida é sentida como um processo agudo, estando quase sempre confinada à pele. A dor lenta é um processo duradouro, que ocorre quando há destruição tecidual (ex: desenvolvimento de abcessos ou artrites severas). Este tipo de dor ocorre em qualquer tipo de tecidos. A receção de estímulos dolorosos faz-se através de terminações nervosas livres. Por um lado, a dor rápida surge por estímulos mecânicos ou térmicos, enquanto a dor lenta surge via estímulos químicos (ex: serotonina, histamina, bradiquinina, ácidos, como o ácido láctico, e iões K+), térmicos e mecânicos. O threshold para a receção da dor pode ser diminuído com prostanglandinas e substância P, mas não estimulam as terminações nervosas independentemente. Se um estímulo doloroso persistir, sem ser evitado ou eliminado, irá ocorrer destruição tecidual. Os recetores da dor adaptam-se muito pouco.
A dor rápida viaja por nervos periféricos de grande diâmetro, em axónios do tipo A delta, a velocidades de 6 – 30 msec. A dor lenta viaja por nervos periféricos de diâmetro curto, em axónios do tipo C a velocidades de 0.5 – 2.0 msc. Os impulsos da dor rápida alcançam a consciência para alertar para o estímulo doloroso, e gerar-se uma resposta protetora. A dor lenta é internalizada mais tarde e dura mais tempo.
Quais os recetores de dor e quais os estímulos que os podem ativar?
São terminações livres distribuídas assimetricamente na pele e órgãos.
Estímulos:
Mecânicos
Térmicos
Químicos
Quais os recetores de temperatura e qual a preferência das diversas temperaturas pelas diferentes fibras?
São terminações livres distribuídas assimetricamente pelo corpo.
Os impulsos de dor e temperatura são conduzidos pelas mesmas fibras: tipo A-gama (frio) e tipo C (calor, algum frio)
Como é constituída a via termo-álgica?
A temperatura e estímulos dolorosos são captados por terminações nervosas livres. Os impulsos da dor são transmitidos por fibras A-δ (A-delta) de condução rápida e por fibras C de condução lenta. As primeiras estão relacionadas com a dor aguda e bem localizada, e as fibras C associam-se à dor crónica e difusa. As sensações de frio e calor também são veiculadas por estes 2 tipos de fibras. Existem 2 vias principais: uma filogeneticamente recente, via neoespinho-talâmica (via espinho-talâmica lateral) e outra mais antiga, paleoespinho-talâmica (via espinho-reticulo-talâmica).
Via Neoespinho-Talâmica
via clássica da dor, envolve o trato espinho-talâmico lateral. É composta por 3 neurónios:
- Neurónio I – nos gânglios espinhais das raízes dorsais. O prolongamento periférico liga-se aos recetores (terminações nervosas livres); o prolongamento central alcança o corno posterior da medula, através do trato de póstero-lateral (de Lissauer), bifurca-se num ramo curto descendente e num ramo longo ascendente (estes ramos prolongam-se por 1 a 2 segmentos medulares), sinapsando com os neurónios II do corno posterior. Também sinapsam com alguns neurónios da substância gelatinosa. Neurotransmissor: substância P.
- Neurónio II – no corno posterior, na lâmina II de Rexed (substância gelatinosa de Rolando). Os axónios cruzam a linha média pela comissura branca (e cinzenta) e seguem pelo Trato Espinho-Talâmico Lateral (funículo lateral contra-lateral), que se localiza medialmente ao trato espinho-cerebelar anterior. À medida que o trato espinho-talâmico lateral sobe na medula, novas fibras são adicionadas na sua porção ântero-medial. Assim, nos segmentos cervicais da medula, as fibras sagradas são laterais e as cervicais são mediais. As fibras da temperatura são mais posteriores que as da dor. No bulbo, o feixe espinho-talâmico lateral, agora localizado, perto da superfície lateral, entre o núcleo olivar inferior e o núcleo do trato espinhal do nervo trigémeo, une-se ao feixe espinho-talâmico anterior e espinho-tectal, formando o Lemnisco Espinhal, o qual se continua pelo tronco cerebral (no tegmetum do mesencéfalo, lateralmente ao lemnisco medial). Estes neurónios terminam no tálamo, sinapsando com neurónio III.
-Neurónio III – no tálamo (núcleo ventral póstero-lateral). Os seus axónios formam radiações talâmicas que, pela cápsula interna (braço posterior) e corona radiata, chegam à área somatoestésica primária do córtex cerebral (B 3, 2 e 1).
Algumas radiações talâmicas da temperatura e dor terminam no córtex somatoestésico secundário, onde a representação das partes do corpo é bilateral.
Via Somatotópica (a representação das diferentes partes do corpo pode ser identificada nos seus núcleos e tratos assim como na área de projeção cortical)
Responsável pela dor rápida, aguda e bem localizada na superfície do corpo (dor em pontada). A dor rápida está associada a estímulos mecânicos e térmicos.
É neste núcleo que informações acerca de dor “crude” e de sensações de temperatura são intergradas. O córtex cerebral, neste circuito, detém a função de interpretar a qualidade a informação sensitiva, aquando de um estado consciente.
Via Paleoespinho-Talâmica
Neurónio I – gânglios espinhais, entram na medula do mesmo modo que a neoespinho-talâmica
Neurónio II – na coluna posterior (lâmina V de Rexed). Axónios dirigem-se ao cordão lateral homo e contralateral para formar o trato espinho-reticular. Este sobe na medula junto ao feixe espinho-talâmico lateral e termina sinapsando com neurónios III em vários níveis da formação reticular
Neurónio III – na formação reticular, dão origem às fibras reticulo-talâmicas que terminam nos núcleos intralaminares do tálamo (neurónios IV). No entanto, é provável que o número de neurónios reticulares envolvidos seja maior. Os núcleos intralaminares projetam-se para territórios muito amplos do córtex cerebral. É provável que essas projeções estejam mais relacionadas com a ativação cortical e a vigília do que com a sensação de dor, uma vez que estas já se tornam conscientes ao nível do tálamo.
Não tem organização somatotópica
Dor pouco localizada, profunda, crónica, lenta, dor em queimadura.
Via Trigeminal Exteroceptiva
Gânglios sensitivos do V, VII, IX e X
Núcleo da Via Espinhal do V; Núcleo Sensitivo Principal do V Núcleo Ventral Póstero-Interno do Tálamo
Gating Theory
A penetração dos impulsos dolorosos no SNC é regulada por circuitos nervosos existentes na substância gelatinosa (corno posterior), que age como um portão. Este portão é controlado por fibras descendentes supra-espinhais e pelos próprios impulsos nervosos que entram pelas fibras das raízes dorsais. Os impulsos nervosos conduzidos pelas fibras Aβ (mielinizadas/grossas) antagonizam os impulsos das fibras da dor. Os ramos colaterais das fibras grossas tácteis dos feixes grácil e cuneiforme inibem a transmissão de impulsos dolorosos. Na estimulação elétrica transcutânea, a estimulação das fibras tácteis de nervos periféricos ou do cordão posterior da medula impede a propagação dos estímulos dolorosos (explica o alívio da dor ao esfregar um membro doloroso).
Sistema Analgésico Supra-Espinhal – As conexões aferentes da PAG são numerosas e incluem fibras das vias da dor. Então, os próprios estímulos nociceptivos que sobem pelas vias espinho-talâmicas podem inibir a entrada de impulsos dolorosos no SNC. Entende-se assim o que acontece na acupunctura, em que a introdução de uma agulha numa parte do corpo pode aliviar um ponto doloroso muito distante.
Quais os 3 tipos de sensibilidade?
Exterocetiva 🡺 informação do mundo exterior captada pelas superfícies corporais (ex: dor, temperatura, tato);
Propriocetiva 🡺 informação sobre o estado musculo-tendinoso, postura e pressão. Consciente (atinge o córtex cerebral) ou inconsciente (atinge o cerebelo);
Interoceptiva 🡺 informação sobre a contração visceral (sensibilidade visceral).
Trato Espinho-Talâmico Lateral
neurónios do corno posterior emitem axónios que decussam pela comissura branca, alcançam o funículo lateral onde se fletem cranialmente para constituir o trato espinho-talâmico lateral, profundamente às vias espinho-cerebelosas. As suas fibras terminam no tálamo. O tamanho deste trato aumenta, à medida que ele sobe, pela constante adição de novas fibras. O trato espinho-talâmico lateral conduz impulsos de temperatura e dor. Em certos casos, aconselha-se a secção do trato (cordotomia). Esta é a principal via através da qual os impulsos de temperatura e dor chegam ao encéfalo.
Junto dele seguem também as fibras espinho-reticulares, que também conduzem impulsos dolorosos. Essas fibras fazem sinapse na FR, onde se originam as fibras retículo-talâmicas, constituindo-se assim a via espinho-retículo-talâmica. Esta via conduz impulsos relacionados com dores crónicas e difusas, enquanto a via espinho-talâmico se relaciona com as dores agudas e bem localizadas;
Trato Espinho-Talâmico Anterior
No funículo anterior, localiza-se o trato espinho-talâmico anterior, imediatamente à frente do corno anterior. Este trato contém axónios que terminam no tálamo (sensações de pressão e tato protopático). Assim, a sensibilidade tátil tem 2 vias na medula, uma direta (funículo posterior) e outra cruzada (funículo anterior) 🡺 dificilmente se perde toda a sensibilidade tátil nas lesões medulares (EXCEÇÃO: transecção da medula).
Via do Tato Protopático
Os recetores de pressão e tato são os corpúsculos de Meissner e de Ruffini. As ramificações dos axónios em torno dos folículos pilosos também são recetores táteis. Impulsos passam dos recetores periféricos até ao corpo celular do 1º neurónio (gânglio espinhal). O seu axónio entra na medula pela raiz dorsal e origina ramos ascendentes longos e descendentes curtos 🡺 feixe póstero-lateral (de Lissauer). O axónio do 1º neurónio sinapsa com o 2º neurónio na substância gelatinosa do corno posterior, de onde emergem axónios que decussam pela comissura branca anterior e ascendem no funículo anterior contralateral 🡺 TRATO ESPINHO-TALÂMICO ANTERIOR.
Ao ascender, este trato recebe fibras pela sua face medial (fibras mais mediais são cervicais e as mais laterais são sagradas). Esta via atravessa o tronco cerebral lateralmente ao lemnisco medial, fazendo parte do lemnisco espinhal (união, na ponte, dos tratos espinho-talâmicos anterior, lateral e espinho-tectal). O trato sinapsa com o 3º neurónio no núcleo VPL do tálamo (é aqui que é integrada a informação) 🡺 radiação talâmica 🡺 braço posterior da cápsula interna e corona radiata 🡺 área somatoestésica primária. A apreciação consciente do tato protopático e da pressão depende da ativação do córtex cerebral.
Via Cordonal Posterior
Esta via corresponde ao funículo posterior (fascículos grácil e cuneiforme 🡺 Sistema Lemniscal). O fascículo grácil contém fibras dos nervos sagrados, lombares e 6 últimos torácicos. O fascículo cuneiforme contém fibras dos 6 primeiros nervos torácicos e dos cervicais. Ou seja, as fibras do funículo posterior que se encontram mais medialmente (GRÁCIL) correspondem a segmentos corporais mais inferiores. À medida que o fascículo ascende, recebe fibras pelo seu flanco lateral (CUNEIFORME), que correspondem a segmentos corporais mais superiores (organização somatotópica das fibras). Esta organização também se verifica no lemnisco medial e no tálamo. Esta via leva informação do tato discriminativo (ou epicrítico), informação músculo-articular para a movimentação corporal (propriocepção consciente) e a sensibilidade vibratória. O tato epicrítico e a propriocepção consciente permitem o reconhecimento da forma e tamanho dos objetos colocados na mão (estereognosia). Os impulsos desta via tornam-se conscientes no córtex.
Os recetores de tato são os corpúsculos de Ruffini e de Meissner e as ramificações dos axónios em torno dos folículos pilosos. Os recetores da propriocepção consciente são os fusos neuromusculares e órgãos tendinosos de Golgi. Os recetores da sensibilidade vibratória são os corpúsculos de Vater Paccini.
O 1º neurónio situa-se no gânglio espinhal, e os seus prolongamentos centrais entram na medula pela raiz dorsal, dividindo-se em ramos mediais e laterais. Os ramos mediais dividem-se em ramos ascendente e descendente, ambos presentes no funículo posterior homolateral. As fibras descendentes alcançam vários segmentos medulares, sinapsando com neurónios dos cornos posteriores 🡺 interneurónios 🡺 neurónios do corno anterior (reflexos interssegmentares). As ascendentes sobem formam os fascículos grácil e cuneiforme, sinapsando nos respetivos núcleos (2º neurónio). Os ramos laterais entram no corno posterior, onde sinapsam com os neurónios da coluna cinzenta intermédia e corno anterior. Do 2º neurónio emergem as fibras arqueadas internas 🡺 decussação dos lemniscos 🡺 ascendem pelo tronco cerebral como lemnisco medial, sinapsando com o 3º neurónio no núcleo VPL do tálamo 🡺 radiação talâmica 🡺 braço posterior da cápsula interna e corona radiata 🡺 área somatoestésica primária.
Via Espinho-Cerebelosa Posterior
Os recetores são os fusos neuromusculares e órgãos tendinosos de Golgi. O axónio do 1º neurónio (gânglios espinhais) entra na medula através da raiz dorsal, dirigindo-se para o corno posterior. Na base do corno posterior e substância cinzenta intermédia, sinapsa com o 2º neurónio 🡺 núcleo dorsal (ou coluna de Clark) 🡺 estende-se pelos segmentos C8–L3/L4 🡺 os axónios que entram na medula inferiormente a L3/L4, têm que ascender no funículo posterior até atingirem o núcleo. Os axónios dos 2º neurónio ascendem como feixe espinho-cerebeloso posterior (Feixe de Flechsig), na porção póstero-lateral da periferia do funículo lateral ipsilateral, posteriormente à via espinho-cerebelosa anterior, até ao bulbo 🡺 PCI 🡺 córtex cerebelar. As fibras deste feixe transmitem impulsos de proprioceção inconsciente ao cerebelo 🡺 coordenação dos movimentos dos membros e manutenção do tónus muscular e postura corporal.
Via Espinho-Cerebelosa Anterior
A via espinho-cerebelosa anterior é, inicialmente, semelhante à via espinho-cerebelosa posterior. A partir do núcleo dorsal (ou coluna de Clark) emergem os axónios que formam o trato propriamente dito. A maioria dos axónios decussam e ascendem na periferia do funículo lateral contra-lateral como feixe espinho-cerebeloso anterior (Feixe de Gowers), lateralmente à via espinho-talâmica lateral. Apenas uma pequena parte das fibras ascende no funículo ipsilateral. Estas fibras depois alcançam o mesencéfalo 🡺 PCS 🡺 córtex cerebelar. As fibras deste feixe que decussaram na medula, quando alcançam o cerebelo, voltam a decussar pelo PCM, para terminarem no córtex cerebelar do hemisfério contralateral (DUPLA DECUSSAÇÃO 🡺 logo o trajeto da via é contralateral, mas o ínicio e o fim é ipsilateral). Este feixe leva ao cerebelo informação proprioceptiva inconsciente e, talvez, informação da pele e da fáscia superficial 🡺 tem a mesma função que a via espinho-cerebelosa posterior.