Hipersensibilidade do tipo II, III e IV Flashcards
As hipersensibilidades do tipo II e III são similares quando pensamos nos anticorpos envolvidos em cada uma, sendo caracterizadas como doenças causadas por anticorpos. O que isso significa?
- São doenças cujas lesões são causadas por anticorpos.
- Elas podem ocorrer pela transferência passiva de IgG purificado do sangue ou tecido afetado, de um animal normal, para um outro animal.
Exemplo disso é a transferência transplacentária de IgG para o feto, fazendo o bebê ter uma doença transitória, já que a presença da imunoglobulina da mãe no feto só ocorre durante a gestação.
- O diagnóstico dessas doenças geralmente é feito pela detecção de anticorpos ou incomplexos na circulação ou depositados nas lesões, além das características clinicopatológicas associadas.
Obs: Muitas vezes, uma doença pode manifestar-se tanto por hipersensibilidade do tipo II quanto do tipo III, mas uma acaba sobrepondo a outra, caracterizado a doença por apenas um dos dois tipos.
Defina a hipersensibilidade do tipo II
- Mediada por anticorpos IgM e IgG contra antígenos de superfície celular ou da MEC.
- É órgão-específica, ou seja, frequentemente não é sistêmica, pois esses Ac são específicos para células ou tecidos onde estão presentes e não circulam pelo corpo.
- Geralmente, relacionada a autoanticorpos, ou seja, a doenças autoimunes.
- Porém, também é possível que esteja presente em reações contra microrganismos pela reação cruzada com autoantígenos.
Ex: Febre reumática, em que a infecção contra a bactéria Streptococcus gera anticorpos, mas estes acabam reconhecendo autoantígenos, provocando a febre reumática.
De forma geral, como é formada a lesão na hipersensibilidade do tipo II?
Ocorre depósito tecidual dos anticorpos, que reconhecem antígenos na MEC. Assim, há recrutamento e ativação de células inflamatórias (neutrófilos e macrófagos) mediados pelo receptor Fc pelo SC (sistema complemento).
Como resultado, são liberadas enzimas lisossomais e espécies reativas de oxigênio, provocando lesão tecidual.
Quais os 3 principais mecanismos efetores da hipersensibilidade do tipo II? Cite exemplos de doenças que tenham esses mecanismos como base.
São os mecanismos que já conhecemos, relacionados à ativação de anticorpos com seu antígeno específico:
Opsonização: os Ac opsonizam células ou ativam o complemento, que também opsoniza, promovendo a posterior fagocitose pelas células fagocitárias.
Exemplos:
- Anemia hemolítica autoimune
- Trombocitopenia autoimune (púrpura trombocitopênica idiopática)
- Hemólise nas reações transfusionais
Inflamação: os Ac depositados nos tecidos ativam o complemento, que promovem inflamação, assim como neutrófilos e macrófagos, que também são recrutados. Os produtos liberados pelos leucócitos (ROS, NOS) produzem a lesão.
Ex: Glomerulonefrite mediada por anticorpos
Funções celulares anormais: os Ac ligam-se a células e interferem em seus receptores ou proteínas, causando a doença sem provocar inflamação ou dano tecidual.
Exemplos:
- Doença de Graves (Ac se ligam ao receptor THS)
- Miastenia Gravis (Ac se ligam ao receptor nicotínico de acetilcolina)
- Eritoblastose fetal (Ac anti Rh)
Defina a hipersensibilidade do tipo III
- Medida por imunocomplexos (Ac + Ag) circulantes.
- As lesões ocorrem no local em que o imunocomplexo é depositado.
- Todas as respostas imunes envolvendo anticorpos levam à formação de imunocomplexos. Porém, isso só gera doenças quando são formados imunocomplexos em excesso ou quando eles não são eficientemente removidos do organismo pelos fagócitos, levando à sua deposição em vasos e tecidos.
- Como os imunocomplexos estão na circulação, eles causam doenças sistêmicas, podendo acometer diferentes órgãos e tecidos.
- Manifestações clínicas mais comuns: vasculite, nefrite e artrite.
Obs: Os imunocomplexos podem ser formados tanto por autoantígenos quanto por antígenos estranhos.
Principais doenças:
- LES
- Poliartrite nodosa
- Glomerulonefrite pós-estreptocócica
- Doença do soro
Quais os mecanismos efetores principais da hipersensibilidade do tipo III?
- Imunocomplexos são produzidos em excesso e/ou não conseguem ser eficientemente removidos do organismo pelos leucócitos.
- Os pequenos imunocomplexos se depositam nos vasos, sendo os locais mais comuns: capilares de glomérulos renais; capilares da sinóvia, onde o plasma é ultrafiltrado. Entretanto, eles podem ser depositados em vasos de qualquer parte do corpo.
- A deposição leva à ativação de leucócitos, que secretam citocinas e mediadores vasoativos (inflamação), e do SC, que também gera inflamação.
- O aumento da permeabilidade vascular, fruto da reação inflamatória, acaba ampliando ainda mais a deposição de imunocomplexos.
Um clássico exemplo de hipersensibilidade do tipo III é a doença do soro, observada primeiramente em 1990, mas que ainda é um problema atualmente.
O que é essa doença?
É uma reação exacerbada do organismo de indivíduos que receberam soro de cavalos imunizados contra um certo antígeno (raiva, veneno de cobra, etc).
Esses indivíduos ficam sensibilizados contra proteínas séricas do soro do cavalo, desenvolvendo sintomas como febre, artrite e erupções cutâneas.
Explique os mecanismos imunológicos envolvidos na patogenia da doença do soro.
A inoculação de grande dose do antígeno proteico contido no soro leva à formação de Ac contra o Ag e, em seguida, de imunocomplexos.
Os imunocomplexos maiores são fagocitados por macrófagos no baço e no fígado. Porém, os menores podem acabar se depositando em certos tecidos e nos leitos vasculares, provocando lesões (vasculite, nefrite e artrite, por exemplo).
Os sintomas são de curta duração, pois, com a eliminação do antígeno, não há mais imunocomplexos. Entretanto, a doença pode ser crônica se o indivíduo, agora sensibilizado, sofrer múltiplas injeções do antígeno e as reações agora serão mais imediatas.
Outro exemplo que hipersensibilidade do tipo III é a Reação de Arthus. Defina-a.
- Ocorre quando há injeção subcutânea de um antígeno em um indivíduo previamente imunizado a ele ou que tenha recebido anticorpos específicos para ele.
- Logo que o Ag entra na circulação, os Ac ligam-se rapidamente a ele, formando imunocomplexos que se depositam nas paredes de vasos no local da injeção, provocando uma vasculite cutânea local devido à ligação dos imunocomplexos a leucócitos, que provocam as lesões.
- A relevância clínica dessa reação é limitada: ela costuma ocorrer em indivíduos que receberam uma dose de reforço de vacina, já que, como o indivíduo já recebeu aquele antígeno antes, ele já tem anticorpos contra ele.
Descreva os mecanismos imunológicos envolvidos na patogenia do LES (Lúpus Eritematoso Sistêmico), um exemplo clínico de hipersensibilidade do tipo III.
O LES é uma doença genética autoimune em que o organismo possui LB e LT específicos para autoantígenos nucleares. Eles são ativados por gatilhos externos (ex: radiação UV), que desencadeiam apoptose de algumas células.
A remoção deficiente do organismo de eliminar os corpos apoptóticos aumentam a carga de antígenos nucleares no organismo. Isso ativa os linfócitos, que formam imunocomplexos, os quais se depositam em diferentes locais, causando os sintomas da doença.
- Os imunocomplexos são fagocitados pelos LB, que acabam sendo mais ativados pela ligação do complexo a receptores do tipo TOLL (TRL) endossomais, levando à formação de mais anticorpos.
- As DCs plamocitoides têm grande relação com o LES por também ajudarem na estimulação dos LB.
Defina a hipersensibilidade do tipo IV.
- Caracterizada por doenças causadas por LT (CD4 e CD8).
- Ocorre lesão tecidual pela produção de citocinas que induzem inflamação e/ou pela destruição direta das células-alvo.
- As reações inflamatórias são principalmente do tipo Th1 e Th17.
- Os LT podem ser autorreativos (doenças autoimunes) ou específicos para antígenos proteicos estranhos.
- Essa hipersensibilidade também pode ser resultado de fortes respostas imunes contra microrganismos resistentes à ação de fagócitos e anticorpos.
A lesão tecidual causada na hipersensibilidade do tipo IV ocorre pela produção de citocinas que induzem inflamação e/ou pela destruição direta das células-alvo.
Explique como ocorre a lesão pela liberação de citocinas.
- Outras células, como as ILCs, podem liberar citocinas, mas as principais são os linfócitos Th1 e Th17, que liberam:
+ IL-17 (recrutamento de neutrófilos)
+ IFN-y (ativação de macrófagos) - As lesões teciduais resultam de enzimas lisossomais e de ROS na inflamação.
- As doenças desse tipo costumam ser crônicas, pois costumam ser causadas por patógenos intracelulares (resistentes à erradicação) ou são autoimunes.
- Frequentemente, causam fibrose.
Exemplos de doenças de hipersensibilidade do tipo IV com esse mecanismo:
- Artrite reumatoide, esclerose múltipla e diabetes tipo I (LT autorreativos por autoantígenos).
- Mycrobacterium tuberculosis: inflamação granulomatosa e fibrose (LT específicos para microrganismos e outros antígenos estranhos).
- Hipersensibilidade de contato e neoantígenos, ou seja, produtos químicos ligados a proteínas próprias (exposição tópica a produtos químicos e Ah ambientais)
Explique o que a hipersensibilidade de contato, uma doença de LT.
- Causadas por citocinas produzidas por LT CD4 e CD8
- Reações crônicas são chamadas de eczemas ou dermatite atópica.
- Hera venenosa e carvalho venenoso: LT atuam contra proteínas próprias que foram modificadas por substâncias químicas
Outros exemplos:
- Metais (níquel e belírio)
- Tiourama (luvas de látex)
- Fármacos
Defina a hipersensibilidade do tipo tardio (DTH), outro exemplo de hipersensibilidade do tipo IV.
• É uma reação inflamatótia prejudicial mediada por citocinas resultantes da ativação de células T, particularmente LT CD4.
• Diferente da hipersensibilidade do tipo I, que é imediada, a DTH desenvolve-se tardiamente no indivíduo sensibilizado: cerca de 24 a 48 horas após o desafio com o Ag.
• A sensibilização pode ocorrer devido à infecção microbiana, produtos químicos ou por injeção intradérmica (ex: PPD).
PPD: um derivado proteico (tuberculina) purificado da Mycobacterium tuberculosis. A injeção intradérmica desse composto avalia a resposta do indíviduo à bactéria causadora da tuberculose.
Explique os mecanismos imunológicos envolvidos na hipersensibilidade do tipo tardio (DTH).
Um indivíduo infecta-se com tuberculose, por exemplo, e sobrevive. Agora, sensibilizado, seus linfócitos são expostos ao desafio de combater a doença pela injeção intradérmica de uma proteína da bactéria causadora (PPD).
• 4h após a injeção: neutrófilos se acumulam em torno das vênulas do local da injeção.
• 12h após: infiltrado inflamatório formado por LT e monócitos sanguíneos.
• 18 a 48h após: endurecimento causado por edema, deposição de fibrina, acúmulo de LT e monócitos no espaço extravascular.
Tipos de LT-CD4 envolvidos:
• Tradicionalemente, Th1, mas outras células podem contribuir com Th17.
• Para parasitas helmintos: Th2.