Tema V: Desenvolvimento social na idade escolar Flashcards
Quais são os motores do desenvolvimento social na idade escolar?
Assumindo como referência o modelo ecológico de Brofenbenner, acredita-se que os motores de desenvolvimento social da criança são as relações transaccionais, dinâmicas e recíprocas que esta estabelece com 5 sistemas contextuais interligados que, do mais íntimo ao mais amplo, se
denominam microssistemas, mesossistemas, exossistemas, macrossistemas e cronossistemas. Compreender as alterações no desenvolvimento social da criança em idade escolar passará então por 1)
estudar a influência direta (estilos de vinculação, estilos parentais educativos) e indirecta (impacto na escola e pares) da família e 2) a influência direta das relações com pares (mudanças na quantidade e
qualidade das interacções, estatuto social, relações de amizade).
Como os estilos de vinculação apresentam uma influência direta da família no desenvolvimento social?
A vinculação, conceptualizada inicialmente por Bowlby (1969/1982), é um sistema
de controlo comportamental inato e evolutivo que diz respeito à manutenção da proximidade da figura
fornecedora de cuidados para garantir a segurança e protecção face a perigos de predação, aumentando a
probabilidade de sobrevivência. As estratégias indicadas para lidar com a necessidade da vinculação são aprendidas através da experiência relacional e neste sentido Ainsworth fez uma descoberta interessante ao aplicar a crianças um paradigma experimental inovador (“situação estranha”): que a forma como as crianças lidam com o stress associada aos momentos de separação da mãe ou a interação com estranhos reflete 3 tipos de padrões de vinculação distintos - o seguro (associada a mães disponíveis consistentemente e responsivas aos filhos), evitante (associado a mães que ignoram os filhos e fornecem pouco conforto corporal) e o ambivalente/resistente (associado a mães inconsistentes que ou são intrusivas ou ignoram os filhos) (+ tarde Main e Solomon adicionam a categoria desorganizado, associado a mães deprimidas, insensíveis ou abusivas).
Que dimensões do funcionamento adaptativo da criança são afetadas pelos estilos de vinculação?
O impacto desta dimensão da parentalidade tem sido avaliado em investigações como a de Soares, Martins e
Tereno (2007), que se centra no facto de estudos longitudinais revelarem associações significativas entre os padrões de vinculação inferidos a partir da situação estranha c/ crianças entre os 12 e os 18 meses e
diferentes dimensões do funcionamento adaptativo da criança nos primeiros 10 anos de vida:
- Competências sociais c/pares e adultos
- Competências linguísticas e cognitivas em tarefas de resolução de problemas
- Organização comportamental em situações de stress emocional
Que impacto têm os estilos parentais no desenvolvimento social na idade escolar?
Diana Baumrind iniciou o seu trabalho nos anos 60 com o objetivo de conhecer os precursores, a
nível de comportamento parental, da competência das crianças (autonomia e responsabilidade social), em
famílias “saudáveis”, focando-se tanto na dimensão do afeto/responsividade como na dimensão do controlo
parental. Esta realizou um estudo longitudinal multi-metodológico de forma a avaliar os indivíduos em 3
períodos do desenvolvimento distintos – idade pré-escolar, escolar e adolescência – e o que conclui que
existem 3 grandes padrões de comportamento parentais, que são conciliados por Maccoby e Martin (que ainda adicionam outro padrão) com a tentativa de descrever o comportamento parental.
Quais são as duas dimensões que são utilizadas para descrever os estilos parentais?
- Responsividade: Suporte emocional, disponibilidade afetiva, expressões de afeto e tom
emocional positivo, aceitação e respeito pela individualidade da criança, envolvimento positivo,
sensibilidades para os seus estados psicológicos e responsividade cognitiva (estimulação intelectual e
encorajamento de expressão de ideias) - Exigência/controlo: É caracterizada por monitorização, ou seja, a capacidade dos pais
supervisionarem os filhos e se manterem a par das suas actividades (é adequada quando não há
intrusividade elevada, “parentalidade à distância”); controlo firme, isto é, impor consistentemente a
adesão a determinadas regras, usar estratégias específicas para fazer filhos cumprir regras ou
interiorizar valores e definição do que é esperado (é adequado quando tal ocorre por meio de indução e
não de forma restritiva e coerciva); exigências de maturidade elevadas (que são adequadas quando são
adaptadas às características da criança)
Quais os quatro estilos parentais educativos?
Apoiante com autoridade (autoritativo) - elevada reciprocidade e comunicação bidirecional, reforço das qualidades e interesses da criança.
Autoritário - assertividade baseada na afirmação de poder e medidas punitivas, respeito pela autoridade, ordem e trabalho, ausência de liberdade de expressão, pouco afetuoso.
Permissivo - comportamento passivo e aceitante, recurso utilizado pela criança, fracas exigências de maturidade, uso da indução e não do poder.
Negligente - indiferente, não envolvido, despende o mínimo de energia na criança.
Que resultados foram obtidos por Pereira (2009) sobre o impacto dos estilos parentais no desenvolvimento dos filhos?
Indivíduos c/ pais autoritativos apresentam grandes vantagens como: melhores resultados escolares; atitudes mais positivas relativamente à educação; aspirações educacionais mais elevadas; maior autoestima, auto-confiança e competência social; níveis mais elevados de estratégias de coping, menos problemas de internalização e externalização. Indivíduos c/pais permissivos não parecem diferir significativamente de indivíduos c/ pais autoritários. Quando o estilo negligente é considerado, diferentes estudos indicam que os resultados mais negativos estão associados a este padrão.
Qual a influência da família na adaptação da criança à escola?
Mais indiretas …
- Estilos educativos parentais
- Ideias que os pais têm acerca da aprendizagem e do valor do estudo e da escola
Mais diretas …
- Práticas parentais que têm por objetivo apoiar o desenvolvimento cognitivo e aprendizagem
do filho (jogando, questionando, ensinando a pensar e a estudar, etc.)
- Ambiente de aprendizagem e acesso a diversos recursos (livros, internet)
- Envolvimento dos pais na escola [que segundo Seginer (2006), faz com que as crianças tenham melhores resultados escolares, menor número de problemas comportamentais, menor
absentismo, maior competência emocional].
Que relação se identifica entre o envolvimento dos pais na escola e as características da família?
Davies, Marques e Silva (1992) salientaram que os pais menos envolvidos na escola das suas crianças
dentro da faixa etária alvo são os de famílias desfavorecidas e que as razões apresentadas para tal são: uma maior distância cultural em relação à escola; falta de disponibilidade porque estão, por vezes, mais
preocupados com outras questões como a sobrevivência; desconhecimento da realidade escolar e de possíveis formas de participar nela; experiências pessoais negativas com a escola, ligadas por exemplo ao insucesso académico; tendência para contactar com a escola através de registos de queixas (só vão à escola
quando há algo negativo a ser da sua criança); menor sentido de competência para aspectos relacionados
com a escola.
Que influências indiretas a família tem nas relações da criança com os pares?
- Modelos internos dinâmicos ou esquemas
relacionais desenvolvidos pelos seus filhos, ou seja,
nas suas representações mentais conscientes e não
conscientes do mundo, dos outros e de si próprios,
que interferem no processo de atenção e interpretação de acontecimentos interpessoais - Estilos de regulação do humor, porque antes das
crianças conseguirem autorregular as suas próprias
emoções, elas são orientadas pelos pais, que lhes
ensinam estratégias flexíveis e construtivas de
modulação de sentimentos negativos, formando
indivíduos seguros, ou estratégias de hiperativação e
desativação, que levam a indivíduos preocupados ou
evitantes - Competências e comportamento social, porque os
pais são modelos da interação social e ensinam
estratégias adaptativas importantes como, por
exemplo, as de coping, centradas na procura de
apoio social e resolução de problema
Que influência direta têm os familiares da criança nas relações com os pares?
São influências diretas ao serem…
- Arquitetos do ambiente social, ao selecionarem o local de residência, da escola e de outras actividades que envolvem contacto com pares
- Mediadores dos encontros sociais, providenciando contacto informal com os pares e regulando as opções dos filhos em termos de companheiros
- Supervisores dos encontros sociais, ao monitorizarem e orientarem os encontros com pares
- Consultores, ao oferecerem apoio de acordo com
as necessidades e preocupações apresentadas pelas crianças
Que alterações quantitativas na interação entre pares na idade escolar é possível destacar?
Hartup (1992) verificou que a proporção de actividade social aumenta de 10% aos 2 anos para 20% aos 4 anos e para mais de 40% na idade escolar.
Que alterações qualitativas na interação entre os pares ocorrem na idade escolar?
Resumidamente, ocorrem alterações nos jogos e brincadeiras, ocorre afiliação seletivamente entre as crianças, o estatuto social desenvolve-se a partir da avaliação que fazem uns dos outros e desenvolvem-se relação mais complexas, com as de amizade.
Que alterações ocorrem nos jogos e brincadeiras na idade escolar?
Esta transição em que as crianças desenvolvem alguma independência face aos pais e começam a sentir-se mais prontas para interagir com os seus pares leva a um aumento da participação
social, ou seja, a adesão a brincadeiras e jogos (comportamentos agradáveis que não têm um propósito imediato e óbvio) mais associativos e cooperativos denominados jogos sociais. Grande parte destes jogos na idade escolar envolve actividade física, sem o uso de brinquedos, destacando-se claramente a rough-and-tumble play que é caracterizada por wrestling, lutas, pontapés, quedas, rebolar no chão e perseguições que se desenvolvem num ambiente de riso, self-handiccaping (os mais fortes não têm necessariamente de “ganhar”), restrição (não bater, dar pontapés fortes) e trocas (todos têm oportunidade desempenhar o papel de estar on top). Este tipo específico de brincadeira tem duas grandes funções: ajuda a desenvolver força física e estamina + compreensão duma hierarquia de dominância social (cuja importância aumenta na adolescência).
Que alterações se observam entre as crianças de idade escolar na afiliação seletiva?
1) Na idade escolar denotam-se diferenças substanciais nas brincadeiras e comportamento sociais em função do sexo, havendo uma forte segregação – tendência para as crianças brincarem com pares do mesmo sexo – e diferenciação – emergência de diferentes estilos de interação e brincadeira nos grupos dos rapazes e das raparigas, havendo nos primeiros uma preferência por actividades
exteriores, jogos de equipa competitivos com regras e estruturas de papéis complexos que estimulam
cooperação e liderança e brincadeiras físicas e agressivas e nas segundas uma preferência por actividades interiores, sedentárias e empáticas e por interações mais íntimas e exclusivas;
2) existe ainda a emergência de cliques – grupos mais definidos e estáveis.