Tema X: Desenvolvimento psicossocial na adolescência II Flashcards
Como apresenta Erikson a crise da identidade pessoal na adolescência (centrada na estrutura freudiana do ego)?
Na teoria do desenvolvimento psicossocial de Erikson, que dita que o indivíduo apresenta ou não um crescimento saudável e um sentimento de concretização e de adaptação às mudanças maturacionais e sociais consoante a sua capacidade de resolver as crises emocionais bipolares que surgem em diferentes fases da sua vida, é o quinto estádio que corresponde ao período da adolescência. Nesta fase, o desenvolvimento cognitivo que leva à procura de sentido de continuidade e integridade, a emergência da puberdade, a incerteza de que papéis sociais e profissionais assumir e as crescentes pressões para a tomada de decisões levam o adolescente ter a necessidade de responder às questões que caracterizam o surgimento duma crise de identidade pessoal – Quem sou eu, de onde venho e que pessoa é quero ser? Surge então a situação
característica da moratória que deve ser oferecida por qualquer sociedade, um período onde os adolescentes, na tentativa de encontrarem as ideologias e valores que definem a sua identidade, têm a liberdade de experimentar diferentes papéis sociais “adultos” até realizarem compromissos permanentes em nome duma só identidade. Se neste período crítico, os adolescentes sucederem na capacidade de atingir a
fidelidade (direcção vocacional, valores filosóficos significativos que guiem a sua vida, formas satisfatórias de expressão de género e sexualidade), formam então a sua identidade pessoal; caso contrário, prevalece uma difusão de identidade, uma ausência de coerência e unidade nos papéis sociais e crenças adotadas.
Como apresenta James Marcia (1966) os estatutos de identidade em estudantes universitários (centrada na estrutura freudiana do ego)?
O James Marcia elaborou a tarefa da “identidade vs. difusão de identidade” inicialmente proposta por
Erikson, identificando e validando empiricamente 4 diferentes maneiras que os adolescentes podem ou não seguir de formar os seus compromissos identitários dentro de qualquer contexto social. Para tal, esta realizou um estudo (1966) com o objetivo de analisar o processo de formação de identidade em estudantes universitários masculinos, onde foram utilizados dois instrumentos de avaliação: o Ego Identity Incomplete Sentences Blank (EI-ISB), uma medida objetiva global de identidade (autorreflexão, percepção realista do futuro, compromisso com ideologia e profissão, etc.); e entrevistas semiestruturadas, centradas em valores vocacionais, políticos, religiosos e sexuais, cujo objetivo era avaliar duas dimensões do processo de construção da identidade – a exploração e o compromisso – e o foco estava no processo de desenvolvimento (como é que chegaram a determinadas escolhas; profundidade do processo de exploração, sentimentos associados aos processos de exploração, certeza nas escolhas realizadas). Os resultados revelaram 4 estatutos de identidade.
- Identidade conquistada
- Moratória
- Insolvência identitária/identidade encerrada
- Difusão de identidade
Como são definidos os 4 estatutos de identidade identificados por James Marcia?
- Identidade conquistada (+ exploração, + compromisso) - consciência do eu realmente estável, compromisso em relação a alguns valores centrais; formam os seus compromissos baseados nos seus próprios termos, após um período ativo de exploração e pesquisa.
- Moratória (+ exploração, - compromisso) - esforço contínuo para explorar as várias possibilidades que
se apresentam aos jovens; está no processo de encontrar maneiras significativas de expressar as suas
preferências vocacionais, ideológicas e sexuais. - Insolvência identitária/identidade encerrada (- exploração, + compromisso) - compromisso com os valores definidos pelos outros, primariamente os pais, sem haver uma exploração pessoal das alternativas.
- Difusão de identidade (- exploração, - compromissos) - sem compromisso, nem exploração ativa das diferentes possibilidades.
Quais são as trajetórias iniciais no desenvolvimento da identidade apresentadas por Marcia?
Estatutos de identidade existem num continuum em
duas sequências possíveis:
Difusão – Moratória – Identidade encerrada – Identidade Conquistada
Difusão – Identidade encerrada – Moratória – Identidade conquistada
Como Alan Waterman (1982) apresentou as trajetórias no desenvolvimento da identidade?
Existem várias trajetórias possíveis no desenvolvimento da identidade - não existe uma sequência invariável no desenvolvimento da identidade.
Exemplos:
Difusão (entrada na universidade) - moratória - identidade conquistada - moratória (sem oportunidades de trabalho)
Difusão - Insolvência - moratória
Difusão - moratória - difusão - moratória
Que padrões podemos identificar no desenvolvimento dos estatutos de identidade?
- Estudos longitudinais com estudantes universitários têm consistentemente mostrado que pelo menos 50% dos adolescentes mantêm o estatuto de identidade encerrada e difusa em todos os domínios (apesar dos desafios e oportunidades para conhecer novas pessoas e tópicos, uma grande percentagem dos indivíduos entra na vida adulta sem explorar ou se comprometer a papéis sociais identitários ou valores próprios).
- Estudos longitudinais e investigações retrospectivas que examinaram padrões intra-individuais de mudança têm consistentemente mostrado que o estatuto de moratória é o menos estável (gera níveis
desconfortáveis de ansiedade no indivíduo que provavelmente o tornam incapaz de perpetuar indecisões ligadas à identidade durante muito tempo). - Estudos mostram a maior frequência de sequências progressivas do que regressivas.
Que correlatos podemos estabelecer entre a identidade e a personalidade?
Autoestima: Identidade conquistada com uma associação moderada com a autoestima
Ansiedade: Moratória com níveis mais elevados de
ansiedade por comparação aos de identidade
encerrada, que por sua vez têm menos ansiedade que
os da identidade difusa (efeitos moderados a baixos)
Autoritarismo: Os indivíduos de identidade encerrada
apresentam pontuações elevadas nos níveis de
autoritarismo em comparação a outros estatutos
(efeitos elevados a moderados quando comparado com moratória ou identidade conquistada)
Raciocínio moral: os indivíduos com identidade conquistada usam mais frequentemente raciocínios
pós-convencionais por comparação a pré convencionais quando tomam decisões morais (efeito
moderado)
Que influências podemos encontrar no desenvolvimento da identidade?
- Familiares (estilos parentais – conformidade, controlo parental)
- Contexto social e histórico (diferentes níveis socioeconómicos, organização do sistema escolar, prolongamento da escolaridade, contexto profissional e mobilidade, globalização, internet)
Que diferentes significados podemos obter do desenvolvimento da autonomia e nas mudanças nas relações familiares?
- Resultado da individuação
- Menor dependência dos pais
- Resistência à pressão dos pares e dos pais
- Raciocínio mais independente em problemas morais, políticos e sociais
- Maior sentido de controlo da vida do próprio e maior capacidade de autonomia
Quais são os 3 conjuntos de habilidades apresentados no modelo geral de autonomia do adolescente de Noom, Delovic e Meeus (2001)?
Noom, Delovic e Meeus (2001) delinearam um modelo geral e empiricamente válido que inclui elementos da maioria das teorias existentes e assenta numa autonomia durante a adolescência que
se prende em 3 conjuntos de habilidades:
- Autonomia atitudinal: capacidade cognitiva de refletir sobre e especificar diferentes opções (preferências, desejos, desejos), de tomar decisões e de definir objetivos; capacidade geral de pensar antes de agir;
- Autonomia emocional: processos afetivos de percepção de independência (desapego) emocional dos pares e dos pais; sentido de confiança nas escolhas e objectivos do próprio;
(autonomia atitudinal e emocional mostram um pequeno mais significativo aumento com a idade durante a adolescência. - Autonomia funcional: percepção de controlo e competência; capacidade regulatória de desenvolver
umas estratégias para atingir os objectivos do próprio. Não existe um aumento significativo no
período de adolescência, provavelmente porque a capacidade de determinarmos os nossos próprios
objectivos é um pré-requisito.
Que 3 tipos de autonomia na transição da infância para a adolescência foram estudados por Steinberg e Silverberg, em 1986?
Steinberg e Silverberg (1986) realizaram um estudo, através de questionários, com 865 adolescentes dos 10 aos 16 anos cujo objetivo era examinar o desenvolvimento e as interligações entre 3 tipos de autonomia na transição da infância para a adolescência que até à data não tinham sido estudados em simultâneo:
- Autonomia emocional em relação aos pais – renúncia das dependências infantis face aos pais (sentido de individuação, e.g. de questão “há algumas coisas que farei de forma diferente dos meus pais para resolver o problema”; não idealização dos pais, e.g. resposta inversa à questão “os meus pais raramente cometem erros”; não dependência dos pais, e.g., resposta inversa à questão “quando faço algo de errado, dependo dos meus pais para resolver o problema) e pais como pessoas, e.g. de questão “Muitas vezes questiono-me como os meus pais serão quando
não estou por perto”); - Resistência dos pares (pedir ao adolescente para responder a dilema moral ou segundo a sugestão do “melhor amigo” ou segundo o que ele próprio acha melhor);
- Autoconfiança (foi conceptualizado como envolvendo a ausência de excessiva dependência face a outros, sentido de controlo sobre a própria vida e iniciativa; resposta à subescala do Inventário de Maturidade Psicossocial).
O que indicam os resultados do estudo realizado por Steinberg e Silverberg (1986)?
Os resultados do estudo indicam que diferentes dimensões da autonomia evoluem em ritmos
distintos – no que diz respeito à autonomia emocional em relação aos pais, entre os 10 e os 16 anos,
verifica-se um aumento linear nas dimensões da não idealização e dependência dos pais e sentimento de individuação, uma ausência de mudanças nos pais como pessoas; analisando o desenvolvimento dos 3 tipos de autonomia desde o sexto ao nono ano, denota-se que a autonomia emocional aumenta gradualmente; que a autoconfiança baixa do quinto para o sexto ano, aumentando exponencialmente a partir daí até ao oitavo e estabilizando; e que a resistência dos pares diminui exponencialmente do quinto ano ao oitavo ano, estabilizando depois.
Como a relação com os pais afeta a autonomia do adolescente?
- Os adolescentes que revelam autonomia e simultaneamente maior proximidade emocional com os pais são os mais ajustados;
- O processo de autonomia não é tanto um processo de separação, mas mais um processo de reorganização das relações;
- A capacidade para a autonomia também depende dos estilos educativos dos pais [“O meu pai fala comigo à noite. Vê os meus cadernos, pergunta-me o que fiz durante o dia, onde estive, etc. Todavia não me aborreço com isso porque se interessa por mim” (15 anos); “Ele nunca tenta dizer-nos o que fazer. Todavia, se desconfiar que as coisas não estão a correr bem e que podemos ser prejudicados com isso, fala-nos sobre o assunto. E habitualmente tem razão… porque na maior parte das vezes concordo com ele” (17 anos)].
Qual a análise das consequências psicossociais do estilos parentais nos adolescentes realizada por Baumrind?
A análise das consequências psicossociais dos estilos educativos nos adolescentes foi realizada por Baumrind no terceiro momento de avaliação do seu estudo longitudinal (1991), dedicado à faixa etária
da adolescência (139 indivíduos de 14 anos e a sua família). Os resultados deste estudo sumarizam-se nas
seguintes afirmações:
- Apoiante c/ autoridade (autoritativo): Níveis mais elevados de competência e de comportamento
pró-sociais e menor incidência de problemas de internalização; - Autoritário: Mais problemas de internalização e de abuso de substâncias;
- Permissivo: Mais problemas de internalização do que todas as famílias menos os das famílias
desligadas. Mais problemas de abuso de substâncias que os indivíduos de famílias autoritativas (= aos das famílias desligadas); - Negligente: Menos pró-sociais e individualizados; mais problemas de internalização e externalização; mais problemas de abuso de substâncias; emancipação funcional (deixar de depender
funcionalmente dos pais).
De que modo pode a família facilitar as diferentes tarefas da adolescência?
- Desenvolvimento da identidade: Oportunidade para exploração; Menor pressão para conformidade
com valores dos pais; Incentivo à reflexão, capacidade crítica e ao raciocínio independente; Aceitação das características dos filhos. - Autonomia: Maior participação na tomada de decisão; Incentivo à exploração autónoma e oportunidades para gerir responsabilidades (mais
percepção de controlo); Exposição ao risco controlado;
Atribuição gradual de responsabilidades. - Desenvolvimento da intimidade com os pares.