Aula 3 P1 Flashcards

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Doença Intestinal Isquêmica: Explicação Didática e Aprofundada

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Doença Intestinal Isquêmica: Explicação Didática e Aprofundada

A doença intestinal isquêmica (DII) ocorre quando há uma redução do fluxo sanguíneo para o intestino, comprometendo o suprimento de oxigênio e nutrientes e levando a danos na mucosa intestinal, podendo evoluir para necrose em casos mais graves. Essa redução pode ocorrer devido a obstruções arteriais ou venosas, além de estados de hipoperfusão sistêmica.

Causas da Doença Intestinal Isquêmica

A doença pode ser causada por diferentes mecanismos, sendo dividida em causas arteriais (redução da irrigação arterial do intestino), venosas (dificuldade no retorno venoso, levando a congestão e isquemia) e hipoperfusão sistêmica (redução global do fluxo sanguíneo, como no choque).

  1. Aterosclerose em artérias mesentéricas

A aterosclerose é um processo crônico de deposição de placas de colesterol e tecido fibroso nas paredes das artérias, levando ao estreitamento e endurecimento dos vasos. Quando ocorre nas artérias mesentéricas (artéria mesentérica superior é a mais comumente afetada), pode reduzir o fluxo sanguíneo para o intestino, predispondo à isquemia, especialmente durante períodos de alta demanda metabólica, como após a alimentação (angina mesentérica pós-prandial).
• Fisiopatologia: Placas ateroscleróticas obstruem o lúmen da artéria → fluxo sanguíneo reduzido → hipóxia intestinal → necrose se o suprimento for interrompido completamente.
• Fatores de risco: Idade avançada, tabagismo, diabetes, hipertensão, dislipidemia.

  1. Aneurisma de aorta abdominal

O aneurisma da aorta abdominal é uma dilatação patológica da parede da aorta, que pode comprometer a irrigação das artérias mesentéricas. Se houver trombose ou dissecção dentro do aneurisma, o fluxo sanguíneo para o intestino pode ser reduzido abruptamente, causando isquemia intestinal.
• Mecanismo: O aneurisma pode comprimir os vasos mesentéricos ou gerar êmbolos que obstruem as artérias intestinais.
• Complicações: Ruptura do aneurisma e choque hipovolêmico.

  1. Estados de hipercoagulabilidade

Qualquer condição que predisponha à formação de trombos pode aumentar o risco de trombose arterial ou venosa no território mesentérico.
• Causas comuns de hipercoagulabilidade:
• Trombofilias hereditárias (mutação do Fator V de Leiden, deficiência de proteína C, proteína S ou antitrombina III).
• Doenças autoimunes (ex.: síndrome do anticorpo antifosfolipídeo).
• Neoplasias (síndrome paraneoplásica com estado pró-trombótico).
• Uso de anticoncepcionais orais e terapia de reposição hormonal.

  1. Anticoncepcionais orais

Os anticoncepcionais orais (especialmente os que contêm estrogênio) aumentam o risco de trombose ao elevar os níveis de fatores pró-coagulantes e reduzir a atividade de anticoagulantes naturais. Isso pode levar à trombose arterial ou venosa mesentérica.
• Risco aumentado em: Tabagistas, mulheres com predisposição genética à trombose, portadoras de varizes ou imobilizadas por períodos prolongados.

  1. Embolização de vegetação cardíaca

Pacientes com endocardite infecciosa podem desenvolver vegetações nas válvulas cardíacas (formadas por fibrina, plaquetas e microorganismos). Essas vegetações podem se desprender e embolizar para a circulação sistêmica, causando trombose arterial mesentérica.
• Mecanismo: Vegetação cardíaca → embolização para artérias mesentéricas → obstrução do fluxo sanguíneo → isquemia intestinal aguda.
• Sinais associados: Febre, sopro cardíaco, petéquias, fenômenos embólicos periféricos.

  1. Ateroembolia

A ateroembolia ocorre quando fragmentos de placas ateroscleróticas se desprendem e obstruem pequenos vasos, incluindo os intestinais. Isso pode ocorrer espontaneamente ou após procedimentos como angiografia, cirurgia vascular ou manipulação da aorta.
• Fatores de risco: Aterosclerose avançada, idade avançada, hipertensão, tabagismo.
• Achados clínicos: Isquemia intestinal, lesões cutâneas livedo reticular e disfunção renal (caso os rins sejam afetados).

  1. Insuficiência cardíaca

Pacientes com insuficiência cardíaca apresentam baixo débito cardíaco, o que reduz a perfusão dos órgãos, incluindo o intestino. Isso pode predispor à isquemia intestinal, principalmente em situações de demanda aumentada (como infecções e insuficiência renal associada).
• Mecanismo: Débito cardíaco reduzido → hipoperfusão sistêmica → diminuição do fluxo sanguíneo para o intestino → necrose se a isquemia for prolongada.
• Quadro clínico: Dor abdominal difusa, náuseas, hipotensão.

  1. Choque

Estados de choque (hipovolêmico, cardiogênico, séptico ou distributivo) reduzem a perfusão intestinal, resultando em isquemia e potencialmente necrose intestinal.
• Choque hipovolêmico: Hemorragia intensa ou desidratação grave podem reduzir a perfusão intestinal.
• Choque séptico: Vasodilatação excessiva e disfunção endotelial podem causar hipoperfusão mesentérica.

  1. Desidratação

A desidratação severa pode levar a hemoconcentração e aumento da viscosidade sanguínea, predispondo à trombose venosa mesentérica.
• Mecanismo: Redução do volume intravascular → estase sanguínea → hipercoagulabilidade → trombose venosa mesentérica → isquemia intestinal.

  1. Fármacos vasoativos

Drogas vasoconstritoras (como noradrenalina, dopamina e vasopressina) podem reduzir a perfusão intestinal, especialmente em pacientes críticos, predispondo à isquemia intestinal.
• Cenários comuns: Uso prolongado de vasopressores em UTI, pacientes em choque séptico ou cardiogênico.

  1. Vasculites

Doenças inflamatórias dos vasos sanguíneos, como poliarterite nodosa, vasculite ANCA-associada e arterite de Takayasu, podem afetar as artérias mesentéricas, levando à inflamação, trombose e redução do fluxo sanguíneo.
• Mecanismo: Inflamação vascular → trombose → isquemia intestinal.
• Achados associados: Febre, fadiga, artralgias, sintomas gastrointestinais inespecíficos.

  1. Trombose venosa mesentérica

A trombose da veia mesentérica impede a drenagem adequada do sangue intestinal, causando edema e hipóxia tecidual, podendo levar a infarto intestinal se não tratada.
• Fatores de risco: Estados de hipercoagulabilidade, trauma abdominal, infecções abdominais, câncer.
• Quadro clínico: Dor abdominal difusa e progressiva, sangramento gastrointestinal.

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Classificação da Doença Intestinal Isquêmica (DII) e patogênese

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Classificação da Doença Intestinal Isquêmica (DII)

A doença intestinal isquêmica (DII) pode ser classificada com base no tempo de evolução e na apresentação clínica. Essa classificação é importante porque determina a gravidade da doença, o prognóstico e a abordagem terapêutica.

  1. Tempo de Evolução

A DII pode ser aguda ou crônica, dependendo da velocidade e da intensidade da redução do fluxo sanguíneo intestinal.

Doença Intestinal Isquêmica Aguda
• Ocorre quando há uma interrupção súbita e significativa do fluxo sanguíneo, levando a isquemia intestinal grave.
• Causas principais:
• Embolia arterial mesentérica (ex.: êmbolos cardíacos em pacientes com fibrilação atrial).
• Trombose arterial mesentérica (ex.: aterosclerose avançada com trombose superposta).
• Trombose venosa mesentérica (ex.: estados de hipercoagulabilidade, pancreatite, câncer).
• Hipoperfusão sistêmica (ex.: choque séptico, hipovolêmico ou cardiogênico).
• Quadro clínico:
• Dor abdominal intensa e desproporcional ao exame físico.
• Náuseas, vômitos e distensão abdominal.
• Em estágios avançados: peritonite, acidose metabólica, choque séptico.
• Evolução: Sem tratamento imediato, pode evoluir para necrose intestinal e morte.

Doença Intestinal Isquêmica Crônica
• Ocorre devido à redução progressiva do fluxo sanguíneo intestinal, geralmente associada à aterosclerose das artérias mesentéricas.
• Causa principal: Estreitamento progressivo das artérias mesentéricas devido a placas ateroscleróticas, causando um suprimento insuficiente de sangue, principalmente após as refeições.
• Quadro clínico:
• Dor abdominal pós-prandial (angina mesentérica), geralmente 30-60 minutos após comer.
• Emagrecimento devido ao medo de comer (síndrome do “medo alimentar”).
• Distensão abdominal, diarreia ou constipação.
• Evolução: Se não tratada, pode levar a isquemia intestinal grave, trombose arterial e infarto intestinal.

  1. Apresentações Clínicas

A DII pode se manifestar principalmente como infarto intestinal ou colite isquêmica.

Infarto Intestinal
• Forma mais grave da DII, caracterizada por necrose do tecido intestinal.
• Pode ser transmural (atinge todas as camadas do intestino) ou mucosa/submucosa (menos grave).
• Causas principais:
• Oclusão arterial total (ex.: embolia, aterosclerose grave).
• Trombose venosa mesentérica extensa.
• Choque prolongado com hipoperfusão severa.
• Quadro clínico:
• Dor abdominal intensa e súbita.
• Sinais de peritonite (abdome rígido, defesa involuntária).
• Febre, taquicardia, hipotensão.
• Sangramento gastrointestinal (se houver necrose mucosa).
• Diagnóstico: Angiotomografia abdominal com contraste, marcadores de necrose (lactato elevado).
• Tratamento: Cirurgia de emergência para ressecar o segmento necrosado.

Colite Isquêmica
• Forma mais branda da DII, geralmente transitória e reversível, acometendo principalmente o cólon esquerdo (região da flexura esplênica e cólon sigmoide).
• Causas principais:
• Hipoperfusão sistêmica (ex.: choque, insuficiência cardíaca, uso de drogas vasoconstritoras).
• Trombose parcial das arteríolas do cólon.
• Quadro clínico:
• Dor abdominal leve a moderada.
• Eliminação de sangue vivo nas fezes (hematoquezia).
• Náuseas, diarreia, febre.
• Evolução:
• Geralmente autolimitada, mas pode evoluir para necrose transmural se a isquemia for grave.
• Diagnóstico:
• Colonoscopia (visualiza mucosa inflamada e ulcerada).
• TC de abdome com contraste.
• Tratamento: Suporte clínico (hidratação, antibióticos, monitoramento).

Patogênese da Doença Intestinal Isquêmica

A fisiopatologia da DII envolve dois principais mecanismos de lesão:
1. Lesão hipóxica inicial
2. Lesão de reperfusão

  1. Lesão Hipóxica Inicial

O primeiro evento na isquemia intestinal é a hipóxia resultante da redução do fluxo sanguíneo para o intestino.
• Primeira fase:
• O intestino é relativamente resistente a hipóxia transitória devido à capacidade de vasodilatação das arteríolas mesentéricas.
• No entanto, se a isquemia persistir, as células epiteliais intestinais começam a sofrer lesão.
• Dano limitado:
• A mucosa intestinal é a primeira a ser afetada.
• Células epiteliais começam a sofrer apoptose e necrose.
• Resistência à hipóxia transitória:
• Pequenos períodos de hipoperfusão podem ser tolerados, desde que o fluxo sanguíneo seja restaurado rapidamente.
• Em casos de isquemia leve, a regeneração celular pode ocorrer.

  1. Lesão de Reperfusão

A segunda fase ocorre quando o fluxo sanguíneo é restabelecido após um período de isquemia. Embora a reperfusão seja necessária para a recuperação do tecido, paradoxalmente, ela pode agravar a lesão celular.
• Mecanismos de lesão na reperfusão:
1. Produção de espécies reativas de oxigênio (EROs):
• A reentrada de oxigênio no tecido isquêmico leva à produção de radicais livres altamente reativos.
• Essas espécies reativas causam dano oxidativo às membranas celulares, proteínas e DNA.
2. Ativação de neutrófilos:
• A isquemia e a reperfusão ativam neutrófilos, que migram para o tecido intestinal e liberam enzimas proteolíticas e citocinas inflamatórias.
• Isso amplifica a resposta inflamatória, piorando a destruição tecidual.
3. Disfunção endotelial:
• O endotélio vascular danificado libera mediadores inflamatórios que aumentam a permeabilidade capilar, resultando em edema e exacerbação da hipoperfusão.
4. Trombose secundária:
• A reperfusão pode desencadear uma resposta pró-trombótica, obstruindo ainda mais os vasos sanguíneos e prolongando a isquemia.
• Consequências:
• Se a reperfusão for intensa e prolongada, a isquemia pode progredir para necrose transmural, levando a perfuração intestinal e peritonite.

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Fatores Determinantes da Gravidade da Doença Intestinal Isquêmica (DII)

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Fatores Determinantes da Gravidade da Doença Intestinal Isquêmica (DII)

A gravidade da doença intestinal isquêmica (DII) depende de múltiplos fatores que influenciam a extensão da isquemia e a capacidade de recuperação do tecido intestinal. Esses fatores incluem o grau de comprometimento vascular, a velocidade de instalação, os vasos afetados e as características anatômicas e histológicas do intestino.

  1. Grau de Comprometimento Vascular

O impacto da isquemia depende do grau de obstrução do fluxo sanguíneo e do tempo de privação de oxigênio.
• Obstrução parcial:
• Pode permitir certo grau de circulação colateral, reduzindo a gravidade da isquemia.
• Exemplos: aterosclerose crônica com estenose progressiva.
• Obstrução completa:
• Impede o fluxo sanguíneo, resultando em necrose intestinal em poucas horas.
• Exemplos: embolia mesentérica aguda, trombose arterial completa.
• Comprometimento venoso:
• Se a drenagem venosa for obstruída (ex.: trombose venosa mesentérica), ocorre congestão, edema e isquemia secundária devido ao acúmulo de sangue no tecido intestinal.

  1. Velocidade de Instalação da Isquemia

A velocidade com que a isquemia se desenvolve influencia diretamente a capacidade de adaptação do tecido intestinal e a gravidade do dano.
• Isquemia aguda:
• Ocorre rapidamente, sem tempo para o desenvolvimento de circulação colateral.
• Está associada a eventos como embolia arterial, trombose súbita e choque hipovolêmico.
• Leva a dor intensa e alto risco de necrose intestinal.
• Isquemia crônica:
• Ocorre de forma progressiva, permitindo algum desenvolvimento de circulação colateral.
• Está associada a aterosclerose mesentérica, que leva à angina mesentérica pós-prandial.
• Pode permitir um tempo maior de intervenção antes que ocorra necrose tecidual.

  1. Vasos Afetados

A isquemia intestinal pode ser causada pela obstrução de diferentes vasos sanguíneos, e o impacto varia conforme a importância do vaso acometido.

Principais vasos envolvidos na DII:
• Artéria Mesentérica Superior (AMS):
• É a mais comumente afetada na isquemia intestinal, pois irriga a maior parte do intestino delgado e parte do cólon.
• Oclusão da AMS pode causar isquemia mesentérica aguda grave, levando a infarto intestinal extenso.
• Artéria Mesentérica Inferior (AMI):
• Irriga a parte distal do cólon (cólon descendente, sigmoide e reto).
• Sua oclusão geralmente causa colite isquêmica, que tende a ser menos grave do que a oclusão da AMS devido à existência de circulação colateral.
• Veia Mesentérica Superior:
• A trombose venosa mesentérica bloqueia o retorno venoso, levando a edema intestinal, aumento da pressão capilar e necrose hemorrágica do intestino.

  1. Região Anatômica e Camada Histológica Afetada

Determinadas áreas do intestino são mais vulneráveis à isquemia devido à sua vascularização limitada.

Áreas de Vascularização Terminal (“Zonas de Limiar”)

São regiões do intestino que dependem do suprimento sanguíneo de pequenos ramos arteriais sem circulação colateral significativa, tornando-as mais suscetíveis à isquemia.
• Ângulo esplênico do cólon (ponto de Griffiths):
• Região de transição entre o suprimento da artéria mesentérica superior e inferior.
• Frequentemente acometida na colite isquêmica.
• Junção reto-sigmoide (ponto de Sudeck):
• Área entre a irrigação da artéria mesentérica inferior e as artérias retais.
• Também vulnerável à isquemia devido ao suprimento sanguíneo limitado.
• Íleo distal e ceco:
• Podem ser acometidos em estados de hipoperfusão sistêmica, como no choque.

Camada Histológica Mais Suscetível

A camada do epitélio intestinal mais vulnerável à isquemia é aquela com menor vascularização.
• Epitélio de superfície:
• Possui menor suprimento sanguíneo em comparação com as criptas intestinais.
• É a primeira camada a sofrer lesão isquêmica, levando a ulceração e descamação da mucosa.
• Criptas intestinais:
• São relativamente mais resistentes à isquemia, pois recebem mais sangue através da microcirculação intestinal.
• Camada muscular:
• Se a isquemia for prolongada, a necrose pode atingir a camada muscular e levar a perfuração intestinal.

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Morfologia dos Infartos Intestinais: Infarto Mucoso e Infarto Mural

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Morfologia dos Infartos Intestinais: Infarto Mucoso e Infarto Mural

A doença intestinal isquêmica (DII) pode levar a diferentes padrões de infarto intestinal, que variam em gravidade e extensão tecidual. Dois tipos principais são o infarto mucoso e o infarto mural, ambos resultantes de hipóxia e reperfusão tecidual.

A morfologia dos infartos pode ser analisada tanto macroscopicamente (alterações visíveis a olho nu) quanto microscopicamente (alterações celulares e histológicas).

  1. Alterações Macroscópicas

As lesões causadas pela isquemia intestinal apresentam características distintas na inspeção direta do tecido afetado.
• Segmentares ou contínuos:
• A maioria dos infartos intestinais ocorre de maneira segmentar, pois a obstrução vascular frequentemente afeta uma parte específica do intestino.
• Em casos graves, pode haver infarto contínuo, comprometendo um segmento extenso do trato gastrointestinal.
• Mucosa vermelho-escura (hemorragia):
• O intestino afetado pode ter uma coloração vermelho-escura devido à extravasação de sangue nos tecidos.
• Esse achado ocorre pela ruptura da microvasculatura intestinal durante a isquemia e pela posterior lesão de reperfusão.
• Áreas amareladas (necrose):
• Regiões necróticas aparecem como áreas amareladas ou esverdeadas, resultado da degradação do tecido morto e do acúmulo de detritos celulares.
• Úlceras:
• A destruição da mucosa intestinal pode levar à formação de úlceras isquêmicas, que podem predispor a perfuração e peritonite em casos mais avançados.

  1. Alterações Microscópicas

A análise histopatológica revela diferentes graus de necrose e inflamação, dependendo da extensão e da duração da isquemia.
• Necrose coagulativa da camada mucosa (infarto mucoso):
• O infarto mucoso ocorre quando a isquemia afeta predominantemente a mucosa, com necrose coagulativa limitada a essa camada.
• Esse tipo de lesão pode ser transitório e ter potencial para regeneração, caso o fluxo sanguíneo seja restaurado rapidamente.
• Necrose coagulativa das camadas mucosa e submucosa (infarto mural):
• No infarto mural, a isquemia se estende além da mucosa e compromete a submucosa.
• A necrose coagulativa preserva inicialmente as estruturas teciduais, mas com perda da função celular.
• Hemorragia:
• A lesão vascular leva à extravasação de hemácias para os tecidos afetados, resultando em sangramento na mucosa e submucosa.
• Esse fenômeno ocorre devido à fragilidade dos capilares e vênulas após a reperfusão.
• Leucócitos (infiltrado inflamatório):
• Fase inicial: Os neutrófilos são as primeiras células recrutadas para a área afetada, promovendo a fagocitose de células necróticas.
• Fase tardia: Os neutrófilos são substituídos por macrófagos, que iniciam a remoção dos detritos celulares e promovem a reparação tecidual (caso a lesão não seja irreversível).
• Serosite geralmente ausente:
• Como o infarto mucoso e mural não afetam a camada serosa do intestino, geralmente não há inflamação peritoneal (serosite).
• Se a necrose progredir para todas as camadas da parede intestinal (infarto transmural), pode ocorrer perfuração e peritonite, levando a uma condição grave e potencialmente fatal.

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Morfologia do Infarto Transmural na Doença Intestinal Isquêmica

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Morfologia do Infarto Transmural na Doença Intestinal Isquêmica

O infarto transmural é a forma mais grave da doença intestinal isquêmica (DII), caracterizando-se por necrose de todas as camadas da parede intestinal. Esse tipo de infarto tem alto risco de perfuração intestinal e evolução para peritonite, tornando-se uma emergência médica.

  1. Alterações Macroscópicas

Na inspeção direta do intestino afetado, observam-se alterações típicas da necrose tecidual extensa.
• Segmentar:
• O infarto transmural geralmente ocorre em segmentos do intestino, pois a obstrução do fluxo sanguíneo afeta áreas específicas da vascularização mesentérica.
• Mucosa vermelho-escura (hemorragia):
• A mucosa torna-se escurecida e congesta devido ao extravasamento de sangue nos tecidos, indicando estase e dano vascular.
• Esse padrão ocorre porque a lesão isquêmica prejudica a integridade da microcirculação intestinal.
• Áreas amareladas (necrose):
• A necrose extensa leva à coloração amarelada ou esverdeada, indicando destruição celular e degradação tecidual.
• Úlceras:
• Ocorrem devido à destruição da mucosa e podem ser profundas, predispondo à perfuração intestinal.
• Perfuração:
• Como todas as camadas do intestino são acometidas, o tecido necrótico torna-se frágil, podendo romper-se e liberar conteúdo intestinal na cavidade peritoneal.
• Isso leva a uma complicação grave: peritonite secundária, que pode evoluir para sepse.
• Deposição de fibrina na serosa:
• A fibrina é um marcador de inflamação e lesão endotelial. Sua deposição na serosa indica uma resposta inflamatória intensa, tentando conter a infecção e a necrose.

  1. Alterações Microscópicas

A análise histopatológica do infarto transmural revela necrose extensa e inflamação intensa.
• Necrose coagulativa da mucosa, submucosa e muscular própria:
• A necrose coagulativa preserva a arquitetura geral do tecido por algumas horas, mas sem viabilidade celular.
• Atinge todas as camadas da parede intestinal, comprometendo a função do órgão.
• Hemorragia:
• O extravasamento de sangue ocorre devido à destruição dos capilares e vênulas da mucosa e submucosa.
• Infiltrado leucocitário:
• Fase inicial: Predomínio de neutrófilos, que tentam remover células necróticas e liberar mediadores inflamatórios.
• Fase tardia: Substituição por macrófagos, que iniciam a fagocitose dos restos celulares e promovem a fibrose.
• Serosite:
• A inflamação intensa da serosa ocorre quando a necrose atinge a camada mais externa do intestino.
• A serosite pode evoluir para peritonite caso ocorra perfuração.

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Morfologia da Colite Isquêmica

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Morfologia da Colite Isquêmica

A colite isquêmica é uma forma mais branda e geralmente transitória da doença intestinal isquêmica (DII), afetando predominantemente o cólon esquerdo (especialmente o ângulo esplênico e o reto-sigmoide, que são áreas de vascularização terminal). A gravidade da isquemia pode variar desde lesões superficiais reversíveis até necrose extensa.

  1. Alterações Macroscópicas

As manifestações visíveis a olho nu refletem a lesão tecidual moderada a grave.
• Hemorragia focal:
• Pequenas áreas de sangramento na mucosa e submucosa ocorrem devido à ruptura de capilares frágeis na mucosa isquêmica.
• Ocorre principalmente nas fases iniciais da doença.
• Erosões:
• Pequenas lesões ulceradas na mucosa, resultantes da destruição do epitélio de revestimento.
• Indicam um grau de isquemia suficiente para comprometer a integridade da mucosa, mas sem necrose transmural.
• Áreas deprimidas:
• Regiões do cólon afetadas pela isquemia podem apresentar depressão da mucosa, sugerindo perda tecidual e atrofia.
• Essas áreas podem ser vistas como úlceras rasas ou regiões de afinamento da parede intestinal.

  1. Alterações Microscópicas

As alterações histopatológicas ajudam a entender a evolução da colite isquêmica.
• Necrose do epitélio superficial (fase inicial):
• O primeiro sinal de lesão isquêmica é a morte das células epiteliais que revestem a mucosa do cólon.
• Como o epitélio de superfície é menos vascularizado do que as criptas intestinais, ele é o primeiro a sofrer necrose.
• Vasos dilatados (fase inicial):
• Na tentativa de compensar a isquemia, os vasos sanguíneos sofrem dilatação reativa para aumentar a perfusão.
• No entanto, essa dilatação muitas vezes é insuficiente para restaurar o fluxo sanguíneo adequado.
• Infiltrado leucocitário:
• Inicialmente, há um predomínio de neutrófilos, que são recrutados para a área da isquemia e liberam enzimas proteolíticas que podem agravar a lesão tecidual.
• Com a progressão da resposta inflamatória, os neutrófilos são substituídos por macrófagos, responsáveis pela fagocitose dos restos celulares necróticos e pelo reparo tecidual.
• Fibrose da lâmina própria e atrofia das criptas (fases tardias):
• Se a colite isquêmica for recorrente ou crônica, pode ocorrer fibrose da lâmina própria, levando ao espessamento da parede do cólon e redução da função absortiva.
• As criptas intestinais sofrem atrofia e rarefação, reduzindo a capacidade regenerativa da mucosa.

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Manifestações Clínicas da Doença Intestinal Isquêmica (DII)

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Manifestações Clínicas da Doença Intestinal Isquêmica (DII)

A apresentação clínica da doença intestinal isquêmica varia de acordo com a gravidade da isquemia, o tempo de evolução e a extensão do comprometimento vascular. Basicamente, há duas formas principais de manifestação:
1. Infarto intestinal (isquemia grave e aguda, com alto risco de complicações).
2. Colite isquêmica (isquemia mais branda e, geralmente, transitória).

  1. Infarto Intestinal (Isquemia Mesentérica Aguda)

O infarto intestinal é a forma mais grave da DII, ocorrendo quando há obstrução completa do fluxo sanguíneo. Pode evoluir rapidamente para necrose intestinal, perfuração e sepse.

Principais Sintomas
• Dor abdominal súbita e intensa:
• Desproporcional ao exame físico nos estágios iniciais.
• Localizada, geralmente, no mesogástrio ou quadrantes inferiores.
• Náuseas e vômitos:
• Relacionados à irritação peritoneal e sofrimento intestinal.
• Diarreia sanguinolenta:
• Resulta da necrose da mucosa e extravasamento de sangue para o lúmen intestinal.
• Evolução para choque hipovolêmico e/ou séptico:
• O extravasamento de fluidos para o intestino e a hemorragia podem levar à hipotensão grave e hipovolemia.
• Se houver necrose transmural e perfuração, o paciente pode desenvolver peritonite e sepse, com risco de morte.

Exame Físico
• Inicialmente, abdome relativamente normal, apesar da dor intensa.
• Com a progressão para necrose e perfuração, o paciente pode apresentar abdome rígido e sinais de irritação peritoneal.
• Taquicardia, hipotensão e sinais de choque em casos avançados.

  1. Colite Isquêmica

A colite isquêmica representa uma isquemia menos grave, afetando predominantemente o cólon esquerdo (ângulo esplênico e sigmoide). Geralmente, é autolimitada e não evolui para necrose transmural.

Principais Sintomas
• Angina abdominal:
• Dor em cólica leve a moderada, mais comum no quadrante inferior esquerdo.
• Surge pós-prandial, devido ao aumento da demanda metabólica do intestino.
• Diarreia intermitente:
• Pode ser aquosa ou sanguinolenta, dependendo do grau de isquemia.
• Hemorragia digestiva baixa:
• Eliminação de sangue vivo ou coágulos nas fezes, indicando dano à mucosa colônica.
• Geralmente, ocorre de forma autolimitada.

Exame Físico
• Sensibilidade abdominal discreta, geralmente sem sinais de peritonite.
• Em casos mais graves, pode haver defesa abdominal leve e distensão.

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Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs) – Introdução e Generalidades

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Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs) – Introdução e Generalidades

As Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs) são um grupo de doenças crônicas caracterizadas por um processo inflamatório persistente no trato gastrointestinal (TGI). As duas principais entidades dentro desse grupo são:
1. Retocolite Ulcerativa (RCU)
2. Doença de Crohn (DC)

Ambas as doenças compartilham algumas características, como envolvimento do sistema imunológico, períodos de remissão e exacerbação, e fatores de risco genéticos e ambientais. No entanto, possuem diferenças importantes em relação ao padrão de acometimento intestinal, profundidade da inflamação e manifestações clínicas.

  1. Características Gerais das DIIs

As DIIs são desordens inflamatórias crônicas do trato gastrointestinal, resultantes de uma resposta imune inapropriada da mucosa intestinal contra a microbiota residente, associada a fatores genéticos e ambientais.

Principais Características
• Ativação imunológica inadequada:
• Ocorre uma resposta imunológica exacerbada na mucosa intestinal, mediada principalmente por células T CD4⁺, resultando em inflamação crônica e destruição tecidual.
• Períodos de exacerbação e remissão:
• As DIIs apresentam um curso clínico recorrente, com crises inflamatórias intercaladas por períodos de remissão parcial ou total.
• Risco aumentado de complicações:
• Se não controladas, podem evoluir para complicações estruturais (estenoses, fístulas e perfuração intestinal) e aumento do risco de câncer colorretal.

  1. Retocolite Ulcerativa (RCU)

A retocolite ulcerativa (RCU) é uma doença inflamatória ulcerativa crônica, limitada ao cólon e reto, que afeta principalmente a mucosa e a submucosa.

Principais Características da RCU
• Localização:
• Acomete exclusivamente o cólon e o reto (não afeta outras partes do trato gastrointestinal).
• A inflamação sempre se inicia no reto e pode se estender proximalmente, de forma contínua, sem áreas de intestino saudável entre os segmentos afetados.
• Padrão inflamatório:
• Inflamação restrita à mucosa e submucosa, sem acometimento transmural.
• Formação de úlceras superficiais e pseudopólipos inflamatórios.
• Sintomas principais:
• Diarreia sanguinolenta (com muco e pus).
• Dor abdominal tipo cólica, geralmente no quadrante inferior esquerdo.
• Urgência fecal e tenesmo (sensação de evacuação incompleta).
• Perda de peso e fadiga em casos graves.
• Complicações:
• Megacólon tóxico: Dilatação grave do cólon com risco de perfuração e sepse.
• Maior risco de câncer colorretal, especialmente em pacientes com inflamação de longa data.

  1. Doença de Crohn (DC)

A doença de Crohn (DC) é uma doença inflamatória crônica que pode afetar qualquer parte do trato gastrointestinal, da boca ao ânus. Diferentemente da RCU, sua inflamação é transmural, podendo levar a complicações estruturais graves.

Principais Características da DC
• Localização:
• Pode afetar qualquer segmento do trato gastrointestinal, mas é mais comum no íleo terminal e cólon direito.
• Apresenta um padrão de lesões “salteadas” (com segmentos de intestino normal entre áreas inflamadas).
• Padrão inflamatório:
• Inflamação transmural (atinge todas as camadas da parede intestinal).
• Formação de úlceras profundas e granulomas não caseosos na mucosa intestinal.
• Pode levar à formação de fístulas, abscessos e estenoses devido à fibrose.
• Sintomas principais:
• Diarreia crônica, geralmente sem sangue.
• Dor abdominal tipo cólica, mais comum no quadrante inferior direito.
• Emagrecimento e desnutrição, devido à má absorção de nutrientes.
• Febre baixa e fadiga.
• Complicações:
• Estenoses intestinais (devido à fibrose transmural).
• Fístulas (comunicação anormal entre alças intestinais ou órgãos adjacentes).
• Abscessos intra-abdominais.

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Epidemiologia e Patogênese das Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs)

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Epidemiologia e Patogênese das Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs)

As Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs), que incluem a Retocolite Ulcerativa (RCU) e a Doença de Crohn (DC), possuem um perfil epidemiológico distinto e uma patogênese complexa, envolvendo fatores genéticos, ambientais e imunológicos.

  1. Epidemiologia das DIIs

As DIIs apresentam um padrão epidemiológico globalmente variável, influenciado por fatores genéticos e ambientais.

Fatores Epidemiológicos Principais
• Predomínio feminino
• Embora a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa possam afetar ambos os sexos, alguns estudos sugerem uma maior prevalência no sexo feminino, especialmente na Doença de Crohn.
• Pico de incidência
• Maior pico: Adolescência e início da idade adulta (15 a 30 anos).
• Segundo pico menor: Em idosos (após os 60 anos).
• Mais comuns em caucasianos e judeus Ashkenazi
• Estudos mostram maior prevalência das DIIs em populações caucasianas, especialmente de descendência judaica Ashkenazi, sugerindo um forte componente genético.
• Distribuição geográfica
• Alta prevalência: América do Norte, norte da Europa e Austrália.
• Baixa prevalência: América Latina, Ásia e África.
• No entanto, a incidência das DIIs está aumentando em países em desenvolvimento, possivelmente devido à ocidentalização do estilo de vida e mudanças na microbiota intestinal.
• Hipótese da Higiene
• Sugere que a redução da exposição a patógenos na infância (devido ao uso de antibióticos, saneamento avançado e menor contato com infecções) leva a um desenvolvimento imunológico inadequado, aumentando o risco de doenças autoimunes, como as DIIs.
• Tabagismo
• Fator de risco para a Doença de Crohn: Pacientes tabagistas têm maior risco de desenvolver a Doença de Crohn, além de apresentarem quadros mais graves e refratários ao tratamento.
• Fator protetor para a Retocolite Ulcerativa: Curiosamente, o tabagismo parece ter um efeito protetor na RCU, reduzindo a gravidade dos sintomas. O mecanismo exato não é totalmente compreendido, mas pode envolver alterações na resposta imune e na produção de muco intestinal.

  1. Patogênese das Doenças Inflamatórias Intestinais

A patogênese das DIIs é multifatorial, envolvendo uma combinação de fatores genéticos, ambientais, disfunção da barreira epitelial e resposta imunológica aberrante.

Principais Mecanismos Patogênicos
1. Fatores Genéticos
• A predisposição genética é mais evidente na Doença de Crohn, com múltiplos genes envolvidos na suscetibilidade.
• O gene NOD2/CARD15 foi associado à Doença de Crohn, e sua mutação pode prejudicar a resposta imune à microbiota intestinal.
• História familiar aumenta o risco de DIIs.
2. Interações Anormais com a Microbiota Intestinal
• Pacientes com DIIs apresentam desequilíbrio da microbiota intestinal (disbiose), com redução de bactérias benéficas e aumento de espécies patogênicas.
• A microbiota pode estimular uma resposta imune inadequada, promovendo inflamação crônica.
3. Disfunção Epitelial
• O epitélio intestinal atua como barreira protetora, impedindo a invasão de microrganismos.
• Em pacientes com DIIs, essa barreira é disfuncional, permitindo maior penetração de antígenos microbianos e ativação imune excessiva.
4. Respostas Imunológicas Aberrantes
• A inflamação intestinal nas DIIs é mediada por células T CD4+.
• Na Doença de Crohn: Predomina a resposta Th1 e Th17, com liberação de citocinas pró-inflamatórias como TNF-α, IL-12 e IL-23.
• Na Retocolite Ulcerativa: Predomina a resposta Th2, com produção aumentada de IL-5 e IL-13, que contribuem para o dano da mucosa.
• O desequilíbrio entre resposta inflamatória e mecanismos de regulação imune leva à destruição tecidual crônica.

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Fatores Genéticos e Microbiota nas Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs)

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Fatores Genéticos e Microbiota nas Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs)

A patogênese das Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs) envolve uma combinação de predisposição genética e interação anormal com a microbiota intestinal, levando a uma resposta inflamatória desregulada na mucosa do trato gastrointestinal.

  1. Fatores Genéticos

A predisposição genética tem um papel significativo no risco de desenvolver DIIs, especialmente na Doença de Crohn.

Principais Evidências da Influência Genética
• Maior concordância entre gêmeos monozigóticos:
• Estudos mostram que gêmeos idênticos têm maior probabilidade de desenvolver DIIs quando um deles já possui a doença, sugerindo um forte componente hereditário.
• História familiar aumenta o risco:
• Ter um parente de primeiro grau com DII aumenta o risco em até 10 a 20 vezes em comparação com a população geral.

Genes de Suscetibilidade

Vários genes estão associados ao risco de DIIs, influenciando a resposta imune e a interação com a microbiota intestinal.
1. NOD2 (CARD15)
• Um dos principais genes associados à Doença de Crohn.
• Codifica um receptor intracelular envolvido no reconhecimento de componentes bacterianos.
• Mutação nesse gene leva a uma resposta imune deficiente, favorecendo a colonização de bactérias patogênicas e o desenvolvimento de inflamação crônica.
2. ATG16L1
• Relacionado à autofagia, um mecanismo celular essencial para a degradação de microrganismos intracelulares.
• Sua mutação compromete a eliminação de patógenos intestinais, aumentando a inflamação na Doença de Crohn.
3. IRGM
• Também está envolvido na autofagia e resposta imune inata.
• Alterações nesse gene estão associadas ao aumento da resposta inflamatória no trato gastrointestinal.
4. Receptor de IL-13
• Está mais relacionado à Retocolite Ulcerativa do que à Doença de Crohn.
• IL-13 tem um papel importante na regulação da inflamação na mucosa intestinal, e mutações nesse receptor podem levar a uma resposta inflamatória descontrolada.

  1. Microbiota e Doenças Inflamatórias Intestinais

A microbiota intestinal desempenha um papel fundamental na regulação da resposta imunológica da mucosa. Em pacientes com DIIs, ocorrem alterações na composição da microbiota intestinal (disbiose), que contribuem para a inflamação crônica.

Características da Microbiota nas DIIs
• Bactérias compõem cerca de 50% da composição das fezes:
• O trato gastrointestinal abriga trilhões de bactérias que desempenham funções essenciais na digestão, síntese de vitaminas e regulação do sistema imunológico.
• Diferenças entre Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa:
• Doença de Crohn:
• Redução de bactérias benéficas (Firmicutes, especialmente Faecalibacterium prausnitzii).
• Aumento de bactérias patogênicas (Enterobacteriaceae, incluindo Escherichia coli aderente-invasiva – AIEC).
• Predisposição a infecção transmural devido à microbiota alterada.
• Retocolite Ulcerativa:
• Predomínio de um perfil inflamatório mais restrito à mucosa.
• Aumento de bactérias produtoras de metabólitos inflamatórios, que prejudicam a barreira epitelial.

Uso de Antibióticos no Tratamento
• Antibióticos podem ser úteis em alguns casos, especialmente na Doença de Crohn, onde infecções secundárias e abscessos podem ocorrer.
• Rifamicinas (rifaximina) e metronidazol são usados para modular a microbiota e reduzir a inflamação.
• No entanto, a terapia antibiótica deve ser usada com cautela, pois o impacto prolongado na microbiota pode ter efeitos adversos.

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Disfunção Epitelial nas Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs)

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Disfunção Epitelial nas Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs)

A barreira epitelial intestinal desempenha um papel fundamental na proteção contra patógenos, na absorção de nutrientes e na regulação da resposta imune. Nas Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs), essa barreira está comprometida, permitindo maior penetração de antígenos microbianos e ativação da inflamação crônica.

  1. Principais Mecanismos de Disfunção Epitelial nas DIIs

1.1. Defeitos na Adesão Intercelular de Enterócitos
• O epitélio intestinal é formado por células epiteliais unidas por junções oclusivas (tight junctions), que regulam a permeabilidade da mucosa.
• Em pacientes com DIIs, ocorre uma disfunção nessas junções intercelulares, aumentando a permeabilidade intestinal.
• Isso permite a passagem de microrganismos e toxinas para a lâmina própria, ativando o sistema imune e intensificando a inflamação.

✅ Achado importante na Doença de Crohn, onde há um aumento da permeabilidade intestinal devido à alteração das tight junctions.

1.2. Defeitos no Transporte Transepitelial
• O epitélio intestinal regula a absorção e secreção de água e eletrólitos.
• Em pacientes com DIIs, há desregulação das proteínas transportadoras, levando a:
• Diarreia secretória (por aumento da secreção de íons e água no lúmen).
• Dificuldade na absorção de nutrientes (especialmente na Doença de Crohn, que afeta o intestino delgado).

1.3. Defeitos na Barreira de Mucina Transepitelial
• A mucosa intestinal é revestida por uma camada de muco (formada por mucinas), que impede o contato direto das bactérias com o epitélio.
• Na Retocolite Ulcerativa, há redução na produção de mucina, resultando em uma barreira mucosa mais fina e vulnerável.
• Isso facilita o contato direto da microbiota com as células epiteliais, aumentando a ativação inflamatória.

✅ Achado predominante na Retocolite Ulcerativa, onde a inflamação afeta primariamente a mucosa.

1.4. Anormalidades nas Células de Paneth
• As células de Paneth estão localizadas nas criptas intestinais e produzem defensinas, que têm função antimicrobiana.
• Em pacientes com Doença de Crohn, há redução na produção de defensinas, favorecendo o crescimento de bactérias patogênicas na mucosa intestinal.
• Isso contribui para o desenvolvimento da disbiose (desequilíbrio da microbiota) e perpetuação da inflamação.

✅ Alteração mais comum na Doença de Crohn, especialmente no íleo terminal.

  1. Consequências da Disfunção Epitelial

A combinação desses defeitos leva a um ciclo vicioso de inflamação, caracterizado por:
• Aumento da permeabilidade intestinal → Maior exposição a antígenos bacterianos.
• Ativação exacerbada do sistema imunológico → Produção de citocinas inflamatórias (TNF-α, IL-6, IL-23).
• Dano contínuo à mucosa → Ulcerações, atrofia e fibrose (particularmente na Doença de Crohn).

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Respostas Imunológicas Aberrantes nas Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs)

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Respostas Imunológicas Aberrantes nas Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs)

As Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs) são caracterizadas por uma resposta imunológica desregulada na mucosa intestinal. Essa inflamação crônica é impulsionada principalmente por células T CD4+, que ativam vias inflamatórias distintas na Doença de Crohn (DC) e na Retocolite Ulcerativa (RCU).

  1. Principais Padrões de Resposta Imune nas DIIs

1.1. Resposta Th17 (Presente em Ambas)
• As células Th17 desempenham um papel central na inflamação das DIIs, estimulando a produção de citocinas pró-inflamatórias como IL-17 e IL-23.
• Função da IL-17:
• Atrai neutrófilos para o intestino.
• Promove a destruição da barreira epitelial.
• Estimula macrófagos e células dendríticas a amplificar a inflamação.
• A ativação exacerbada da via IL-23/IL-17 é um alvo terapêutico importante, com o uso de anticorpos monoclonais (ex.: Ustekinumabe, Secuquinumabe).

1.2. Resposta Th1 (Doença de Crohn)
• A Doença de Crohn é uma doença mediada pela resposta Th1, caracterizada pela produção de IFN-γ (interferon-gama) e TNF-α.
• Efeitos da resposta Th1 na Doença de Crohn:
• Aumento da inflamação transmural → Pode levar à formação de fístulas e estenoses.
• Ativação de macrófagos, que liberam TNF-α, perpetuando o processo inflamatório.
• Produção de IL-12, que reforça a diferenciação de células T para o fenótipo Th1.

✅ Terapia biológica: O infliximabe (anti-TNF-α) é eficaz na Doença de Crohn, reduzindo a inflamação Th1.

1.3. Resposta Th2 (Retocolite Ulcerativa)
• A Retocolite Ulcerativa é predominantemente mediada pela resposta Th2, com aumento de IL-5 e IL-13.
• Efeitos da resposta Th2 na Retocolite Ulcerativa:
• IL-5 ativa eosinófilos, intensificando a inflamação da mucosa.
• IL-13 danifica as células epiteliais, contribuindo para ulcerações e destruição da barreira de muco.

✅ Terapia biológica: O Tofacitinibe (inibidor de JAK-STAT) reduz a resposta Th2 na RCU.

1.4. Deficiência de IL-10 na Retocolite Ulcerativa
• A IL-10 é uma citocina anti-inflamatória, fundamental para a regulação da resposta imune na mucosa intestinal.
• Na Retocolite Ulcerativa, há redução na produção de IL-10, prejudicando o controle da inflamação.
• Consequências da deficiência de IL-10:
• Maior ativação de células T pró-inflamatórias.
• Redução da capacidade de supressão da resposta imune exacerbada.

✅ Terapia biológica: Estudos investigam o uso de IL-10 recombinante para modular a resposta inflamatória.

  1. Imagem Explicativa

A imagem anexada ao slide ilustra a disfunção da barreira epitelial e a ativação do sistema imune nas DIIs:
• Bactérias penetram pela mucosa comprometida, ativando células dendríticas.
• Células dendríticas liberam IL-23, estimulando a resposta Th17 (produção de IL-17, recrutamento de neutrófilos).
• Macrófagos liberam TNF-α, promovendo a inflamação crônica.
• Diferentes subtipos de células T (Th1, Th2 e Th17) contribuem para a patogênese específica de cada DII.

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Doença de Crohn – Macroscopia e Características Clínicas

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Doença de Crohn – Macroscopia e Características Clínicas

A Doença de Crohn (DC) é uma doença inflamatória intestinal crônica e transmural, que pode afetar qualquer parte do trato gastrointestinal (TGI), da boca ao ânus. Diferente da Retocolite Ulcerativa (RCU), que se restringe ao cólon e reto, a Doença de Crohn apresenta lesões descontínuas e transmurais, podendo levar a complicações estruturais graves.

  1. Localizações da Doença de Crohn

A Doença de Crohn pode afetar diferentes partes do trato digestivo com padrão variável de acometimento:
• Pode acometer todo o TGI, desde a cavidade oral até o ânus.
• Localização mais frequente: região íleo-cecal (local onde o íleo terminal encontra o ceco).
• Distribuição das lesões:
• 40%: restritas ao intestino delgado.
• 30%: acometem intestino delgado e cólon simultaneamente.
• 30%: limitadas somente ao cólon.
• Envolvimento do ânus e região perianal ocorre em cerca de 25% dos casos, manifestando-se como fissuras, fístulas e abscessos.

✅ Diferença da Retocolite Ulcerativa:
• Na RCU, o acometimento é contínuo e limitado ao cólon.
• Na Doença de Crohn, as lesões são segmentares e transmurais, podendo ocorrer em qualquer parte do TGI.

  1. Alterações Macroscópicas

As lesões da Doença de Crohn têm um padrão característico, sendo descontínuas e transmurais.

Lesões “Descontínuas” e “Saltetórias” (Skip Lesions)
• Padrão segmentar: áreas de mucosa saudável alternadas com segmentos inflamados.
• Isso diferencia a DC da RCU, na qual a inflamação é contínua.

Úlceras e Formação de “Pedra de Calçamento” (Cobblestone)
• As úlceras profundas e lineares se intercalam com áreas de mucosa normal, criando um aspecto irregular, elevado e nodular.
• Esse padrão, chamado de “cobblestone” (pedra de calçamento), é uma característica típica da Doença de Crohn.

Fissuras e Perfuração
• A inflamação transmural leva à formação de fissuras profundas, que podem atingir a serosa e evoluir para perfuração intestinal.
• Isso contribui para a formação de fístulas e abscessos, comuns na DC.

Estenose e Obstrução
• A inflamação transmural crônica causa fibrose e espessamento da parede intestinal, resultando em estenoses (estreitamentos do lúmen).
• Essas estenoses podem levar à obstrução intestinal, que se manifesta por dor abdominal, distensão e vômitos.

Gordura “em Trepadeira”
• A proliferação da gordura mesentérica ao redor do intestino inflamado é uma alteração característica.
• Ocorre devido à inflamação crônica do mesentério e pode ser vista em cirurgias e exames de imagem.

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Microscopia da Doença de Crohn

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Microscopia da Doença de Crohn

A Doença de Crohn (DC) apresenta um padrão histopatológico característico, diferenciado da Retocolite Ulcerativa (RCU). A inflamação transmural e granulomatosa é a principal característica da DC e contribui para as complicações estruturais, como fístulas e estenoses.

  1. Inflamação na Doença de Crohn

A inflamação na DC não se restringe à mucosa, sendo transmural, ou seja, acomete todas as camadas da parede intestinal.

1.1. Infiltrado Inflamatório Linfomononuclear Crônico na Lâmina Própria
• A inflamação crônica leva ao infiltrado linfomononuclear (linfócitos, plasmócitos e macrófagos) na lâmina própria.
• Isso ocorre devido à resposta imune desregulada contra a microbiota intestinal.

1.2. Criptite e Abscessos Crípticos
• Criptite: Infiltração de neutrófilos dentro das criptas intestinais, causando dano epitelial.
• Abscessos crípticos: Formação de acúmulos de neutrófilos dentro das criptas, resultando em destruição do epitélio glandular.

✅ Achado comum também na Retocolite Ulcerativa, mas na DC é menos proeminente.

1.3. Granulomas Não-Caseosos
• Um dos achados mais característicos da Doença de Crohn, mas não obrigatórios para o diagnóstico.
• São formados por agregados de macrófagos epitelioides sem necrose caseosa (diferente da tuberculose).
• Representam uma resposta imune desregulada contra componentes bacterianos.

✅ Presente em cerca de 50% dos pacientes com Doença de Crohn.

1.4. Inflamação Transmural
• Diferente da Retocolite Ulcerativa, onde a inflamação se restringe à mucosa e submucosa, na Doença de Crohn a inflamação compromete todas as camadas da parede intestinal.
• Essa inflamação profunda aumenta o risco de complicações como fístulas, abscessos e estenoses.

✅ Achado fundamental que diferencia a Doença de Crohn da Retocolite Ulcerativa.

  1. Lesões Secundárias

A inflamação crônica leva a alterações estruturais na mucosa intestinal.

2.1. Distorção da Arquitetura da Mucosa
• Ocorre perda da organização normal das criptas intestinais, que ficam desordenadas, irregulares e dilatadas.
• Pode levar à formação de pseudopólipos inflamatórios, mais comuns na Retocolite Ulcerativa.

2.2. Atrofia da Mucosa
• Com a inflamação persistente, ocorre perda progressiva das células epiteliais, levando a afinamento da mucosa e menor capacidade absortiva.

2.3. Metaplasia Pseudopilórica
• Transformação das células epiteliais do intestino em células semelhantes às do epitélio gástrico.
• Indica uma resposta adaptativa ao dano crônico.

2.4. Metaplasia de Células de Paneth
• As células de Paneth são células secretoras de defensinas e lisozima, normalmente encontradas no intestino delgado.
• Na Doença de Crohn colônica, há metaplasia de células de Paneth no cólon, o que é um achado incomum no intestino grosso saudável.

✅ Marcador histológico importante da DC colônica.

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Manifestações Digestivas da Doença de Crohn

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Manifestações Digestivas da Doença de Crohn

A Doença de Crohn (DC) afeta todo o trato gastrointestinal e apresenta manifestações digestivas variadas, desde sintomas leves até complicações graves, como estenoses, fístulas e má-absorção nutricional. A gravidade dos sintomas depende da localização e extensão da inflamação.

  1. Sintomas Gastrointestinais
    • Episódios de diarreia, febre e dor abdominal
    • Diarreia crônica: geralmente não sanguinolenta, mas pode conter muco e pus devido à inflamação transmural.
    • Dor abdominal: localizada com mais frequência na fossa ilíaca direita (FID), devido ao acometimento comum do íleo terminal.
    • Febre baixa e fadiga, indicando inflamação sistêmica.

✅ Diferenciação da Retocolite Ulcerativa (RCU):
• Na RCU, a diarreia é sempre sanguinolenta e há urgência fecal.
• Na Doença de Crohn, a diarreia é menos frequentemente sanguinolenta, e há predomínio de dor abdominal.

  1. Síndrome do Íleo Terminal e Simulador de Apendicite
    • 20% dos pacientes apresentam dor intensa na fossa ilíaca direita (FID), febre e diarreia sanguinolenta.
    • Isso pode simular um quadro de apendicite aguda, levando a erros diagnósticos.

✅ Dica clínica: Apendicite verdadeira tem evolução rápida, enquanto a dor da Doença de Crohn pode ser intermitente e recorrente.

  1. Estenoses e Obstrução Intestinal
    • A inflamação transmural e a fibrose intestinal progressiva podem levar a estenoses (estreitamentos do lúmen intestinal).
    • Isso causa obstrução intestinal parcial ou completa, levando a:
    • Dor abdominal pós-prandial (tipo cólica).
    • Distensão abdominal e náuseas/vômitos.
    • Alterações no hábito intestinal (constipação intermitente associada à diarreia).

✅ Diferenciação da RCU:
• RCU raramente causa estenoses, pois a inflamação é restrita à mucosa e submucosa.

  1. Fístulas (Comunicação Anormal Entre Órgãos)

A inflamação transmural da DC pode formar fístulas, que são conexões anormais entre órgãos adjacentes.
• Fístulas enteroentéricas: entre alças intestinais, levando a má absorção e diarreia grave.
• Fístulas enterovesicais: entre o intestino e a bexiga, resultando em infecções urinárias de repetição.
• Fístulas enterovaginais: causando eliminação de fezes ou gases pela vagina.
• Fístulas perianais: muito comuns na DC, levando a dor, secreção purulenta e abscessos perianais.

✅ As fístulas são uma complicação clássica da DC e não ocorrem na Retocolite Ulcerativa.

  1. Má-absorção e Deficiências Nutricionais

A inflamação do intestino delgado pode comprometer a absorção de nutrientes essenciais:
• Anemia: devido à deficiência de ferro, folato ou vitamina B12.
• Má-absorção de vitamina B12: ocorre quando o íleo terminal está acometido, levando à anemia megaloblástica e neuropatia periférica.
• Má-absorção de sais biliares:
• Redução da absorção no íleo terminal, causando diarreia colérica (ácidos biliares irritam o cólon).
• Deficiência de absorção de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K) → maior risco de osteoporose.
• Perda de peso e desnutrição generalizada.

✅ Na RCU, a absorção de nutrientes é menos afetada, pois o delgado não está comprometido.

  1. Risco Aumentado de Adenocarcinoma Colorretal
    • A inflamação crônica da mucosa aumenta o risco de displasia e câncer colorretal.
    • O risco é maior nos pacientes com Doença de Crohn colônica extensa e de longa duração (> 8-10 anos de doença ativa).
    • O rastreamento com colonoscopia periódica é essencial nesses pacientes.

✅ O risco de câncer colorretal é ainda maior na Retocolite Ulcerativa extensa.

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Manifestações Extraintestinais da Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa

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Manifestações Extraintestinais da Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa

As Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs), incluindo a Doença de Crohn (DC) e a Retocolite Ulcerativa (RCU), não se restringem apenas ao trato gastrointestinal. Elas podem afetar múltiplos órgãos e sistemas, levando a manifestações extraintestinais que impactam significativamente a qualidade de vida do paciente.

Cerca de 25-40% dos pacientes com DIIs apresentam pelo menos uma manifestação extraintestinal. Essas complicações podem surgir antes, durante ou após o diagnóstico da doença intestinal e frequentemente seguem a atividade da doença.

  1. Manifestações Oculares

As manifestações oculares ocorrem em cerca de 10% dos pacientes com DIIs e podem indicar atividade inflamatória sistêmica.

1.1. Uveíte
• Inflamação da úvea (íris, corpo ciliar e coróide).
• Sintomas incluem dor ocular, fotofobia, vermelhidão e visão turva.
• Pode evoluir para perda visual irreversível se não tratada.
• Relacionada tanto à Doença de Crohn quanto à Retocolite Ulcerativa.

✅ Dica clínica: Uveíte geralmente está associada à atividade da DII.

  1. Manifestações Articulares

As doenças articulares são as manifestações extraintestinais mais comuns, afetando até 30% dos pacientes com DIIs.

2.1. Poliartrite Migratória
• Inflamação transitória de múltiplas articulações grandes (joelhos, tornozelos, cotovelos, punhos).
• Sem deformidade articular e segue o curso da doença intestinal.
• Mais comum na Retocolite Ulcerativa.

2.2. Sacroileíte
• Inflamação da articulação sacroilíaca, causando dor lombar baixa persistente, pior à noite.
• Pode ser assintomática ou causar limitação progressiva de movimentos.

2.3. Espondilite Anquilosante
• Inflamação crônica da coluna vertebral, levando à fusão progressiva das vértebras.
• Associada ao HLA-B27.
• Mais comum na Doença de Crohn.

✅ Dica clínica: Diferente da poliartrite migratória, sacroileíte e espondilite anquilosante não melhoram com o controle da DII.

  1. Manifestações Cutâneas

As manifestações dermatológicas ocorrem em 10-15% dos pacientes e podem ser indicativas da atividade inflamatória.

3.1. Eritema Nodoso
• Lesões nodulares dolorosas subcutâneas, avermelhadas, localizadas principalmente nas pernas.
• Ocorre mais na Doença de Crohn e geralmente segue a atividade da doença.

3.2. Pioderma Gangrenoso
• Úlceras necróticas dolorosas com bordas elevadas, localizadas nas pernas e no tronco.
• Pode ser grave e requer imunossupressão sistêmica.

✅ Dica clínica: Eritema nodoso melhora com o tratamento da DII, mas o pioderma gangrenoso pode progredir independentemente da atividade intestinal.

  1. Manifestações Hepatobiliares

Alterações hepáticas e biliares ocorrem em até 5% dos pacientes com DIIs.

4.1. Pericolangite
• Inflamação dos ductos biliares, podendo causar icterícia leve e elevação de enzimas hepáticas.

4.2. Colangite Esclerosante Primária (CEP)
• Doença crônica e progressiva dos ductos biliares, levando a colestase e cirrose biliar.
• Associada à Retocolite Ulcerativa em até 75% dos casos.
• Aumenta o risco de colangiocarcinoma.

✅ Dica clínica: Se um paciente com RCU apresenta elevação de FA e GGT, suspeitar de CEP!

  1. Outras Manifestações

5.1. Baqueteamento Digital
• Hipocratismo digital (dedos em “baqueta de tambor”), mais comum na Doença de Crohn.

5.2. Trombose e Fenômenos Tromboembólicos
• Pacientes com DIIs apresentam maior risco de trombose venosa profunda (TVP) e embolia pulmonar (TEP) devido à hipercoagulabilidade inflamatória.

✅ Doença de Crohn tem maior associação com espondiloartrites, eritema nodoso e baqueteamento digital.
✅ Retocolite Ulcerativa tem maior risco de colangite esclerosante primária e pioderma gangrenoso.

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Retocolite Ulcerativa – Macroscopia e Características Clínicas

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Retocolite Ulcerativa – Macroscopia e Características Clínicas

A Retocolite Ulcerativa (RCU) é uma doença inflamatória crônica restrita ao cólon e reto, caracterizada por inflamação superficial da mucosa e submucosa, com padrão contínuo de acometimento. Diferente da Doença de Crohn (DC), que pode afetar todo o trato gastrointestinal e tem inflamação transmural, a RCU apresenta ulcerações difusas sem envolvimento transmural.

  1. Localizações da Retocolite Ulcerativa

A inflamação da RCU é limitada ao cólon e segue um padrão contínuo e ascendente:
• Sempre envolve o reto e pode se estender proximalmente pelo cólon (proctite, colite esquerda, pancolite).
• Poupa o intestino delgado, diferentemente da Doença de Crohn, que pode afetá-lo.
• Envolvimento retrógrado do cólon: a inflamação pode avançar proximalmente, atingindo parte ou todo o cólon.
• Pancolite: inflamação que acomete todo o cólon, associada a um curso mais grave da doença.
• Ileíte de refluxo: em casos de pancolite extensa, pode ocorrer um leve infiltrado inflamatório no íleo terminal, mas sem ulcerações profundas como na DC.

✅ Dica diagnóstica: Se houver lesão transmural no íleo terminal, pensar em Doença de Crohn e não em RCU.

  1. Lesões Macroscópicas

A Retocolite Ulcerativa tem um padrão contínuo de inflamação, diferente das lesões “salteadas” (skip lesions) da Doença de Crohn.

2.1. Úlceras Amplas e Longitudinais
• As úlceras na RCU são superficiais, afetando apenas a mucosa e a submucosa.
• Distribuem-se de maneira contínua ao longo do cólon, sem áreas de mucosa saudável entre as lesões.

✅ Diferenciação da Doença de Crohn:
• Na RCU, as úlceras são superficiais e contínuas.
• Na DC, as úlceras são profundas, transmural e descontínuas (skip lesions).

2.2. Pseudopólipos
• Áreas de mucosa regenerada que surgem entre as ulcerações, formando estruturas elevadas.
• Resultam do processo de regeneração epitelial desorganizado após a destruição da mucosa.

✅ Dica diagnóstica: Pseudopólipos podem aparecer tanto na RCU quanto na DC, mas são mais comuns na RCU.

2.3. Pontes Mucosas
• Quando vários pseudopólipos se fundem, formam pontes de tecido mucoso.
• Essa alteração pode ser visualizada durante colonoscopia, lembrando um padrão irregular e nodular da mucosa.

2.4. Atrofia Mucosa
• A inflamação crônica leva a diminuição da espessura da mucosa, tornando-a mais lisa e sem haustrações normais.
• Isso dá ao cólon um aspecto característico de “cano de chumbo” em exames de imagem.

✅ Dica diagnóstica: O cólon “em cano de chumbo” ocorre somente na RCU avançada e não na Doença de Crohn.

2.5. Megacólon Tóxico
• Complicação grave da RCU, caracterizada por dilatação aguda do cólon (> 6 cm) associada a inflamação intensa e risco de perfuração.
• Pode evoluir para sepse e choque, sendo uma emergência médica.

✅ Fatores precipitantes: Infecção por Clostridium difficile, uso de opióides ou anticolinérgicos, distensão gasosa excessiva.

✅ Dica diagnóstica: Megacólon tóxico é mais frequente na Retocolite Ulcerativa e raramente ocorre na Doença de Crohn.

2.6. Achados Ausentes na RCU

Diferente da Doença de Crohn, a RCU não apresenta:
❌ Espessamento da parede intestinal → A inflamação é restrita à mucosa.
❌ Estenoses intestinais → A fibrose transmural que causa estenoses ocorre na DC.
❌ Fístulas e lesões serosas → A inflamação superficial da RCU não atinge a serosa.

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Microscopia da Retocolite Ulcerativa

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Microscopia da Retocolite Ulcerativa

A Retocolite Ulcerativa (RCU) apresenta um padrão histopatológico distinto, caracterizado por inflamação superficial limitada à mucosa e submucosa. Diferente da Doença de Crohn (DC), que acomete todas as camadas da parede intestinal (inflamação transmural), a RCU não causa fístulas, estenoses ou granulomas.

  1. Inflamação Característica

A inflamação na RCU é crônica e restrita à mucosa e submucosa, sem acometimento transmural.

1.1. Infiltrado Inflamatório Linfomononuclear Crônico na Lâmina Própria
• A lâmina própria (tecido conjuntivo abaixo do epitélio) apresenta infiltrado denso de linfócitos, plasmócitos e macrófagos.
• Pode haver eosinófilos, indicando atividade inflamatória.

✅ Diferenciação da Doença de Crohn:
• Na RCU, a inflamação é superficial e restrita à mucosa/submucosa.
• Na DC, a inflamação é transmural e pode levar à formação de abscessos e fístulas.

1.2. Criptite e Abscessos Crípticos
• Criptite: Infiltração de neutrófilos dentro das criptas intestinais, causando inflamação local.
• Abscessos crípticos: Formação de acúmulos de neutrófilos dentro das criptas, levando à destruição do epitélio glandular.
• A presença de abscessos crípticos é um achado diagnóstico clássico da RCU.

✅ Dica diagnóstica: Embora abscessos crípticos também possam ocorrer na Doença de Crohn, são mais comuns e proeminentes na RCU.

1.3. SEM Granulomas
• Diferente da Doença de Crohn, na RCU não há formação de granulomas.
• Granulomas não-caseosos são achados patognomônicos da DC, refletindo uma resposta imune desregulada contra antígenos bacterianos.

✅ Dica diagnóstica: Se houver granulomas na biópsia, pensar em Doença de Crohn ou descartar tuberculose intestinal.

1.4. Inflamação Restrita à Mucosa e à Submucosa
• O processo inflamatório na RCU é limitado à mucosa e submucosa, o que explica a ausência de fístulas, estenoses e perfuração.
• Em casos graves, a inflamação pode destruir completamente a mucosa, levando ao megacólon tóxico.

✅ Dica diagnóstica: Se houver inflamação transmural, pensar em Doença de Crohn.

  1. Lesões Secundárias

A inflamação crônica pode levar a alterações estruturais progressivas na mucosa.

2.1. Distorção da Arquitetura da Mucosa
• Perda da disposição normal das criptas, que se tornam irregulares e dilatadas.
• Pode haver redução no número de criptas, levando à atrofia da mucosa.

✅ Dica diagnóstica: A distorção da arquitetura mucosa é mais evidente em biópsias de pacientes com RCU de longa data.

2.2. Atrofia Mucosa
• Com o tempo, a inflamação crônica leva à destruição e atrofia da mucosa colônica.
• Isso pode resultar na perda completa da camada epitelial, deixando apenas tecido conjuntivo fibrótico.

✅ Achado comum em pacientes com RCU de longa duração (>10 anos).

2.3. Metaplasia Pseudopilórica
• O epitélio intestinal pode sofrer metaplasia para um fenótipo semelhante ao epitélio gástrico (chamado de metaplasia pseudopilórica).
• Esse achado reflete um processo regenerativo crônico.

✅ A metaplasia pseudopilórica pode ser encontrada tanto na RCU quanto na DC.

2.4. Metaplasia de Células de Paneth
• As células de Paneth são normalmente encontradas no intestino delgado, mas podem surgir no cólon inflamatório como uma resposta adaptativa.
• A metaplasia de células de Paneth é mais comum na Doença de Crohn, mas também pode ocorrer na RCU de longa duração.

✅ Achado mais comum na DC, mas pode ocorrer na RCU crônica avançada.

  1. Comparação Microscópica Entre Retocolite Ulcerativa e Doença de Crohn

✅ RCU apresenta inflamação superficial, abscessos crípticos e ausência de granulomas.
✅ DC tem inflamação transmural, granulomas e metaplasia de células de Paneth.

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Clínica da Retocolite Ulcerativa

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Clínica da Retocolite Ulcerativa

A Retocolite Ulcerativa (RCU) é uma doença inflamatória intestinal crônica, caracterizada por diarreia sanguinolenta recorrente, dor abdominal e manifestações extraintestinais. Seu curso é marcado por períodos de remissão e exacerbação, podendo levar a complicações graves, como megacólon tóxico e risco aumentado de câncer colorretal.

  1. Principais Manifestações Clínicas

1.1. Diarreia Sanguinolenta e Mucoide
• Sintoma mais comum da RCU.
• Fezes com sangue vivo, muco e pus, indicando inflamação da mucosa colônica.
• A frequência das evacuações pode variar de 4 a mais de 10 episódios por dia nos casos mais graves.
• Urgência fecal e tenesmo (sensação de evacuação incompleta), devido ao acometimento do reto.

✅ Dica diagnóstica:
• Diarreia sempre sanguinolenta na RCU.
• Na Doença de Crohn, a diarreia pode ser não sanguinolenta e associada a dor abdominal intensa.

1.2. Dor Abdominal Baixa
• Dor tipo cólica, geralmente em região de cólon sigmoide e reto (quadrante inferior esquerdo).
• Piora com as evacuações e pode aliviar após a defecação.
• Em casos mais graves, a inflamação intensa pode causar dor abdominal difusa.

✅ Dica diagnóstica:
• Na Doença de Crohn, a dor é mais intensa e localizada na fossa ilíaca direita (FID), devido ao acometimento do íleo terminal.
• Na RCU, a dor é mais comum no quadrante inferior esquerdo, pois o reto e o cólon descendente são frequentemente afetados.

1.3. Progressão para Emergências e Cirurgias

A RCU pode levar a complicações graves que requerem intervenção de emergência ou ressecção cirúrgica:

Megacólon Tóxico
• Dilatação aguda e grave do cólon (> 6 cm), com risco de perfuração e sepse.
• Causado por inflamação intensa, liberação de óxido nítrico e dismotilidade intestinal.
• Sintomas incluem dor abdominal intensa, febre, leucocitose e distensão abdominal severa.
• Urgência médica! Requer internação imediata e, em casos graves, colectomia de urgência.

Perfuração e Hemorragia Grave
• Pode ocorrer em exacerbações graves e refratárias, aumentando o risco de peritonite e choque séptico.
• Necessita cirurgia de emergência para ressecção do segmento afetado.

Risco de Câncer Colorretal
• Pacientes com RCU extensa (> 10 anos de duração) apresentam risco aumentado de adenocarcinoma colorretal.
• A pancolite (comprometimento de todo o cólon) está associada ao maior risco.
• Indicação de rastreamento com colonoscopia periódica.

✅ Dica diagnóstica:
• O risco de câncer colorretal na RCU é maior do que na Doença de Crohn.

  1. Manifestações Extraintestinais

A RCU apresenta manifestações extraintestinais semelhantes às da Doença de Crohn, mas com maior frequência de acometimento hepatobiliar.

2.1. Acometimento Hepatobiliar

Colangite Esclerosante Primária (CEP)
• Doença inflamatória crônica dos ductos biliares intra e extra-hepáticos, levando a colestase progressiva e cirrose biliar.
• Fortemente associada à RCU (presente em até 75% dos casos de CEP).
• Sintomas incluem icterícia, prurido, fadiga e elevação de fosfatase alcalina (FA).
• Aumenta o risco de colangiocarcinoma e câncer colorretal.

✅ Dica diagnóstica:
• Todo paciente com RCU deve ser rastreado para colangite esclerosante primária!
• Presença de colangite esclerosante primária é um achado clássico da RCU e não da Doença de Crohn.

2.2. Manifestações Articulares
• Artrite periférica: poliartrite migratória não erosiva, geralmente acometendo joelhos, tornozelos e punhos.
• Espondiloartrites: sacroileíte e espondilite anquilosante podem ocorrer.

✅ Dica diagnóstica:
• As artrites associadas à RCU geralmente melhoram com o controle da inflamação intestinal.

2.3. Manifestações Cutâneas
• Eritema nodoso: nódulos dolorosos avermelhados, mais comuns em surtos da doença.
• Pioderma gangrenoso: úlceras necróticas profundas, mais graves e necessitando imunossupressão.

2.4. Manifestações Oculares
• Uveíte: inflamação ocular que pode levar a dor, fotofobia e perda de visão.
• Epiesclerite: inflamação da esclera ocular, geralmente autolimitada.

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Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs) e o Risco de Adenocarcinoma Colorretal

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Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs) e o Risco de Adenocarcinoma Colorretal

Pacientes com Doença Inflamatória Intestinal (DII), especialmente Retocolite Ulcerativa (RCU), apresentam um risco aumentado de desenvolver adenocarcinoma colorretal. Esse risco está relacionado à inflamação crônica da mucosa intestinal, que pode levar à displasia e progressão para câncer.

  1. Mecanismo de Carcinogênese na DII

A sequência de progressão do câncer colorretal nas DIIs segue o seguinte padrão:

1.1. Inflamação Crônica → Displasia → Carcinoma
• A inflamação persistente leva a dano ao DNA das células epiteliais.
• O estresse oxidativo e a ativação do sistema imunológico contribuem para mutações progressivas.
• Com o tempo, essas alterações resultam na transformação maligna das células intestinais.

✅ Dica diagnóstica: Pacientes com DIIs de longa duração devem ser acompanhados com colonoscopias periódicas para detecção precoce da displasia.

  1. Comparação do Risco Entre Retocolite Ulcerativa e Doença de Crohn
    • Retocolite Ulcerativa (RCU) tem um risco maior de câncer colorretal do que a Doença de Crohn.
    • Isso ocorre porque a RCU afeta a mucosa de maneira contínua, facilitando a displasia difusa.

✅ Pacientes com pancolite (RCU acometendo todo o cólon) apresentam o maior risco.

  1. Fatores de Risco Para Câncer Colorretal na DII

Algumas condições aumentam ainda mais o risco de câncer colorretal em pacientes com DII:

3.1. Pancolite (RCU extensa)
• Quanto maior a extensão da inflamação, maior o risco de carcinoma.
• Pacientes com pancolite (inflamação de todo o cólon) têm um risco significativamente maior.

✅ Risco da Pancolite > Doença restrita ao cólon esquerdo.

3.2. Tempo de Doença: Risco Aumentado Após 8 a 10 Anos
• O risco de câncer começa a aumentar após 8 a 10 anos do diagnóstico da DII.
• Após 20 anos de doença ativa, o risco pode ser até 5 vezes maior do que na população geral.

✅ Colonoscopia de rastreamento deve ser iniciada 8 anos após o diagnóstico de RCU extensa.

3.3. Atividade Inflamatória Severa
• Pacientes com ativação inflamatória intensa (infiltrado neutrofílico aumentado) têm risco maior.
• Isso porque a atividade inflamatória crônica promove mutações celulares e acelera o processo de displasia.

✅ Pacientes com surtos frequentes de RCU têm maior risco de câncer.

3.4. Presença de Displasia

A displasia é uma lesão pré-maligna e pode ser classificada em:
1. Displasia de baixo grau → Lesão inicial, menor risco de progressão.
2. Displasia de alto grau → Risco elevado de transformação maligna.

✅ Displasia de Alto Grau é uma indicação cirúrgica para colectomia profilática.

  1. Rastreio e Diagnóstico Precoce

4.1. Colonoscopia Periódica
• Pacientes com RCU extensa devem iniciar colonoscopia a cada 1-2 anos, a partir do 8º ano de doença.
• Biópsias múltiplas são necessárias para detecção precoce de displasia.

✅ O rastreamento precoce reduz a mortalidade por câncer colorretal na DII!

  1. Comparação Entre Câncer Colorretal Esporádico e Associado à DII

✅ Câncer associado à DII tende a ocorrer mais cedo e de forma multifocal, exigindo rastreamento precoce.

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Angiodisplasia: Definição, Patogênese e Clínica

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Angiodisplasia: Definição, Patogênese e Clínica

A angiodisplasia é uma das principais causas de hemorragia digestiva baixa, especialmente em idosos. Trata-se de uma malformação vascular adquirida, caracterizada por veias, vênulas e capilares dilatados e tortuosos na submucosa e mucosa do trato gastrointestinal.

  1. Definição
    • Anormalidade vascular caracterizada por ectasia (dilatação) e tortuosidade de veias, vênulas e capilares.
    • Ocorre principalmente no cólon direito (ceco e cólon ascendente), mas pode afetar qualquer segmento do trato gastrointestinal.
    • Causa importante de sangramento digestivo oculto ou intermitente, podendo levar à anemia ferropriva.

✅ Diferenciação com outras causas de sangramento digestivo:
• Diverticulose: sangramento arterial volumoso, geralmente no cólon esquerdo.
• Neoplasias: sangramento oculto progressivo.
• Úlceras pépticas: hematêmese ou melena.

  1. Patogênese

A angiodisplasia é considerada uma alteração degenerativa da parede vascular, resultando na formação de vasos frágeis e propensos a sangramento. Os principais fatores envolvidos são:

2.1. Tensão Aumentada na Parede Vascular
• O cólon direito (ceco) possui maior diâmetro luminal, resultando em maior tensão nas paredes vasculares.
• Isso pode levar à dilatação progressiva dos capilares e vênulas da submucosa, formando lesões ectáticas propensas ao sangramento.

✅ Explica a maior incidência da angiodisplasia no ceco e cólon ascendente.

2.2. Fatores Congênitos
• Embora a angiodisplasia seja predominantemente adquirida, há relatos de associação com anormalidades congênitas, como o Divertículo de Meckel (remanescente do ducto onfalomesentérico).

✅ Importante diferencial em pacientes jovens com sangramento digestivo recorrente.

2.3. Alterações Degenerativas Relacionadas à Idade
• Ocorre principalmente em idosos (> 60 anos) devido a processos degenerativos da parede vascular e do músculo liso intestinal.
• A hipóxia intermitente nos vasos intestinais leva à neovascularização anômala, com formação de capilares frágeis e ectásicos.

✅ Explica a maior prevalência da doença após a sexta década de vida.

  1. Clínica

A apresentação clínica da angiodisplasia varia de acordo com a gravidade do sangramento:

3.1. Sangramento Gastrointestinal
• Pode ser agudo (hematoquezia maciça) ou crônico (anemia ferropriva devido a sangramentos ocultos).
• O sangramento geralmente é indolor e intermitente, diferentemente da diverticulose (sangramento volumoso e súbito).
• Em alguns casos, pode ocorrer melena, especialmente se a lesão estiver no trato gastrointestinal alto.

✅ Dica diagnóstica:
• Angiodisplasia colônica → Principal causa de hemorragia digestiva oculta em idosos.
• Sangramento recorrente sem causa aparente → Suspeitar de angiodisplasia.

3.2. Anemia Ferropriva
• Sangramentos crônicos ocultos podem levar a anemia ferropriva sintomática.
• Pacientes podem apresentar fadiga, palidez e dispneia aos esforços.

✅ Se houver anemia ferropriva sem causa evidente, investigar angiodisplasia com colonoscopia.

  1. Diagnóstico

A colonoscopia é o exame de escolha para o diagnóstico da angiodisplasia. Achados típicos incluem:
• Lesões vasculares ectáticas e tortuosas na mucosa/submucosa.
• Coloração avermelhada com padrão de telangiectasia.
• Ocasionalmente, presença de coágulos aderidos à lesão.

✅ Se a colonoscopia for inconclusiva, angiografia mesentérica pode ser utilizada para detectar sangramento ativo.

  1. Tratamento

O tratamento depende da severidade do sangramento:

5.1. Hemorragia Leve ou Oculta
• Monitorização clínica e reposição de ferro oral ou intravenoso.
• Evitar antiagregantes plaquetários e anticoagulantes, que podem piorar o sangramento.

5.2. Hemorragia Ativa Significativa
• Eletrocoagulação endoscópica (termocoagulação com plasma de argônio ou laser).
• Injeção de agentes esclerosantes ou clips hemostáticos, se necessário.
• Angiografia com embolização nos casos refratários.

5.3. Cirurgia (Colectomia)
• Indicação rara, reservada para casos refratários ao tratamento endoscópico.

✅ Colectomia segmentar pode ser necessária em pacientes com hemorragia recorrente severa.

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Diverticulose: Definição e Epidemiologia

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Diverticulose: Definição e Epidemiologia

A diverticulose colônica é uma condição caracterizada pela presença de divertículos no cólon, sendo mais prevalente em idosos e associada a fatores dietéticos e estruturais do intestino grosso.

  1. Definição
    • Divertículos são protrusões saculares da mucosa e submucosa através da camada muscular da parede intestinal.
    • No caso da diverticulose do cólon, esses divertículos são considerados “pseudodivertículos”, pois não contêm todas as camadas da parede intestinal (diferente dos divertículos verdadeiros).
    • São mais comuns no cólon sigmoide, devido ao menor diâmetro luminal e maior pressão intraluminal nessa região.

✅ Dica diagnóstica:
• Pseudodivertículos (comuns no cólon) envolvem apenas mucosa e submucosa.
• Divertículos verdadeiros (como o Divertículo de Meckel) contêm todas as camadas da parede intestinal.

  1. Epidemiologia

A diverticulose é uma condição altamente prevalente e está diretamente associada ao envelhecimento e a fatores dietéticos.

2.1. Frequência na População
• Ocorre em até 50% dos ocidentais com mais de 60 anos.
• Rara antes dos 40 anos, mas sua prevalência aumenta progressivamente com a idade.
• Após os 80 anos, mais de 70% dos indivíduos apresentam diverticulose.

✅ Importância clínica:
• A maioria dos casos de diverticulose é assintomática.
• Apenas 20-25% dos pacientes desenvolvem sintomas ou complicações, como diverticulite ou sangramento diverticular.

2.2. Diferenças Geográficas
• Mais comum em países ocidentais, como Estados Unidos e Europa, devido a dietas ricas em carne e pobres em fibras.
• Menos frequente no Japão e em regiões tropicais, onde a dieta tradicional é rica em fibras vegetais, promovendo menor pressão intraluminal e reduzindo a formação de divertículos.

✅ Dieta pobre em fibras é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de diverticulose.

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Patogênese da Diverticulose e Complicações

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Patogênese da Diverticulose e Complicações

A diverticulose colônica ocorre devido a uma interação entre alterações estruturais da parede intestinal e aumento da pressão intraluminal, levando à formação de pseudodivertículos. Em alguns casos, essa condição pode evoluir para diverticulite e complicações associadas, como perfuração, abscesso e peritonite.

  1. Mecanismo de Formação dos Divertículos

A diverticulose resulta de um desequilíbrio entre a resistência da parede intestinal e a pressão intraluminal aumentada, levando ao surgimento de herniações da mucosa e submucosa através da camada muscular.

1.1. Fraqueza da Parede Intestinal
• O cólon apresenta uma camada muscular longitudinal descontínua (tênias cólicas), tornando-se mais propenso a pontos de fragilidade.
• Com o tempo, o envelhecimento leva a degeneração do colágeno, enfraquecendo ainda mais a parede do cólon.

✅ O cólon sigmoide é mais afetado, pois tem menor diâmetro e maior pressão intraluminal.

1.2. Aumento da Pressão Intraluminal
• Peristalse aumentada e descoordenada gera picos de pressão no interior do cólon.
• A dieta pobre em fibras leva a fezes mais duras e redução do volume fecal, aumentando a necessidade de contrações intestinais mais fortes.
• Essa combinação leva ao aumento da pressão intraluminal, forçando a mucosa a protruir através dos pontos de fraqueza na parede do cólon.

✅ Esse mecanismo explica porque a diverticulose é mais comum em dietas ocidentais pobres em fibras.

  1. Evolução para Diverticulite e Complicações

A diverticulose pode permanecer assintomática ou progredir para diverticulite, que é a inflamação e infecção de um ou mais divertículos.

2.1. Inflamação e Fragilidade da Parede
• A diverticulite ocorre quando um divertículo se torna inflamado devido à obstrução por fezes ou restos alimentares, levando à proliferação bacteriana e resposta inflamatória.
• Esse processo aumenta a fragilidade da parede intestinal, tornando-a mais suscetível a complicações graves, como perfuração e abscessos.

✅ Dica diagnóstica:
• Diverticulite causa dor no quadrante inferior esquerdo (cólon sigmoide), febre e leucocitose.

2.2. Perfuração e Suas Consequências

Quando há um aumento excessivo da pressão intraluminal ou necrose da parede diverticular, pode ocorrer perfuração, resultando em:
1. Abscesso pericólico – coleção purulenta localizada ao redor do divertículo inflamado.
2. Peritonite – quando há extravasamento do conteúdo intestinal para a cavidade peritoneal.
3. Fístulas (tratos sinusosos) – comunicação anormal entre o cólon e outras estruturas, como bexiga e vagina.

✅ A peritonite difusa é uma emergência médica e requer cirurgia imediata!

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Morfologia da Diverticulose e Diverticulite

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Morfologia da Diverticulose e Diverticulite

A morfologia dos divertículos do cólon é fundamental para entender sua patogênese, possíveis complicações e impacto clínico. Essa análise envolve características macroscópicas (observadas a olho nu) e microscópicas (exame histopatológico).

  1. Macroscopia da Diverticulose

A diverticulose é caracterizada pela presença de múltiplas invaginações saculares na parede intestinal.

Características Macroscópicas
• Lesões saculares de 0,5 a 1,0 cm de diâmetro.
• Geralmente múltiplos e distribuídos ao longo do cólon.
• Localização mais frequente: cólon sigmoide (devido ao maior aumento da pressão intraluminal).
• Quando complicados, podem apresentar perfuração e inflamação (diverticulite).

✅ O cólon sigmoide é o mais afetado, mas divertículos podem ocorrer em qualquer segmento colônico.

  1. Microscopia da Diverticulose

A análise microscópica confirma que os divertículos do cólon são pseudodivertículos, pois não contêm todas as camadas da parede intestinal.

Características Microscópicas
• Invaginação da mucosa e submucosa através da camada muscular própria.
• Camada muscular própria atenuada (fragilidade da parede) na região do divertículo.
• Hipertrofia compensatória da camada muscular adjacente, devido ao aumento da pressão intraluminal.

✅ Os divertículos do cólon não possuem todas as camadas da parede intestinal, diferindo dos divertículos verdadeiros.

  1. Microscopia da Diverticulite

Quando há inflamação, o exame microscópico revela:
• Infiltrado inflamatório predominante de neutrófilos (fase aguda).
• Se há perfuração, pode haver necrose e extravasamento fecal.
• A inflamação crônica pode levar a fibrose e espessamento da parede, aumentando o risco de complicações, como estenoses e fístulas.

✅ A diverticulite ocorre quando há inflamação e infecção dos divertículos, podendo evoluir para perfuração e peritonite.

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Clínica da Diverticulose e Diverticulite

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Clínica da Diverticulose e Diverticulite

A diverticulose colônica é uma condição comum, mas a maioria dos indivíduos permanece assintomática. No entanto, quando há sintomas ou complicações, podem ocorrer dor abdominal, distúrbios do trânsito intestinal e até sangramentos e perfuração.

  1. Diverticulose Assintomática
    • Cerca de 70-80% dos pacientes com diverticulose nunca apresentam sintomas.
    • Descoberta frequentemente em exames de imagem de rotina (colonoscopia ou tomografia computadorizada).

✅ A diverticulose isolada não causa inflamação! Os sintomas surgem quando há inflamação (diverticulite) ou sangramento.

  1. Sintomas da Doença Diverticular Não Complicada

Quando a diverticulose se torna sintomática sem complicações, os sintomas mais comuns são:
• Dor abdominal baixa (principalmente no quadrante inferior esquerdo, região sigmoide).
• Distensão abdominal e desconforto pós-prandial.
• Alteração do hábito intestinal: constipação crônica ou alternância entre constipação e diarreia.

✅ Pode ser confundida com a síndrome do intestino irritável (SII), pois também apresenta distensão e irregularidade intestinal.

  1. Sangramento Diverticular
    • O sangramento diverticular ocorre devido à ruptura de vasos sanguíneos próximos ao divertículo.
    • Caracteriza-se por hematoquezia (sangue vivo nas fezes), podendo ser autolimitado ou maciço.
    • Mais comum no cólon direito, pois os divertículos dessa região tendem a ter vasos mais calibrosos.

✅ Diferente da diverticulite, o sangramento diverticular geralmente ocorre sem dor associada.

  1. Diverticulite e Suas Complicações

Quando um divertículo inflama, ocorre diverticulite, que pode evoluir para complicações mais graves.

4.1. Sintomas da Diverticulite Aguda
• Dor intensa no quadrante inferior esquerdo.
• Febre e leucocitose (indica processo inflamatório).
• Náuseas e vômitos (quando há obstrução parcial).
• Diarreia ou constipação devido à inflamação local.

✅ Diverticulite não causa hematoquezia, pois a inflamação raramente rompe grandes vasos!

4.2. Complicações da Diverticulite
• Perfuração → Peritonite (quando o divertículo rompe e há extravasamento de fezes para a cavidade peritoneal).
• Abscesso pericólico (quando há infecção localizada ao redor do divertículo inflamado).
• Fístulas (conexão anormal entre o cólon e outros órgãos, como bexiga e vagina).
• Estenose colônica (inflamação crônica pode levar a fibrose e estreitamento da luz intestinal).

✅ A perfuração é uma emergência cirúrgica grave que pode levar à sepse!

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Doença Celíaca: Definição e Epidemiologia

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Doença Celíaca: Definição e Epidemiologia

A doença celíaca é uma enteropatia autoimune desencadeada pela ingestão de glúten (proteína presente no trigo, centeio, cevada e aveia contaminada). Ela ocorre em indivíduos geneticamente predispostos, levando a uma inflamação crônica da mucosa do intestino delgado, com consequente atrofia vilositária e má absorção de nutrientes.

  1. Definição
    • Doença celíaca é uma enteropatia sensível ao glúten, ou seja, uma condição na qual a ingestão de glúten provoca uma resposta imunológica anômala no intestino delgado.
    • O sistema imunológico ataca a mucosa intestinal, levando a atrofia das vilosidades e inflamação crônica, resultando em déficit de absorção de nutrientes.
    • É uma doença autoimune, associada a HLA-DQ2 e HLA-DQ8, presentes em mais de 90% dos pacientes.

✅ O principal fator de risco é a predisposição genética!

  1. Epidemiologia

A doença celíaca apresenta variação conforme fatores genéticos e dietéticos.
• Prevalência: 0,5% a 1% da população geral, mais comum em descendentes europeus.
• Mais frequente em mulheres.
• Pode surgir na infância ou na idade adulta, muitas vezes com sintomas inespecíficos.

✅ Importante diferenciar doença celíaca de alergia ao trigo e sensibilidade ao glúten não celíaca, que não possuem mecanismo autoimune!

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Fisiopatologia da Doença Celíaca

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Fisiopatologia da Doença Celíaca

A doença celíaca é mediada pelo sistema imunológico e ocorre em indivíduos predispostos que consomem glúten. O processo envolve tanto a imunidade inata quanto a imunidade adaptativa, resultando em dano epitelial e inflamação crônica da mucosa do intestino delgado.

  1. Etapas da Patogênese

A sequência de eventos imunológicos que leva à destruição da mucosa intestinal pode ser dividida em duas fases principais:

Fase 1: Ativação da Resposta Imune Inata
1. Ingestão de glúten → a gliadina (fração do glúten) atravessa a barreira epitelial do intestino delgado.
2. Gliadina entra no enterócito, estimulando a liberação de IL-15 pelas células epiteliais.
3. IL-15 ativa linfócitos T CD8 intraepiteliais, aumentando sua citotoxicidade.
4. Os linfócitos T CD8 expressam NKG2D, um receptor que reconhece MIC-A nos enterócitos danificados.
5. Os linfócitos CD8 matam os enterócitos por apoptose → Dano epitelial inicial.

✅ Essa fase ocorre sem participação direta de linfócitos T CD4 e sem ativação clássica do sistema imune adaptativo.

Fase 2: Ativação da Resposta Imune Adaptativa
1. O dano epitelial facilita a entrada de gliadina na lâmina própria.
2. A enzima transglutaminase tecidual (TG2) realiza a deaminação da gliadina, tornando-a mais imunogênica.
3. Células apresentadoras de antígenos (APCs) fagocitam a gliadina modificada e a apresentam a linfócitos T CD4 via HLA-DQ2 ou HLA-DQ8.
4. Ativação de linfócitos T CD4 → secreção de citocinas inflamatórias (IFN-γ e TNF).
5. Inflamação crônica → destruição da mucosa e atrofia vilositária.

✅ Essa fase envolve a ativação de linfócitos T CD4 e a perpetuação da inflamação, levando à má absorção intestinal.

  1. Consequências do Dano Epitelial
    • Atrofia das vilosidades → Redução da área de absorção intestinal.
    • Hiperplasia das criptas → Compensação da destruição epitelial.
    • Infiltrado inflamatório → Principalmente linfócitos T e plasmócitos na lâmina própria.
  2. Conclusão

A doença celíaca ocorre em duas etapas:
1. Resposta inata → ativação de linfócitos T CD8, levando a dano inicial dos enterócitos.
2. Resposta adaptativa → ativação de linfócitos T CD4 via HLA-DQ2/DQ8, perpetuando a inflamação e causando atrofia vilositária.

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Microscopia na Doença Celíaca

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Microscopia na Doença Celíaca

A biópsia intestinal é fundamental para o diagnóstico da doença celíaca e revela alterações histológicas características. As principais alterações incluem:

  1. Aumento dos linfócitos T intraepiteliais
    • Há expansão de linfócitos T CD8 na mucosa intestinal.
    • Esses linfócitos promovem dano epitelial, levando à destruição dos enterócitos.
  2. Hiperplasia das criptas
    • A proliferação das criptas ocorre como um mecanismo compensatório devido à perda de enterócitos.
    • Isso reflete um aumento na renovação celular, mas as células novas são imaturas e pouco funcionais.
  3. Atrofia de vilosidades
    • Ocorre encurtamento ou desaparecimento das vilosidades intestinais, reduzindo significativamente a superfície de absorção de nutrientes.
    • Essa é a principal responsável pela má absorção de nutrientes.
  4. Infiltrado inflamatório crônico na lâmina própria
    • Presença de linfócitos, plasmócitos, eosinófilos e mastócitos.
    • Esse infiltrado sustenta a resposta inflamatória crônica no intestino delgado.

✅ Resumo: A histopatologia da doença celíaca revela infiltração linfocitária, hiperplasia das criptas e atrofia vilositária, levando a alterações estruturais e disfunção absortiva.

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Quadro Clínico da Doença Celíaca

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Quadro Clínico da Doença Celíaca

A doença celíaca apresenta manifestações diversas, variando conforme a idade do paciente e a presença de sintomas gastrointestinais e extraintestinais.

📌 Em adultos:
• Faixa etária: 30 a 60 anos.
• Formas assintomáticas:
• Doença celíaca silenciosa: alterações histopatológicas e sorológicas, mas sem sintomas clínicos evidentes.
• Doença celíaca latente: apenas positividade na sorologia, sem lesões na biópsia intestinal.
• Formas sintomáticas:
• Diarreia crônica.
• Fadiga e anemia ferropriva (por má absorção de ferro).
• Predomínio em mulheres.

📌 Em crianças:
• Quadro clássico (6 meses - 2 anos):
• Início após a introdução do glúten na dieta.
• Diarreia crônica.
• Perda de peso e déficit de crescimento.
• Quadro não clássico (crianças mais velhas):
• Dor abdominal, náuseas e constipação.
• Distribuição entre os sexos é indistinta.

📌 Manifestações Extraintestinais

A doença celíaca pode afetar outros sistemas além do trato digestivo:
• Artrite.
• Convulsões.
• Estomatite aftosa.
• Anemia ferropriva (devido à má absorção).
• Atraso puberal e baixa estatura.

📌 Complicações da Doença Celíaca

Se não tratada, a doença celíaca pode levar a complicações graves, como:
• Linfoma não-Hodgkiniano de células T associado à enteropatia.
• Adenocarcinoma do intestino delgado.
• Espru refratário (quando não há resposta à dieta isenta de glúten).

✅ Resumo: A doença celíaca pode se manifestar tanto na forma clássica (diarreia e perda de peso) quanto em apresentações atípicas e extraintestinais. O diagnóstico precoce e a dieta sem glúten são essenciais para prevenir complicações graves.

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Colite Microscópica: Colite Colagênica e Colite Linfocítica

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Colite Microscópica: Colite Colagênica e Colite Linfocítica

A colite microscópica é uma causa frequente de diarreia crônica aquosa, geralmente sem alterações visíveis na colonoscopia, mas com achados histopatológicos distintos. Ela se divide em duas principais entidades:

📌 Colite Colagênica
• Caracteriza-se por uma faixa espessa de colágeno subepitelial.
• Infiltrado inflamatório crônico linfomononuclear na lâmina própria.
• Aumento de linfócitos intraepiteliais.
• Predomínio em mulheres adultas e idosas.

📌 Colite Linfocítica
• Infiltrado inflamatório linfomononuclear crônico na lâmina própria.
• Aumento de linfócitos intraepiteliais, mas sem espessamento da faixa colagênica.
• Associação com doenças autoimunes, como:
• Doença celíaca.
• Tireoidite autoimune.
• Artrite reumatoide.
• Gastrite linfocítica.

📌 Quadro Clínico
• Diarreia crônica aquosa, sem sangue.
• Perda de peso (nos casos mais graves).
• Pode ser confundida com síndrome do intestino irritável, mas não melhora com a suspensão do glúten (exceto nos casos associados à doença celíaca).

✅ Resumo: A colite microscópica é uma doença inflamatória crônica do cólon, diagnosticada apenas por biópsia, e pode ser colagênica (com depósito de colágeno) ou linfocítica (associada a doenças autoimunes).