Hemostasia Flashcards
O que é hemostasia?
É o processo fisiológico encarregado de parar a hemorragia, ao mesmo tempo em que inicia a reparação dos tecidos!
Em que processos se divide a hemostase?
a hemostasia é descrita em duas etapas, mas, na verdade, ambas acontecem ao mesmo tempo no organismo:
(1) Hemostasia Primária – aquela que estanca o sangramento, pela formação do trombo ou tampão plaquetário;
(2) Hemostasia Secundária – aquela que evita o ressangramento, pela formação de uma rede adesiva de fibrina que consolida o trombo (a partir daí chamado de coágulo).
Características da plaqueta em repouso
Têm formato discoide, com a superfície pontuada por múltiplos “buracos”. Esses buracos são na verdade invaginações da membrana plasmática que dão origem ao sistema canalicular aberto, uma extensa rede de tubos mergulhada no citoplasma, cujo interior está em contato com
o meio externo. Suas funções são: (1) servir de
“cano de escape” para a exocitose dos grânulos
intracelulares; (2) constituir uma reserva interna
de membranas, que serão “regurgitadas” quando
a plaqueta se ativar; (3) armazenar receptores
de agregação plaquetária (inseridos nessas membranas internas), o que aumentará o poder adesivo da plaqueta “ativada”.
Existem três tipos de grânulo no citoplasma plaquetário:
(1) Grânulos-alfa: presentes em maior número, contêm PROTEÍNAS. Há desde proteínas que aumentam a adesividade plaquetária (fator de von Willebrand, fibronectina, vitronectina e fibrinogênio), até participantes da cascata de coagulação (fator V). Não podemos esquecer que estes grânulos também secretam fatores de crescimento, como o PDGF (Platelet Derived Growth Factor). Outras proteínas, como o fator 4 plaquetário (neutralizador da heparina), favorecem indiretamente o processo de coagulação…
(2) Grânulos densos: armazenam agonistas da ativação plaquetária e do sistema de coagulação, como o ADP e o Cálcio, respectivamente.
(3) Lisossomos: contêm hidrolases cuja função ainda é desconhecida (talvez ajudem a ativar alguns fatores da coagulação).
Organização do citosqueleto das plaquetas
Seus principais componentes são os filamentos de actina, entrelaçados no citoplasma, e a malha de espectrina, logo abaixo da superfície celular. Também existem filamentos contráteis de miosina dispersos pelo citoplasma. Esta rede proteica contrátil se “ancora” na membrana através da ligação a uma importante integrina (proteína transmembrana), que serve de ponte entre o citoesqueleto e a matriz extracelular: o receptor do fator de von Willebrand (fvW), também chamado de Glicoproteína Ib (GP Ib)...
A ligação entre matriz extracelular, fvW e o receptor deste último (a GP Ib) estabiliza o tampão plaquetário!
Patologias associadas ao factor de von willebrand
A ausência ou disfunção do fator de von Willebrand ou seu receptor (a GP Ib) resulta em dois clássicos distúrbios da hemostasia primária: a Doença de von Willebrand e a Síndrome de Bernard-Soulier, respectivamente
Como se formas as plaquetas?
Plaquetas são FRAGMENTOS CELULARES anucleados que “brotam” dos megacariócitos na medula óssea. Estes, por sua vez, são derivados de células-tronco da linhagem mieloide que foram estimuladas pela Trombopoietina produzida no fígado e na própria medula. Os megacariócitos passam por um processo de maturação chamado endomitose, no qual o DNA genômico é replicado várias vezes sem que haja divisão celular. Devido a esse processo, o núcleo do megacariócito fica GIGANTE, chegando a um poliploidismo de até 64 N (isto é, 64 cópias do genoma dentro de um mesmo núcleo). A finalidade é justamente amplificar o genoma… Quando grandes quantidades de DNA se acumularem começará uma fase de intensa síntese proteica, deixando o citoplasma repleto de grânulos destinados às plaquetas. A célula então emite prolongamentos digitiformes onde os grânulos serão “empacotados”, seguindo- se o desprendimento de pequenos discos plaquetários para a circulação sanguínea… A
vida média de uma plaqueta livre está em torno
de sete a dez dias.
Quais as fases da hemostasia prímaria?
A formação do tampão plaquetário no sítio de injúria vascular requer a integridade de três sistemas: adesão, ativação e agregação.
Adesão Plaquetária
qual o principal substrato?
Quando ocorre uma lesão tecidual o endotélio dos vasos sanguíneos é rompido, expondo a “matriz subendotelial”, uma complexa rede de fibras. Das diversas fibras ali presentes, o colágeno desponta como o principal substrato para a adesão plaquetária.
Adesão Plaquetária
Até bem pouco tempo atrás se acreditava que a
Glicoproteína Ia/IIa (GP Ia/IIa) fosse a grande responsável pela adesão plaquetária… No entanto,foi descoberto que outra proteína – a GP VI – é muito mais importante que a GP Ia/IIa nesse processo! Além de participar do fenômeno de adesão, garantindo que a plaqueta “role” sobre a área lesada, a ligação colágeno-GP VI também transmite os primeiros sinais de ativação plaquetária (o colágeno é o mais potente agonista plaquetário, graças ao papel de “receptor” exercido pela GP VI)…
Mas já vimos que quem faz o tampão plaquetário
permanecer “agarrado” ao colágeno é o fator de von Willebrand… . Se o fvW não existisse (ou seu receptor, a GP Ib), a força da corrente sanguínea arrastaria as plaquetas para longe do colágeno exposto (e o paciente sangraria sem parar). A adesão mediada pela GP Ia/IIa e pela GP VI, apesar de representar o primeiro contato com a matriz subendotelial, não é capaz de “segurar” as plaquetas de maneira duradoura e eficaz…
Adesão Plaquetária
Importância do factor de
von Willebrand
Plaquetas circulantes têm que se “agarrar com força” ao colágeno subendotelial exposto na parede do vaso lesado… Sua superfície tem receptores de colágeno (GP Ia/IIa e GP VI),
mas eles sozinhos não geram tensão suficiente
para resistir ao fluxo de sangue, e a plaqueta semiaderida apenas “rola” sobre a área lesada…A ligação entre o colágeno, o fator de
von Willebrand e seu receptor (GP Ib) faz com
que a plaqueta pare de rolar e fique firmemente
presa!Como isso é possível?… Pelo fato de a GP Ib estar diretamente conectada ao citoesqueleto, sua ligação com o fator de von Willebrand (que se liga ao colágeno exposto) alinha as fibras de actina na direção da força exercida pelo sangue… A presença das moléculas de miosina permite certo grau de contratilidade ao citoesqueleto, o que garante a estabilidade do trombo plaquetário na medida em que ele passaa fazer força “contra a corrente” e literalmente “se segura” no colágeno subendotelial…
Ativação Plaquetária
Quais são os principais agonistas plaquetários?
As plaquetas são estimuladas pelos agonistas plaquetários – inicialmente o próprio colágeno, mas também epinefrina e trombina.
O processo é uma verdadeira metamorfose, onde elas “regurgitam” membranas do sistema canalicular aberto ao mesmo tempo em que o conteúdo de seus grânulos é secretado. O consequente aumento na superfície de contato expõe receptores de adesão e agregação que antes estavam “guardados” no interior da célula..
Ativação Plaquetária
Tromboxane A2
A estimulação pelos agonistas também induz a síntese de Tromboxane A2 (TxA2) pela enzima Ciclo-Oxigenase 1 (COX-1). O TxA2 amplifica a ativação plaquetária, fechando uma alça de retroalimentação positiva. Sua principal função é recrutar plaquetas ainda “em repouso” que estejam passando próximo à área lesada…
Ativação plaquetária
Degranulação
(1) os grânulos densos liberam ADP, contribuindo para a ativação de novas plaquetas. Além disso, a serotonina liberada causa vasoconstrição,
o que ajuda a reduzir o sangramento;
(2) os grânulos alfa secretam proteínas, algumas com o objetivo de aumentar a adesividade plaquetária enquanto outras participam diretamente da cascata de coagulação. Também citamos a secreção de fatores de crescimento, iniciando o reparo tecidual.
Ativação plaquetária
Reações enzimáticas
Ativação plaquetária – Quando os agonistas plaquetários se ligam a seus receptores, ocorre o estímulo à fosfolipase C, uma enzima que hidrolisa o fosfatidilinositol (PIP2) em dois componentes: inositol trifosfato (IP3) e Diacilglicerol (DAG). O primeiro induz liberação de cálcio no citoplasma, a partir de estoques intracelulares, e também fosforila e ativa a miosina, a proteína contrátil do citoesqueleto. Como resultado, a plaqueta muda o seu formato e degranula. O DAG estimula a Proteína Quinase C (PKC), que fosforila e ativa a GP IIb/IIIa. Outra enzima (fosfolipase A2), igualmente ativada pelos agonistas plaquetários, hidrolisa a Fosfatidilcolina (FC) e libera Ácido Araquidônico (AA), precursor do Tromboxane A2 (TXA2). Este último é secretado e age na própria plaqueta como agonista – retroalimentação positiva – além de “recrutar” plaquetas circulantes em repouso. Para formar TXA2 a partir do ácido araquidônico a Ciclo-Oxigenase 1 (COX-1) deve estar em plena atividade (drogas como o AAS inibem esta enzima).
Que que forma a ativação plaquetária participa na hemostase secundária?
O processo de ativação plaquetária participa diretamente da cascata de coagulação (hemostasia secundária)!!! Estamos nos referindo à exposição do fosfolipídio plaquetário, ou fator III, na membrana do trombócito ativado.
Esta molécula (fosfatidilserina) funciona como um “gancho” no qual vão se prender as principais enzimas da cascata de coagulação…
Isso faz com que estas reações bioquímicas se desenvolvam próximas à superfície do trombo, garantindo que a rede de fibrina seja formada em volta dele e aumente sua estabilidade e coesão…
Anti-inflamatórios não esteroidais e Plaquetas
A síntese de tromboxane A2 pela COX-1 amplifica o processo de ativação plaquetária e recruta plaquetas para a área de lesão. O AAS (ácido acetilsalicílico) “acetila” a molécula de COX- -1, causando um bloqueio irreversível pelo resto da vida da plaqueta. Assim, após uma dose adequada, o AAS pode reduzir a formação de trombos pelos próximos 7-10 dias… Os demais AINEs induzem bloqueios reversíveis da COX-1, permitindo a secreção de TxA2 pela mesma
plaqueta após a suspensão da droga. Agora você já pode entender as seguintes recomendações:
(1) suspender o AAS 7-10 dias antes de uma cirurgia; (2) suspender os outros AINEs 48h antes de uma cirurgia… Mas atenção! Além dos fármacos também existem suplementos alimentares e ervas medicinais capazes de exercer efeito antiplaquetário!!! Os principais exemplos são os suplementos de ácidos ômega 3 (óleo de peixe) e o Gingko biloba, que idealmente também devem ser suspensos antes de uma cirurgia…
Bloqueadores do receptor de ADP (receptor p2y12)
Diversos antiplaquetários atuam por esse mecanismo, diminuindo o recrutamento de plaquetas inativas para a área de formação do trombo: Ticlopidina (Ticlid®), Clopidogrel (Plavix®), Prasugrel (Effient®), Ticagrelor (Brillinta®) e Cangrelor (este último o único de uso intravenoso). A ticlopidina é o agente menos potente e mais antigo de todos, sendo ministrado em duas tomadas diárias. Seu mais temível efeito colateral é a agranulocitose que, todavia, ocorre em < 1% dos pacientes. Os demais diferem essencialmente em suas propriedades farmacocinéticas… Quanto tempo antes de uma cirurgia eletiva devemos suspender esse tipo de medicamento? Recomenda- se suspender os bloqueadores do receptor de ADP 5-7 dias antes do procedimento!
Agregação Plaquetária
A formação de um trombo firme, bem aderido, e com várias camadas compactas de plaquetas, consegue “estancar” o sangramento em curto espaço de tempo!
Agregação é um fenômeno mediado pela Glicoproteína IIb/IIIa (GP IIb/IIIa ou integrina
alfaIIb-beta3) - utilizando o fibrinogênio como “ponte” para ligar uma plaqueta à outra. Antes do processo de ativação, a GP IIb/IIIa é incapaz de ligar fibrinogênio. A ativação plaquetária promove uma alteração conformacional desses receptores, que passam a interagir fortemente com o fibrinogênio circulante, permitindo agregação e, consequentemente, a formação de um trombo mais coeso.
Agregação Plaquetária
E qual doença genética está associada à redução ou disfunção da GP IIb/IIIa?
É a Trombastenia de Glanzmann
Só pra você ter uma ideia, a superfície de uma plaqueta em repouso tem cerca de 40.000 cópias da GP IIb/IIIa inativa. Após o processo de ativação plaquetária, além destas moléculas se tornarem funcionais, seu número sobe para 80.000 (aumento de 100%)… Mas de onde surgem tantas moléculas? Ora, da reserva interna de membranas (o sistema canalicular berto que mencionamos anteriormente)! Considerando que o trombócito é uma célula pequena, os números citados indicam que no estado “ativo” a superfície plaquetária tem grande poder de agregação!
Antagonistas da GP II b/III a
Um dos maiores avanços na terapia de reperfusão coronariana foi o desenvolvimento dos antagonistas da GP IIb/IIIa. Estudos preliminares demonstraram que ratos transgênicos em que o gene deste receptor foi
propositalmente “deletado” (knock out mice) simplesmente não formavam trombos, pois suas plaquetas eram incapazes de se agregarem…
Existem três formulações no mercado, todas de uso intravenoso: Abciximab (Reopro®), um anticorpo monoclonal contra a GP IIb/IIIa; Tirofiban (Aggrastat®), uma molécula não peptídica que bloqueia a ligação com o fibrinogênio; Eptifibatide (Integrilin®), um heptapeptídeo não imunogênico com função semelhante ao tirofiban. Alguns antagonistas de uso oral chegaram a ser testados (para uso crônico), porém, houve aumento na mortalidade!!! A principal complicação destas drogas, dada sua grande eficiência antiplaquetária, é a hemorragia..
HEMOSTASIA SECUNDÁRIA
finalidade
O sistema de coagulação é representado por um conjunto de proteínas plasmáticas, inicialmente inativas (zimogênios), as quais ativam umas às outras numa sequência determinada.
Tal processo faz com que o número de moléculas ativadas aumente exponencialmente (por exemplo: um fator ativa 10 moléculas de outro fator, e cada uma dessas ativa mais 10, e assim por diante – efeito de “cascata”). Desse modo, até mesmo pequenos estímulos pró-coagulantes podem resultar na produção de uma quantidade maciça de fibrina… Os monômeros de fibrina se polimerizam e formam uma “rede” em volta do plug plaquetário, acumulando também hemácias e leucócitos: é o chamado trombo
vermelho, geralmente formado na circulação
venosa.O trombo branco é composto quase
que exclusivamente por plaquetas (pouca fibrina),
e predomina na circulação arterial.
HEMOSTASIA SECUNDÁRIA
Factor VIII onde é produzido?
TODOS os fatores de coagulação são sintetizados no fígado, EXCETO O FATOR VIII! Hoje sabemos que este último é sintetizado no endotélio
HEMOSTASIA SECUNDÁRIA
Quais os factores dependentes de Vit K?
É interessante destacar que alguns fatores de coagulação necessitam de modificações pós- -sintéticas para funcionar adequadamente. Estamos nos referindo aos fatores “dependentes de vitamina K”, que constituem o chamado Complexo Protrombínico.
Que fatores são esses? São os fatores II, VII, IX, X, além das proteínas C e S (que na verdade são anticoagulantes). E no que consiste esta
modificação? A vitamina K é necessária para a carboxilação dos resíduos de ácido glutâmico dessas moléculas.
Hemostasia Secundária
Onde ocorre?
X-ase formadas?
Já vimos no estudo da hemostasia primária a existência de um fosfolipídio (geralmente a fosfatidilserina), que confere à superfície das plaquetas ativadas propriedades pró-coagulantes.
O fosfolipídio plaquetário serve como um “gancho” no qual se prendem os fatores de coagulação com resíduos carboxilados.
Desse modo são formadas enzimas multimoleculares imprescindíveis para a cascata de coagulação: a tenase (X-ase, ou ativador do fator dez, do inglês “factor ten”) e a protrombinase (ativador da protrombina).
Hemostasia Secundária
Mas por que se formam complexos enzimáticos
na superfície das plaquetas?
Existem duas razões… Primeiro, a velocidade da reação de coagulação aumenta milhares de vezes na presença dessas enzimas multimoleculares.
Segundo, a formação do coágulo deve ser restrita ao sítio de injúria vascular, o que será facilitado se a coagulação se processar na superfície do trombo plaquetário…
Hemostasia Secundária
Antagonistas da vitamina K
Os cumarínicos, cujo principal exemplo é o Warfarin, inibem a reação de carboxilação dependente de vitamina K. O resultado final é o bloqueio na formação das Tenases (intrínseca e extrínseca) e da Protrombinase…
Hemostase Secundária
A via intrínseca
Qual o exame que a avalia?
A via intrínseca é desencadeada pelo contato do sangue com uma superfície que tenha cargas elétricas negativas (vidro, caolin, colágeno). O exame utilizado para avaliá la é o Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada, o “PTTa”.
Hemostase Secundária
A via intrínseca ( cascata)
Nestas superfícies, o Cininogênio de Alto Peso Molecular (CAPM) ativa o fator XII (fator de Hageman), que por sua vez converte a pré-calicreína (PK) em calicreína (K). A calicreína aumenta a formação do fator XII numa alça de retroalimentação positiva… O fator XIIa também converte o fator XI em fator XIa. Este último, a partir do fator IX (fator anti-hemofílico B ou fator de Christmas), forma o fator IXa. Na superfície das plaquetas, utilizando seu componente fosfolipídico, e na presença de cálcio ionizado e do fator VIIIa, o fator IXa ativa o fator X (fator de Stuart). Esse complexo multimolecular é chamado de Tenase da via intrínseca! O produto dessa reação é o fator Xa. O fator VIII é ativado pela trombina (que será formada adiante).