Teste 3 Flashcards
Como se classificam as inflamações do SNC?
De acordo com a localização:
- Encefalite (parênquima cerebral)
- Meningite (meninges)
- Mielite (medula espinhal)
Descreva de um modo geral as encefalites
Exclusivamente provocadas por vírus, podendo ser agudas ou crónicas. Como agentes de encefalite aguda encontramos:
-Arbovírus
-Vírus herpes simplex
-Vírus varicela zoster
-Enterovírus
Como agentes mais frequentes das encefalites crónicas temos:
-JC (leucoencefalopatia multifocal pregressiva)
-vírus do sarampo (pan-encefalite esclerosante sub-aguda)
-vírus da rubéola (rubéola pan-encefalítica progressiva em doentes com rubéola congénita)
Descreva, de um modo geral as mielites
Habitualmente surgem em simultâneo com os outros quadros clínicos
Para além das Encefalites, Meningites e Mielites, que outros tipos de infeções podem ocorrer?
Surgem associadas ou como consequência de infeções em locais anatómicos próximos ou após traumatismos/ procedimentos invasivos na base craniana. Têm como agentes etiológicos mais frequentes Streptococcus spp., Pseudomonas spp., S. aureus e Enterobacteriáceas
Abcessos Cerebrais - infeções localizadas do parênquima cerebral, provocado por bactérias, fungos ou parasitas e limitadas por uma cápsula vascularizada (quando não há cápsula designa-se cerebrite)
Abcesso epi-dural - entre a duramater e a tábua interna da caixa craniana
Empiema sub-dural - coleção de pus no espaço entre a duramater e a aracnóide
Como se podem classificar as Meningites?
De acordo com os critérios temporais:
- Agudas: estabelecimento <1 semana e duração total <4 semanas
- Sub-agudas: estabelecimento >1 semana e quadro <4 semanas
- Crónicas: duração do quadro >4 semanas
O que distingue as meningites sub-agudas e crónicas?
São muito semelhantes em termons clínicos mas apresentam etiologia diferente
Indique os Principais agentes Etiológicos das Meningites Sub-agudas
- Mycobacterium tuberculosis;
- Cryptococcus neoformans;
- Histoplasma capsulatum;
- Coccidioides immitis;
- Treponema pallidum.
Indique os Principais agentes Etiológicos das Meningites Crónicas
Os das Sub-agudas +:
- Borrelia burgdorferi;
- Candida spp.;
- Aspergillus spp.;
- Toxoplasma gondii;
- Trypanossoma brucei;
- Taenia solium (na forma quística provocando Cisticercose);
- Vírus da papeira;
- Vírus da coriomeningite linfocítica (LCMV);
- Echovírus;
- Vírus da imunodeficiência humana (HIV);
- Vírus herpes simplex (HSV) tipos 1 e 2.
Como se podem classificar as Meningites Agudas?
De acordo com a etiologia: viral - tipicamente associada a encefalite, frequentemente provocado por enterovírus, arbovírus HIV e HSV-1 e -2;
Bacteriana:
-Streptococcus pneumoniae ou pneumococos (50%);
-Neisseria meningitidis ou meningococos (25%);
-Streptococcus agalactiae ou Streptococcus β-hemolítico do grupo B (15%);
-Listeria monocytogenes (10%);
-Haemophilus influenzae tipo b (< 10%).
[Menos frequentemente Escherichia coli K1, Staphylococcus spp., Pseudomonas aeruginosa, Enterobacteriaceae]
Descreva a Epidemiologia das Meningites Agudas Bacterianas
Nos adultos cerca de 50% são da responsabilidade se S. pneumoniae, já a meningite meningocócica é mais frequente nas crianças e adolescentes. Ao nível neonatal é mais frequente observarmos os Streptococcus do grupo B (rastreio feito a grávidas por poder estar na flora vaginal e, em caso de resultado positivo deve-se realizar antibioterapia profilática intra-parto com ampicilina IV) e E. coli K1.
Recentemente foram ainda descritos casos de meningite por S. agalactiae em indivíduos >50anos com outras doenças crónicas.
L. monocytogenes é importante ao nível dos recém-nascidos (1º mês) e indivíduos>60 anos, ou imunocomprometidos.
Hoje em dia H. influenza tipo b é um agente desprezível graças à introdução da vacina (EUA - 1987; Portugal foi mais tarde com uma vacina conjugada mas os efeitos já são observáveis)
Dos agentes menos importantes podemos ainda distinguir Staphylococcus spp., em doentes submetidos a intervenções neurocirúrgicas e quimioterapia intra-tecal, bem como Gram-: Enterobactericeae e Pseudomonas aeruginosa em indivíduos com doenças crónicas
Sistematize os Agentes Responsáveis por Meningite Aguda Bacteriana de acordo com as suas prevalências em relação à idade
- Recém-nascidos – S. agalactiae, L. monocytogenes, E. coli K1;
- Crianças < 3 anos – vírus, L. monocytogenes, H. influenzae, N. meningitidis;
- 3-20 anos – N. meningitidis, S. pneumoniae, vírus;
- Adultos – S. pneumoniae, N. meningitidis;
- Idosos – S. pneumoniae, L. monocytogenes, N. meningitidis.
Quais as Vias de Infeção para uma Infeção do SNC?
Via Hematogénea - mais frequente, protegida pela BBB e a barreira sangue-LCR sendo que os microrganismos a podem atravessar infetando as células que as constituem, por mecanismos de transporte passivo em vacúolos intra-celulares e por leucócitos infetados
Via Nervoso - menos frequente, utilizada por alguns vírus para infetar os nervos periféricos e por mecanismos normais de transporte axonal retrógrado para atingir a medula espinhal ou o encéfalo
- Por proximidade/contiguidade: foco infecioso próximo do SNC, por extensão direta da infeção ao SNC ou por via indireta - veias ou vasos linfáticos
-Por alterações anatómicas - traumatismos crânio-encefálicos, neurocirurgia ou malformações congénitas
Descreva a Patogénese da MBA
Os agentes mais frequentes inicialmente colonizam a oro e nasofaringe por adesão às células epiteliais do trato respiratório superior onde se reproduzem e só depois chegam à corrente sanguínea onde devem evitar a resposta imunitária - cápsula polissacarídica (impede a fagocitose e elimina a resposta do complemento). Ao atingir o plexo coroideu estas podem invadir o LCR pela infeção das células epiteliais destes plexos ou, menos frequentemente, aderindo às células endoteliais e migrando entre estas (pneumococos).
Apresentam fácil replicação no LCR graças à pouca quantidade de leucócitos, imunoglobulinas e proteínas do complemento.
Descreva a Reação Inflamatória e Imunitária produzida pelas bactérias invasoras na MBA
Inicia-se com a lise bacteriana e libertação de compostos da parede celular no ESA (LOS de N. meningitidis e ácido teicóico e peptidoglicanos de S. penumoniae) que estimulam a produção e libertação de citocinas e quimiocinas pelas células da microglia, astrócitos e leucócitos do LCR, TNF e IL-1 e estas por sua vez vão estimular a libertação de mais citocinas e quimiocinas para ampliação da resposta.
A ação conjugada das mesmas contribuem para o aumento da permeabilidade da BBB, com >nº de leucócitos e proteínas no LCR e >pressão intracraniana e hidrocefalia. Este edema pode provocar Hipertensão Intracraniana que pode levar a herniação cerebral, coma e morte
Para além disto, reduz-se o calibre dos vasos (em casos extremos: isquemia e necrose cerebral).
Quais os Fatores de Risco, num indivíduo adulto, de contrair meningite?
Alcoolismo
Esplenectomia
Diabetes
Imunossupressão
Hipogamaglobulinémia (meningite pneumocócica)
Sinusite ou otite a pneumococos (meningite pneumocócica)
Défices do Sistema de Complemento (meningite por N. meningitidis)
Traumatismo crânio-encefálico, rinorráquia, etc
Descreva o Quadro Clínico da Meningite
Tríade Clássica da MBA (também presente na viral aguda, mas a rigidez da nuca é menos evidente)
-Febre
-Cefaleias
-Rigidez da Nuca
Associado a este último podem surgir os sinais de Kernig (dor ou elevação do pescoço à extensão passiva do joelho com a coxa refletida sobre o abdómen) e Brudzinksi (flexão espontânea dos joelhos e ancas quando se realiza a flexão passiva do pescoço)
Para além destes, podemos esperar alguns outros sinais:
-alterações do estado de consciência (75%)
-náuseas e vómitos
-fotofobia
-convulsões (20-40%)
-aumento da pressão do LCR
-sinais de HIC (alteração do estado de consciência, papiledema, dilatação e diminuição da reação pupilar, paralisia do VI nervo craniano, postura descerebrada)
Na MVA estes últimos não costumam estar presentes, em vez disso podemos esperar sintomatologia associada a mau estar geral: anorexia, mialgias, náuseas e vómitos, dor abdominal e diarreia.
Se houver envolvimento do parênquima cerebral podemos ainda esperar confusão, alterações de comportamento, alterações do estado de consciência e sinais neurológicos focais (afasia, ataxia, hemiparésia, etc)
Como é feita a Colheira e Transporte de LCR?
1-Posicionar o doente em decúbito lateral (ou sentado), com os joelhos o mais próximo possível do queixo e o pescoço em flexão
2-Palpar as cristas ilíacas póstero-superiores e, traçando uma linha entre elas, a apófise espinhosa de L4
3-Desinfetar a zona de punção com solução alcoólica iodada
4-Anestesiar a pele e o espaço inter-espinhoso L4-L5 com um anestético local utilizando seringa e agulhas esterilizadas
5-Inserir agulha apropriada para punção lombar no espaço inter-espinhoso até sentir diminuição da resistência
6-Colher, sem aspirar, 2-3mL para um tubo esterilizado, transparente e de fundo cónico
7-Respetir o passo anterior 2 vezes: o 1º tubo vai para microbiologia e os outros 2 para citológico e bioquímico
Esta amostra deve ser enviada imediatamente ao laboratório e, caso isto não seja possível, mantida à temperatura ambiente (ou estufa a 35º) e nunca refrigerada antes do processamento. Devem-se efetuar simultaneamente colheitas de sangue para hemocultura.
Como é feito o Diagnóstico de Meningite?
Com base num diagnóstico clínico e num microbiológico/ etiológico
Como é feito o Diagnóstico Clínico de Meningite?
Análise Citoquímica, Bioquímica e Microscópica do LCR. Pode ser necessário realizar exames imagiológicos previamente à PL, dependendo da avaliação clínica do doente. Em doentes imunocompetentes, sem história de TCE ou sinais de HIC a sua realização pode ser dispensada. As colheita de sangue para hemoculturas deve ser feita imediatamente e iniciar imediatamente a terapêutica empírica, mesmo antes da avaliação neuroimagiológica e da PL - exclusão da HIC pois, na presença desta, a realização da PL pode levar à herniação cerebral.
Quais os parâmetros que permitem presumir a classe de microrganismos responsáveis pela infeção de meningite?
Tabela Sebenta
Quais os componentes fundamentais do diagnóstico microbiológico de meningite?
Exame Direto Exame Cultural Testes de Deteção de Antígenos Testes Serológicos Provas Moleculares
Quais as colorações que se podem utilizar no exame microscópico direto para um diagnóstico de meningite?
Azul de Metileno - identificação precisa da presença e tipo de leucócitos, bem como a morfologia de possíveis microrganismos
Gram
Auramina - possíveis BAAR por fluorescência
Ziehl-Nielsen - estabelece a presença de BAAR
Tinta da China - fungos
Como é feito o exame cultural do LCR?
A partir do seu sedimento. Usam-se:
- Gelose de Sangue
- Gelose de Chocolate: particular interesse para Neisseria meningitidis + Haemophilus infuenzae
- Meio de Sabouraud: fungos, principal interesse para Cryptococcus neoformans
- Meio de Löwestein: microbactérias
Descreva os Testes de Deteção de Antigénios no diagnóstico de meningite
No LCR, existindo provas específicas para S. pneumoniae, N. meningitidis, H. influenzae tipo b, Streptococcus do grupo B e E. coli K1. Alta especificidade mas baixa sensibilidade. Podem ser úteis em doentes que iniciaram a terapêutica antibiótica antes da colheita de LCR e por isso têm exames culturais e diretos negativos.
Descreva os Testes Serológicos no diagnóstico de meningite
Principal componente de diagnóstico no caso de meningite viral
Descreva as Provas Moleculares no diagnóstico de meningite
Utilizadas na deteção do genoma viral sendo muito pouco utilizadas.
Qual a terapêutica empírica para a Meningite?
Sempre que um doente apresentar um quadro clínico e exame citoquímico compatível com meningite viral, deve-se iniciar a terapêutica empírica asap. Tanto em crianças como adultos se deve utilizar uma cefalosporina de 3ª geração e vancomicina. Se se suspeitar de infeção por Pseudomonas aeruginosa deve-se utilizar a Ceftazidima (única cefalosporina de 3ª geração com ação comprovada nas infeções do SNC por este agente). Em crianças até aos 3 anos e adultos >55 anos deve-se fazer terapêutica tripla associando ampicilina a uma das duas combinações previamente referidas.