Teste 4 Flashcards
Descreva Bacteriúria Assintomática
Presença de bactérias no trato urinário na ausência de sintomas. Valorizável no caso de:
- crianças (ausência de tratamento pode levar a lesão renal crónica)
- mulheres grávidas (risco de progressão para pielonefrite e infeção fetal)
- doentes prestes a efetuar procedimentos invasivos envolvendo o sistema urinário (instrumentação pode levar a septicémia)
- transplante renal ou imunocomprometidos
Descreva a Cistite, os seus sintomas e os seus achados laboratoriais
UTI confinada à bexiga em que se observa disúria, polaquiúria e urgência ou tenesmo miccional. Laboratorialmente caracteriza-se pela leucocitúria ou piúria (células inflamatórias na urina); bacteriúria e hematúria macro ou microscópica.
Descreva a Pielonefrite
Inflamação do rim (mais invasiva que a cistite). Apresentam-se os sintomas de cistite, febre, dor lombar, mal estar geral, cefaleias e náuseas, podendo ainda estar associado a sintomas de bacteriémia.
Laboratorialmente verificamos os sinais de cistite e leucocitose + elevação dos parâmetros de fase aguda.
Quais os Agentes Etiológicos mais frequentes de UTIs da comunidade?
- Escherichia coli – cerca de 80%;
- Staphylococcus saprophyticus – 10%;
- Proteus mirabilis – 5%;
- Klebsiella spp.
- Outros Gram negativos (exs: Enterobacter spp., Serratia spp., Pseudomonas aeruginosa);
- Outros Gram positivos (exs: Enterococcus spp., S. aureus, S. epidermidis).
Quais os Agentes Etiológicos mais frequentes de UTIs nosocomiais?
- E. coli – 40%;
- Outros Gram negativos (exs: Enterobacter spp., Serratia spp., Pseudomonas aeruginosa) – 25%;
- Outros Gram positivos (exs: Enterococcus spp., S. aureus, S. epidermidis) – 16%;
- Proteus mirabilis;
- Klebsiella spp.;
- Candida spp.
[outros gram +/- aumentados nas nosocomiais porque são estes os mais suscetíveis de desenvolver resistências e à frequência de procedimentos invasivos do trato urinário (algaliação) e o mesmo se aplica à Candida spp]
Descreva a Patogénese das UTIs no doente não algaliado
As UTIs da comunidade surgem habitualmente por entrada e ascensão de microrganismos pela uretra até à bexiga (via ascendente) ou, ocasionalmente, até ao rim e provocar bacteriemia.
A vagina e uretra distal não costuma estar colonizada por bactérias entéricas Gram negativas que provocam a maioria das UTIs, mas em mulheres com predisposição para UTIs estas (que habitualmente residem no trato GI) podem colonizar a vagina, uretra distal e pele peri-uretral.
Descreva a Patogénese das UTIs no doente não algaliado
As UTIs da comunidade surgem habitualmente por entrada e ascensão de microrganismos pela uretra até à bexiga (via ascendente) ou, ocasionalmente, até ao rim e provocar bacteriemia.
A vagina e uretra distal não costuma estar colonizada por bactérias entéricas Gram negativas que provocam a maioria das UTIs, mas em mulheres com predisposição para UTIs estas (que habitualmente residem no trato GI) podem colonizar a vagina, uretra distal e pele peri-uretral - possivelmente por alteração da flora vaginal graças a terapêuticas antibióticas, infeções ou contracetivos. Mesmo um pequeno número de bactérias para ser suficiente para esta ascensão, que é facilitada pelas relações sexuais.
Tipicamente as bactérias que atingem a bexiga são rapidamente eliminadas pelos efeitos de limpeza e diluição da urina, propriedades anti-bacterianas da urina e da mucosa vesical e pela ação dos leucócitos que invadem o epitélio da bexiga logo após a infeção (+ secreções prostáticas)
Pode ainda ocorrer pela via descendente, hematogénica, que chega ao rim. Mais frequente no caso de estafilococos ou Candida spp ou, menos frequente, na tuberculose renal. Muito associadas a indivíduos debilitados por doenças crónicas ou terapêuticas imunossupressoras.
Descreva a Patogénese das UTIs no doente algaliado
Risco de 3-5% por cada dia de algaliação, prevalência muito maior de bactérias resistentes a anti-microbianos. Maior risco em mulheres, indivíduos com doenças graves e alterações do sistema de algaliação. Pode ocorrer pela via intraluminal (migração através do lúmen da algália), pelas mãos dos prestadores de cuidados de saúde, soluções ou instrumentos contaminados; ou peri-uretral (algália e parede uretral), mais frequente nas mulheres, os microrganismos da flora indígena colonizam a superfície externa da algália na zona de contacto com a pele peri-uretral.
Que condições predispõem à ocorrência de UTIs?
Da parte do hospedeiro:
- Algaliação
- Sexo feminino
- Relações sexuais
- Condições que impedem o esvaziamento completo da bexiga (gravidez, hipertrofia prostática, tumores, estenoses, cálculos)
- Refluxo vesico-uretral
- Disfunção vesical neurogénica
Fatores do microrganismo:
- Capacidade de adesão ao urotélio
- Antigénios capsulares
- Hemolisinas
- Urease
Quais os métodos possíveis do colheita de urina?
Existem 5 métodos de colheita de urina para exame microbiológico:
- Técnica do jato médio
- Punção de algália
- Punção supra-púbica
- Saco coletor
- Punção de cateter de nefrostomia / ureterostomia
Descreva a Técnica do Jato Médio
Preferir a primeira urina da manhã.
- Lavar as mãos e genitais externos com água e sabão;
- Enxaguar a região peri-uretral muito bem com água ou soro fisiológico, de preferência esterilizados;
- Afastar os grandes lábios / prepúcio com uma das mãos;
- Desperdiçar o primeiro terço do jato urinário;
- Recolher o jato médio para um recipiente esterilizado;
- Desperdiçar a restante quantidade de urina;
- Ter cuidado para não tocar com a abertura do recipiente nos genitais externos, coxas e roupa.
Descreva a Punção da Algália
- Clampar a algália durante 10-15 minutos;
- Desinfectar a área a puncionar (borracha do tubo colector) com solução alcoólica;
- Aspirar com seringa esterilizada 5 a 20 mL;
- Enviar a própria seringa ou colocar o seu conteúdo num recipiente esterilizado.
Descreva a Punção Supra-Púbica
- Assegurar que o doente tem a bexiga repleta de urina;
- Desinfectar a pele da região supra-púbica com solução alcoólica;
- Com agulha e seringa esterilizadas puncionar a pele e bexiga ao nível do terço inferior da linha imaginária vertical que une o umbigo à sínfise púbica;
- Aspirar a urina;
- Colocar em recipiente esterilizado ou enviar a própria seringa;
Descreva a Técnica de Colheita de Urina pelo Saco Coletor
Técnica utilizada em crianças sem controlo dos esfíncteres.
- Lavar com água e sabão a área genital, limpar com água esterilizada e secar com compressa esterilizada;
- Aplicar um saco autocolante estéril;
- Após a criança urinar transferir a urina para recipiente esterilizado.
Se 30 minutos após a colocação do saco a criança ainda não tiver urinado deve-se retirar o mesmo e colocar um novo após repetir os passos de lavagem, limpeza e secagem.
Descreva a Colheita de Urina por Punção de cateter de nefrostomia / uretrostomia
Técnica utilizada em doentes com cateter de nefrostomia ou uretrostomia colocado
- Desinfetar o cateter com solução alcoólica
- Puncionar e aspirar com agulha e seringa esterilizada
- Colocar em recipiente esterilizado ou enviar a própria seringa
Descreva o Acondicionamento e Transporte das Colheitas de Urina
A amostra deve ser processada no máximo 1 hora após a colheita, caso tal não seja possível a amostra deve ser mantida a 4ºC e processada até 24h após a colheita
Na suspeita de pielonefrite deve-se colher sangue para hemocultura. Caso a colheita de urina não tenha sido feita pela técnica do jato médio, o método de colheita deve ser identificado.
Descreva o Exame Direto de urina
Pode ser realizado a partir da amostra total ou de sedimento urinário.
Testes Rápidos a Partir da Urina Total
-Deteção enzimática com “tiras teste” que detetam nitritos (compostos que resultam da redução dos nitratos pela ação da enzima nitrato redutase presente na maioria dos bacilos Gram negativos) e leucócitos (a partir da reação da enzima esterase leucocitária).
Exame Microscópico a Fresco do Sedimento Urinário:
- Permite fazer o diagnóstico imediato de algumas situações (ex: Schistossoma haematobium);
- Utilizado principalmente para avaliar a qualidade das amostras (através da observação e quantificação de células epiteliais, leucócitos, eritrócitos, bactérias, fungos, etc).
Exame Microscópico após Coloração Gram do sedimento urinário:
-Deteta bacilos e cocos e classifica-os em Gram positivos ou negativos; deteta ainda leveduras.
Exame Microscópico após coloração de Ziehl-Neelsen do Sedimento Urinário
-Apenas na suspeita clínica de infeção por micobactérias
Descreva o Exame Cultural de urina
O exame cultural é sempre efetuado a partir da amostra de urina total.
Os meios de cultura habitualmente utilizados são a Gelose de sangue e o meio de MacConkey, sendo as amostras incubadas em aerobiose durante 18 a 24 horas. Pode também utilizar-se o meio de Sabouraud para crescimento de leveduras.
Em caso de suspeita de tuberculose renal efetua-se ainda a cultura em meio de Löwenstein-Jensen ou outro meio adequado para o crescimento de micobactérias.
Em relação às amostras de urina é fundamental a avaliação quantitativa do exame cultural. Assim:
- < 10^3 colónias/mL - habitualmente não valorizável, visto tratar-se, provavelmente, de um caso de contaminação por flora comensal vaginal ou uretral; valorizável em determinadas circunstâncias de colheita (punção supra-púbica ou por nefrostomia) ou de infeção (ex: tuberculose renal);
- entre 10^3 e 10^5 colónias/mL - avaliação clínica fundamental, devendo-se considerar eventual repetição para confirmação
- > /= 10^5 colónias/mL - sempre valorizável se há crescimento de um só tipo de colónias, no caso de haver crescimento de mais do que um tipo poderá tratar-se de contaminação (algaliado) ou infeção polimicrobiana.
Ansas de um microlitro, crescimento de 10^3 = 1 colónia por placa; 10^5 = 100 colónias por placa.
Descreva o Tratamento da Bacteriúria Assintomática
O tratamento deve ser efectuado apenas nas circunstâncias definidas como valorizáveis. Nestes casos a terapêutica é feita como se se tratasse de uma cistite.
Descreva o Tratamento da Cistite
Cistites adquiridas na comunidade não complicadas resolvem espontamente em 4 semanas em 40% dos casos. Um conselho habitualmente útil para estes doentes é a ingestão de grandes quantidades de líquidos que aumentam o processo normal de limpeza das vias urinárias. A associação de terapêutica anti-microbiana justifica-se por diminuir a sintomatologia associada a estas infeções, reduzir o tempo de cura e assegurar a erradicação do agente causador.
Atualmente existem esquemas terapêuticos de curta duração (apenas uma dose, ou doses durante cerca de 3 dias) mas o período de administração mais utilizado continua a ser de 7 dias. Na escolha empírica de um antibiótico existem várias opções potencialmente válidas mas habitualmente utiliza-se co-trimoxazol, uma quinolona (como ciprofloxacina) ou nitrofurantoína. Nas grávidas pode utilizar-se amoxicilina com ou sem ácido clavulânico, uma cefalosporina de 1a ou 2a geração, nitrofurantoína ou co-trimoxazol.
Esta opção deve ter em conta os dados epidemiológicos disponíveis, nomeadamente:
-infeção da comunidade ou nosocomial;
-agentes microbianos mais frequentemente isolados;
-suscetibilidade desses agentes aos antimicrobianos, etc.
O tratamento deverá ser confirmado ou corrigido após o isolamento do agente etiológico e da execução do antibiograma respetivo. Nesta situação dever-se-á escolher o antimicrobiano de espectro mais restrito, menor toxicidade e custo mais reduzido.
A correção dos fatores predisponentes do hospedeiro (ex: algália) pode facilitar e acelerar o processo de cura da infeção.