Medula Espinhal Flashcards
Quanto à Medula Espinhal descreva a sua Forma
Trata-se da Porção do SNC contida no canal vertebral, aproximadamente cilíndrica, mas não regular: apresenta um Espessamento Cervical (segmentos medulares C3-T2, de onde se origina o plexo braquial) e um Espessamento Lombo-Sagrado (segmentos medulares L1-S3, origina o plexo lombar e sagrado). Já ântero-posteriormente acaba por ser algo aplanada e não segue o eixo do canal vertebral (alguma moldação às curvas, mas acaba retilínea).
Descreva os Limites da ME
Da metade inferior do arco do atlas, continuando-se com o bulbo raquidiano imediatamente abaixo da decussação das pirâmides, até algures entre o bordo inferior da primeira e segunda vértebra lombar, ocupando os 2/3 superiores do canal vertebral. Abaixo disto termina-se no Cone Medular, cujo apéx dá o Filum Terminale, um prolongamento da pia-máter, que se fixa na face posterior do cóccix.
Esta fica separada das paredes ósseas pelas meninges, tecido adiposo e pelos plexos venosos vertebrais internos (plexo venoso intra-raquidiano) que preenchem o espaço epidural. No espaço subaracnoideu está LCR que ajuda na função de proteção.
Descreva o conceito de Falsa Ascensão da Medula e a sua Importância Clínica
Desde o desenvolvimento intrauterino até à idade adulta a ME cresce, tal como a coluna vertebral, no entanto isto não ocorre ao mesmo ritmo, sendo a ME mais lenta. Conjugada com o facto de se encontrar “presa” superiormente pelo encéfalo, temos assim a justificação para que esta deixe de ser do mesmo comprimento que a coluna no desenvolvimento intrauterino, para ir até à 3ª Vértebra Lombar nas crianças e superiormente a L2 no adulto.
Assim é importante reter esta informação para quando estamos a fazer uma punção lombar na criança saber que devemos inserir a agulha entre L3-L4 ou L4-L5.
Descreva a Configuração Externa da ME
Esta apresenta uma fissura longitudinal profunda na face anterior (que se continua com sulco mediano anterior do bulbo): a Fissura Média Anterior. Na face posterior apresenta um sulco mais superficial que se continua com o sulco mediano posterior do bulbo: o Sulco Médio Posterior, que corresponde ao bordo posterior do Septo Médio Posterior (que se continua para a substância branca).
Encontramos dois sulcos colaterais anteriores, descontínuos e irregulares, correspondentes ao local de emergência das raízes anteriores ou motoras dos nervos espinhais. Do mesmo modo encontramos sucos colaterais posteriores que correspondem ao local de emergência das raízes posteriores (sensitivas) dos nervos espinhais. Existe um total de 31 pares de nervos espinhais fixos à medula pelas raízes anteriores (motoras) e posteriores (sensitivas). Sendo assim podemos contar 31 segmentos: 8 cervicais, 12 segmentos torácicos, 5 lombares, 5 sagrados e 1 coccígeo.
Para cada segmento dão entrada pela face dorsal os filamentos radiculares da raiz posterior e os da anterior pela face ventral que vão depois formar as raízes respetivas. Ao nível da posterior, esta contém um gânglio espinhal com os corpos celulares dos neurónios que a constituem. Ambas as raízes reúnem-se depois no nervo espinhal, para conter fibras sensitivas e motoras, sendo então um nervo misto.
Depois da união das raízes este divide-se em vários ramos, dos quais se distinguem:
-Ramo Posterior: vai posteriormente, entre os processos transversos correspondentes e distribui-se pelos tecidos moles posteriores à coluna
-Ramo Anterior: mais volumoso, continuando a direção do nervo espinhal e distribui-se pelas partes laterais e anteriores do corpo, contribuindo para a formação dos plexos
-Ramo Meníngeo/Recorrente do Nervo Espinhal: antes da divisão ou como ramo do anterior, tendo um trajeto recorrente para penetrar no canal vertebral pelos buracos de conjugação e distribuir-se pelos vasos do canal vertebral e meninges.
Assim, entre a fissura média anterior e o sulco colateral anterior fica o Cordão Anterior, entre os sulcos colaterais anterior e posterior está o Cordão Lateral e entre o sulco colateral posterior e o sulco médio posterior está o Cordão Posterior, salienta-se que este último tem, na região cervical, um suco longitudinal - Sulco Intermédio Posterior, que divide em dois fascículos: Fascículo Gracillis (medial) e Cuneatus (lateral). Estes cordões são bandas longitudinais de Substância Branca.
Descreva a Relação entre os Segmentos Medulares e a Coluna Vertebral no Adulto
Existem mais vértebras que segmentos medulares e as coccígeas não contribuem para o canal vertebral. Cada segmento origina 1 par de nervos espinhais que abandonam o canal vertebral pelos buracos de conjugação. Considerando a falsa ascensão da medula, cada segmento medular não está ao nível da vértebra correspondente. Assim sendo os segmentos lombares e sagrados da ME estão localizados entre a 10ª torácica e a 1ª lombar, sendo que assim o espessamento inferior chama-se por espaço lombo-sagrado (e não torácico) por estar nos segmentos lombares e sagrados. No entanto é de ressalvar que os nervos espinhais acabam por sair pelos buracos correspondentes à vértebra do mesmo número.
Por outro lado na coluna cervical há 8 pares de nervos cervicais e apenas 7 vértebras, verificando-se porque o primeiro par de nervos espinhais que abandona o SNC fá-lo entre o osso occipital e a primeira
Descreva a Configuração Interna da Medula Espinhal
A medula apresenta uma porção central de substância cinzenta, rodeada por substância branca. A fissura mediana anterior ocupa o 1/3 anterior da medula e o septo mediano posterior ocupa a 1⁄2 posterior, dividindo a medula em 2 metades unidas pela a comissura medular (substância cinzenta e branca). A substância cinzenta forma a comissura cinzenta (parte posterior da comissura medular), e a substância branca forma a comissura branca anterior à frente da comissura cinzenta. A comissura cinzenta é atravessada pelo canal central da medula, em toda a medula, dividindo a comissura em porções anterior e posterior. Este canal dilata-se na extremidade inferior do cone terminal ventrículo terminal da medula termina, inferiormente, no filum terminale. O canal contém LCR e é revestido por epêndima. Nas periferia do canal, a substância cinzenta apresenta uma transparência característica – substância gelatinosa central.
Descreva a Proporção Substância Cinzenta/Branca ao longo dos vários segmentos da medula
A proporção da substância branca/cinzenta varia consoante ao longo da medula:
Medula Cervical equilíbrio entre a substância cinzenta e branca; Medula Torácica predomínio da substância branca; Medula Lombar substância cinzenta desenvolvida, sendo a substância branca muito importante;
Medula Sagrada predomínio da substância cinzenta.A quantidade de substância cinzenta, em cada segmento, está relacionada com a quantidade de fibras musculares inervadas a esse nível as maiores dimensões surgem nos espessamentos cervical e lombo-sagrado.
Como se organiza a substância cinzenta da medula?
A substância cinzenta da medula, em forma de “H”, é constituída por corpos celulares e dendrites dos neurónios e neuróglia. Possui 2 estruturas laterais unidas pela comissura cinzenta. Cada estrutura lateral é constituída por:
Corno anterior responsável pela inervação motora. Tem (ant post) uma cabeça e uma base;
Substância (ou coluna) cinzenta intermédia lateralmente à comissura cinzenta; muito desenvolvida nos segmentos medulares C8 – L2/L3, formando os cornos laterais;
Corno posterior recebe informação sensitiva. Tem 3 porções (ant post) a base (unida ao corno anterior), o colo e a cabeça. Os cornos posteriores estão separados da superfície medular por substância branca correspondente à zona de entrada das raízes posteriores trato póstero-lateral (de Lissauer).
DIVISÃO DA SUBSTÂNCIA CINZENTA: 2 linhas tangentes aos bordos do ramo horizontal do H, dividindo a substância cinzenta num corno anterior, corno posterior e substância cinzenta intermédia. A substância cinzenta intermédia pode ser dividida em substância cinzenta intermédia central e substância cinzenta intermédio-lateral por 2 linhas ântero-posteriores. Assim, o corno lateral faz parte da substância cinzenta intermédio-lateral.
Constituição do Corno Anterior
O corno anterior é constituído por 2 tipos de neurónios motores multipolares. A maioria dos neurónios são neurónios alfa eferentes (Aα), os quais emitem axónios pelas raízes motoras para inervarem as fibras musculares esqueléticas extrafusais. Os restantes neurónios são neurónios gama eferentes (Aγ), cujos axónios saem pelas raízes anteriores para inervarem os fusos neuromusculares e fibras musculares intrafusais. ORGANIZAÇÃO no corno anterior, cada músculo possui regiões nucleares definidas na forma de colunas. Músculos de maiores dimensões necessitam de uma maior quantidade de neurónios, pelo que as colunas nucleares desses músculos se estendem por vários segmentos medulares. Os músculos cujos neurónios motores se localizam totalmente num único segmento são músculos ideais para a avaliação desse segmento medular (ex: músculos do tronco – inervação segmentar). Já os músculos dos membros têm uma inervação polissegmentar, devido aos processos de rotação embriológica. Portanto, um músculo é sempre inervado por uma única coluna nuclear, mas pode ser inervado ao longo de vários segmentos medulares.
Núcleos Corno Anterior
Os neurónios da substância cinzenta da medula agrupam-se em núcleos mais ou menos bem definidos. Estes núcleos formam colunas longitudinais dentro da substância cinzenta, as quais nem sempre se estendem ao longo de toda a medula. Assim, os neurónios do corno anterior podem ser divididos em 3 grupos de núcleos:
GRUPO MEDIAL existe em toda a coluna inervação da musculatura axial NÚCLEOS ÂNTERO-MEDIAL E PÓSTERO-MEDIAL;
GRUPO CENTRAL presente em alguns segmentos cervicais e lombo-sagrados. Na porção cervical, existe o NÚCLEO FRÉNICO (inervação do diafragma – segmentos C3–C5) e o NÚCLEO ACESSÓRIO (raiz espinhal do XI par – inervação do trapézio e ECM – segmentos C1–C5/C6). Na porção lombo-sagrada, existe o NÚCLEO LOMBO-SAGRADO (segmentos L2-S1 – projeção desconhecida);
GRUPO LATERAL presente nos segmentos cervicais e lombo-sagrados (espessamentos da medula) inervação da musculatura apendicular, superior e inferior. Há 3 núcleos:
Núcleo Ântero-lateral – inervação da musculatura proximal dos membros (braço e coxa);
Núcleo Póstero-Lateral – inervação da musculatura do antebraço, mão, perna e pé;
Núcleo Retro-póstero-Lateral – inervação dos músculos dos dedos.
ORGANIZAÇÃO SOMATOTÓPICA DO CORNO ANTERIOR
Nas colunas nucleares do grupo medial encontram-se neurónios motores dos músculos axiais e apendiculares proximais;
Nas colunas nucleares do grupo lateral encontram-se os neurónios motores dos músculos apendiculares distais;
Na zona mais anterior do corno anterior situam-se os grupos nucleares para os músculos extensores;
Na zona mais posterior do corno anterior estão os núcleos dos músculos flexores.
Constituição do Núcleo Posterior
Os neurónios sensitivos são pseudounipolares um prolongamento divide-se em 2 ramos um ramo periférico, que contacta com recetores à periferia; e um ramo central, que contacta com o SNC. Os corpos celulares estão nos gânglios espinhais das raízes dorsais. Os corpos celulares que existem nos cornos posteriores da medula são interneurónios que também estão organizados em grupos/núcleos.
Núcleos do Corno Posterior
- Substância Gelatinosa (de Rolando) situada na cabeça do corno posterior, ao longo de toda a medula. Composto por neurónios Golgi tipo II, que recebem ramos das vias termo-álgica, de vias descendentes que modulam a penetração das aferências neste núcleo, e de fibras aferentes que entram na medula pela raiz dorsal. Segundo Snell, este núcleo também recebe aferências do tato protopático;
- Núcleo Marginal de Waldeyer (ou Estrato Zonal de Waldeyer) formado por neurónios de associação, situado no ápex do corno posterior, posteriormente à substância gelatinosa;
- Núcleo Proprius do Colo do Corno Posterior situado à frente da substância gelatinosa (na base) e ao longo de toda a medula. A sua função é controversa:
Snell = recebe ramos colaterais da via cordonal posterior;
Rouvière = impulsos exteroceptivos, como o tato protopático. - Núcleo Dorsalis (Coluna de Clarke ou Torácico Posterior) situado na base do corno posterior, nos segmentos C8-L3/L4. Recebe fibras aferentes das vias da propriocepção inconsciente do tronco para a coordenação e manutenção do tónus muscular. Neste núcleo encontramos os interneurónios desta via, cujo axónio originará o feixe espinho-cerebeloso posterior.
- Núcleos de Bechterew (2) núcleos situados na base do corno posterior, apenas ao nível das porções sagrada e cervical da medula. Representam os centros da propriocepção inconsciente dos membros encontramos os 2º neurónios desta via, cujo axónio originará o feixe espinho-cerebeloso anterior.
- Núcleo Aferente Visceral identificado por Snell, situado lateralmente ao núcleo dorsalis, estende-se desde T1-L3. Associada à receção de informação aferente visceral (via da sensibilidade visceral).
Constituição do Corno Lateral
Esta coluna intermédia (ou corno lateral) também apresenta neurónios organizados em grupos/núcleos:
1. Grupo Intermédio Lateral presente nos segmentos onde há cornos laterais (C8-L2/L3) e na porção sagrada (S2-S4) da medula. Relacionado com o SNA simpático, origina as fibras simpáticas pré-ganglionares. Este núcleo tem pequenas áreas específicas para a inervação de uma determinada região:
C8-T2 – centro da porção simpática craniofacial, contendo especialmente o centro dilatador da íris e o centro acelerador cardíaco
T3-T5 – centro bronco-pulmonar
T6-L2 – centro dos nervos esplâncnicos abdominais e pélvicos
C8-L2 – centros pilomotores, sudoríparos e vasomotores
- Grupo Intermédio Medial (de Cajal) localização e função semelhantes ao grupo intermédio lateral.
- Grupo Parassimpático Sagrado situado entre S2-S4, na porção medial da coluna intermédia (já não existe corno lateral). Relacionado com o SNA Parassimpático, dando origem às fibras pré-ganglionares parassimpáticas.
Lâminas de Rexed
Atualmente, o conceito de grupos celulares funcionais da medula tende a ser substituído pela noção das lâminas espinhais de Rexed divisão da substância cinzenta em 10 lâminas transversais, com uma ordenação geral de posterior para anterior. Esta laminação citoarquitetónica é de baixa relevância na clínica. As laminas I – IV constituem a área recetora, onde terminam os neurónios das fibras exteroceptivas que penetram pela raiz dorsal. As laminas V e VI recebem informações proprioceptivas. A lamina IX contém neurónios motores que correspondem aos núcleos do corno anterior.