Abordagem ao RN Infectado Flashcards

1
Q

Introdução a Abordagem do RN Infectado:

A

Existem, basicamente, três mecanismos que
podem levar a um quadro de infecção no período
neonatal:
1) Via transplacentária: nestes casos, a mulher
é infectada durante a gestação, ou tem a
reativação de alguma infecção nesse período,
e transmite o agente para o concepto por via
hematogênica transplacentária. Essas infecções
podem ocorrer ainda na fase de embriogênese
e são capazes de dar origem a graves
malformações presentes ao nascimento.
Não bastasse isso, o RN infectado pode ser
assintomático ao nascer e pode vir a apresentar
alterações clínicas aparentes apenas
após vários meses ou anos. São exemplos a
toxoplasmose congênita, a síndrome da rubéola
congênita, a sífilis congênita e a citomegalia
congênita.
2) Via ascendente ou durante a passagem
pelo canal de parto: nesta situação, os micro-
organismos que colonizam o canal de
parto podem ascender à cavidade uterina ou
podem infectar o RN durante o nascimento. A
infecção também pode ocorrer pelo contato
com secreções maternas que contenham o
agente infeccioso. É exemplo a infecção pelo
estreptococo do grupo B.
3) Infecção adquirida na comunidade ou
no hospital: o RN, após o nascimento, pode
ser infectado durante a permanência hospitalar
ou após a alta, na comunidade.
A transmissão vertical do vírus HIV e de outros
vírus, um tema bastante extenso e importante,
será vista em outra apostila. Este
quadro não faz diagnóstico diferencial com
nenhuma das condições que estudaremos
nas próximas páginas.

Chamamos de infecções congênitas as infecções
que são transmitidas ao feto in utero.
Esses quadros são o resultado de uma
série de infecções que acometem a gestante
e são transmitidas ao feto por via hematogênica
transplacentária. Parte dessas gestantes
não apresenta qualquer manifestação
clínica do processo infeccioso e o diagnóstico
é muitas vezes estabelecido apenas por
exames realizados durante o acompanhamento
pré-natal. A transmissão pode ocorrer
em qualquer fase da gestação e a infecção
fetal pode levar a abortamento, prematuridade
ou restrição ao crescimento intrauterino.
Algumas crianças podem nascer com malformações
graves, enquanto outras podem
ser completamente assintomáticas, o que
não quer dizer que não irão apresentar alterações
ao longo da vida.
O momento da gestação em que a infecção é
contraída pela gestante tem impacto no risco
de transmissão e na gravidade das manifestações
apresentadas pelo RN. As infecções
que ocorrem no primeiro trimestre podem alterar
a embriogênese e, desta maneira, acarretam
em malformações presentes ao nascimento.
Já as infecções que ocorrem mais
próximo ao termo podem levar à presença de
doença aguda ao nascimento ou só se manifestarem
mais tardiamente.
O momento da gestação em que a gestante
contrai a infecção está relacionado a um
maior ou menor risco de transmissão. Tomando
como exemplo a toxoplasmose congênita,
temos que a infecção aguda nas primeiras
semanas tem um risco de transmissão em torno de 17%, enquanto que na infecção
ocorrida no último trimestre o risco é de 65%.
Em algumas doenças, a transmissão só será
possível se a infecção aguda ocorrer durante
a gestação. Em outras, a infecção materna
pode ter ocorrido antes da concepção e ainda
assim haverá o risco de transmissão para
o feto. Veremos essas situações com mais
detalhes na abordagem de cada doença.
Vários aspectos clínicos serão comuns a
mais de uma infecção: hepatoesplenomegalia,
microcefalia, coriorretinite, plaquetopenia,
icterícia, exantemas… Essa constelação
de achados inespecíficos em geral não nos
permite estabelecer o diagnóstico etiológico
preciso, mas nos permite suspeitar que estejamos
diante de uma infecção congênita. O
nosso desafio em geral é buscar por algumas
alterações bem características de um determinado
diagnóstico: procure por esses dados
nos enunciados, pois são eles que nos conduzirão
à etiologia mais provável.

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Q

Sífilis Congênita - Manifestações Clínicas:

A

Esta é, de longe, a principal infecção congênita
que surge nas provas. Não é para menos!
Em um estudo de abrangência nacional,
realizado em 2010, a prevalência de soropositividade
para sífilis foi de 0,89%, correspondendo
a cerca de 26.700 gestantes/ano.
A sífilis congênita é uma infecção causada
pela disseminação hematogênica (transplacentária)
do Treponema pallidum do hospedeiro
materno para o seu concepto. A transmissão
pode ocorrer em qualquer estágio da
gestação ou fase da doença materna, porém,
a fase da doença materna está diretamente
relacionada ao risco de transmissão. A taxa
de transmissão vertical da sífilis em mulheres
não tratadas é de 70 a 100% durante as
fases primária e secundária e de 30% nas
fases tardias (latente tardia e terciária). Em
até 40% dos casos de mães não tratadas
irá ocorrer aborto espontâneo, natimorto ou
morte perinatal.
Das crianças infectadas, 50% se apresentarão
assintomáticas ao nascimento, e os primeiros
sintomas somente aparecerão em torno do 3º
mês de vida.
O diagnóstico da sífilis congênita nem sempre
é uma tarefa fácil. Muitas crianças são assintomáticas
ou apresentam apenas manifestações
inespecíficas. Além disso, nem sempre
a avaliação complementar é capaz de determinar
o diagnóstico do RN com precisão.
Deste modo, o diagnóstico é estabelecido com base na associação de critérios epidemiológicos,
clínicos e laboratoriais.
A transmissão vertical também pode ocorrer
de outras maneiras, além da via hematogênica
transplacentária. Existe a possibilidade de
transmissão direta do T. pallidum por meio do
contato da criança com lesões genitais maternas
no canal de parto, com clínica distinta.
Além disso, a transmissão vertical é possível
durante o aleitamento se houver lesão mamária
por sífilis.
A sífilis congênita é uma doença diferente da
sífilis adquirida no período pós-natal. Como é
resultado de uma disseminação hematogênica,
não apresenta a fase primária, assemelhando-
se à sífilis secundária.

Manifestações Clínicas:

A sífilis congênita pode ser classificada em
dois estágios: precoce, identificada até dois
anos de vida, e tardia, após essa idade.

Sífilis Congênita Precoce:

O RN com sífilis congênita precoce pode ser
prematuro ou pequeno para a idade gestacional.
A maioria das manifestações clínicas
na sífilis precoce é identificada nos primeiros
três meses de vida. Essas manifestações são
resultado da infecção ativa com inflamação.

Lesões Cutâneas e Mucosas.
As crianças com sífilis congênita precoce podem
apresentar alterações cutâneas ou de
mucosas inespecíficas, como a presença de
exantema petequial ou de icterícia, porém, não
será a descrição desses dados inespecíficos
que nos conduzirá à suspeita diagnóstica. Veja
com cuidado as alterações mais típicas, que
certamente estarão descritas nos enunciados.

 Pênfigo palmoplantar: até 70% das crianças
infectadas poderão apresentar um exantema,
que pode estar presente ao nascimento
ou se desenvolver nas primeiras semanas
de vida. A erupção típica consiste em lesões
maculopapulares, eritematosas ou com aspecto
acobreado. Quando presente desde
o nascimento, o exantema costuma ser
vesicobolhoso e recebe o nome de pênfigo
sifilítico; tipicamente acomete a região palmoplantar,
daí o termo pênfigo palmoplantar.
Essas lesões são ricas em treponemas.
A ruptura dessas bolhas dá origem a área
de pele desnuda e macerada, que se torna
crostosa. A presença dessa lesão é bastante
sugestiva do diagnóstico de sífilis, pois essa
alteração não é encontrada em outras infecções
congênitas. Seu principal diagnóstico
diferencial é com o impetigo estafilocócico.
Este último poupa palmas e plantas e evolui
em surtos repetidos enquanto a sífilis congênita
tem um único surto.

 O condiloma plano pode ocorrer em torno
de orifícios: ânus, vulva e boca, sendo pouco
frequente. Placas mucosas podem aparecer
em lábios, língua, palato e genitália.
 Rinite – coriza sifilítica (FIGURA 20) – é
uma das manifestações mais precoces.
Apresenta-se com secreção serossanguinolenta,
como consequência da erosão da
mucosa, e traz desconforto para a mamada
e a respiração. Se houver lesão da cartilagem
nasal, poderá aparecer posteriormente
o nariz em sela, estigma da sífilis. A lesão
inflamatória do trato respiratório poderá produzir
também laringite e choro rouco no RN.

 Alterações ectodérmicas: processo esfoliativo
das unhas, perda de cabelo e sobrancelhas.

As lesões mucocutâneas são ricas
em treponema e são contagiantes
pelo contato direto.

Lesões Ósseas

As alterações ósseas são muito comuns na
sífilis congênita precoce e são encontradas
na maioria das crianças sintomáticas. Essas
lesões incluem principalmente os quadros de
osteocondrite e os de periostite.

 A osteocondrite consiste em lesões metafisárias
que podem ser observadas na radiografia
como áreas lucentes ou de destruição
mais intensa, acometendo tipicamente
metáfises do úmero, fêmur e tíbia. É uma
manifestação mais precoce que a periostite.
Essas lesões são dolorosas e a criança
acometida pode evitar mobilizar o membro
afetado. A mãe trará como queixa o relato
de que o bebê “chora quando é manipulado!”
ou então que “fica com o braço muito
paradinho!”. Você verá como isso é comum
nas provas. Essa diminuição da mobilização
recebe o nome de pseudoparalisia de
Parrot e deve ser diferenciada dos quadros
de paralisia por lesão do plexo braquial. O
sinal de Wimberger, visto na radiografia,
caracteriza-se por uma rarefação localizada
na margem superior interna da tíbia bilateralmente
e é a tradução radiográfica da desmineralização
e destruição óssea na região.
 A periostite é identificada pelo achado radiográfico
de várias camadas de periósteo
em formação, como consequência da inflamação
diafisária. Acomete os ossos longos e
também pode acometer os ossos do crânio.

Lesões Viscerais

 Os natimortos e os RN sintomáticos tipicamente
apresentam hepatomegalia e esplenomegalia.
As alterações histopatológicas do
comprometimento hepático incluem fibrose hepática
com estase biliar. A icterícia encontrada
nas crianças com sífilis congênita é decorrente
tanto de uma hepatite sifilítica quanto de um
quadro de hemólise induzido pela infecção.
 A lesão renal poderá apresentar-se como
síndrome nefrótica ou síndrome nefrítica,
associada a depósito de complexos imunes
na membrana basal do glomérulo.
 A pneumonia alba é uma forma de pneumonia
fibrosante que surge em alguns casos.
O aspecto radiográfico clássico é de opacificação
pulmonar completa, mas pode haver
também a presença de infiltrado difuso.
Alterações Hematológicas
 A anemia hemolítica com Coombs negativo
é um achado característico. Além da
anemia, pode haver leucopenia, leucocitose
com monocitose e plaquetopenia, consequente
à esplenomegalia.

 Eventualmente, notamos ao exame físico
destas crianças linfadenopatia, principalmente
epitroclear.

Alterações no Sistema Nervoso Central

As alterações liquórica são encontradas em
até 50% das crianças sintomáticas e em cercade 10% daquelas que não apresentam
qualquer manifestação clínica. Daqui a pouco
veremos que a avaliação do Líquido Cefalorraquidiano
(LCR) será um ponto fundamental
no manejo desses pacientes.
O diagnóstico de neurossífilis é estabelecido
pela avaliação do VDRL no LCR, da celularidade
liquórica e da proteinorraquia.
No final do primeiro ano de vida poderá ser
diagnosticada uma hidrocefalia obstrutiva,
após cronificação do quadro meningovascular,
com paralisia de pares cranianos (III, IV,
VI e VII), hemiplegia e convulsões.

Lesões Oculares
Predomina a coriorretinite na fase aguda,
com o fundo de olho apresentando um aspecto
descrito por alguns como padrão em
“sal e pimenta”. Outras lesões apresentadas
são glaucoma, catarata, uveíte e cancro nas
pálpebras.
Outras Lesões
Miocardite, síndrome disabsortiva, desnutrição
e falta de ganho ponderal no RN são outras
manifestações clínicas da doença.

Sífilis congênita precoce = pênfigo, rinite,
lesões ósseas (com pseudoparalisia de
Parrot), condiloma plano.

Sífilis Congênita Tardia

Acima dos dois anos de idade, os estigmas
da doença são os principais fatores que auxiliam
no diagnóstico. Nessa fase, as anomalias
encontradas não são mais contagiosas e
resultam, principalmente, da cicatrização que
sucede as lesões inflamatórias encontradas
na sífilis precoce, podendo também ser secundárias
a um processo inflamatório persistente.

 Sequelas da periostite na fase aguda: bossa
frontal e fronte olímpica, espessamento
da junção esternoclavicular (Sinal de Higoumenáki),
arqueamento da porção média
da tíbia (Tíbia em Sabre).
 Anormalidades dentárias: dentes de Hutchinson
(incisivos centrais superiores deformados)
e molares em formato de amora.
 Face: maxilar curto; nariz em sela, com ou
sem perfuração do septo nasal; rágades
(por fissuras peribucais).
 Articulação de Clutton (derrame articular
estéril nos joelhos).
 Ceratite intersticial, coroidite, retinite, atrofia
óptica com possível evolução para cegueira.
 Lesão de 8º par craniano, levando a surdez
e vertigem.
 Hidrocefalia.
 Retardo mental.
A tríade de Hutchinson, descrita no século
19, é composta por ceratite intersticial, alterações
dentárias e surdez.

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Lesões Vesicobolhosas na Sífilis Congênita:

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Rinite Sifilítica na Sífilis Congênita Precoce:

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Alterações Clínicas na Sífilis Congênita Tardia

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Q

Sífilis Congênita - Avaliação Complementar:

A

A avaliação complementar da criança nascida
de uma gestante com diagnóstico de sífilis
durante a gestação ou na admissão ao parto
inclui a realização de reações sorológicas
para sífilis e de outros exames, que buscam
identificar o adoecimento da criança.
Pesquisa Direta do Treponema
A pesquisa direta do treponema não é rotineiramente
utilizada. Os espécimes para identificação
do agente podem ser obtidos em
material coletado de lesão cutaneomucosa,
de biópsia ou necropsia, assim como de placenta
e cordão umbilical. Pode ser usada a
técnica de microscopia em campo escuro ou
a imunofluorescência direta.
Reações Sorológicas para a Sífilis
Estes testes têm como base a demonstração
de anticorpos contra o treponema ou de anticorpos
que surgem na infecção treponêmica.
É importante que você se lembre de que
a interpretação desses testes no RN sempre
deve ser feita com cautela, em função
da transferência de anticorpos IgG maternos
pela placenta.
Esses testes podem ser divididos em dois
grandes grupos: testes não treponêmicos e
testes treponêmicos.
Testes não Treponêmicos
Os testes não treponêmicos (ou reagínicos)
detectam anticorpos formados contra antígenos
lipídicos liberados pela interação do
treponema com os tecidos do hospedeiro.
Não são testes específicos, mas são bastante
usados para triagem e monitorização terapêutica.
Os dois testes mais usados são o
VDRL e RPR (Reagina Rápida Plasmática).
 Vdrl - Venereal Disease Research
Laboratory
O VDRL é o teste mais usado no Brasil. O
resultado traz uma descrição qualitativa
(“reagente” ou “não reagente”) e quantitativa
(titulações; 1:2, 1:32 etc.). Este teste tem
reatividade observada para as duas imunoglobulinas,
IgG e IgM. Desta forma, um teste
não treponêmico reagente no RN não indica
necessariamente infecção congênita,
pois a IgG detectada pode ser de origem
materna. Sempre que o título de anticorpo
encontrado no RN for igual ou menor que o
da mãe, devemos considerar essa possibilidade.
Os RN com títulos duas vezes maiores
que os maternos provavelmente têm a
infecção congênita. Porém, devemos ter em
mente que a negatividade sorológica do RN
não exclui a infecção, especialmente quando
a mãe adquiriu a infecção em um período
próximo ao parto. Deste modo, havendo
a suspeita, o exame deverá ser repetido na
criança durante o acompanhamento ambulatorial
nos primeiros meses de vida.
Devemos lembrar de que esse teste pode
apresentar resultados falso-positivos na vigência
de algumas outras doenças, como
o lúpus. Os resultados falso-negativos podem
ser causados por excesso de anticorpos,
pelo conhecido fenômeno prozona.
Um cuidado importante é que o exame do
RN deve ser realizado em amostra de sangue
periférico. O sangue do cordão não
deve ser usado para fins de diagnóstico.
Outros testes não treponêmicos são o RPR
(Rapid Test Reagin) e TRUST (Toluidine
Red Unheated Serum Test).
Testes Treponêmicos
Detectam anticorpos específicos contra o Treponema
pallidum.
 TPHA (Treponema Pallidum Hemaglutination)
e FTA-Abs (Fluorescent Treponemal
Antibody – Absorption)
São testes mais específicos, úteis na exclusão
de resultados de VDRL falso-positivos.
Detectam tanto anticorpos IgG quanto IgM,
podendo, em caso de positividade, indicar
apenas transferência de anticorpos IgG maternos.
Uma melhor interpretação pode ser
obtida com a realização dos testes treponêmicos
para IgM no RN, mas estes têm baixa sensibilidade e um resultado negativo não
pode ser usado para afastar a infecção. Em
geral, os testes treponêmicos permanecem
reagentes por toda a vida, mesmo após a
cura da infecção.
Outros testes treponêmicos incluem o teste
de quimioluminescência, o ensaio imunoenzimático
indireto (ELISA) e os testes rápidos
(imunocromatográficos). Os testes rápidos
possuem a grande vantagem de serem
de fácil execução e fornecerem um resultado
em até 30 minutos.
Em crianças maiores de 18 meses, um teste
treponêmico reagente é capaz de confirmar a
infecção, pois os anticorpos maternos já terão
desaparecido da circulação da criança.

Outros Exames:

Avaliação Liquórica
Devemos realizar a punção lombar para investigação
de comprometimento neurológico
em todos os casos de sífilis congênita.
Os parâmetros avaliados são o VDRL, a celularidade
e a proteinorraquia. A presença de
VDRL positivo no LCR indica o diagnóstico
de neurossífilis. Porém, mesmo que o VDRL
seja negativo, a presença de leucocitose
(mais de 25 leucócitos/mm3) e/ou o aumento
na concentração de proteínas (mais de 150
mg/dl) devem ser considerados como evidências
adicionais para o diagnóstico, tendo
implicações diretas na escolha de tratamento
dessa criança.
Se a criança for identificada após o período
neonatal (acima de 28 dias de vida), as alterações
no LCR incluem: VDRL positivo e/
ou concentração de proteínas de 40 mg/dl ou
mais e/ou contagem de leucócitos de 5 células/
mm3 ou mais.
Na impossibilidade de realizar a análise liquórica,
tratar o caso como neurossífilis.

Radiografia de Ossos Longos
A radiografia de ossos longos deve ser realizada
nos casos suspeitos de sífilis congênita,
ainda que o RN esteja assintomático, pois
até 20% dos RN infectados assintomáticos
podem ter como única manifestação a presença
de alterações radiográficas.

Hemograma
O hemograma será realizado em todos os
RN com sífilis congênita ou suspeita de sífilis
congênita. Já vimos que a doença pode
manifestar-se com anemia e plaquetopenia.
Também pode haver leucopenia ou leucocitose
(em geral com linfocitose ou monocitose).

Outros
Outros exames poderão ser solicitados com
base no quadro clínico apresentado pelo RN,
tais como: radiografia de tórax, para avaliação
de pneumonia, ultrassonografia e tomografia
computadorizada de crânio, ecocardiograma.

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7
Q

Sífilis Congênita - Tratamento e Seguimento:

A

A droga de escolha é a penicilina. O Treponema
pallidum continua sensível a este fármaco.
O Ministério da Saúde publicou há alguns
anos um protocolo para o manejo das crianças
com sífilis congênita. Este é o protocolo
habitualmente cobrado nos concursos e é o
que você precisa saber.
Antes de falarmos sobre o tratamento do RN,
vamos relembrar alguns aspectos do manejo
da gestante, incluindo a forma como deve ser
feita o tratamento dos casos diagnosticados
nas mulheres e seus parceiros.
Manejo da Gestante
Tratamento da Sífilis
• Sífilis primária ou sífilis secundária ou
sífilis latente recente (menos de um ano
de evolução): penicilina G Benzatina –
2.400.000 UI/IM, em dose única (1,2 milhão
UI em cada glúteo). Fique atento, pois este
esquema foi recentemente modificado. Até
pouco tempo, a recomendação era de que
os casos de sífilis secundária ou latente recente
fossem tratados com duas doses de
2,4 milhões UI.
• Sífilis terciária ou sífilis assintomática
com mais de um ano de evolução (latente
tardia) ou com duração ignorada: penicilina
G Benzatina 2.400.000UI/IM, em três
aplicações, com intervalo de uma semana
entre cada aplicação. Dose total: 7.200.000UI.
Os tratamentos não penicilínicos são considerados
inadequados durante a gestação,
pois não há garantia de que consigam tratar
o feto. Por isso, recomenda-se que, em caso
de alergia, as gestantes sejam submetidas a
protocolos de dessensibilização. Na impossibilidade
de dessensibilização, o tratamento
da gestante será feito com ceftriaxona, mas
para fins de manejo do RN, tal tratamento
será considerado inadequado.
Manejo do Recém-nascido
O manejo do RN pode parecer um tanto quanto
complexo. O segredo é: siga exatamente a
sequência que listaremos a seguir e você não
correrá riscos de errar nenhuma questão.

1º passo: avaliar o tratamento materno
O primeiro passo no manejo do RN é a caracterização
da adequação ou não do tratamento
materno. Veja as definições:
Tratamento adequado para sífilis materna:
todo tratamento completo, adequado ao estágio
da doença, feito com penicilina e finalizado
pelo menos 30 dias antes do parto, tendo sido
o parceiro tratado concomitantemente.
Tratamento inadequado para sífilis materna:
a presença de qualquer um dos pontos a
seguir pode ser utilizada para caracterizarmos
o tratamento como sendo inadequado, para
fins de manejo do RN:
• todo tratamento que não foi feito com penicilina;
• tratamento incompleto, mesmo tendo sido
feito com penicilina;
• tratamento inadequado para a fase clínica da
doença;
• instituição de tratamento dentro do prazo dos
30 dias anteriores ao parto;
• parceiro(s) sexual(is) com sífilis não tratado(
s) ou tratado(s) inadequadamente.
2º passo: avaliar e tratar o recém-nascido
Após a caracterização do tratamento materno,
podemos definir como será a conduta em
relação à criança.
O Ministério da Saúde separa o manejo em
três grupos: A, B e C. A situação A refere-
-se ao RN de uma mulher com tratamento
inadequado ou ausente; as situações B e C
trazem crianças cujas mães foram adequadamente
tratadas.
 Mãe inadequadamente tratada:
A) A primeira situação é a mais comum nas
provas e envolve os filhos de mães com sífilis
não tratada ou inadequadamente tratada.
Essas crianças serão submetidas à coleta
de VDRL no sangue periférico, hemograma,
radiografia de ossos longos e punção
lombar para avaliação liquórica, além
de exame físico cuidadoso (outros exames,
como radiografia de tórax, poderão ser indicados
na presença de alterações clínicas).
A1. Se houver alterações clínicas e/ou sorológicas
e/ou radiológicas e/ou hematológicas,
o tratamento deverá ser feito com
penicilina G cristalina, IV, ou penicilina
G procaína, IM, por dez dias. Nesta
situação o LCR deve estar normal!
A2. Se houver alteração liquórica, o tratamento
deverá ser feito apenas com
penicilina G cristalina, IV.
A3. Se não houver alterações clínicas,
radiológicas, hematológicas, liquóricas,
e a sorologia for negativa no
RN, pode-se usar a penicilina G
benzatina. Para que isso seja feito,
é obrigatório que exista uma garantia
de acompanhamento. Sendo impossível
garantir o acompanhamento, o
RN deverá ser tratado com o plano
A1 (penicilina cristalina ou procaína,
ambas por dez dias). Preste bastante
atenção: o VDRL do RN nesta situação
deve ser não reagente!
Todos os RN de mulheres com
sífilis não tratada ou inadequadamente
tratada devem receber algum
tratamento penicilínico.
Sempre que há alteração
liquórica, o tratamento é feito
com penicilina cristalina.

 Mãe adequadamente tratada:

B) As crianças nascidas de mulheres adequadamente
tratadas serão submetidas
ao VDRL e exame clínico cuidadoso. Se
houver VDRL reagente com titulação maior
que a materna e/ou alterações clínicas,
devemos realizar hemograma, radiografia
de ossos longos e análise do LCR.
Temos então duas possibilidades:
B1. Se houver alterações clínicas e/ou
hematológicas e/ou radiológicas, sem
alterações liquóricas, tratar como A1
(penicilina cristalina ou procaína).
B2. Se houver alteração liquórica, tratar
como em A2 (apenas com penicilina
cristalina).

C) A última situação envolve os RN assintomáticos
e com VDRL negativo ou com título
menor ou igual que o materno. Esse é
o manejo mais complexo.
C1. Se o RN for assintomático e tiver um
VDRL não reagente, poderá ser apenas
acompanhado, sem a necessidade
de exames adicionais ou de qualquer
medicação neste momento. Porém,
se não houver garantia de seguimento,
deve-se indicar o tratamento
com penicilina benzatina, em
dose única.
C2. Se for assintomático e tiver o VDRL
reagente igual ou menor que o materno,
poderá ser acompanhado clinicamente.
Na impossibilidade do
seguimento, investigar e tratar como
A1 (se o LCR estiver normal), A2 (se
o LCR estiver alterado) ou A3 (penicilina
G benzatina + seguimento
obrigatório, se exames normais e
LCR normal).

Esta última conduta (C2) está descrita exatamente
desta maneira em referências do Ministério
da Saúde e, em geral, essa conduta
é a que surge nas provas. Porém, em documentos
de outras fontes – e também em textos
do próprio Ministério – encontramos recomendações
um pouco distintas. Não estamos
colocando essa divergência aqui para te confundir,
apenas para evitar que um conceito
um pouco diferente venha a ser cobrado e
você erre por conta disso.
Essas outras fontes recomendam que os
RN assintomáticos de mães adequadamente
tratadas que apresentem VDRL menor ou
igual ao materno sejam sempre submetidos
à realização de todos os exames (hemograma,
avaliação do LCR e radiografia de ossos
longos). Se todos os demais exames forem
normais e o RN estiver assintomático, será
feito o tratamento com penicilina benzatina;
se houver alteração liquórica, o tratamento
deverá ser feito apenas com penicilina cristalina;
se houver qualquer outra alteração, mas
o LCR for normal, poderá ser feito com penicilina
cristalina ou procaína.
OBSERVAÇÕES:
• Quando há interrupção do tratamento do RN
por mais de um dia, este deverá ser reiniciado
no esquema preconizado.
• Como já tínhamos visto, o RN apresenta
lesões ricas em treponema. Deste modo,
são recomendadas as precauções padrão
de contato para todos os casos de sífilis
congênita por até 24 horas após o início do
tratamento com a penicilina.
• A reação de Jarisch-Herscheimer é rara no
período neonatal imediato e se caracteriza
por uma reação sistêmica febril aguda, com
exacerbação das lesões, convulsões e colapso
circulatório que ocorre nos pacientes com
sífilis congênita tratados com penicilina. Não
é indicação de suspensão do tratamento.

(Recentemente, vivemos um desabastecimento
nacional de penicilina,
em especial da penicilina benzatina, por
carência global da matéria-prima usada para
sua produção. O Ministério da Saúde passou
a recomendar que a penicilina benzatina seja
usada exclusivamente para o tratamento de
gestantes com sífilis e a penicilina cristalina
para as crianças com sífilis congênita.
Na indisponibilidade de penicilina cristalina,
penicilina G benzatina e penicilina G procaína,
para manejo da sífilis congênita, deve
usar a ceftriaxona (25-50 mg/kg/dia, IV ou
IM, por 10 a 14 dias). Ressalta-se que os dados
atuais ainda são insuficientes para definir
se tal tratamento é eficaz e, por isso, tais
crianças devem ter seguimentos em intervalos
mais curtos e serem avaliadas quanto à
necessidade de retratamento em caso de
possível falha terapêutica).

Manejo após o Período Neonatal
Ainda que findo o período neonatal, as crianças
com quadro clínico e sorológico sugestivos
de sífilis congênita devem ser cuidadosamente
investigadas, obedecendo-se à rotina
referida. Confirmando-se o diagnóstico, iniciar
o tratamento (mencionado anteriormente),
observando as diferenças nos intervalos
das medicações.
Veja a seguir as doses e a duração do tratamento
com penicilina:

Penicilina G Cristalina (IV):

Rn (até 4 semanas): 50.000UI/kg/ dose, 2 doses por dia (12/12 horas) na 1ª semana de vida 3 doses por dia (8/8 horas) entre a 2ª e a 4a semanas Duração do tratamento: 10 dias

Crianças com mais de 4 semana: 50.000UI/kg/ dose, 4/4 horas, 10 dias.

Penicilina G Procaína (IM):

Rn (até 4 semanas):50.000UI/kg/ dose, dose única diária, 10 dias.

Crianças com mais de 4 semanas: 50.000UI/kg/ dose, 12/12 horas, 10 dias

Penicilina G Benzatina (IM):

Rn (até 4 semanas): 50.000UI/kg, dose única.

Crianças com mais de 4 semanas: 50.000UI/kg, dose única.

Seguimento
É importante que todos os RN avaliados ou tratados
para sífilis congênita confirmada ou suspeita
sejam acompanhados. Este acompanhamento
tem o objetivo de assegurar que o tratamento foi
efetivo e também de identificar o surgimento de
alterações compatíveis com a infecção naqueles
casos em que o RN não foi tratado.
Esse seguimento é feito da seguinte forma:
• Avaliações mensais até o sexto mês e bimensais
do sexto ao 12° mês.
• Realizar VDRL com 1, 3, 6, 12 e 18 meses,
interrompendo quando se observar negativação
em dois exames consecutivos.
• Diante das elevações de títulos sorológicos,
ou da sua não negativação até os 18 meses,
reinvestigar o paciente e tratar.
• Realizar TPHA ou FTA-Abs para sífilis após
os 18 meses de idade para a confirmação
do caso; se o teste for positivo, isso significa
que a criança teve sífilis congênita e se for
negativo significa que o VDRL inicialmente
positivo foi apenas decorrente da passagem
transplacentária de anticorpos maternos;
• Recomenda-se acompanhamento oftalmológico,
neurológico e audiológico semestral por dois anos. O relato de um teste da orelhinha
normal não afasta a necessidade de
avaliação específica para a surdez do oitavo
par craniano.
• Nos casos onde o LCR esteve alterado, deve-
se proceder à reavaliação liquórica a cada
seis meses, até a normalização do LCR.
• Nos casos de crianças tratadas inadequadamente,
na dose e/ou tempo preconizados,
deve-se convocar a criança para reavaliação
clínico-laboratorial. Havendo alterações, recomenda-
se reiniciar o tratamento da criança
conforme o caso, obedecendo aos planos
já descritos. Se os resultados forem
normais, o seguimento é ambulatorial.

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8
Q

Qual dos achados abaixo determina a escolha
do tratamento para um recém-nascido com
sífilis congênita?
a) Radiografia de ossos longos com sinais de
periostite.
b) Pênfigo palmo-plantar.
c) Proteína no líquor acima de 150 mg/dl.
d) Hemograma com anemia e plaquetopenia.
e) VDRL no sangue do recém-nascido acima
de 1/128.

A

Proteína no líquor acima de 150 mg/dL.

Questão curiosa… Sabemos que a presença
de qualquer alteração no exame físico ou
na avaliação complementar da criança com
sífilis congênita será o bastante para que o
tratamento seja feito por dez dias. Porém,
caso não exista alteração no LCR, tal tratamento
poderá ser feito com penicilina cristalina
ou procaína. Todavia, a presença de qualquer alteração liquórica torna o tratamento
com a penicilina cristalina obrigatório.
Resposta: letra C.

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9
Q

Você está atendendo no alojamento conjunto
a um menino recém-nascido a termo, por parto
vaginal, sem intercorrências. O peso ao
nascer foi de 2.950 g, e o boletim de Apgar
9/10/10. A mãe, primípara, tem 19 anos de
idade e realizou apenas 3 consultas pré-natais.
Nega intercorrências ou uso de medicações
durante a gestação. As informações de seu
cartão pré-natal trazem sorologias negativas
para HIV, sífilis e hepatite B, realizadas no
primeiro trimestre da gravidez. No primeiro dia
de vida, o recém-nascido apresentou evolução
adequada com boa aceitação do aleitamento
materno e eliminações fisiológicas presentes.
O exame clínico era normal. No segundo dia
de vida, a equipe da neonatologia foi informada
de que a sorologia treponêmica materna,
colhida na presente internação, é reagente: o
teste não treponêmico também foi positivo com
título 1:8. Foi instituído tratamento para a mãe
e seu parceiro. Além da(s) sorologia(s) para
sífilis, cite três exames complementares fundamentais
para definição da conduta terapêutica
para o recém-nascido.

A

Radiografia de ossos longos, hemograma,
LCR.

O gabarito oficial da banca na época do
concurso foi: radiografia de ossos longos, hemograma,
LCR. Você concorda? É claro que
sim. São exatamente esses os principais exames
recomendados para todos os RN de mães
não tratadas ou inadequadamente tratadas.
Outros exames podem vir a ser solicitados em
função das manifestações clínicas da criança.

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10
Q

Sífilis Congênita - Notificação Compulsória:

A

A sífilis congênita é uma doença de notificação
compulsória.
Para fins de vigilância epidemiológica, um
caso de sífilis congênita pode ser definido por
quatro critérios distintos:
 1o critério: Alguma das situações a seguir.
• Criança de mulher que apresente durante
o pré-natal ou parto testes treponêmicos e
não treponêmicos reagentes e que não
tenha sido tratada ou tenha recebido tratamento
inadequado.
• Criança de mulher que não foi diagnosticada
com sífilis durante a gestação e que,
na impossibilidade de a maternidade realizar
o teste treponêmico, apresente teste
não treponêmico reagente com qualquer
titulação no momento do parto.
• Criança de mulher que não foi diagnosticada
com sífilis durante a gestação e, na impossibilidade
de a maternidade realizar o teste não
treponêmico, apresente teste treponêmico
reagente no momento do parto.
• Criança de mulher que apresente teste
treponêmico reagente e teste não treponêmico
não reagente no momento do parto,
sem registro de tratamento prévio.
 2o critério: Todo indivíduo com menos de
13 anos de idade com pelo menos uma das
seguintes evidências sorológicas.
• Titulações ascendentes (testes não treponêmicos).
• Testes não treponêmicos reagentes após
seis meses de idade (exceto em situação
de seguimento terapêutico).
• Testes treponêmicos reagentes após 18
meses de idade.
• Títulos em teste não treponêmico maiores
do que os da mãe, em lactentes.
• Teste não treponêmico reagente com pelo
menos uma das alterações: clínica,
liquórica ou radiológica de
sífilis congênita.
 3o critério: Aborto ou natimorto
cuja mãe apresente testes
para sífilis não treponêmico
reagente com qualquer titulação
ou teste treponêmico reagente,
realizados durante o pré-natal,
no momento do parto ou curetagem,
que não tenha sido tratada
ou tenha recebido tratamento
inadequado.

 4o critério: Toda situação de evidência de
infecção pelo T. pallidum na placenta ou no
cordão umbilical e/ou em amostras da lesão,
biópsia ou necropsia de criança, produto de
aborto ou natimorto, por meio de exames
microbiológicos.
Em caso de evidência sorológica apenas, deve
ser afastada a possibilidade de sífilis adquirida.

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11
Q

Toxoplamose Congênita - Epidemiologia e Etiopatogenia:

A

Epidemiologia:

A toxoplasmose congênita é uma zoonose
produzida pelo Toxoplasma gondii.
A infecção por esse agente é bastante comum
e diversos levantamentos mostram que
uma grande parcela da população mundial é
infectada pelo toxoplasma. Grande parte das
vezes essa infecção é subclínica e não traz
maiores consequências. A infecção congênita,
porém, pode ser devastadora, com sequelas
para o resto da vida.
A transmissão durante a vida intrauterina
ocorre quando a mulher apresenta a infecção
primária durante a gestação, podendo eventualmente
resultar de infecção latente reativada
em casos de gestantes imunodeficientes.
A reinfecção de mulheres imunocompetentes
durante a gestação é incomum. Raramente, a
transmissão também pode ocorrer quando a
mulher é infectada logo antes da concepção.
Quanto menor a idade gestacional em que a
gestante é infectada, menor é a probabilidade
de transmissão, porém, mais graves serão
as alterações. O contrário ocorre no final da
gestação, quando há uma maior probabilidade
da infecção, porém de forma menos grave.
As diferenças nas taxas de transmissão e
o espectro de gravidade estão relacionados
às modificações no fluxo placentário, à virulência
e ao inóculo do agente e à capacidade
imunológica materna de limitar a parasitemia.
Entre 50-85% dos RN cujas mães se infectaram
durante a gravidez não apresentam manifestação
clínica ao nascer. O restante pode
expressar a doença sob vários níveis de gravidade
e em diferentes momentos da vida, desde
hidropisia fetal e óbito intrauterino, até manifestações
oculares únicas, que podem desencadear
sintomas somente após vários anos.

Etiopatogenia:

Depois de replicar-se ativamente na placenta,
a parasitemia atinge praticamente todos
os sistemas orgânicos do feto, principalmente
o sistema nervoso central e as túnicas
oculares. No cérebro, encontramos áreas de
necrose, acompanhadas de processos inflamatórios
perivasculares, que podem sofrer
calcificação precoce.

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12
Q

Toxoplasmose Congênita - Manifestações Clínicas:

A

Se, como já dito, uma percentual alto dos RN
é assintomático ao nascer, como faremos
para suspeitar dessa condição?
Na prova, as crianças geralmente terão alguma
alteração clínica. Porém, muitas vezes
teremos que pensar nessa possibilidade em
função de um quadro clínico apresentado
pela mulher durante a gestação ou por alguma
alteração laboratorial, como discutiremos
a seguir. A grávida pode ser assintomática ou
apresentar sinais inespecíficos, como febre,
mialgia, linfadenopatia, odinofagia, exantema
maculopapular e hepatoesplenomegalia
(síndrome de mononucleose like). A linfadenomegalia
pode ser de apenas um linfonodo.
Em relação ao RN, as manifestações clínicas,
se presentes, são em sua grande maioria
viscerais, neurológicas ou oftalmológicas.
A clássica tríade de Sabin é caracterizada
por coriorretinite, calcificações intracranianas
e hidrocefalia do tipo obstrutiva. Guarde essa
associação, pois ela estará presente na sua
prova! Vamos falar sobre cada uma das alterações
mais detalhadamente a seguir.
Outros sintomas incluem prematuridade, restrição
ao crescimento intrauterino, anemia,
trombocitopenia, hepatoesplenomegalia, linfadenopatia,
icterícia, exantemas, dermatite
esfoliativa, miocardite e outros, também inespecíficos.
A surdez neurossensorial pode estar
presente e ser leve ou grave; não se sabe
se é um quadro progressivo ou não, mas o
tratamento instituído no primeiro ano de vida
reduz a sua frequência.
Toxoplasmose = coriorretinite +
calcificações cerebrais + hidrocefalia
Alterações Oftalmológicas
Quase todas as crianças com toxoplasmose
congênita não tratadas irão desenvolver lesões
oculares até a vida adulta. As lesões são
localizadas na retina e na coroide e qualquer parte da retina pode ser acometida, incluindo
a mácula. Podemos
ter em associação, ou como complicação, a
presença de iridociclite, catarata, glaucoma,
estrabismo, nistagmo e descolamento da retina.
A uveíte anterior pode manifestar-se com
hiperemia ocular. A coriorretinite é o comprometimento
clássico mais frequente na toxoplasmose
congênita, sendo bilateral em 60 a
80% dos casos. As lesões ativas podem curar
com ou sem tratamento em poucas semanas
ou meses, mas tendem a ser recidivantes e
podem levar a sequelas graves. A doença
ocular é recorrente e progressiva e pode demandar
a instituição de vários ciclos terapêuticos.
Em crianças mais velhas, a coriorretinite
pode envolver um olho e pode ser a única manifestação
da doença. A coriorretinite por toxoplasmose
diagnosticada em adolescentes e
adultos pode ser devida à infecção congênita.
A microftalmia ocorre quando as lesões são
muito graves. Estrabismo e nistagmo podem
ocorrer como sinais precoces e persistentes.

Alterações no Sistema Nervoso Central
A toxoplasmose congênita deve ser considerada
como possível causa de qualquer doença
neurológica não diagnosticada em crianças
menores de um ano, especialmente na
presença de lesões retinianas associadas. A
hidrocefalia pode ser a única alteração neurológica
e geralmente impõe a necessidade
de drenagem ventricular. As crises convulsivas
podem fazer parte da clínica destes pacientes,
podendo também ocorrer retardo do
crescimento, opistótono, dificuldade de deglutição
e paralisia de membros. A microcefalia
é um achado menos frequente do que a
hidrocefalia, mas reflete lesão cerebral mais
grave e está associada a uma maior mortalidade
nos primeiros anos de vida.
As calcificações cranianas podem ser evidenciadas
por todo o cérebro, mas desenvolvem-se
principalmente no núcleo caudado e gânglios
da base, plexo coroide e subependidimário.
Os exames que podem ser realizados para
avaliar essas alterações e os achados possivelmente
descritos são os seguintes:
• Radiografia simples de crânio: as calcificações intracranianas difusas, sem localização específica, constituem-se
em um achado característico da toxoplasmose
congênita.
• Tomografia computadorizada de crânio e ultrassonografia: são indicados
para um diagnóstico mais preciso
das lesões. Evidenciam melhor a atrofia
cortical e as dilatações ventriculares, além
de revelarem calcificações não diagnosticadas
na radiografia.

Outras Alterações
Nódulos calcificados poderão ser localizados
em vísceras como fígado e baço. As
alterações de ossos longos são inespecíficas
(zonas transversais e/ou estrias transversais
radiotransparentes nas metáfises
e irregularidades na linha de calcificação
provisória). Assim como na sífilis congênita,
pode ser encontrada placentomegalia à
ultrassonografia.

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Q

Coriorretinite na Toxoplasmose:

A
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14
Q

Calcificações Intracranianas e Ventriculares na Toxoplasmose:

A
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15
Q

Calcificações Craniais na Toxoplasmose

A
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16
Q

Toxoplasmose Congênita - Avaliação Complementar:

A

Avaliação Complementar Durante a Gestação:

Sabemos que o quadro de toxoplasmose,
tanto na gestante quanto no RN, é frequentemente
subclínico ou tem apresentação muito
inespecífica. Desta maneira, necessitamos
da avaliação complementar para definirmos
o diagnóstico. Durante a gestação, será feita
tanto a avaliação da infecção da gestante
quanto a investigação da infecção fetal.

Sorologia
A definição da infecção durante a gestação não
é uma tarefa tão simples quanto poderíamos
supor e isso será exaustivamente estudado
nos módulos de obstetrícia.

A distinção entre uma infecção aguda e uma
infecção que já ocorreu há algumas semanas
ou meses nem sempre é simples e essa
diferenciação é importante para nosso acompanhamento,
uma vez que sabemos que a
transmissão está associada essencialmente
à infecção aguda da gestante.
Assim, durante o acompanhamento pré-natal,
devemos definir se a gestante já foi infectada
e determinar há quanto tempo a infecção ocorreu.
Os testes mais empregados no Brasil para
detecção e quantificação de anticorpos IgG e
IgM antitoxoplasma no soro são imunofluorescência
indireta, ELISA e teste imunoenzimático
de micropartículas (MEIA).
Qual é a dificuldade que encontramos na
interpretação desses resultados?
Os anticorpos IgG antitoxoplasma na gestante
são detectados uma a duas semanas
após a infecção aguda, com aumento progressivo
dos títulos sorológicos até atingir o
pico máximo em três a seis meses. Segue-
-se então uma diminuição lenta, com títulos
persistentes por toda a vida. A avaliação dos
títulos de IgG pode ser útil para estabelecermos
o diagnóstico quando é feito o pareamento
sorológico, isto é, quando é realizado um
mesmo teste laboratorial em duas amostras
consecutivas de sangue, colhidas com pelo
menos três semanas de intervalo. Podemos
estabelecer o diagnóstico de infecção aguda
se for detectada soroconversão (exame previamente
negativo torna-se positivo) e/ou aumento
em pelo menos quatro vezes do título.
Os anticorpos IgM são detectados na primeira
ou segunda semana após a infecção aguda
e costumam permanecer elevados por dois
a três meses, mas podem persistir por muito
mais tempo. Se o exame for realizado no início
da gestação, a infecção pode ter ocorrido
meses antes da concepção e, nestes casos,
podemos nos despreocupar em relação ao
risco de infecção fetal.
Entendeu qual o problema? Não temos dúvidas
de que a gestante que teve uma soroconversão
gestacional tem toxoplasmose aguda. Porém,
a presença de IgG positiva com IgM positiva
não indica necessariamente que a gestante
está agudamente infectada. Para nos auxiliar,
podemos avaliar o índice de avidez da IgG.
O índice de avidez da IgG é um instrumento
auxiliar na investigação da toxoplasmose durante
a gestação, pois permite estimar o momento
em que a infecção aguda deve ter
ocorrido. O achado de um alto índice de avidez
de IgG indica que a infecção ocorreu há mais
de três ou quatro meses. Deste modo, a presença
de um alto índice de avidez, em uma
amostra coletada no primeiro trimestre de
gestação, indica que a infecção aguda materna
ocorreu antes da concepção e que não há
risco de infecção fetal. Porém, tome cuidado,
pois um teste pode permanecer com baixa
avidez por muitos meses, sem que isso indique
que a infecção é recente.

Avaliação Fetal
É claro que nem todas as mulheres agudamente
infectadas irão transmitir a infecção
para o feto. Porém, é importante tentarmos
definir se isso ocorreu, pois essa definição terá
implicâncias no manejo dessa grávida. Para
tal, recomenda-se a realização de ultrassonografia
obstétrica a cada duas semanas e a
realização da identificação do DNA de toxoplasma
no líquido amniótico por Reação em
Cadeia da Polimerase (PCR).
A amplificação do DNA do Toxoplasma gondii
no líquido amniótico por meio da PCR tem
sido utilizada para diagnóstico pré-natal de
toxoplasmose congênita, mas a sensibilidade
da avaliação varia de acordo com a fase da
gestação em que a amostra é obtida. A maior
sensibilidade é quando o espécime é coletado
entre 17 e 21 semanas de gestação. Em
alguns textos, a recomendação é de que o
exame seja feito após a 18ª semana de gestação.
A amniocentese para pesquisa no líquido
amniótico não é recomendada para as gestantes
com HIV/Aids, pelo risco de transmissão
do vírus durante o procedimento.
As alterações ultrassonográficas que podem
sugerir a infecção fetal incluem hidrocefalia,
calcificações cerebrais e hepáticas, hepatoesplenomegalia,
ascite, cardiomegalia e anomalias
placentárias.

Avaliação Complementar Após o Nascmento:

A investigação para toxoplasmose congênita
deverá ser feita naqueles RN ou lactentes
jovens, assintomáticos ou não, cujas mães
tenham relato de soroconversão durante a
gestação; naqueles com triagem neonatal com
positividade para IgM (esta triagem pode ser
feita em serviços particulares e integra a rotina
de alguns programas no país); e naqueles
com manifestações clínicas sugestivas de
infecção pelo toxoplasma.
Sorologia
A avaliação sorológica do RN é dificultada pela
presença de anticorpos maternos da classe
IgG. A presença de títulos na criança quatro
ou mais vezes maiores que os títulos maternos
(preferencialmente em testes realizados
pelo mesmo ensaio e em paralelo com o da
mãe) podem sugerir infecção congênita. Nas
crianças não infectadas, o título dos anticorpos
IgG diminui progressivamente até que ocorra
negativação em torno de um ano de vida.
Já a presença de IgM antitoxoplasma em
amostra do RN, que idealmente deve ser coletada
após o 5º dia de vida, pode estabelecer o diagnóstico de infecção congênita. É possível um resultado
falso-positivo quando a coleta é realizada nos primeiros diasde vida. A sensibilidade
do teste é baixa, especialmente se a
mãe tiver sido tratada durante a gestação com
sulfadiazina e pirimetamina. Se a infecção tiver
ocorrido no início da gestação, a sensibilidade
do teste também estará reduzida. Podem
ocorrer resultados falso-positivos quando o
exame é colhido nos primeiros dias de vida.
A pesquisa de IgA antitoxoplasma tem o mesmo
significado que a pesquisa de IgM, mas os
testes sorológicos para detecção de IgA são
pouco disponíveis no Brasil.
Outros Exames
A avaliação complementar dos RN com toxoplasmose
congênita confirmada ou nascidos
de mulheres com toxoplasmose aguda durante
a gestação envolve a realização de uma série
de outros exames. A SBP indica que deve ser
seguida uma hierarquia na solicitação dos
exames. Os
exames realizados e as alterações encontradas
que indicam a doença são:
 Hemograma
• Linfocitose com eosinofilia (até 20%), embora
inespecíficas, são as alterações mais
comuns do hemograma.
• Anemia e trombocitopenia.
 Bioquímica
• Elevação de bilirrubina direta.
• Proteínas totais e albumina são mais baixas
que os valores de referência.
 Exames de imagem
• Radiografia de crânio: para identificar calcificações
cerebrais.
• Ultrassonografia transfontanela: para identificar
dilatações no sistema ventricular.
• Tomografia computadorizada: melhor avaliação
das calcificações.
 Avaliação liquórica
• O exame do LCR nos auxilia no diagnóstico,
pois mesmo nos pacientes assintomáticos
podem ser demonstradas alterações
em cerca de 35% dos casos. O LCR terá
aspecto xantocrômico, com elevados valores
de proteínas e baixos níveis de glicose.
A citometria revela pleocitose à custa de
células linfomonocitárias, além de elevada
contagem de eosinófilos. Podem estar
presentes anticorpos específicos contra o
toxoplasma e a PCR pode ser positiva.
 Fundoscopia
• Permite a avaliação da retinite.

Pesquisa do Agente Etiológico
O toxoplasma pode ser encontrado em sedimento
de LCR, sangue periférico ou do cordão
umbilical e urina. Este micro-organismo
pode ser recuperado após inoculação em peritônio
de camundongos. Esses métodos são
extremamente trabalhosos e podem não trazer
os resultados esperados. Dessa forma, a
avaliação sorológica é a medida que se toma
normalmente na prática clínica.

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17
Q

Toxoplasmose Congênita - Tratamento:

A

Tratameto da Gestante e do Feto:

O tratamento da gestante agudamente infectada
tem o objetivo de diminuir o risco de
transmissão vertical e reduzir os danos ao
RN, caso a infecção fetal já tenha ocorrido.
Existem diferentes protocolos para o manejo
da gestante agudamente infectada e vamos
ver o tratamento específico da gestante no
material de obstetrícia.
De um modo geral, usa-se a espiramicina
logo após o diagnóstico na gestante para
prevenir o risco de transmissão vertical. Porém,
quando a infecção fetal é confirmada ou
altamente suspeita, indica-se o uso da associação
de sulfadiazina, pirimetamina e ácido
folínico pela mãe, com o objetivo de realizar
o tratamento fetal. Esse esquema não é recomendado
no início da gestação pelos riscos
de teratogênese.

Tratamento do recém-nascido

Todas as crianças com toxoplasmose
congênita comprovada devem
receber tratamento durante 12 meses,
independentemente da presença de sinais
e/ou sintomas da doença.

O tratamento realizado ao longo do primeiro
ano de vida tem como principal objetivo reduzir
o risco de sequelas tardias da doença,
devendo ser feito mesmo nas crianças assintomáticas.
As crianças que apresentam proteína liquórica muito elevada (≥ 1 g/dl) ou
retinite em atividade devem receber também
corticoterapia sistêmica. Existe mais de um
protocolo de tratamento, sendo o mais empregado
aquele que usa a associação de pirimetamina,
sulfadiazina e ácido folínico, da
seguinte forma:
Pirimetamina
• Dose: 2 mg/kg/dia, VO, por dois dias e depois
1 mg/kg/dia durante dois a seis meses, dependendo
da intensidade do acometimento.
• Após esse período: 1 mg/kg/dia três vezes por
semana até completar um ano de tratamento.
Sulfadiazina
• Dose: 100 mg/kg/dia, VO, duas vezes ao
dia, durante um ano.
Ácido folínico

(não o ácido fólico!)
• Sempre deve ser utilizado durante o uso de
pirimetamina, para diminuir a toxicidade medular
(neutropenia/anemia).
• Dose: 10 mg/dia; três vezes na semana.
Usado durante o uso de pirimetamina e uma
semana após o término.
Corticoide (Prednisona)
• Dose: 1 mg/kg/dia, VO, duas vezes ao dia.
• Indicada nos casos em que a
criança apresenta coriorretinite ou proteinorraquia
> 1.000 mg/dl, com a finalidade de reduzir o processo
inflamatório até a diminuição dos níveis
de proteína no LCR e/ou melhora da coriorretinite.

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18
Q

Toxoplasmose Congênita - Prevenção:

A

Um dos pontos importantes relacionados à
toxoplasmose congênita diz respeito à prevenção
da infecção na gestante e da transmissão
vertical. As ações voltadas para esse
fim incluem:
• Identificar as mulheres suscetíveis à toxoplasmose
antes e durante a gestação.
• Orientar as gestantes suscetíveis quanto às
medidas preventivas (prevenção primária) e,
idealmente, repetir periodicamente os testes
sorológicos para identificar a ocorrência de
toxoplasmose aguda durante a gestação.
• Identificação dos casos de toxoplasmose
aguda gestacional e implementação precoce
de tratamento.
• Diagnóstico e tratamento da infecção fetal.
Quais orientações podemos dar para as
gestantes com o intuito de evitar a infecção?
• Não ingerir qualquer tipo de carne crua ou
mal passada.
• Não consumir água que não seja filtrada ou
fervida.
• Lavar cuidadosamente frutas e verduras antes
do consumo.
• Evitar contato com fezes de gato.
• Evitar mexer em areia, terra ou jardins (usar
luvas caso necessário).
• Higienizar muito bem as mãos após manipular
alimentos (carnes e vegetais), terra e
antes de comer.
• Evitar acesso de insetos à cozinha.
• Lavar muito bem facas e outros utensílios
de cozinha logo após o uso.

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19
Q

Citomegalovirose Congênita - Epidemiologia e Etiopatogenia:

A

Epidemiologia:

O citomegalovírus (CMV) é um beta-herpesvírus
da família Herpesviridae. Assim como
outros membros dessa família, o CMV possui
uma composição estrutural que permite o estabelecimento
de uma infecção latente com
possível reativação.
Existem diferentes formas de transmissão
vertical desse agente. A transmissão pode
ser intrauterina, por via hematogênica transplacentária,
que é a forma que acarreta na
infecção congênita, mas também pode ser
perinatal, seja intraparto (pela exposição à
secreção cervical no canal de parto) ou pós-
-natal precoce (pelo aleitamento materno).

Etiopatogenia:

A infecção congênita ocorre principalmente
quando a mãe infecta-se pela primeira vez
durante a gestação, mas a transmissão materno-
fetal também pode ocorrer como resultado
de reativação de um processo latente ou
de uma reinfecção. Algumas mulheres soropositivas
para o CMV podem ser reinfectadas
por uma cepa diferente durante a gestação,
o que pode levar à transmissão intrauterina e
infecção congênita sintomática.
Quando a mãe desenvolve a infecção primária
na gestação, transmite o vírus em 30% dos
casos. Em levantamentos norte-americanos,
apenas 10% dos RN infectados apresentam
sinais e sintomas que sugerem o diagnóstico
da infecção congênita.

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Q

Citomegalovirose Congênita - Clínica:

A

A infecção congênita pelo CMV foi originalmente
chamada de doença de inclusão
citomegálica. Porém, apenas a metade das
crianças infectadas sintomáticas apresenta
o quadro típico da doença; a outra metade
apresenta apenas manifestações mais leves.
As alterações clínicas mais comumente
encontradas são as petéquias, a hepatoesplenomegalia,
a microcefalia, a icterícia, a
restrição ao crescimento intrauterino e a prematuridade.
Veja mais detalhes de algumas
dessas manifestações.
Lesões Cutâneas
Alguns RN podem apresentar um exantema
purpúrico, mas o achado de petéquias isoladas
é o mais comum. Além das petéquias, outro
achado comum é a presença de icterícia, que
tem um padrão bem variável (pode estar presente
desde o primeiro dia de vida, pode ser
transitória ou pode persistir por mais tempo;
há o aumento da fração direta e indireta da
bilirrubina). Há plaquetopenia variável.
Alterações no Sistema Nervoso Central
Além da microcefalia, podemos encontrar a
presença de calcificações intracranianas.
Já vimos que também podemos encontrar a
presença de calcificações na toxoplasmose
congênita, porém, aqui as calcificações serão
tipicamente periventriculares. A microcefalia
e a presença de calcificações guarda relação
com o prognóstico intelectual no futuro.
Preste agora atenção no seguinte. As descrições
clássicas da infecção congênita pelo CMV enfatizam
a localização periventricular das calcificações.
Textos mais atuais mostram que essas
calcificações podem estar em qualquer local do
cérebro. Porém, na sua prova, o mais provável é
que esteja presente a descrição da localização
periventricular e você deve valorizar isso para
pensar neste diagnóstico.

Lesões Oculares
A principal anomalia ocular encontrada é a
coriorretinite, com estrabismo e atrofia óptica. Diferentemente do que ocorre
com a surdez, a retinite pelo CMV não é progressiva.

Alterações Auditivas
A perda auditiva pode aparecer após o período
neonatal ou se tornar progressivamente
mais grave. A principal limitação causada pela
infecção congênita pelo CMV é a surdez neurossensorial,
que pode se estabelecer mesmo
naquelas crianças que nasceram assintomáticas,
ainda que seja mais frequente e mais
grave nos nascidos com sintomas. A infecção
é considerada uma das principais causas de
surdez na infância nos EUA e parece ser a
principal etiologia para surdez neurossensorial
não familiar.
Outras Alterações
A hepatomegalia e a esplenomegalia são as
alterações mais comumente encontradas nos
RN sintomáticos. Além do já mencionado aumento
da bilirrubina, pode haver o aumento
das transaminases hepáticas.
As crianças infectadas também podem apresentar
alterações no esmalte dentário na dentição
primária.

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21
Q

Calcificações Periventriculares na Citomegalovirose

A
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22
Q

Corioretinite na Citomegalovirose

A
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23
Q

Citomegalovirose Congênita - Avaliação Complementar:

A

A avaliação da criança com suspeita de infecção
pelo CMV envolve a identificação do
agente e outros exames, com o objetivo de
determinar o grau do comprometimento de
vários órgãos, especialmente do sistema nervoso
central e auditivo.
Podemos investigar a infecção pelo CMV essencialmente
de três formas:
• Isolamento viral em cultura de fibroblastos
humanos.
• Detecção do DNA viral pela reação em cadeia
da polimerase (PCR).
• Testes sorológicos.
- IgM anti-CMV.
- IgG anti-CMV.
Identificação do Vírus
A urina e a saliva de RN com infecção congênita
apresentam elevada concentração viral.
Esses materiais são semeados em culturas
de fibroblastos humanos e tornam possível o
isolamento viral, com a observação do efeito
citopático característico desse vírus. Porém,
como a replicação do vírus é lenta, podem
ser necessárias algumas semanas de observação
do material antes que possamos ter
certeza de que o resultado é negativo pela
observação dos efeitos do vírus. A utilização
de anticorpos monoclonais contra antígenos
precoces do CMV permite a confirmação da
detecção do vírus em culturas celulares muito
mais rapidamente, em até 48-72 horas. O
CMV pode ser encontrado na urina destas
crianças por vários anos.
A detecção do DNA viral por técnica de PCR
fornece o resultado mais rapidamente, com
uma sensibilidade e especificidade semelhantes
as do isolamento viral. Também são
usadas amostras de urina ou saliva.
Independentemente da técnica usada, a
amostra de urina e/ou saliva deve ser coletada
nas primeiras três semanas de vida
da criança, pois a identificação do vírus em
espécime colhido após essa época pode ser
decorrente de infecção perinatal, não de infecção
congênita. Alguns consideram que
o período para a obtenção da amostra para
identificação de uma infecção congênita seja
apenas de duas semanas.
Sorologia
A sorologia tem um papel limitado no diagnóstico
de infecção congênita por CMV, embora
seja largamente solicitada. A presença de
IgM anti-CMV no sangue do RN é sugestiva
de infecção congênita, mas esse diagnóstico
sempre deve ser confirmado pelo isolamento
do vírus na urina ou na saliva. Já a ausência
de IgM anti-CMV não exclui o diagnóstico. A
interpretação dos resultados de IgG anti-CMV
tem a mesma dificuldade que você já conhece:
não é fácil saber se os anticorpos são da
criança ou da mãe. O pareamento dos títulos
nas amostras pode nos ajudar nesse sentido, mas não permite a distinção entre a infecção
congênita e a perinatal. Nos casos em que
os anticorpos são maternos, há negativação
dos títulos entre o quarto e nono mês de vida.
Outros Exames
A avaliação clínica da criança com infecção
congênita pelo CMV inclui a aferição do peso,
comprimento e perímetro cefálico; a determinação
da hepatimetria e tamanho do baço; e
a realização de fundoscopia ocular ao nascimento
e com 12 e 60 meses. Outros exames
necessários nessas crianças são:
 Avaliação auditiva: otoemissões acústicas
e potencial evocado da audição (BERA)
(ao nascimento e várias vezes até os três
anos; a partir dessa idade, audiometria infantil
condicionada a cada seis meses até
os seis anos de idade).
 Exames de imagem do SNC: tomografia
computadorizada de crânio ao nascimento
e, se alterada, repetir de acordo com a
necessidade clínica. Os achados anormais
que podem ser encontrados incluem as
calcificações e/ou cistos periventriculares,
áreas de gliose, vasculite, ventriculomegalia
(raramente causando hidrocefalia), distúrbios
na migração neuronal e, em casos
mais graves, atrofia cortical, porencefalia e
hidranencefalia.
 Exames laboratoriais: hemograma completo
com contagem de plaquetas, bilirrubina
total e frações, transaminases séricas; avaliação
do LCR (celularidade, proteinorraquia,
glicorraquia e pesquisa do DNA do CMV).

24
Q

Citomegalovirose Congênita - Tratamento:

A

O tratamento com ganciclovir (6 mg/kg/dose,
12/12h, IV, durante seis semanas) está associado
a uma menor deterioração e à melhora
da função auditiva. Entretanto, os aspectos
logísticos do tratamento prolongado, o benefício
limitado e os efeitos adversos (neutropenia)
têm restringido o uso desta droga. A
droga pode ser usada nos casos em que há
doença grave.
Estudos vêm demonstrando que o uso de
valganciclovir por via oral durante seis meses
pode ser mais efetivo e menos tóxico que
o uso de ganciclovir por via parenteral. Tanto
o tratamento com o ganciclovir quanto com o
valganciclovir teriam o benefício de reduzir o
risco de comprometimento auditivo e melhorar
o neurodesenvolvimento.

25
Q

Citomegalovirose Congênita - Prevenção:

A

É importante que medidas preventivas sejam
tomadas para reduzir a exposição materna
ao vírus. As campanhas educacionais, esclarecendo
que a transmissão pessoa a pessoa
se dá exclusivamente por contato íntimo, podem
ser de importância fundamental. Ainda
não há nenhuma modalidade de tratamento
aprovado para uso durante a gestação que
previna ou reduza a chance de ocorrência da
doença no feto. A eliminação do CMV no leite
materno não contraindica o aleitamento materno
nos RN a termo saudáveis.

26
Q

Lactente de 2 meses de idade, encaminhando
com relato de crises convulsivas de difícil controle
e microcefalia. Mãe não realizou pré-natal.
A tomografia computadorizada do encéfalo em
corte axial mostrou calcificações periventriculares
e microcefalia. Estas alterações são MAIS
compatíveis com infecção congênita por:

A

Citomegalovirose.

Qual a palavra-chave que surge nesse
enunciado? “Periventriculares”! A alteração é
tipicamente encontrada na infecção congênita
pelo citomegalovírus.

27
Q

Síndrome da Rubéola Congênita - Etiopatogenia:

A

O vírus da rubéola já foi estudado no início
do ano, no diagnóstico das doenças exantemáticas,
está lembrado? Vamos agora falar
sobre uma condição bastante grave, que
pode ser consequência da infecção aguda
da gestante: a síndrome da rubéola congênita.
Como já tínhamos conversado anteriormente,
a epidemiologia desta condição
felizmente mudou, graças à imunização universal
contra o vírus da rubéola.
Quando a gestante adquire a infecção primária,
seja essa infecção sintomática ou assintomática,
ocorre a infecção da placenta
durante a fase de viremia com a posterior infecção
fetal. O principal determinante da gravidade
da doença e do risco de transmissão é
a idade gestacional em que a infecção materna
ocorre. As crianças infectadas podem ter
uma doença bem evidente, com o acometimento
de vários órgãos e sistemas ou, como
comumente observado, nenhuma alteração
clínica. Porém, o acompanhamento em longo
prazo pode evidenciar perda auditiva ou alterações
no sistema nervoso central.
O risco de transmissão é alto no primeiro
trimestre, diminui no segundo trimestre, e
volta a aumentar nas últimas semanas da
gestação. Essa alta taxa de transmissão no
início da gravidez é o grande problema, pois
a infecção do concepto nessa fase implica
em inúmeras sequelas. A infecção materna
ocorrida nas primeiras oito a 12 semanas de
gestação é a que está associada aos quadros
mais graves, com a presença de várias
malformações. A presença de malformações
não é comum quando a infecção ocorre após
16 semanas, ainda que a infecção fetal ocorra.
Além de estar associada a malformações,
a infecção em fases precoces da gestação
está associada a um quadro crônico, com
a persistência de vírus nos tecidos mesmo
após o nascimento (isso ocorre apenas na
infecção congênita, não sendo descrito na
infecção pós-natal). Assim, na presença de
infecção fetal, o vírus pode ser excretado na
urina da criança por todo o primeiro ano de
vida ou mais, havendo o risco de contaminação
de suscetíveis.

28
Q

Lactente de dois meses chega ao ambulatório
para atendimento e a mãe relata ter notado
que a criança não reage aos ruídos. Na história
gestacional e do parto, vimos que nasceu
de parto vaginal, a termo, e foi pequeno para
idade gestacional. O teste da orelhinha foi
anormal e o reflexo vermelho está ausente
unilateralmente. O perímetro cefálico está
abaixo do percentil 5. Ao exame, encontramos
sopro sistólico 2+/6 em bordo esternal esquerdo
alto. Diante do diagnóstico mais provável,
a conduta é:

A

Manejo das sequelas e cuidados com a transmissão por um ano.

Este lactente ao nascer foi uma criança
pequena para a idade gestacional. Devemos
sempre buscar na história gestacional um
motivo para isso. Não há relato de hipertensão
materna ou outros motivos para o retardo de
crescimento intrauterino. Além do retardo do
crescimento, há uma constelação de sinais:
microcefalia, alterações oculares, auditivas e
cardiológicas. Isso nos aponta para uma infecção
congênita. A presença de cardiopatia
congênita, particularmente a persistência do
canal arterial e a estenose de ramo da artéria
pulmonar, são altamente sugestivas de rubéola. A tríade clássica
da síndrome da rubéola congênita é composta
por catarata, surdez e cardiopatia congênita.
Nesta condição, não há nenhuma medida
terapêutica específica a ser adotada. O cuidado
agora consiste apenas no manejo das sequelas.
As crianças com síndrome da rubéola
congênita podem eliminar o vírus nas secreções
respiratórias por até um ano e devem ser
mantidas em precaução de contato até que
não haja mais vírus na urina e secreções faríngeas.

29
Q

Síndrome da Rubéola Congênita - Clínica:

A

A infecção congênita tem um amplo espectro
de manifestações e pode causar desde
o abortamento ou o óbito fetal até a ausência
de manifestações aparentes ao nascer.
A descrição original da síndrome da rubéola
congênita, no século passado, incluía uma constelação de defeitos, com a combinação
de alterações cardíacas, oculares e auditivas,
com ou sem microcefalia e retardo mental. A
infecção assintomática é muito mais comum
que a infecção sintomática.
As manifestações da infecção congênita podem
ser agrupadas em três grupos: manifestações
transitórias, identificadas em RN
e lactentes; manifestações permanentes, já
presentes ao nascimento ou que surgem no
primeiro ano de vida; manifestações tardias,
que surgirão ao longo da infância, adolescência
ou mesmo no início da vida adulta. É evidente
que algumas alterações se inserem em
mais de uma dessas categorias.
Manifestações Transitórias
As manifestações transitórias incluem hepatoesplenomegalia,
hepatite, icterícia, plaquetopenia
com petéquias e púrpura, anemia
hemolítica, adenopatia, meningoencefalite,
pneumonia intersticial, miosite, miocardite,
diarreia, opacificação da córnea e alterações
no crescimento ósseo (osteopatia de ossos
longos, com rarefações lineares nas metáfises).
Mais da metade dessas crianças terá
evidências de restrição ao crescimento intrauterino
e terá crescimento deficitário ao
longo da infância.
Manifestações Permanentes
As manifestações permanentes decorrem de
defeitos na organogênese ou da destruição
tecidual com posterior cicatrização. Incluem
as seguintes alterações:
Lesões Cardíacas
Estão presentes em mais da metade dos infectados
nas primeiras oito semanas de gestação.
A alteração mais comum é a persistência
do canal arterial, com ou sem estenose
de ramo da artéria pulmonar.
Lesões Oculares
Catarata, glaucoma (que também pode ser
uma manifestação tardia), retinopatia e microftalmia.
Classicamente, descreve-se a retinopatia
da rubéola com um aspecto de “sal e
pimenta”, que é a alteração ocular mais comum.
A catarata pode ser uni ou bilateral e é
o achado mais grave, podendo estar presente
ao nascimento ou surgir nas primeiras semanas.
Você perceberá, ao realizar as questões,
que as bancas gostam de descrever a presença
de catarata, dizendo que a criança tem
alteração no reflexo vermelho.

Alterações Auditivas
Surdez bilateral ou isolada, que ocorre por
degeneração da cóclea e do órgão de Corti.
As alterações podem surgir mesmo quando a
infecção ocorre após o terceiro mês de gestação.
O seguimento longitudinal das crianças
infectadas revela que esta é a manifestação
mais comum da rubéola congênita.
Alterações no Sistema Nervoso Central
Microcefalia, retardo do desenvolvimento psicomotor,
distúrbios comportamentais e psiquiátricos.
Há ainda a associação com o desenvolvimento
de transtorno do espectro do autismo.
Manifestações Tardias
E, finalmente, as manifestações tardias, que
incluem:
• Endocrinopatias: diabetes mellitus tipo 1 e
disfunção tireoidiana (hipertireoidismo, hipotireoidismo
e tireoidite). O quadro de diabetes
é a manifestação tardia mais comum, acometendo
20% dos nascidos com infecção
congênita até a vida adulta.
• Alterações neurológicas e oftalmológicas:
panencefalite progressiva, glaucoma, alterações
corneanas.

30
Q

Lesões Cutâneas na Rubéola Congênita

A
31
Q

Síndrome da Rubéola Congênita - Avaliação Complementar:

A

Em todo RN cuja mãe teve diagnóstico confirmado
de rubéola durante a gestação ou lactente
com suspeita de síndrome da rubéola
congênita devemos realizar a dosagem de IgM
e IgG específicas para rubéola. O feto infectado
produz anticorpos IgM e IgG mesmo
antes do nascimento. A presença de IgM específica
para rubéola é evidência de infecção
congênita. Os anticorpos IgM podem ser detectados
em 100% das crianças com síndrome
da rubéola congênita até o 5º mês, em 60%
de 6 a 12 meses e em 40% de 12 a 18 meses.
Raramente são detectados após o 18º mês.

Como não é possível diferenciar os anticorpos
IgG maternos daqueles produzidos pelo próprio
feto, devemos realizar o paramento dos
títulos sorológicos. Quando o título se mantém
ou é maior após três meses da primeira coleta,
podemos confirmar o diagnóstico de infecção
congênita. Como a quantidade de IgG
materna diminui com o tempo, desaparecendo
por volta do 6º mês, a persistência dos títulos
de IgG no sangue do lactente é altamente
sugestiva de infecção intrauterina. Deve-se
tentar o isolamento viral, sendo que o material
mais usado é a secreção da faringe posterior
por meio de swab.
O diagnóstico clínico de rubéola congênita
geralmente só é confirmado no concepto após
o seu nascimento, quando as malformações
já se encontram estabelecidas.

32
Q

Síndrome da Rubéola Congênita - Profilaxia e Tratamento:

A

A vacina contra rubéola faz parte do calendário
da criança, do adolescente e do adulto. A
imunidade conferida pela vacina costuma ser
duradoura. As mulheres em idade fértil com
a pesquisa de anticorpos negativa (sorologia
negativa), pela inibição da hemaglutinação,
devem ser vacinadas. Elas não devem engravidar
pelos próximos 30 dias.

Não há tratamento específico. Essas crianças
precisam de acompanhamento multidisciplinar
e com vários especialistas para o manejo
das sequelas.

33
Q

Recém-nascido pequeno para a idade gestacional,
que apresenta microcefalia, erupção
petequial disseminada, cataratas bilaterais e
estenose pulmonar, provavelmente apresenta
qual infecção?

A

Rubéola.

Em geral, todas as infecções congênitas
podem causar crescimento intrauterino restrito,
prematuridade, hepato e/ou esplenomegalia
e outras inúmeras manifestações. No entanto,
quando temos um RN com erupção
petequial associada a acometimento ocular
(catarata bilateral, glaucoma, retinopatia ou
microftalmia) e cardiopatia congênita (principalmente
persistência do canal arterial ou
estenose pulmonar), devemos obrigatoriamente
pensar em síndrome da rubéola congênita.
Nos casos de sífilis congênita temos algumas
características marcantes como lesões cutaneomucosas
e lesões ósseas; na citomegalia
congênita temos as calcificações intracranianas
periventriculares, coriorretinite e surdez
neurossensorial; na toxoplasmose congênita,
por fim, observamos calcificações intracranianas
difusas, hidrocefalia e retinocoroidite.

34
Q

Uma criança de 20 dias de vida é levada ao
hospital porque se observou que ela cansa
após as mamadas. Nasceu de parto a termo
e normal, domiciliar, tendo a mãe feito apenas
uma consulta no pré-natal. O exame físico
mostra um recém-nascido com peso de 1950
gramas, estatura de 45 cm, perímetro cefálico
de 29 cm, icterícia ++/++++, hipoatividade,
fontanelas abertas e normotensas, craniotabes
negativo, presença de nistagmo, ausculta
pulmonar com murmúrio vesicular presente
bilateralmente sem ruídos adventícios, à ausculta
cardíaca sopro contínuo no 2º espaço
intercostal esquerdo, palpação abdominal com
fígado a 3,5 cm do rebordo costal direito e
baço a 3 cm do rebordo costal esquerdo. Dos
reflexos primitivos, o de Moro é ausente. Este
quadro sugere que, durante a gestação, a
infecção materna mais provável foi:

A

Rubéola.

Questão com uma mãe sem pré-natal e um
RN doente sempre é uma pista para pensarmos
em uma infecção congênita. Vamos destacar
nesse caso clínico as principais manifestações
clínicas para fazermos o provável
diagnóstico. Peso de nascimento de 1950 g
num bebê a termo sugere que houve RCIU;
PC de 29 cm nos revela uma microcefalia, o
nistagmo sugere alguma alteração visual, o
sopro contínuo no 2º espaço intercostal esquerdo
é a descrição de uma persistência do
canal arterial… Tudo isso associado à hepatoesplenomegalia
e à icterícia nos sugere,
fortemente, um quadro de rubéola congênita.
Em nenhuma das outras infecções congênitas
estudadas até agora encontramos a presença
de alterações cardíacas.

35
Q

Síndrome da Rubéola Congênita - Notificação Compulsória:

A

Veja as definições:

Suspeito:

Todo RN cuja mãe foi caso suspeito
ou confirmado de rubéola
ou contato de caso confirmado
de rubéola, durante a gestação;
ou toda criança, até 12 meses
de idade, que apresente sinais
clínicos compatíveis com infecção
congênita pelo vírus da
rubéola, independente da história
materna.

Confirmado:
• Caso confirmado por laboratório→
caso suspeito que apresente malformações congênitas compatíveis com
síndrome da rubéola congênita e evidência
laboratorial da infecção congênita pelo vírus
da rubéola: presença de anticorpos IgM específicos
ou elevação persistente dos títulos de
anticorpos da classe IgG, detectados através
de ensaio imunoenzimático (ELISA) em amostras
pareadas, com intervalo de seis meses.
• Caso confirmado pela clínica→ na ausência
de resultados laboratoriais para a confirmação
do diagnóstico e se o recém-nascido ou criança
de até 12 meses apresentar prematuridade
e/ou baixo peso mais os seguintes sinais
clínicos ou complicações, de forma isolada
ou associada: catarata/glaucoma congênito
ou cardiopatia congênita ou surdez. Por se
tratar de uma doença em eliminação no Brasil,
o diagnóstico clínico é considerado uma
falha da vigilância. Assim, todos os casos
suspeitos de síndrome da rubéola congênita
devem ter diagnóstico laboratorial.

36
Q

Varicela Congênita - Etiopatogenia:

A

O vírus varicela-zóster (VVZ), quando infecta
uma gestante em suas primeiras semanas
(< 20 semanas) de gestação, provoca infecção
fetal em 25% dos casos. Felizmente, apenas
2% dos fetos infectados apresentarão uma
embriopatia pelo vírus. A infecção materna
próxima ao termo ou logo após o parto pode
levar a um quadro de varicela neonatal, que
é bem distinto do quadro encontrado quando
a infecção ocorre no primeiro e segundo trimestres.
Falaremos aqui apenas sobre esta
última situação.

O VVZ tem tropismo pelos nervos sensoriais,
raízes lombossacras e cervicais, cérebro
e olhos.
Existem raros casos de anomalias fetais após
o desenvolvimento de herpes-zóster na gestante,
mas não se sabe ao certo se esses casos
podem ser, de fato, caracterizados como
síndrome da varicela congênita.

37
Q

Varicela Congênita - Clínica:

A

As principais características clínicas da embriopatia
pelo vírus da varicela são (FIGURA 29):
• Nervos sensoriais: lesões cutâneas cicatriciais;
hipopigmentação.
• Olhos: microftalmia, catarata, coriorretinite,
atrofia óptica.
• SNC: microcefalia, hidrocefalia, calcificações.
• Plexos nervosos cervicais e lombossacro
(fibras simpáticas, motoras e sensitivas):
hipoplasia de extremidades, deficit
motor e sensitivo, síndrome de Horner, disfunção
esfinctérica anal e retal.

38
Q

Hipoplasia se Membros Associada à Varicela Congênita

A
39
Q

Varicela Congênita - Laboratório, Tratamento e Profilaxia:

A

Laboratório:

A coleta de sangue do cordão ou biópsia de
vilo coriônico para realização de técnicas de
detecção de DNA ou sorologia pode ser empregada
para a detecção da infecção no feto.
O diagnóstico após o nascimento é basicamente
determinado pela história clínica de
varicela na gravidez associada às manifestações
clínicas típicas na embriopatia pelo vírus.
A sorologia tem pouca utilidade.

Tratamento:
Como a lesão causada pelo vírus não progride
no período pós-parto, não está indicado
tratamento antiviral para pacientes com varicela
congênita.

Profilaxia:
A imunoglobulina antivaricela tem sido utilizada
em gestantes susceptíveis expostas à varicela.
Entretanto, os estudos com esta medida
não garantem a proteção fetal. O mesmo raciocínio
vale para o tratamento com aciclovir.

40
Q

Herpes Simplex - Etiopatogenia:

A

O agente etiológico é o Vírus Herpes Simplex
(VHS) dos tipos I e II. Clinicamente a infecção
pelo VHS II é representada por lesões genitais,
sendo considerada doença sexualmente
transmissível. A infecção pelo VHS tipo I
manifesta-se por meio de lesões labiais. Na
infância, o VHS tipo I pode causar gengivoestomatite,
durante a primoinfecção herpética.
Uma grande parte das infecções na população
adulta é assintomática, com eventuais exacerbações.
Deste modo, muitas mulheres infectadas
encontram-se livres de sintomas, abrigando
o vírus na cérvice uterina. As infecções no RN
podem ser decorrentes da infecção intrauterina,
intraparto ou pós-natal. A transmissão neonatal
ocorre, na maior parte dos casos, durante a
passagem do RN pelo canal de parto. Quando
a transmissão ocorre dessa maneira, a infecção
deve ser considerada como uma infecção perinatal
e não congênita. Em 80% dos casos, a
doença neonatal é causada pelo HSV tipo II.
Nos primeiros meses de gestação, a infecção
herpética pode ser causa de aborto. A infecção
primária materna no final da gestação
oferece maior risco de infecção neonatal do
que a infecção recorrente.

41
Q

Herpes Simplex - Clínica:

A

Do ponto de vista clínico, é importante que a
infecção pelo VHS seja diferenciada em infecção
congênita e infecção perinatal.
Infecção Congênita A infecção congênita, com consequente fetopatia, é rara e extremamente grave. A doença fetal é adquirida por viremia materna transitória.
A infecção fetal é persistente e o vírus
reaparece após o parto, muitas vezes em
local de lesão anterior. A tríade da infecção
congênita consiste em vesículas cutâneas ou
escaras de cicatrização, com alterações oculares
e microcefalia ou hidrocefalia (FIGURA
30). O isolamento do vírus em um RN nos primeiros
dias de vida é um critério diagnóstico
importante da infecção intrauterina.
Infecção Perinatal
A infecção perinatal é aquela cuja transmissão
ocorre durante a passagem pelo canal
do parto. Em geral o RN só se torna sintomático
no final da primeira semana de vida
ou início da segunda, pois o vírus necessita
replicar-se no organismo recém-infectado. As
manifestações clínicas da doença perinatal
estão descritas abaixo.
Forma Localizada: olhos, boca e pele
Esta forma de apresentação da doença se caracteriza
por ceratoconjuntivite, coriorretinite,
úlcera de córnea, catarata e atrofia óptica.
As lesões de pele são vesiculares e surgem
principalmente na região da apresentação ou
em locais de trauma, podendo recidivar no
mesmo sítio ou em outros locais do corpo.
Se o quadro não for tratado, pode ocorrer a
progressão para infecção disseminada ou do
sistema nervoso.

Forma Neurológica:
Geralmente ocorre durante a segunda semana
de vida, e consiste em letargia, irritabilidade,
convulsões, crises de apneia e febre alta.
As convulsões são de difícil tratamento e controle.
Esse quadro de encefalite pode ou não
vir acompanhado do acometimento da pele,
olhos e boca. Quando não é feito tratamento,
50% dessas crianças evoluirão para óbito.

Forma Disseminada:
É a forma mais grave de apresentação da
doença, uma vez que encontramos acometimento
do SNC e disseminação visceral. As
lesões graves apresentam sintomas na primeira
semana de vida, sendo que um percentual
dessas crianças não apresenta lesões
cutâneas, o que pode nos levar com
frequência a erros no diagnóstico. As manifestações
clínicas incluem vômitos, anorexia,
irritabilidade, desconforto respiratório,
convulsões, icterícia, hepatoesplenomegalia
e petéquias. O comprometimento neurológico
se caracteriza por uma meningoencefalite
grave, podendo levar à necrose hemorrágica
do lobo temporal. O liquor mostra pleocitose
à custa de linfomononucleares e dosagem
de proteínas aumentada.

42
Q

Herpes Congênito

A
43
Q

Herpes Simplex - Tratamento:

A

O parto cesáreo é recomendado para gestantes
infectadas com lesões ativas como medida
de profilaxia. Entretanto, esta medida diminui
sua eficácia caso a bolsa esteja rota há mais
de quatro horas. Na ausência de lesões ativas,
a via de parto é controversa. Entretanto,
a maioria dos especialistas concorda que a
criança pode nascer por parto normal. Os RN
com infecção pelo VHS devem ser isolados
pelo risco de transmissão nosocomial do vírus.
O aciclovir, 20 mg/kg/dose a cada oito horas,
por 14-21 dias, é a droga de escolha para o
tratamento na infecção perinatal. Já foi demonstrado
que a terapia com aciclovir oral
por seis meses após o término do tratamento
parenteral é capaz de melhorar o desenvolvimento
neurológico das crianças com infecção
do sistema nervoso central e prevenir a recorrência
de lesões cutâneas.

44
Q

Zika e Microcefalia - Breve Histórico:

A

No segundo semestre de 2015, foi sinalizado
um aumento do número de casos de microcefalia
no Nordeste. Tal observação deflagrou o
início de um trabalho de levantamento dos dados e avaliação das possíveis hipóteses
causais envolvidas, como infecções congênitas
já conhecidas, agentes físicos, químicos e
fatores genéticos.
Uma das principais associações feitas, desde
então, correlaciona este aumento de casos
com a circulação e infecção das gestantes pelo
vírus Zika, levando à infecção congênita pelo
mesmo. Fato é que esta história está sendo
escrita agora e muitas descobertas serão feitas
nos próximos anos que irão preencher
várias lacunas de conhecimento existentes.
Faremos aqui um apanhado com os dados
disponíveis até a época de liberação desta
apostila, tendo como base o documento publicado
pelo Ministério da Saúde em dezembro
de 2016 (Orientações integradas de vigilância
e atenção à saúde no âmbito da Emergência
de Saúde Pública de Importância Nacional).
Porém, ainda existe possibilidade de mudanças
até a ocasião dos concursos e, por isso,
não deixe de conferir as atualizações na área
restrita do site.

45
Q

Zika e Microcefalia - Transmissão:

A

A gestante infectada, ainda que assintomática,
poderá transmitir o vírus para o feto. A
infecção fetal poderá ser causa de abortamento,
óbito fetal, ou desenvolvimento de
anomalias congênitas.

46
Q

Zika e Microcefalia - Anomalias Identificadas:

A

Atualmente, há um consenso científico de que
o vírus Zika é causa de microcefalia e outras
complicações neurológicas que, em conjunto,
constituem a Síndrome Congênita do vírus
Zika (SCZ).
Microcefalia
Condição caracterizada pela medida de cabeça
substancialmente menor que a das outras
crianças de mesmo sexo e idade. Pode ocorrer
pelo crescimento cerebral intrauterino
anormal ou pela interrupção do crescimento
cerebral após o nascimento. Algumas das
crianças com microcefalia terão desenvolvimento
neurológico normal, mas as consequências
da microcefalia podem incluir atraso no
desenvolvimento e incapacidade intelectual,
convulsões e incapacidades físicas, incluindo
dificuldades auditivas e visuais.
Desde o início da Emergência de Saúde Pública
de Importância Nacional, em 2015, o
Ministério da Saúde já adotou diferentes valores
de perímetro cefálico para serem usados
como definições operacionais. No início, foram
adotados valores mais altos, com maior sensibilidade
para detecção dos casos. Porém,
com isso, muitas crianças acabavam sendo
submetidas a avaliações desnecessárias.
Desde meados de 2016, a Organização Mundial
de Saúde passou a recomendar que
sejam usados os valores das tabelas de InterGrowth
para avaliar o perímetro cefálico
das crianças. A medida deve ser feita nas
primeiras 24 horas de vida (as medidas do
perímetro cefálico idealmente devem ser feitas
na sala de parto, e repetidas quando a
criança completar 24 horas). Por essas tabelas,
considera-se microcefalia, nas crianças
com 37 semanas, a presença de um perímetro
cefálico menor que 30,54 cm em meninos
e menor que 30,24 cm meninas.
Outra alteração identificada nessas crianças
é uma protuberância na região occipital, associada
a uma redundância de pele nesta
região. Cabe ainda lembrar que o aumento
inesperado do perímetro cefálico em uma
criança acompanhada por microcefalia deve
levantar o alerta para possibilidade do desenvolvimento
de um quadro de hidrocefalia.
Outras Alterações
Diversas alterações já foram descritas nas
crianças expostas ao vírus Zika durante a
gestação, tais como desproporção craniofacial
(algumas crianças podem não ter microcefalia,
mas apresentam desproporção entre
o crânio e a face, o que permite inferir algum
grau de comprometimento do crescimento
cerebral); hipertonia, espasticidade, convulsões,
irritabilidade, hiperexcitabilidade, exagero
e persistência dos reflexos primitivos;
disfunção do tronco encefálico, como problemas
de deglutição; deformidades articulares
de membros (membros artrogripóticos) e contraturas
de membros; anormalidades auditivas
e oculares, e anomalias cerebrais detectadas
por neuroimagem.
O comprometimento visual nessas crianças
pode ser secundário a alterações oculares (a
infecção pode causar danos na retina) ou no
sistema nervoso central.

47
Q

Zika e Microcefalia - Avaliação Complementar:

A

Exames de Imagem
Os exames de neuroimagem têm um importante
papel na avalição dessas crianças.
• USG transfontanela: é a primeira opção de
exame e pode ser feita para as crianças com
fontanela ainda aberta (geralmente até seis
meses).
• TC de crânio: indicada quando não é possível
realizar a USG pelo tamanho da fontanela
ou nos casos de dúvida diagnóstica.
Os achados nos exames incluem calcificações
corticais, subcorticais, malformações corticais,
padrão simplificado de giro, alterações migratórias,
hipoplasia do tronco cerebral, cerebelo e ventriculomegalia. Essas alterações podem
ser identificadas mesmo em crianças sem
microcefalia.
Fundoscopia
Já foram descritas alterações envolvendo o
nervo óptico e retina. As alterações no nervo
óptico incluem hipoplasia, atrofia parcial ou
completa do nervo óptico, assim como aumento
da escavação papilar. Já as alterações
retinianas incluem lesões cicatriciais coriorretinianas,
lesões torpedo like, dispersão
pigmentar, isoladas ou associadas, que podem
acometer tanto o polo posterior como
outras regiões mais periféricas da retina.
Menos comumente, pode haver hemorragia
retiniana e até atenuação vascular, catarata
e glaucoma congênito, microftalmia, coloboma
de íris e retina.
Diversas alterações são identificadas apenas
quando é feita a fundoscopia indireta/mapeamento
de retina.
Outros Exames
Para complementar a investigação e estadiamento
dos casos, são solicitados os seguintes
exames inespecíficos: hemograma; transaminases
hepáticas; bilirrubinas direta/indireta; ureia
e creatinina sérica; dosagem sérica de lactato
desidrogenase e outros marcadores de atividade
inflamatória (proteína C reativa, ferritina).
Diagnóstico Específico
O diagnóstico pode ser feito pela detecção da
partícula viral por biologia molecular (reação
em cadeia da polimerase via transcriptase
reversa – RT-qPCR), que é o padrão-ouro, ou
pela detecção de anticorpos por sorologia (IgM
ou IgG).
Os testes rápidos para detecção de anticorpos
estão sendo incorporados às rotinas dos serviços
de saúde, mas as amostras positivas devem
ser confirmadas por ensaios imunoenzimáticos
(ELISA) ou outros ensaios imunológicos.
As crianças até o 8o dia de vida que apresentem
microcefalia e/ou alteração do sistema
nervoso central, ou aqueles sem malformações
evidentes ao nascer cujas mães tiveram
diagnóstico de infecção por vírus Zika (laboratorial
ou clinicoepidemiológico) confirmado,
deverão ter amostras de sangue e urina coletadas,
simultaneamente, no momento do nascimento
para realização do teste rápido, da
sorologia ELISA IgM anti-Zika e RT-qPCR simultaneamente.

48
Q

Sepse Neonatal - Definição:

A

A sepse neonatal continua sendo uma das
mais importantes causas de morte nos RN. O
quadro é caracterizado como sendo uma infecção
grave e com repercussões sistêmicas,
que ocorre nos primeiros 28 dias de vida.
O diagnóstico de sepse neonatal nem sempre
é fácil. Muitos RN apresentam manifestações
inicialmente discretas, insidiosas e inespecíficas.
Essa dificuldade diagnóstica associada
à alta mortalidade de um quadro não tratado
faz com que muitas crianças acabem recebendo
tratamento antimicrobiano empiricamente,
sem estarem de fato infectadas.
O quadro de sepse neonatal pode ser classificado
de acordo com o momento de seu aparecimento
em sepse neonatal precoce e sepse
neonatal tardia. Existe uma grande controvérsia
na literatura relacionada ao número de dias
que separam um quadro do outro. Alguns consideram
que a sepse neonatal precoce acomete
o RN em sua primeira semana de vida (manifestando-
se em geral nas primeiras 72 horas
de vida), enquanto a forma tardia se manifeste
após esse período. Outros consideram que a
forma precoce manifesta-se nas primeiras 48
ou 72 horas de vida, enquanto os quadros tardios
são aqueles que se apresentam já a partir
desse momento. Indiscutivelmente temos que
nas primeiras 48 horas o quadro é precoce; a
partir do sétimo dia, é tardio.
Porém, mais importante do que sabermos exatamente
qual é o ponto de corte temporal que separa o “precoce” do “tardio”, é entendermos
que os mecanismos de infecção nessas situações
são diferentes. A sepse precoce se correlaciona
a uma infecção adquirida ainda no
útero ou durante o nascimento, sendo causada
essencialmente por agentes que colonizam
o trato genital feminino; já a sepse tardia até
pode estar associada a agentes do trato genital
materno, mas também pode ser provocada
por agentes adquiridos no hospital ou mesmo
na comunidade após a alta hospitalar.

49
Q

Sepse Neonatal - Epiemiologia:

A

Apesar dos avanços na terapia intensiva
neonatal, a incidência de sepse permanece
elevada, de 1 a 8 casos/1.000 nascidos vivos,
com regiões apresentando incidências
bem maiores. Essa incidência é maior em algumas
subpopulações específicas, como os
prematuros e os que apresentam muito baixo
peso ao nascer.

50
Q

Sepse Neonatal - Etiologia e Mecanismos de Infecção:

A

Etiologia
Os principais agentes da sepse neonatal precoce
são o estreptococo do grupo B (GBS;
Streptococcus agalactiae) e a Escherichia coli.
Outros agentes incluem outras enterobactérias
e Listeria monocytogenes.
A forma tardia do processo infeccioso tem
como micro-organismos mais envolvidos na
etiologia os Staphylococcus coagulase negativos,
Staphylococcus aureus e outras bactérias
Gram-negativas. A sepse fúngica é, tipicamente, um
quadro mais tardio. Os fungos também podem
ser causa do quadro, principalmente em
RN prematuros com menos de 1.000 g, em
nutrição parenteral prolongada e em uso de
antibióticos de largo espectro.
Mecanismos de Infecção
Os quadros de sepse neonatal podem ocorrer
por quatro mecanismos básicos: por via
ascendente, durante a passagem pelo canal
de parto, por via transplacentária ou por infecção
nosocomial/comunitária. Os três primeiros
mecanismos estarão associados principalmente
ao quadro de sepse precoce.
A via ascendente, como o próprio nome sugere,
associa-se à ascensão de bactérias
até a cavidade uterina, com a ocorrência de
corioamnionite e infecção fetal. A infecção
da cavidade uterina, através do estímulo
para a liberação de uma série de mediadores
inflamatórios, pode levar ao trabalho de
parto prematuro.
A infecção que ocorre no canal de parto associa-
se à aspiração ou à deglutição de material
contaminado. A infecção pelo GBS pode
ocorrer por esta via ou por via ascendente (o
GBS também pode, eventualmente, ser causa
de sepse tardia).
A infecção transplacentária não é uma causa
comum de sepse neonatal, mas a infecção
pela listéria pode ocorrer por esse mecanismo.
A contaminação nosocomial e a comunitária
estão associadas aos quadros de sepse tardia.

51
Q

Sepse Neonatal - Fatores de Risco:

A

Os fatores de risco que devemos buscar na
história para pensarmos no diagnóstico de
sepse neonatal podem ser divididos em fatores
maternos e fatores do RN.
Os principais fatores maternos são a presença
de ruptura prolongada das membranas
ovulares, a corioamnionite, a infecção do trato
urinário e a colonização cervical pelo GBS.
Um tempo de ruptura superior a 18 horas associa-
se a um maior risco de infecção. Preste
bastante atenção neste dado, pois você irá
perceber que isso com frequência estará nos
enunciados dos casos de sepse. O quadro
de corioamnionite pode ser caracterizado
pela presença de febre materna e duas ou
mais das seguintes alterações: leucocitose
materna (> 15.000 células/mm³), taquicardia
materna (> 100 bpm), taquicardia fetal
(> 160 bpm), dor uterina e líquido amniótico
fétido. A infecção urinária no terceiro trimestre
associa-se tanto ao trabalho de parto prematuro
quanto à corioamnionite. A colonização
materna pelo GBS merece ser discutida com
mais detalhes e faremos isso a seguir. Todos
esses fatores representam um aumento no
risco, principalmente, para a sepse precoce.
Já os fatores do RN incluem a prematuridade
e o baixo peso ao nascer, o sexo masculino
(por motivos pouco esclarecidos) e a
presença de asfixia. O principal fator neonatal
que predispõe à infecção é a prematuridade
ou o baixo peso ao nascer. A prematuridade
é um fator de risco principalmente
quando a idade gestacional é inferior a 34
semanas. Esses RN têm um sistema imunológico
imaturo, com deficiência de imunoglobulinas,
de complemento, diminuição
da capacidade fagocitária e de opsonização.
Além disso, as imunoglobulinas maternas
passam pela placenta principalmente no
terceiro trimestre e essas crianças não as
recebem adequadamente. Já vimos que a infecção
da cavidade uterina pode deflagrar o
trabalho de parto, logo, a prematuridade pode
ser considerada a primeira manifestação de
infecção intrauterina. A presença de asfixia
ao nascimento também pode ser considerada
uma manifestação da infecção. Ademais,
a hipóxia e a acidose também diminuem os
mecanismos de defesa do hospedeiro.
Os fatores ambientais estão relacionados
principalmente aos quadros de sepse tardia
e englobam o descuido com medidas bastante
simples, como a ausência de lavagem de
mãos e o uso de material contaminado. Os
RN doentes são frequentemente expostos a vários procedimentos invasivos, que comprometem
a integridade da barreira cutânea.
Nesse contexto, a prematuridade também é
um fator de risco para a sepse tardia, pois os
prematuros frequentemente necessitam de
acessos vasculares prolongados, intubação
traqueal ou outros procedimentos invasivos.

52
Q

Sepse Neonatal - Clínica:

A

A criança infectada pode apresentar desde
manifestações clínicas inicialmente discretas
(que podem ser confundidas com outras
doenças neonatais), até a forma grave de
apresentação, com icterícia, hepatoesplenomegalia,
petéquias e sangramentos. Muitas
vezes, só o que temos é um RN que parece
“não estar bem”…
A história clínica é fundamental, sobretudo a
identificação dos fatores de risco já listados.
A associação dos fatores de risco maternos e
neonatais são os dados que muitas vezes levantam
a suspeita de um quadro de sepse e
desencadeiam o início da investigação do RN.
As manifestações clínicas incluem desconforto
respiratório, taquipneia, apneia, taquicardia,
choque, instabilidade de temperatura
(hipotermia ou febre, sendo que em prematuros
a hipotermia é um achado mais frequente
do que a elevação da temperatura), sintomas
gastrointestinais (distensão abdominal, presença
de resíduo gástrico e vômitos). Os sinais
neurológicos (convulsões, alterações da
consciência) podem indicar disseminação do
processo infeccioso para o SNC. A presença
de petéquias, púrpuras e sangramentos em
geral representam coagulação intravascular
disseminada, complicando a sepse.
A dificuldade respiratória será a manifestação
mais comum e pode variar desde a simples
presença de taquipneia, até uma insuficiência
respiratória grave, com necessidade de
suporte ventilatório invasivo. O diagnóstico
diferencial com a doença da membrana hialina
nos prematuros é muito difícil, principalmente
porque vários dos fatores de risco são
comuns às duas condições.
A enterocolite necrosante pode estar associada
ao quadro séptico e deve ser suspeitada
nas situações em que há presença de fezes
com sangue.

53
Q

Sepse Neonatal - Avaliação Complementar:

A

A avaliação complementar dos quadros de
sepse envolve a realização de exames para
isolamento do micro-organismo (hemocultura,
exame de liquor, urocultura, cultura de aspirado
traqueal) e exames inespecíficos (testes
hematológicos e testes imunológicos).
O diagnóstico de certeza só é possível mediante
o isolamento do agente etiológico em
locais usualmente estéreis. Porém, sabemos
que as culturas demoram algum tempo até
nos fornecerem um resultado e não nos ajudam
a definir se devemos ou não começar a
tratar um RN com sepse suspeita.
Exames Inespecíficos
A análise do leucograma é bastante utilizada
para a avaliação das crianças com sepse
suspeita. Devemos tomar alguns cuidados na
interpretação dos resultados e lembrarmos
de que é um exame inespecífico, que pode
estar alterado mesmo na ausência de infecção.
A liberação dos leucócitos é dinâmica e
pode haver leucocitose nas primeiras 12-18
horas de vida. Os parâmetros mais utilizados
para tentar identificar o RN com sepse provável
são as alterações no número absoluto
de neutrófilos jovens e totais e a relação entre
as formas jovens e totais de neutrófilos
(relação I/T; neutrófilos imaturos/neutrófilos
totais). A relação I/T tem valor preditivo para
sepse quando seu índice for igual ou superior
a 0,2 (I/T ≥ 0,2). A neutropenia é um preditor
de sepse neonatal melhor que a leucocitose,
mas cabe lembrar que a caracterização da
neutropenia depende da idade gestacional,
tipo de parto, altitude do local de nascimento
e método de obtenção da amostra. Muitos
protocolos incluem a realização de mais de
um hemograma no RN, com intervalo de 12
horas. A plaquetopenia é um marcador inespecífico
e pode estar relacionada com infecções
fúngicas.
Os testes imunológicos, como as dosagens de
Proteína C Reativa (PCR) e Procalcitonina
(PCT), são bastante usados na avaliação desses
RN. A PCR eleva-se após um estímulo
inflamatório, mas a sua elevação não é sinônimo
de infecção; eleva-se na aspiração de mecônio,
na asfixia, na ruptura prolongada de
membranas e no choque. Deste modo, não
pode ser considerada, isoladamente, como um
teste definitivo para o diagnóstico, tendo melhor
valor preditivo negativo. Atualmente a PCR tem
sido mais utilizada de forma seriada (temos que
ter cuidado, pois os pontos de corte de normalidade
podem variar de um laboratório para
outro), para acompanhamento da evolução do
RN. A PCT alcança níveis elevados algumas
horas após a invasão bacteriana, mas também
pode elevar-se por estímulos não infecciosos.
Considera-se que a PCT seja equivalente ou
melhor que a PCR para a detecção de uma
infecção bacteriana no RN.
As dosagens de algumas citocinas (IL-6,
TNF-alfa, IL-1b) têm sido consideradas marcadores
fidedignos de infecção neonatal, mas
não estão disponíveis na prática diária, o que
limita o seu uso no diagnóstico de sepse neonatal
precoce.
Identificação do Agente
O isolamento do agente infeccioso é necessário,
através de hemoculturas, cultura de urina (na sepse tardia) e cultura de LCR. Os
resultados naturalmente demoram a sair. Os
testes de detecção rápida podem ser empregados,
como a pesquisa de antígenos estreptocócicos
na urina.
A urinocultura só está indicada na avaliação da
sepse neonatal precoce em RN sintomático
com o diagnóstico pré-natal de malformação
do trato urinário. Se não for este o caso, o exame
só costuma estar indicado na sepse tardia.
Existe alguma controvérsia em relação à necessidade
da cultura liquórica nos RN com
sepse neonatal precoce suspeita. A avaliação
deve ser inquestionavelmente feita quando
houver hemocultura positiva ou quando a
criança apresenta sinais clínicos compatíveis
com um quadro de sepse.

54
Q

Sepse Neonatal - Tratamento:

A

O tratamento da sepse neonatal é determinado
pelo padrão de doença e pelos organismos
prováveis (agentes mais comuns de
cada unidade). Após a coleta do material para
culturas, os antibióticos devem ser iniciados
empiricamente.
Antibioticoterapia
Sepse Neonatal Precoce
O esquema empírico inicial consiste na associação
de ampicilina e aminoglicosídeos
(gentamicina).
As cefalosporinas de 3a geração, como a cefotaxima,
são úteis no tratamento da sepse
documentada e na meningite, graças a sua
excelente penetração no sistema nervoso
central. Porém, não devem ser rotineiramente
usadas em função de sua relação com a
emergência de resistência bacteriana, sepse
por cândida e diarreia associada com antibióticos
em RN.
Sepse Neonatal Tardia
O tratamento depende da prevalência de micro-
organismos da unidade e de seu padrão
de sensibilidade bacteriana. Nas unidades
com elevada prevalência de estafilococos
coagulase negativos e resistentes à oxacilina,
a vancomicina deve ser empregada. A
associação de vancomicina com um aminoglicosídeo
é um possibilidade terapêutica.
Deve-se considerar o uso de cefalosporinas
na suspeita de meningite e anfotericina nos
casos de infecção fúngica.
Outras medidas
• Medidas gerais e de suporte hemodinâmico,
incluindo o controle térmico e da glicemia.
• Imunoglobulina endovenosa: tem uso bastante
controverso e não há evidências de
que seu uso na sepse suspeita ou comprovada
reduza a mortalidade.
• Transfusão de granulócitos: também não é
de uso rotineiro e seu uso não tem benefícios
comprovados.
Outras intervenções, como a exsanguineotransfusão,
são procedimentos de risco, invasivos,
e não tem sido recomendadas para
tratamento da sepse neonatal.
Estratégias de prevenção incluem a profilaxia
com fluconazol para RN com peso menor que
1.000 g, a administração de antibióticos intraparto,
que será vista a seguir, e o uso de suplementação
com lactoferrina bovina, com ou
sem probióticos, que ainda está em estudo.

55
Q

Sepse Neonatal - Recomendações Para Prevenção da Doença Causada pelo Estreptococo do Grupo B:

Foto: Conduta no RN para prevenção da sepse pelo GBS (CDC - 2010).

A

Já vimos que o estreptococo do grupo B (GBS)
é o principal agente etiológico da sepse neonatal
precoce. A adoção de estratégias preventivas
relacionadas à gestante promoveu um
decréscimo na incidência da sepse por esse
agente nas últimas duas décadas. As condutas
adotadas em relação à gestante irão influenciar
no manejo do RN e, por esse motivo, devemos
resgatar alguns conceitos da obstetrícia e rever
o que deve ser feito com a mãe.
A colonização materna intraparto pelo GBS
é um importante fator de risco primário para
a sepse por esse agente. Algumas gestantes
são candidatas a receber profilaxia antimicrobiana
intraparto, com o intuito de reduzir o
risco de transmissão da bactéria para o RN.
A TABELA 8 a seguir sumariza as recomendações.

Tabela 8:

 Quando indicar profilaxia antibiótica intraparto?
1) História de doença invasiva por GBS em RN
anterior
2) Bacteriúria por GBS em qualquer trimestre
da gestação atual*
3) Rastreamento positivo para GBS# na gestação
atual em amostra retovaginal*
4) Gestante com status desconhecido para GBS
(cultura não realizada ou sem resultado) na
presença de qualquer um dos critérios abaixo:
• Trabalho de parto prematuro < 37 semanas.
• Ruptura prolongada de membranas ≥ 18
horas.
• Temperatura materna intraparto ≥ 38ºC.
• Teste intraparto para GBS (NAAT – teste de
aplicação de ácido nucleico) positivo.
* Se a gestante não tiver entrado em trabalho de parto, ainda com membranas íntegras, e for
procedido o parto cesáreo, não haverá necessidade
de quimioprofilaxia nessas situações.
# O rastreamento é realizado entre 35 e 37 semanas
de gestação.
Observações: a profilaxia NÃO está indicada
nas seguintes situações:
• Colonização ou bacteriúria por GBS em gestação
prévia (apenas se houver a indicação
para profilaxia por outro fator na gestação
atual).
• Cultura negativa no swab retal e vaginal durante
a gestação atual, mesmo na presença
de fatores de risco intraparto.
• Operação cesariana realizada antes do início
do trabalho de parto em mulher com membranas
amnióticas íntegras, independentemente
da colonização pelo GBS e da idade
gestacional.
 Como realizar a profilaxia antibiótica intraparto?
− Penicilina G cristalina: 5 milhões IV dose
ataque, seguido de 2,5 a 3 milhões IV a cada
4 horas até o parto; OU
− Ampicilina: 2 g IV dose ataque, seguido de
1 g IV a cada 4 horas.
− Gestantes com alergia grave (anafilaxia,
angioedema, insuficiência respiratória, urticária):
clindamicina/eritromicina ou vancomicina
(cepas resistentes).
− Gestantes com alergia não grave: cefazolina.

Avaliação do Recém-Nascido
Bom, mas até aí a responsabilidade é do obstetra,
o pediatra começa a tomar decisões, de
fato, após o nascimento da criança. A nossa
preocupação é a seguinte: ao avaliarmos o
RN, devemos nos perguntar se existe o risco
de ter ocorrido a infecção pelo GBS. Se esse
risco for elevado, poderemos começar a administração
de antimicrobianos mesmo antes
do surgimento de quaisquer manifestações
clínicas.
1ª situação: Recém-nascido sintomático
Esta é a situação que menos deixa dúvidas.
Se o RN é sintomático, deve ser tratado e fim
de papo. Será submetido à realização de todos
os exames já vistos na abordagem do RN com sepse suspeita e iniciaremos a antibioticoterapia
empírica.
2ª situação: Recém-nascido assintomático
Aqui começamos a ter que tomar mais decisões.
Veja os possíveis cenários que podemos
encontrar:
• mãe com corioamnionite: colher exames do
RN (hemograma completo e hemocultura;
não há necessidade de punção lombar, a
princípio – “avaliação limitada”) e iniciar antibioticoterapia
empírica.
• mãe sem corioamnionite: avaliar se havia
indicação para a administração de profilaxia
intraparto.
- sem indicação para profilaxia intraparto:
cuidados de rotina com o RN.
- com indicação para profilaxia intraparto:
avaliar como foi feita a profilaxia.
- se a mãe recebeu profilaxia primária por
período ≥ 4 horas (penicilina, ampicilina ou
cefazolina IV; outros agentes devem ser
considerados inadequados para fins de conduta
em relação à criança) durante o trabalho
de parto: observação do RN por 48 horas.
- se a mãe não recebeu a profilaxia intraparto,
ou recebeu por período inferior a quatro
horas, e o RN tiver idade gestacional ≥ 37
semanas e o tempo de bolsa rota for < 18
horas, poderá ser apenas observado por
48 horas. Porém, se a mãe não recebeu a
profilaxia intraparto, ou recebeu por período
inferior a quatro horas, e o RN tiver
idade gestacional < 37 semanas ou o tempo
de bolsa rota for ≥ 18 horas, devemos
colher hemograma completo com leucometria
diferencial (ao nascimento e com
6-12 horas de vida) e hemocultura, além
de observar por 48 horas.
É evidente que caso as crianças que estejam
sendo observadas desenvolvam sintomas,
serão submetidas à realização dos exames e
tratadas empiricamente.

56
Q

Recém-nascido prematuro, oriundo de inadequadas
condições de parto e de nascimento,
apresenta, nas primeiras 48 horas de
vida, os seguintes sinais clínicos: instabilidade
térmica, dificuldade respiratória, hipotonia,
irritabilidade e letargia, manifestações
gastrointestinais, icterícia, palidez cutânea.
Qual o diagnóstico etiológico mais provável?

A

Sépsis por Escherichia coli.

A sepse neonatal precoce está relacionada
diretamente a fatores maternos gestacionais
e periparto; o comprometimento é multissistêmico,
e o germe, quando identificável, é oriundo
do trato genital materno. A passagem pelo
canal de parto, ou condições inadequadas
deste (como na questão), são formas importantes
de transmissão. A observação clínica,
a despeito das limitações, permanece a forma
mais prática para o diagnóstico precoce de
graves infecções bacterianas. Os sinais iniciais
de sepse em RN podem ser mínimos ou inespecíficos.
Achados como recusa alimentar,
hipoatividade, irritabilidade, ou simplesmente
a impressão de que “o RN não parece bem”
podem levar à suspeita de um quadro infeccioso.
Existem apresentações clínicas mais
evidentes, como dificuldade respiratória (taquipneia,
gemência, retrações torácicas, batimentos
de asas nasais), apneia, letargia, febre
ou hipotermia, icterícia sem outra causa determinante,
vômitos e diarreia, ou ainda manifestações
cutâneas. Nesse sentido, a pergunta
seria: quais são os agentes mais frequentemente
implicados na sepse neonatal
precoce? Sabemos que são o estreptococo
do grupo B e as enterobactérias Gram-negativas,
dentre as quais se destaca a E.coli. Essa
última parece, de fato, ser a principal etiologia
na medida em que vemos uma história de um
parto com condições “inadequadas” (no que
diz respeito à higiene, certamente), o que favorece
a contaminação por germes intestinais/
fecais.

57
Q

São fatores de risco para a sepse neonatal
precoce, EXCETO:
a) Colonização genital pelo Streptococo beta
-hemolítico do grupo B.
b) Ruptura prolongada de membranas (maior
que 10 horas).
c) Parto prematuro.
d) Asfixia perinatal.

A

Ruptura prolongada de membranas (maior
que 10 horas)

Havia um detalhezinho que enganou alguns
candidatos na época do concurso. Um
tempo de bolsa acima de 18 horas será considerado
fator de risco, não maior do que 10!