P2 Pediatria Flashcards
O que é a febre reumática?
✓ Doença inflamatória sistêmica deflagrada pelo estreptococo beta hemolítico do grupo A em pessoas geneticamente predispostas
✓ Após 2-3 semanas de faringite causada pelo estreptococo há um envolvimento do tecido conectivo de órgãos e sistemas com predileção para articulações, coração e sistema nervoso central
✓ A infecção pelo SBGA na pele (impetigo) não é causadora de febre reumática
Qual a faixa etária de acometimento da febre reumática?
5-14 anos
A profilaxia secundária está recomendada para todos os pacientes que apresentaram o primeiro surto. Tem a finalidade de prevenir novos episódios. V ou F?
V
Como é o diagnóstico da febre reumática?
- Não existe característica clínica ou laboratorial que confirme febre reumática
- Padrão aceito mundialmente: critérios de Jones (1992) associação de manifestações clínicas e laboratoriais que sugerem o diagnóstico
1º episódio
- 2 critérios maiores ou 1 maior + 2 menores + evidência de infecção estreptocócica
Recorrência
- Mesmos anteriores ou 3 sinais menores + evidência de infecção estreptocócica
Coreia
- Pode ser a única manifestação de FR desde que afastadas diagnósticos alternativos
Quais são os critérios maiores de Jones?
Populações baixo risco → Cardite → Poliartrite → Coreia → Nódulos subcutâneos → Eritema marginado
Populações de risco moderado a alto → Cardite → Mono/poliartrite ou poliartralgia → Coreia → Nódulos subcutâneos → Eritema marginado
Quais são os critérios menores de Jones?
Populações de baixo risco: → Febre → Poliartralgia → VHS > = 60 mm e/ou PCR >= 3,0 → Aumento do intervalo P-R no ECG
Populações risco moderado a alto
→ Febre
→ Monoartralgia
→ VHS >= 30 mm e/ou PCR >= 3,0
Evidências de infecção estreptocócica recente:
→ Cultura positiva de orofaringe para SBGA
→ Títulos elevados de ASLO ou outro anticorpo estreptocócico, teste rápido para antígenos do estreptococo, escarlatina recente
***Critérios menores:
→ A artralgia não deve ser considerada como critério menor se a artrite for um sinal maior
→ Aumento de reagentes de fase aguda (VHS, PCR): o aumento de 1 ou dois juntos constitui um critério menor
→ Aumento do intervalo P-R no ECG (BAV 1º grau): não considerar quando a cardite for um sinal maior
Quais são as manifestações clínicas da febre reumática?
Cardite: 40-80% dos pacientes
→ Pancardite envolvendo pericárdio, miocárdio e endocárdio (90% dos casos)
→ Única manifestação que resulta lesão crônica
→ Considerada subclínica quando a lesão valvar é diagnosticada através do ecocardiograma – ainda assim, constitui sinal maior
→ Manifestações comuns: insuficiência valvar mitral (pode acometer mitral e aórtica) na fase aguda. Fase crônica: estenose (pode haver combinação de insuficiência e estenose)
→ Outras: pericardite, derrame pericárdico e arritmias (BAV 1º grau geralmente)
→ Varia de leve a muito grave (ICC intratável) quando intervenção cirúrgica pode ser necessária
Poliartrite ou Monoartrite
→ Extremamente dolorosa
→ Articulações eritematosas, quentes e tumefactas
→ Pode atingir várias das grandes articulações (rara em dedos das mãos ou pés e coluna vertebral)
→Caráter migratório (acomete 1 articulação por 1-2 dias e em seguida acomete outra articulação)
→ Não necessariamente simétrica
→ Não cronifica. Melhora rapidamente com terapêutica anti-inflamatória ou espontaneamente em 1 semana
Coreia
→ Desordem neurológica caracterizada por movimentos involuntários, arrítmicos, abruptos de grupos musculares estriados esqueléticos.
→ Os movimentos podem iniciar de forma sutil como deterioração da caligrafia, tropeços à deambulação, fala arrastada ou ¨enrolada¨, deixar cair objetos
→ Ocorre após os outros sintomas (1-8 meses após faringite)
→ Mais comum no sexo feminino
→ Comum labilidade emocional
→ Diagnóstico diferencial deve ser feito com lúpus eritematoso sistêmico nos casos de difícil controle terapêutico
Eritema Marginatum: raro
→ Exantema macular inespecífico em tronco empalidecimento no meio e fusão de bordas (aspecto serpenginoso)
→ Não pruriginoso. Poupa a face
→ Pode ser exacerbado com banho de água quente
→ É incomum, porém bastante característico de febre reumática
Nódulos Subcutâneos: raro
→ Infrequentes
→ Mais comuns em pacientes com cardite intensa
→ Nódulos firmes e indolores em faces extensoras das articulações de joelho, cotovelo e coluna vertebral (não há inflamação)
Como são os achados laboratoriais na febre reumática?
Comprovação de evidência de infecção pelo Estreptococcus ß hemolítico do grupo A
- Cultura de orofaringe positiva: padrão ouro
- Testes de detecção rápida de antígenos: sensibilidade reduzida (pode ser falso negativo) e alta especificidade (se + fornece evidência de infecção estreptocócica)
- Aumento do nível de anticorpos antiestreptocócicos: antiestreptolisina: ASLO nível máximo 3-6 semanas (>320 U Todd) ou antidesoxirribunuclease B (mantém níveis elevados por tempo maior – pode ser útil para diagnóstico de coreia)
Qual o diagnóstico diferencial da febre reumática?
Outras doenças reumáticas
Endocardite infecciosa (principalmente valvulopatia)
Artrite séptica
Artrite reacional
Quais as principais complicações da febre reumática?
Cardiopatia valvar reumática: mitral mais acometida
Aórtica e tricúspide podem ser afetadas
As demais manifestações não resultam em lesão crônica
Como é o tratamento da febre reumática?
Tratamento da infecção estreptocócica
- Anti-inflamatórios : controle das manifestações clínicas
- Tratamento de apoio: insuficiência cardíaca
• Pen G Benzatina IM : 600.000U < 20 Kg
1.200.000U > 20 Kg
- Amoxicilina, penicilina V oral ou Ampicilina por 10 dias
- Alérgicos a penicilina: Eritromicina 40mg/kg/dia de 6/6 horas por 10 dias ou Azitromicina 20mg/kg/dia 1 x/dia por 3 dias
Artrite: Anti-inflamatórios não hormonais por 7-10 dias. Não devem ser iniciados se diagnóstico ainda não está esclarecido. Interrompem o processo migratório AAS: 80-100mg/kg/dia Naproxeno 10-20mg/kg/dia Ibuprofeno: 30-40mg/kg/dia Cetoprofeno: 1,5mg/kg/dia
Cardite
Prednisona: 1-2 mg/kg/dia VO (máximo: 60mg/dia) em 2 ou 3 tomadas diárias por 15 dias. Reduzir 20-25% da dose por semana
Em casos de cardite e artrite não há necessidade de iniciar anti-inflamatórios não hormonais
Coreia
Haloperidol VO 1mg/dia 2x/dia. Aumentar 0,5 mg a cada 3 dias até boa resposta (redução de 75% dos movimentos) ou no máximo 5 mg/kg. Duração do tratamento: 3 meses. Doses próximas a máxima podem causar impregnação ou síndrome extra-piramidal
Alternativa: ácido valproico 30 mg/kg/dia
Como é a profilaxia primária da febre reumática?
Antibioticoterapia até 1 semana após início da infecção reduz risco de forma significativa
Preferencialmente deve ser feito com penicilina benzatina 600.000-1.200.000U
Se for prescrito antibioticoterapia por via oral, o tratamento deve ser mantido por 10 dias
Como é a profilaxia secundária da febre reumática?
Previne colonização ou infecção do trato respiratório superior pelo Estreptococcus
• Pen G Benzatina IM 1.200.000 U cada 21 dias
Pacientes alérgicos a penicilina:
•Sulfadiazina 500 (até 30 kg) e 1000mg em > 30 kg diariamente ou
• Eritromicina: 250 mg 2x/dia
Pacientes sem cardite: até 21 anos de idade ou até 5 anos após o último episódio em caso de recidivas (a opção que durar mais)
Pacientes com cardite leve (remissão completa ou insuficiência mitral leve) até 25 anos de idade ou até 10 anos após o último episódio em caso de recidivas (o que durar mais)
Pacientes com cardite grave ou pós cirurgia cardíaca: até 40 anos ou por toda vida
Quais são os tipos de reações adversas a alimentos?
Tóxicas: ocorrem em qualquer indivíduo devido a ingestão de alimento contaminado
Não tóxicas: dependem da sensibilidade individual e podem ser:
- Alergia ou hipersensibilidade: há envolvimento do sistema imunológico
- Intolerância alimentar (não imunológicas): intolerância à lactose, reação a cafeína, tiramina de queijos maturados, dentre outras
Quais as características da intolerância a lactose (reação não imunológica)?
- Há redução na lactase – primária (rara) ou secundária (processos infecciosos intestinais, desnutrição). A secundária geralmente resolve em poucos dias.
- Paciente não hidrolisa lactose com consequente fermentação e formação de fezes ácidas → diarreia e dermatite perineal
- É dependente da quantidade de lactose ingerida – paciente pode tolerar bem produtos derivados do leite
Quais são as características da reação alérgica a alimentos?
- Na infância os alimentos mais relacionados são leite de vaca, ovo, trigo e soja. Em geral, são transitórias. Menos de 10% persistem na vida adulta
- Entre os adultos os alimentos mais identificados são amendoim, castanhas, peixes e frutos do mar.
Leite de vaca:
• Mais comum por ser o primeiro alimento a ser introduzido na dieta das crianças.
• 60% das crianças manifestam sintomas após a primeira mamada. Apenas 2% apresentam sintomas após 2 semanas.
Quais são as classificação das reações alérgicas segundo o mecanismo imunológico?
- Mediadas por IgE: as manifestações surgem logo após a exposição a alérgeno que o organismo previamente se tornou sensibilizado: reações cutâneas (urticária, angioedema), gastrintestinais (edema e prurido de lábios, língua ou palato, vômitos ou diarreia), respiratórios (broncoespasmo, coriza) e reações sistêmicas (anafilaxia, choque anafilático)
- Reações não mediadas por IgE: não são de apresentação imediata e são mediadas geralmente por células. Manifestações mais comuns são proctite, enteropatia induzida por proteína alimentar e enterocolite induzida por proteína alimentar.
- Reações mistas: mediadas por IgE e hipersensibilidade celular. As manifestações mais comuns são a esofagite eosinofílica, gastrite eosinofílica, dermatite atópica e asma
Quais são os exames complementares das reações alérgicas aos alimentos?
Teste in vivo: indicado em reações mediadas por IgE. O resultado positivo indica sensibilização e não doença alérgica. Tem valor preditivo negativo: 95%
Teste in vitro: Mede níveis de IgE específicos no soro. Mais caro que teste cutâneo. Indicada quando houve anafilaxia grave.
Como é o diagnóstico das reações alérgicas aos alimentos?
Padrão ouro: teste de provocação oral: dieta de exclusão do alimento e reintrodução com antígeno liofilizado em doses crescentes (ambiente hospitalar)
Na impossibilidade de fazer provocação oral: exclusão do alimento leva a regressão dos sintomas e a reintrodução leva ao retorno dos sintomas (confirma diagnóstico)
Reinício dos sintomas: 7-14 dias nas reações mediadas por IgE e até 12 semanas em outros casos
Como é o tratamento das reações alérgicas aos alimentos?
Eliminação do antígeno e seus derivados da dieta → remissão dos sintomas até 3 semanas
Aleitamento materno exclusivo: em famílias com atopia, a mãe deve fazer dieta com restrição de proteínas mais alergênicas
Uso de fórmulas infantis especiais
A dessensibilização pode estar indicada na alergia a determinados alimentos
Quais são as fórmulas infantis especiais indicadas na alergia ao leite de vaca?
Fórmula hipoalergênica e não alergênica
- Crianças com alergia ao leite de vaca mediadas por IgE constituem a minoria dos casos de alergia. Os casos não mediados pela IgE (enterocolite e enteropatia) geralmente são sensíveis também a proteína da soja.
- As fórmulas hipoalergênicas contêm proteínas extensamente hidrolisadas e as não alergênicas são constituídas de aminoácidos
Como é a evolução das reações alérgicas aos alimentos?
1/3 resolve após 1-2 anos de suspensão do alimento
A gravidade não se relaciona com perda da reatividade
O não cumprimento da dieta e o tipo de alérgeno influenciam na melhora: exposições frequentes levam a retardo na melhora e alérgenos como amendoim, peixe e frutos do mar geralmente não melhoram
Quais as características das reações alérgicas a insetos?
São possíveis 3 formas de manifestação de alergia aos insetos:
- Sintomas respiratórios por inalação de substância particulada: manifesta como rinite, asma
- Reações cutâneas à picada dos insetos (estrófulo): lesões papulosas, vesiculosas e eritematosas.
- Reações anafiláticas aos insetos com ferrão devido à inoculação de veneno com substâncias vasoativas – abelhas, marimbondo e, raramente, formiga
É possível haver reação tóxica não imunológica: febre, mal-estar, náusea e vômito referente a quantidade de veneno inoculado
Como é o diagnóstico das reações alérgicas a insetos?
A história é importante para orientar a realização de testes diagnósticos
Testes cutâneos estão indicados para crianças com reação sistêmica grave que poderiam se beneficiar de tratamento de dessensibilização
Como é o tratamento das reações alérgicas a insetos?
Reações cutâneas leves: anti-histamínico sistêmico ou medicamentos tópicos para aliviar desconforto local e evitar contato com inseto
Reação anafilática: tratamento igual para outros alérgenos
Imunoterapia específica
Quais as características das reações adversas aos medicamentos na pediatria?
- Menos comum na criança que no adulto
- Pode ocorrer em 5-15% dos pacientes
- Em pediatria, os antibióticos beta lactâmicos são o grupo farmacológico relatado com mais frequência. O segundo grupo com maior incidência é o de anti-inflamatórios não esteroidais.
- Dos pacientes que referem “alergia à penicilina”, esta situação só se confirma em 1-10% dos pacientes.
Quais os tipos de reações adversas aos medicamentos na pediatria?
Tipo A – Previsível- geralmente dose-dependentes, relacionadas à ação farmacológica do fármaco e ocorrem em indivíduos saudáveis (toxicidade, efeitos colaterais, efeitos secundários e interações medicamentosas)
Tipo B - Imprevisível . Podem ser mediadas por mecanismos imunológicos (alérgicas) com ou sem envolvimento de IgE, idiossincráticas (alterações inesperadas no metabolismo, excreção ou biodisponibilidade) ou intolerância ao medicamento
Quais os fatores de risco das reações adversas aos medicamentos na pediatria?
Um genitor com alergia a antimicrobiano: maior probabilidade
Atópicos: risco não é maior porém reações são mais graves
Alergia a um antibiótico → maior risco com outra substância
Via parenteral é mais alergênica que VO