Farmacocinética Pediátrica Flashcards
Como é o PH gástrico na criança? O que essa alteração afeta?
VIA ORAL: Sempre que possível, essa deverá ser a via utilizada para administração de fármacos em crianças. Vejamos algumas características importantes dessa via na pediatria.
1) PH GÁSTRICO: Ao nascer, o pH gástrico de uma criança é praticamente neutro, ficando entre 6 a 8; após 24 horas, ele tende a cair para os valores de 1 a 3, mas retorna para valores de pH próximo ao neutro em torno de 10 dias. Então, lentamente, ele será reduzido novamente e, por volta dos três de anos de idade, a quantidade de ácido secretado será semelhante à de um adulto, atingindo os mesmos valores de pH também.
ESSAS ALTERAÇÕES PODEM AFETAR A ABSORÇÃO DE VÁRIOS FÁRMACOS: Fármacos ácidos lábeis (Ex.: Ampicilina, Amoxicilina e Eritromicina) – São absorvidas de forma mais eficiente no neonato e na criança quando comparado ao adulto; Ácidos orgânicos fracos (Ex: Fenobarbital e Fenitoína) – Têm sua absorção reduzida. Fármacos básicos são mais absorvidos nos pacientes pediátricos do que em adultos. (FERNANDEZ et al, 2011)
Como é o esvaziamento gástrico em crianças?
Em adultos normais, o esvaziamento gástrico é feito em duas fases: a primeira é uma fase rápida, que gira em torno de 10 a 20 minutos. Esta fase é seguida por uma fase lenta. Nas crianças nascidas a pré -termo, o esvaziamento gástrico é lento, linear e tende a se tornar semelhante ao dos adultos com 6 a 8 meses de vida (FERNANDEZ et al, 2011). Devido ao esvaziamento mais lento, é de se esperar uma taxa de absorção maior devido ao maior contato do fármaco com a mucosa do trato gastrointestinal, que é um fator importante para aumentar a absorção dos fármacos, porém, existem dados que sugerem que certos fármacos, incluindo Amoxicilina, Rifampicina e Cloranfenicol, demonstraram retardo e absorção incompleta em recém-nascidos e crianças menores (FERNANDEZ et al, 2011). Desta forma, podemos ver que o padrão de absorção, que é seguido em indivíduos adultos, nem sempre pode ser aplicado para recém-nascidos e crianças, reforçando que esses indivíduos não podem ser tratados como adultos pequenos na prescrição medicamentosa.
Como é o trânsito intestinal em crianças?
3) TRÂNSITO INTESTINAL: Em geral, observa-se que o trânsito intestinal em recém-nascidos é prolongado por causa da reduzida motilidade e peristaltismo; parece estar reduzido em crianças mais velhas, sendo o responsável, junto com outros fatores, pela absorção incompleta de algumas formulações de liberação prolongada, como tem sido observado para o uso de Teofilina (FERNANDEZ et al, 2011). Sendo assim, em recém-nascidos, o peristaltismo é irregular e lento, ocorrendo aumento do tempo de absorção. Logo, doses usuais podem tornar-se tóxicas. Ao contrário, na vigência de diarreia, o peristaltismo aumentado tende a diminuir o grau de absorção (KATZUNG, 2010).
OUTROS FATORES RELACIONADOS A ADMINISTRAÇÃO ORAL:
a) Imaturidade da secreção biliar e pancreática: redução da digestão e absorção de gorduras em recém-nascidos e crianças nos primeiros meses de vida. A redução de vitaminas lipossolúveis, como as vitaminas D e E, em recém-nascidos se dá muito provavelmente devido à redução de sais biliares.
b) Imaturidade da mucosa intestinal: é caracterizada por menor mobilidade intestinal, menor atividade de enzimas proteolíticas, redução da secreção de IgA, redução do número de linfócitos B e maior permeabilidade intestinal. Como consequências dessas características, temos uma colonização bacteriana anormal do TGI superior e uma insuficiente digestão de proteínas, menor capacidade de defesa do organismo, maior absorção de proteínas e imunoglobulinas, carboidratos, vírus e toxinas (devido ao aumento da permeabilidade intestinal).
c) Imaturidade do sistema de transporte.
d) Alteração da microbiota intestinal: a biodisponibilidade de algum fármaco é influenciada pelo metabolismo da microflora intestinal, que é diferente em adultos, crianças e recém-nascidos
Esta via é geralmente utilizada por pessoas que não podem utilizar fármacos por via oral e as vias intramuscular e intravenosa são muito difíceis para aquele momento. Ela possui uma área pequena, porém, bem vascularizada. O fármaco é absorvido pelas veias hemorroidárias superior, média e inferior (FERNANDEZ et al, 2011). Há maior número de contrações pulsáteis de elevada amplitude no reto dos bebês, podendo haver expulsão de fórmulas sólidas de fármacos, diminuindo efetivamente a absorção (KEARNS, et al, 2006). Além disso, o pH local é mais alcalino na maioria das crianças (BARTELINK, et al, 2006). A via retal também apresenta efeito de primeira passagem. Fármacos administrados na parte inferior do reto não passam pelo fígado após absorção e, portanto, estarão biodisponíveis sistemicamente sem perdas causadas pelo metabolismo hepático; já fármacos administrados no reto superior são direcionados para o fígado através da circulação entero-hepática e ocorrem perdas na biodisponibilidade após o efeito de primeira passagem. Tomando como o exemplo o Paracetamol, um fármaco de uso comum em pacientes pediátricos, observamos que ele possui uma absorção mais lenta em recém-nascidos pré-termo do que em neonatos nascidos a termo, provavelmente devido à diferença de temperatura retal. Além disso, observa-se uma redução na biodisponibilidade do Paracetamol administrado por via retal com o decorrer da idade, provavelmente devido à maturação das enzimas hepáticas (FERNANDEZ et al, 2011).