Distúrbios plaquetários Flashcards
Como se classificam os distírbios plaquetários?
Os distúrbios plaquetários podem ser classificados em (1) desordens numéricas – trombocitopenia
e trombocitose – e (2) desordens da
função plaquetária.
Qual a causa mais comum de hemorragia adquirida?
A trombocitopenia é a causa mais comum de sangramento por diátese hemorrágica adquirida.
Distribuição das plaquetas pelo organismo e tempo de circulação.
As plaquetas são pequenos corpúsculos anucleados, em forma de disco, que derivam do citoplasma dos megacariócitos, células gigantes multinucleadas da medula óssea, provenientes dos progenitores da linhagem mieloide. Após abandonar o espaço medular, cerca de 1/3 das plaquetas é sequestrada no baço enquanto os 2/3 restantes ainda perduram por 7 a 10 dias na circulação, até se tornarem “envelhecidas” e serem removidas pelo sistema reticuloendotelial.
TROMBOCITOPENIA
5 principais causas
Na prática médica, podemos ter trombocitopenia
por cinco mecanismos distintos:
1- Pseudotrombocitopenia (artefatual);
2- Destruição periférica acelerada;
3- Diminuição de sua produção pela medula óssea;
4- Trombopoiese ineficaz;
5- Distribuição anormal – maior sequestro esplênico.
TROMBOCITOPENIA
Pseudotrombocitopenia
Causas
Confirmação diagnóstica
Também chamada de trombocitopenia artefatual, é uma falsa baixa contagem de plaquetas pelo aparelho de automação (Coulter) devido a artefatos técnicos.
Os principais são: formação de clumps plaquetários,
decorrente do anticoagulante (EDTA) ou de
aglutininas plaquetárias, o satelitismo plaquetário
e as plaquetas gigantes.
Observamos uma “falsa” diminuição da plaquetometria na presença de paraproteinemias (componente M). Níveis aumentados de IgA, IgG ou IgM induzem agregação plaquetária no momento da coleta de sangue, principalmente quando o EDTA é utilizado como anticoagulante (“tubo de tampa roxa”).
A suspeita da pseudotrombocitopenia é confirmada pela contagem manual de plaquetas no esfregaço do sangue periférico.
TROMBOCITOPENIA
Destruição acelerada
FIsiopatologia
Causas imunes e não imunes
É a causa mais comum de trombocitopenia. O aumento do consumo ou destruição de plaquetas estimula a trombopoiese (muito parecido com o que ocorre com a eritropoiese nas anemias hemolíticas), aumentando o número, tamanho e taxa de maturação dos precursores megacariocíticos.
Quando a taxa de destruição plaquetária excede este mecanismo de compensação, observamos plaquetopenia.
Os mecanismos imunes são responsabilizados pela grande maioria dos casos. Os principais exemplos são a Púrpura Trombocitopênica Imune Idiopática (PTI), a púrpura trombocitopênica imune relacionada ao LES ou ao HIV, a púrpura trombocitopênica imune induzida por drogas e a trombocitopenia ocasionada por algumas infecções.
Entre os mecanismos não imunes, doenças como a Púrpura Trombocitopênica Trombótica (PTT), a Síndrome Hemolítico- Urêmica (SHU) e a Coagulação Intravascular Disseminada (CIVD) são encontradas com frequência. Nestas desordens, a plaqueta é consumida em trombos intravasculares (fazendo parte de sua formação) e em superfícies endoteliais danificadas (estímulo à adesão plaquetária).
De forma rara, uma destruição plaquetária pode ser observada em indivíduos com prótese cardíaca (valvares). Geralmente esse consumo é compensado por um aumento
da trombopoiese e a plaquetopenia não é observada
no sangue periférico.
TROMBOCITOPENIA
Diminuição de sua produção pela medula óssea
Causas
Diagnóstico
Os distúrbios que provocam lesão da célula-tronco podem comprometer a diferenciação megacariocítica e levar à trombocitopenia.
Nestes casos, observamos com frequência anemia e/ou granulocitopenia associadas. Citamos como exemplo as mielodisplasias e a anemia aplásica. A leucemia ocupa espaço na medula e produz substâncias que inibem a hematopoiese, sendo a plaquetopenia um achado comum no momento do diagnóstico.
Independente das doenças que acometam a medula óssea, a biópsia e o aspirado nos fornecem o diagnóstico correto na maior parte dos casos.
TROMBOCITOPENIA
Trombopoiese ineficaz
Análoga à eritropoiese ineficaz da anemia megaloblástica por carência de vitamina B12 ou ácido fólico, a trombopoiese ineficaz também pode ocorrer pelo mesmo mecanismo e pelas mesmas causas.
A medula contém aumento do número de megacariócitos, apesar de produzirem pouca plaqueta, por um problema de maturação nuclear (síntese de DNA). Por isso, é comum encontrarmos trombocitopenia (bem como granulocitopenia) na anemia megaloblástica.
TROMBOCITOPENIA
Distribuição anormal
Esplenomegália
Causas
O aumento do baço decorrente de hipertensão portal (esplenomegalia congestiva) ou doenças infiltrativas (leucemia mieloide crônica, metaplasia mieloide agnogênica, linfomas, doença de Gaucher) pode levar a um maior sequestro de plaquetas nos cordões esplênicos e causar trombocitopenia. Faz parte da síndrome do hiperesplenismo.
TROMBOCITOPENIA
Distribuição anormal
Diluição
Uma outra causa de queda de plaquetas é a trombocitopenia dilucional, observada durante a transfusão maciça de concentrado de hemácias em indivíduos que sangram de maneira continuada. As plaquetas são instáveis em sangue estocado em torno 4ºC, e sua contagem cai rapidamente durante as primeiras 24 horas.
A trombocitopenia induzida por hemodiluição é usualmente encontrada quando o paciente recebe mais de oito a dez unidades de sangue em 24 horas. Entretanto a resposta fisiológica do organismo costuma compensar este efeito dilucional, não sendo necessária a reposição rotineira de plaquetas e plasma em pacientes politransfundidos.
A transfusão de plaquetas está indicada se houver sangramento microvascular (perioperatório ou mucoso) ou se houver trombocitopenia < 50.000/mm3, segundo alguns autores.
Causas de trombocitopenia
Tabela
1- Pseudotrombocitopenia (artefatual)
Clump plaquetário (EDTA) Aglutininas plaquetárias
Satelitismo plaquetário Paraproteinemias
2- Aumento da Destruição ou Consumo Periférico
Imune
PTI idiopática, Lúpus Eritematoso, LLC, HIV,
outras infecções (dengue, mononucleose infecciosa,
CMV), pós-transfusional, drogas
(heparina, quinidina, sulfas, rifampicina,
AINEs, paracetamol, sais de ouro etc.)
Não Imune
Coagulação Intravascular Disseminada, Púrpura
Trombocitopênica Trombótica (PTT),
Síndrome Hemolítico-Urêmica (SHU), próteses
valvares, síndrome do Ac antifosfolipídio
3- Falência na Produção na Medula Óssea
Depressão megacariocítica seletiva
Agentes químicos e infecções virais (raro)
Como parte de uma insuficiência medular geral
Drogas citotóxicas, radioterapia, anemia
aplásica, leucemias, mielodisplasia
4- Trombopoiese Ineficaz
Anemia megaloblástica
5- Distribuição Anormal de Plaquetas
Esplenomegalia (hiperesplenismo)
Dilucional
PÚRPURA TROMBOCITOPÊNICA IMUNE (PTI)
Fisiopatologia
“Plaquetopenia e mais nada”… Este é o clássico bordão que utilizamos para nos lembrar da Púrpura Trombocitopênica Imune (PTI), uma doença autoimune IDIOPÁTICA caracterizada pela produção de autoanticorpos antiplaqueta que opsonizam e aceleram a remoção das plaquetas circulantes pelo baço.
Os principais alvos desses autoanticorpos são as glicoproteínas IIb/IIIa e Ib/IX presentes na superfície externa da membrana plaquetária, porém, somente cerca de 2/3 dos pacientes expressam tais marcadores (no restante, é possível que haja outros autoanticorpos ainda não identificados).
Além do ataque à membrana plaquetária, parece que os autoanticorpos da PTI também são capazes de inibir a liberação de novas plaquetas pela medula óssea, interferindo na função dos megacariócitos numa espécie de bloqueio à “trombopoiese compensatória”, que seria a resposta fisiológica esperada em consequência à menor meia-vida das plaquetas…
PÚRPURA TROMBOCITOPÊNICA IMUNE (PTI)
Diagnóstico
A PTI é um diagnóstico de exclusão! Primeiramente, temos que nos certificar de que não se trata de pseudotrombocitopenia, realizando um esfregaço de sangue periférico. Uma vez confirmada a trombocitopenia verdadeira o passo diagnóstico subsequente é afastar a existência de fatores associados à trombocitopenia “secundária”, como o uso de certos medicamentos infecção pelo HIV e/ou HCV, doenças autoimunes, como o LES, e neoplasias linfoproliferativas, como os linfomas. Desse modo, uma bateria mínima de testes iniciais com foco no rastreio dessas possibilidades etiológicas sempre deve ser solicitada (ex.: sorologia anti-HIV e anti-HCV, dosagem de FAN).
Afastadas tais condições, pode-se estabelecer um diagnóstico presuntivo de PTI no paciente jovem que apresenta “plaquetopenia e mais nada”, isto é, plaquetopenia isolada, não acompanhada de outras citopenias ou alterações clínicas, como hepatoesplenomegalia, linfadenopatia, febre, perda ponderal etc.
A dosagem de anticorpos antiplaqueta não é útil na prática clínica, dada sua baixa sensibilidade e especificidade, sendo reservada aos protocolos de pesquisa científica.
Cumpre ressaltar que, devido ao próprio processo fisiopatológico de remoção esplênica das plaquetas circulantes, em até 10% dos pacientes o baço pode estar DISCRETAMENTE aumentado, o que, para todos os fins práticos, não muda o nosso bordão de “plaquetopenia e mais nada”…
PÚRPURA TROMBOCITOPÊNICA IMUNE (PTI)
Diagnóstico
É preciso fazer um aspirado/biópsia de medula óssea?
A maioria dos autores concorda que o estudo da MO só está indicado diante de um quadro suspeito de PTI nas seguintes situações:
(1) idade > 60 anos (devido ao maior risco de mielodisplasia nesta faixa etária, doença que pode cursar com plaquetopenia isolada, mimetizando a PTI);
(2) presença de outras citopenias inexplicadas;
(3) ausência de resposta ao tratamento da PTI.
PÚRPURA TROMBOCITOPÊNICA IMUNE (PTI)
DD com leucemia
Exceção: se um portador de PTI apresentar sangramento importante (agudo ou crônico), ele pode acabar ficando anêmico!!! Logo, muito cuidado ao avaliar esses pacientes, para não confundir seu quadro clínico com o de uma leucemia aguda (doença que costuma causar bicitopenia: anemia + plaquetopenia).
Nas leucemias agudas, outras manifestações – ausentes na PTI – são esperadas (ex.: hepatoesplenomegalia, linfadenopatia, febre,
perda ponderal etc.)
PÚRPURA TROMBOCITOPÊNICA IMUNE (PTI)
Manifestações clínicas
De acordo com o grau de plaquetopenia, o paciente pode apresentar sangramento.
Como o problema afeta a hemostasia primária, em geral o sangramento é do tipo mucocutâneo (ex.: petéquias e equimoses, epistaxe, menorragia). Com frequência o paciente permanece assintomático até que a contagem plaquetária caia abaixo de 20.000/ml…
Plaquetopenias extremas (< 5.000/ml), no entanto, são capazes de justificar sangramentos teciduais profundos, incluindo hemorragia cerebral (< 1% dos pacientes). Bolhas hemorrágicas na mucosa oral e/ou hemorragias retinianas no exame de fundo de olho são prenúncios de uma possível hemorragia cerebral
em curto prazo!!!
PÚRPURA TROMBOCITOPÊNICA IMUNE (PTI)
Duas formas clinicoepidemiológicas de PTI em função da faixa etária
Existem duas formas clinicoepidemiológicas de PTI em função da faixa etária, as quais diferem de maneira significativa em termos prognósticos e terapêuticos:
(1) PTI do adulto e
(2) PTI infantil.
A primeira é uma doença CRÔNICA, que geralmente requer tratamento farmacológico a fim de evitar complicações (predomina no sexo feminino na proporção de 3:1, com pico de incidência na faixa etária entre 20-40 anos).
A segunda, por outro lado, é uma doença AGUDA e autolimitada, quase sempre de caráter benigno (sem complicações) que na maioria das vezes requer apenas observação, sem necessidade de tratamento farmacológico…
PÚRPURA TROMBOCITOPÊNICA IMUNE (PTI)
PTI Infantil
Alguns autores afirmam que PTI é a principal doença hemorrágica da infância. Seu pico de incidência se dá entre 2-5 anos de idade, e geralmente o quadro sucede um episódio de infecção viral (ex.: rubéola, varicela, sarampo, influenza) ou vacinação. O curso tende a ser benigno e autolimitado, não durando mais do que poucos meses…
Somente 10-20% desenvolvem PTI crônica (> 12 meses de duração). Os principais preditores de risco para cronicidade são: (1) sexo feminino; (2) início após a idade de 10 anos; (3) presença de outros autoanticorpos.