Síndrome Compartimental Flashcards

1
Q

Introdução:

Epidemiologia:

Patogênese

A

Intro:

  • Contratura de Volkmann é o estágio final de uma SCA negligenciada, em que uma necrose muscular irreversível acarreta em contraturas isquemicas.
  • Síndrome Compartimental de esforço ocorre quando provocada por exercícios, pode levar a dor e isquemia e raramente sinais neurológicos. Esse transtorno se caracteriza pela resolução dos sintomas com repouso, mas pode evoluir para SCA, se o exercício continuar

Epidemiologia:

  • A partir da adolescência, pacientes mais jovens estão sob maior risco (mediana de 30 anos para Homens e 44 para Mulheres)
  • 10H : 1M
  • A explicação para maior prevalência em homens jovens seria a presença de grupos musculares relativamente grandes, ao passo que o volume dos compartimentos não muda após o final do crescimento, deixando pouco espaço para expansão do edema.
  • A causa subjacente mais comum foi uma fratura (69%)
  • Causas:
    • Fraturas (Diáfise tibial – 36%, Radio distal – 9,8%, Diáfise de Antebraço – 7,9%)
    • Lesão de tecidos moles
    • Síndrome de esmagamento
    • Revascularização
    • Exercícios
  • Pacientes com traumas de baixa energia estão mais propensos a SCA devido a não ocorrencia de rutura dos limites do compartimento
  • Pacientes portadores de politrauma estão sob maior risco.

Patogênese:

A diminuição de fluxo ocorre nos pequenos vasos, capilares, arteriolares ou venosos ∙ Teoria da pressão crítica de fechamento:

  • Um aumento de pressão nos tecidos levaria a pressão transmural cair para níveis muito baixos a ponto de impedir a distenção das fibras elásticas nas paredes dos vasos, a força de constrição fica muito maior que pressão transmural, levando a fechamento dos vasos (TM=FC/r)

Teoria do Gradiente Arteriovenoso

  • Aumentos de pressão, reduziriam o gradiente de pressão arteriovenoso local, e portanto o fluxo sanguíneo
  • FSL = Pa – Pv /R
  • FSL (fluxo sanguineo local) Pa(pressão arterial) Pv (pressão venosa) R(resistencia do vaso)
  • Como as veias são colabáveis, um aumento de pressão tecidual, levaria a um aumento de pressão nos capilares venosos, reduzindo o gradiente (Pa – Pv), e o poder de compensação de R é limitado.

Teoria da Oclusão Microvascular

  • A oclusão capilar seria o principal mecanismo de redução do fluxo sanguíneo
  • Onde uma pressão tecidual igual a do capilar levaria a seu fechamento
  • Além disso a isquemia muscular levaria a aumento da permeabilidade capilar, que libera proteínas plasmáticas, aumentando o edema e obstrução por pressão aumentada, perpetuando o ciclo.

Efeitos da elevada pressão tecidual no músculo

  • Nos membros, o tecido musculoesquelético é o mais vulnerável a isquemias ∙ Tanto a magnitude quanto a duração da elevação da pressão são influencias importantes na extensão da lesão muscular
  • Os limites de pressão crítica, situam-se 10 a 20 mmHG abaixo da pressão diastólica arterial, ou 25 a 30 mmHG abaixo da PAM
  • Quando o músculo está isquemico ou traumatizado, SCA pode ocorrer com pressões ainda menores.
  • Isquemia -> Necrose, e quanto maior o tempo maiores as consequencias
  • A necrose ocorre em sua maior extensão na porção central do músculo, não sendo confiável a avaliação externa do grau de necrose muscular.

O tipo de musculatura também influencia na isquemia e necrose:

  • Fibras tipo I (vermelhas)
    • Ex: compartimento anterior da perna (fratura da tíbia).
    • Fibras de contração lenta.
    • Não suportam metabolismo anaeróbico.
    • Mais sujeitas a isquemia e necrose.
  • Fibras tipo II (brancas)
    • Ex: compartimento posterior da perna
    • Fibras de contração rápida
    • Metabolismo anaeróbico
    • Mais resistentes à isquemia

Efeitos da elevação da pressão tecidual no nervo

  • Existe perda da função neuromuscular com aumento de pressões.
  • O mecanismo ainda não foi esclarecido, podendo ser efeito da isquemia, compressão, efeitos tóxicos ou acidose.

Efeitos da elevação da pressão tecidual no osso

  • SCA pode levar a não consolidação, provavelmente por isquemia

Lesão de Reperfusão

  • A reperfusão é seguida por uma resposta inflamatória no tecido isquemico que pode causar maior lesão aos tecidos
  • É provável que o “gatilho” para a resposta inflamatória seja a presença de produtos de degradação dos músculos, alguns deles sendo pró-coagulantes
  • Se o volume muscular envolvido for grande, a resposta inflamatória pode ser sistêmica (CIVD)
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Q

Diagnóstico:

Métodos para avaliar pressão intracompartimental

Limites para descompressão:

Momento para realizar descompressão:

A

Diagnóstico Clínico:

  • A dor é o primeiro sintoma da SCA
    • Sensibilidade 19% e especificidade de 97%
    • Geralmente intensa, pela origem isquêmica, desproporcional à apresentação clínica
    • Dor promovida pelo alongamento passivo dos músculos envolvidos é reconhecida como sintoma de SCA.
    • Pode ser ausente ou mínima se associada a lesão nervosa ou na SCA de compartimento posterior profundo, respectivamente.
    • Em crianças: inquietude, agitação, e ansiedade
  • Parestesia e Hipoestesia
    • Podem ocorrer por isquemia nervosa ou lesão nervosa simultânea (sinal agudo)
  • Paralisia dos grupos musculares
    • Sinal tardio
    • Caso o paciente venha a exibir déficit motor, raramente a recuperação será completa
    • Sensibilidade baixa
  • Edema palpável
    • Pode ser um sinal de SCA
    • Difícil de ser avaliado, pp nos compartimentos profundos posteriores.
  • Pulsos periféricos e retorno capilar
    • Geralmente presentes na SCA
    • Ausente quando há lesões vasculares ou em estágios finais de SCA.
  • O uso de uma combinação de sinais e sintomas descritos aumenta a sensibilidade como instrumento diagnóstico.

Monitoração da pressão no compartimento

  • Em geral a PIC é mensurada no compartimento anterior, devido a essa região ser a mais comumente envolvida (mais sensível) e ser mais fácil o acesso
  • Há o risco de se deixar passar SCA em compartimento profundo posterior, e alguns autores recomendam a medida nos dois compartimentos, porém é uma tarefa mais incômoda
  • É importante medir a pressão de pico numa área até 5cm distante da fratura.

Métodos:

  • Manômetro de agulha
    • Agulha introduzida no compartimento, conectada a uma coluna ocupada por solução salina e ar
    • Uma seringa com ar é conectada a coluna
    • Um transdutor de pressão tb
    • A PIC seria a pressão necessária para se injetar o ar na tubulação e achatar o menisco situado entre a solução salina e o ar
    • Foi modificado para permitir a injeção de solução salina no compartimento e nesse caso a PIC seria a pressão de resistência a infusão
    • Método simples e barato, porém ao se injetar solução no compartimento, pode induzir uma SCA
    • Menos precisa das técnicas disponíveis
    • Agulha pode obstruir
  • Cateter de pavio (wick catheter)
    • Modificação da técnica da agulha, onde fibrilas se salientam do orifício do cateter, possibilitando grande área de aferição e menor chance de obstrução da agulha o Técnica ideal para mensuração contínua
    • Desvantagens:
      • Bloqueio da ponta por coágulo
        • Introdução de ar na coluna de líquido entre o cateter e o transdutor, levando a leituras falsamente baixas
      • Risco teórico de retenção de material das fibrilas (mechas) no tecido.
  • Cateter de fenda:
    • Princípio igual ao do cateter de pavio
    • Projetado para aumentar a superfície na ponta do cateter, por meio de um corte axial em sua extremidade
    • É preciso cuidado com bolhas de ar, para não ocasionar leituras falsamente baixas
    • Mais preciso que o método de infusão contínua
    • Precisão igual ao cateter de pavio
  • Cateter intracompartimental com transdutor solid state (CITS)
    • Colocação do transdutor diretamente no lúmen do cateter, para aumentar a precisão da PIC
    • Melhor para avaliações intermitentes de pressão, pois para avaliação contínua é necessária infusão de solução para evitar obstrução, o que poderia piorar ou acarretar uma SCA
    • Não dependem de coluna líquida
    • São mais caros
    • Problemas para reesterilização
  • Espectroscopia por proximidade do infravermelho
    • Se revelou como técnica promissora
    • Depende de validação em humanos sujeitos à lesão.

Limite para descompressão na síndrome compartimental aguda:

  • O limite sugerido é a diferença entre pressão sanguínea diastólica e a pressão tecidual (Δ P)
  • Deve ser > 30 mmHg no músculo normal
  • Deve ser > 40 mmHg no músculo sujeito a trauma
  • Valores inferiores a esses são os limites

Momento da decisão

  • Δ P < 30 mmHG
    • Se PIC caindo e Delta P aumentando, será seguro observar o paciente até delta P seguro
    • Se PIC aumentando e Delta P caindo e além disso, essa tendência demonstrar consistência por período de uma a duas horas, então o cirurgião deverá fazer a fasciotomia
  • Não se deve fazer a fasciotomia com base em somente uma leitura de pressão, exceto em casos extremos.
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Q

Anatomia aplicada:

A

Coxa

  • 3 compartimentos, envolvidos pela fáscia lata e separados pelos septos intermusculares medial e lateral.
  • Raro o envolvimento do adutor (medial)

Perna

  • Há quatro compartimentos (anterior, lateral e posteriores superficial e profundo)
  • O compartimento anterior é limitado anterior por pele e fáscia, lateral pelo septo intermuscular, posterior pela fíbula e membrana interóssea e medial pela tíbia

  • O pé possui nove compartimentos anatômicos, porém, com pressões teciduais relativamente baixas, há quebra da barreira entre alguns compartimentos (Superficial e Calcaneal)
  • Muito difícil diferenciar os compartimentos afetados

Braço

  • Dois compartimentos, anterior e posterior
  • O anterior está limitado pelo úmero posteriormente e septos musculares lateral e medial e fáscia braquial anteriormente
  • Os limites do posterior são os mesmos, só que atrás do úmero
  • Em casos avançados pode haver paralisia da musculatura inervada pelo radial, mediano e ulnar

Antebraço

  • Três compartimentos, volar, dorsal e coxim móvel
  • O dorsal situa-se dorsalmente ao rádio, ulna e membrana interóssea

Mão

  • Dez compartimentos: tenar, hipotenar, adutor do polegar, quatro interósseos dorsais e três interósseos volares
  • O compartimento tenar está circundado pela fáscia tenar, septo tenar e 1 MTC. O hipotenar pela fáscia e septo hipotenares e 5 MTC.
  • Os Interósseos dorsais entre os MTC lateralmente e anterior e posteriormente pela fáscia interóssea
  • Os interósseos volares situam-se num aspecto volar dos MTC, mas indistinguível dos dorsais por perda da barreira com pressões menores do que aquelas necessárias para SCA.
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Q

Tratamento:

Tratamento das feridas da fasciotomia:

Tratamento das fraturas associadas

Complicações:

A

Tratamento:

  • Fasciotomia é a base, que se sofrer atraso pode trazer consequências devastadoras
  • Apesar disso, devem ser tomadas medidas preliminares em caso de iminência de SCA.
    • Liberação dos invólucros limitantes externos: curativos, bandagens, gesso o Não elevar o membro acima do nível do coração (isso reduz o gradiente arteriovenoso)
    • Correção de hipotensão
    • Oxigenioterapia

Fasciotomia:

  • O princípio básico da fasciotomia é a descompressão completa e adequada
  • Não há lugar para fasciotomia limitada ou subcutânea em caso de SCA.
  • É essencial que todos os músculos contidos sejam visualizados em sua totalidade, para avaliação de viabilidade e desbridamento de qualquer área de necrose, evitando assim infecção.

Coxa

  • Apenas uma incisão cutânea lateral.
  • Em alguns casos, quando necessário, pode ser tentado uma incisão medial sobre os adutores.

Perna

  • Todos os quatro compartimentos devem ser liberados
  • Anterior e Lateral:
    • Incisão cutânea lateral sobre o septo intermuscular entre os compartimentos
    • Incisões fasciais sobre os dois compartimentos
    • Cuidado com o fibular superficial (terço distal da perna)
  • Posterior Superficial e Profundo:
    • Incisão cutânea a 2cm da borda medial da tíbia
    • Deve situar-se anteriormente a arteria tibial posterior, em especial na fx exposta, para a proteção dos vasos perfurantes que irrigam os tecidos fasciocutâneos locais
    • O compartimento superficial é facilmente visualizado ao afastar a pele e o profundo ao afastar posteriormente o superficial, no terço distal da perna.
    • É preciso cuidado para proteção de veia e nervo safeno e tibiais posteriores
      • Existe uma fasciotomia dos quatro compartimentos por incisão única com excisão da fíbula, porém é atualmente considerado destrutivo e traz o risco de causar lesão do fibular comum
      • Existe tb fasciotomia dos quatro compartimentos sem fibulectomia com apenas uma incisão lateral que permita fácil acesso aos compartimentos anterior e lateral.
      • Nesse caso o afastamento anterior dos fibulares permite a exposição do septo intermuscular posterior, suprajacente aos compartimentos posteriores
  • A fasciotomia de dupla incisão é mais rápida e segura, pois as incisões são todas superficiais
  • Os dois métodos são igualmente efetivos na redução da PIC.

Pé:

  • Incisões dorsais sobre o segundo e quarto MTT possibilitam acesso suficiente aos compartimentos interósseos e ao compartimento central que situa-se mais profundamente.
  • Os compartimentos lateral e medial podem ser acessados em torno das superfícies profundas do 1° e 5° MTT
  • Em geral essa descompressão é suficiente em casos de lesão do antepé
  • Qnd há lesão do retropé, especialmente fratura do calcâneo, talvez se faça necessária a incisão distinta para descompressão do compartimento calcaneal

Braço

  • Incisões anterior e posterior
  • Em raras ocasioes é necessária a descompressão do deltóide

Antebraço

  • Fasciotomia volar ou dorsal
  • Geralmente o compartimento volar é abordado de início por meio de uma incisão que se estende desde o tendão do bíceps no cotovelo até a palma da mão, para permitir a descompressão do túnel do carpo, habitualmente necessária
  • Eventualmente há necessidade de exposição e descompressão do pronador quadrado em separado
  • Geralmente apenas a volar é necessária, porém se a PIC mantiver alta no compartimento dorsal após a operação, uma descompressão dorsal será facilmente realizada por meio de uma incisão retilínea dorsal

Mão

  • Facilmente realizada por meio de duas incisões dorsais que permitam acesso aos compartimentos interósseos
  • Geralmente esse procedimento é suficiente, porém pode ser necessário incisões sobre as eminências tenar e hipotenar

Tratamento das feridas de fasciotomia

  • NUNCA deverão ser fechadas primariamente (pode elevar a PIC)
  • As feridas devem permanecer abertas e com curativos
  • 48hs depois da fasciotomia, deverá ser reabordada para que fique assegurada a viabilidade de todos os grupos musculares
  • As feridas podem ser fechadas por oclusão primária retardada, se possível, mas SEM TENSÃO nas bordas
    • Na perna isso geralmente é possivel na borda medial mas não na lateral.
  • Se não for possível esse tipo de fechamento, podem ser realizadas técnicas de dermatotração ou enxertos cutâneos de espessura parcial
    • A dermatotração tem menos problemas estéticos, porém demora até 10 dias para completar o fechamento e podem levar a necrose nas bordas da ferida

Tratamento das fraturas associadas

  • O tto de uma Fx não deve ser alterado pela presença de SCA
  • Exceção: tto de fratura tibial com aparelho gessado
  • A fasciotomia deve ser feita antes da estabilização da Fx, para que seja eliminado qq atraso na descompressão
  • A estabilização da Fx permite fácil acesso aos tecidos moles, protegendo-os e permitindo que eles cicatrizem
  • Não existe diferenças de PIC em processos de fixação com ou sem fresagem
  • Devem ser evitados tração excessiva, mau posicionamento da barra na coxa, grande elevação da perna em pacientes em risco com SCA

Complicações:

  • Complicações são incomuns se o transtorno foi prontamente tratado
  • Atraso superior a 6hs na realização de fasciotomia pode levar a sequelas como:
    • Contraturas musculares (Volkmann)
    • Debilitação muscular
    • Perda de sensibilidade
    • Infecção
    • Não consolidação da fratura
  • Diagnóstico tardio:
    • Ainda é discutível o local de descompressão em casos de diagnóstico tardio e necrose muscular inevitável (Síndrome de esmagamento)
    • Pouco se ganha com a exploração de uma síndrome de esmagamento fechada no caso em que a necrose muscular é inevitável, exceto quando efeitos sistêmicos graves estão associados ou talvez necessidade de amputação
    • É recomendável que , se não houver possibilidade de qualquer musculo sobrevivente em um pct com PIC baixa, a fasciotomia não seja feita
    • Se houver qq possibilidade de musculo remanescente ou se as PICs estiverem acima de níveis críticos, deve-se tentar fasciotomia
    • Qq circunstância é mandatório o desbridamento de toda musculatura necrosada
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