Streptococcus Flashcards
Como se caracteriza o género Streptococcus
Constituído por uma grande diversidade de cocos gram-positivos em pares ou cadeias. A maioria das espécies são anaeróbios facultativos e muitos possuem crescimento capnofílico (em meios ricos em CO2). Elevadas exigências nutricionais e meios enriquecidos com sangue ou soro para o seu isolamento. Catalase-negativos.
Que critérios se podem usar para classificar as diferentes espécies de Streptococcus?
Propriedades Serológicas (Grupos de Lancefield)
Padrões Hemolíticos (hemólise completa - beta; hemólise incompleta - alfa; ausência de hemólise - gama)
Propriedades Bioquímicas
Qual a espécie patogénica de Streptococcus mais comum?
Streptococcus pyogenes - pertencem ao grupo A de Lancefield e são por excelência o causador de amigdalite, ainda que também seja conhecido por infeções necrosantes bastante graves.
Qual a forma dos Streptococcus Pyogenes e qual o meio de crescimento ótimo?
São cocos esféricos cujo meio de crescimento ótimo é gelose de sangue enriquecida, no entanto é inibido por elevadas concentrações de glicose.
Quais os componentes estruturais relevantes para a virulência e capacidade de infeção do Streptococcus pyrogenes?
Carbohidratos de grupo específico (dímero de N-acetilglicosamina e ramnose, permitindo distinguir o grupo A dos restantes);
Proteínas Tipo Específicas (das quais a principal é a Proteína M, associada a streptococcus virulentos e a secundária é a T que, embora menos virulenta, é um marcador importante para as que não expressam M);
Componentes da Superfície Celular como proteínas idênticas às do tipo M, ácido lipoteicóico e Proteína F;
Cápsula (camada mais externa composta por ácido hialurónico, impedindo a fagocitose da bactéria, funcionando assim como uma barreira física entre as proteínas opsonizantes ligadas à superfície celular e células fagocíticas)
Como é conseguida a virulência do grupo A?
Pela capacidade destas bactérias de aderir à superfície das células do hospedeiro, invadir as células epiteliais, impedir a opsonização e a fagocitose e produzir uma grande variedade de toxinas e enzimas.
Como conseguem os Streptococcus pyogenes a sua característica aderência?
Pela interação entre o ácido lipoteicóico e os sítios de ligação dos ácidos gordos na fibronectina e células epiteliais (mediada pelas proteínas M e F, entre outras adesinas, o que permite a manutenção da infeção por longos períodos e a colonização de locais mais profundos).
Como conseguem os Streptococcus evitar a opsonização e fagocitose?
Pela ligação da região conservada da proteína M à beta-microglobulina sérica (fator H), que desregula a ativação do sistema de complemento. Quando o fragmento C3b se liga à proteína M este é degradado pelo fator H e isto impede a fagocitose. Esta bactéria pode ainda bloquear a quimiotaxia dos neutrófilos e fagócitos mononucleares ao produzir a C5a peptidase que degrada a C5a.
Para além da Proteína M tão característica pela virulência dos Streptococcus pyogenes, que outras toxinas e enzimas aumentam esta virulência?
Exotoxinas Pirogénicas (Spe que atuam como superantigénios, interagindo com macrófagos e células T auxiliares com a libertação de IL-1, IL-2, IL-6, TNF-alfa e TNF-beta e interferão gama); Estreptolisina S e O (a S é uma hemolisinaoxigénio-estável, não imunogénica e ligada à célula que pode lisar eritrócitos, leucócitos e plaquetas; a O é uma hemolisina oxigénio-lábil capaz de lisar eritrócitos, leucócitos e plaquetas, sendo que para esta última se formam anticorpos rapidamente, o que é útil para detetar streptococcus do grupo a - Testo ASO); Estreptocinases (podem ser A e B, capazes de lisar coágulos sanguíneos, podendo ser responsáveis pela rápida disseminação da bactéria); Desoxirribonucleases (DNAses do tipo A ou B, não são citolíticas, mas podem degradar o DNA livre no pus - reduz viscosidade e permite maior disseminação do microrganismo, sendo os marcadores contra esta enzima importantes para diagnóstico de infeções cutâneas por S. pyogenes); C5a Peptidase (degrada C5a, componente do complemento que medeia a inflamação ativando e recrutando células fagocíticas; Outras enzimas como a hialuronidase e difosfopiridina nucelotidase (DPNase) nos S. pyogenes.
Descreva a Epidemiologia dos Streptococcus pyogenes
Colonizam, tanto no adulto como na criança a orofaringe de indivíduos saudáveis (15-20%). Colonização geralmente transitória e regulado pela capacidade do indivíduo de desenvolver imunidade específica contra a proteína M. Os Streptococcus alfa-hemolíticos e não hemolíticos podem produzir substâncias semelhantes a antibióticos (bacteriocinas) que inibem o crescimento dos S. pyogenes.
Podem ainda colonizar transitoriamente a pele e sobreviver durante longos períodos de tempo em superfícies secas, sendo a transmissão feita (geralmente) por via respiratória (mais provável durante o inverno e em locais com multidões). As infeções nos tecidos mais profundos inicia-se geralmente por uma infeção cutânea que, após invasão pelo microrganismo evolui para uma mais profunda.
Que Síndromes Clínicas podem resultar da Infeção por Streptococcus Pyogenes?
Estas síndromes podem ser causadas diretamente pelo microrganismo, pelas suas toxinas/enzimas ou como consequência da infeção:
Amigdalite;
Piodermite/ Impétigo;
Erisipela;
Celulite;
Fasciite Necronizante;
Síndrome do Choque Tóxico por Estreptococcus
Existem ainda patologias que, embora associadas a este género, são complicações de uma infeção crónica ou prolongada:
Febre Reumática;
Glomerulonefrite Aguda
Descreva a seguinte Patologia: Amigdalite Estreptocócica (e uma complicação da mesma)
Desenvolve-se 2-4 dias após a exposição ao patogeneo, marcada por um início abrupto de dor de garganta, febre, mal-estar e cefaleias. Orofaringe possivelmente eritematosa com exsudado e linfoadenopatia cervical proeminente. Díficil distinguir uma amigdalite viral da estreptocócica, mas sabe-se que a presença de exsudado é mais característica nas virais (ainda que frequentemente se encontre nas estreptocócicas).
Uma complicação da amigdalite estreptocócica é a escarlatina que ocorre quando a estirpe é lisogenizada por um bacteriófago que estimula a produção de exotoxina pirogénica. Após 1-2 dias do aparecimento dos sintomas iniciais desenvove-se uma erupção eritematosa difusa que contrasta com a palidez circum-oral, da palma das mão e das plantas dos pés.
Descreva a seguinte Patologia: Piodermite (Impétigo)
Infeção purulenta, limitada à derme que afeta principalmente as zonas expostas. O microrganismo é introduzido por uma solução de continuidade (arranhão ou corte) sendo que inicialmetne se observa o desenvolvimento de vesículas que se transformam em pústulas e sofrem rutura e originam crostas. Característica em crianças com higiene precária sendo que na zona de infeção podem ser encontrados Staphylococcus aureus.
Descreva a seguinte Patologia: Erisipela
Infeção aguda da pele, mais comum em crianças de pouca idade e adultos de idade avançada. Geralmente precedida por infeções das vias aéreas ou da pele por S. pyogenes.
Descreva a seguinte Patologia: Celulite
Envolve a pele e tecidos subcutâneos mais profundos, mas devido ao grande número de microrganismos que a pode provocar é necessário o isolamento e identificação do microrganismo em questão
Descreva a seguinte Patologia: Fasciite Necrosante
Infeção que ocorre profundamente no tecido subcutâneo e que se dissemina pelos planos fasciais, caracterizando-se pela destruição do músculo e gordura. Começa por haver apenas celulite e avança para a formação de bolhas e finalmente gangrena e sintomas sistémicos. Deve ser tratada ativamente com antimicrobianos e remoção do tecido não viável.
Descreva a seguinte Patologia: Síndrome do Choque Tóxico por Estreptococos
Pacientes mais suscetíveis são os que estão infetados com HIV, cancro, diabetes mellitus, doenças cardíacas e pulmonares, infeção pelo vírus varicela-zoster e uso de drogas intravenosas e consumo excessivo de álcool.
Descreva a seguinte Patologia: Febre Reumática
Complicação causada por S. pyogenes e caracterizada por alterações inflamatórias envolvendo o coração, articulações, vasos sanguíneos e os tecidos subcutâneos. A nível cardíaco desenvolve-se uma pancardite (inflamação de todas as camadas do coração levando a lesões progressivas das válvulas cardíacas)
Descreva a seguinte Patologia: Glomerulonefrite Aguda
inflamação aguda dos glomérulos renais com edema, hipertensão, hematúria e proteinúria
Como se faz o Diagnóstico Laboratorial de Streptococcus Pyogenes?
Por Microscopia, Deteção Antigénica, Cultura, Identificação (sensibilidade bacitracina) e Deteção de Anticorpos
Como pode ser feito o Diagnóstico Laboratorial de Streptococcus Pyogenes por Microscopia?
A coloração pelo método de Gram é rápida para diagnóstico preliminar nos tecidos moles ou piodermite.
Cocos Gram-Positivos aos pares ou em cadeia em asociação com leucócitos. Um a vez que fazem parte da flora normal da orofaringe e assim uma amostra respiratória de um paciente com amigdalite apresenta um baixo valor prognóstico
Como pode ser feito o Diagnóstico Laboratorial de Streptococcus Pyogenes por Deteção Antigénica?
Podem-se realizar testes utilizando anticorpos contra o carbohidrato específico da parede celular do Streptococcus pyogenes mas, ainda que muito específicos, são testes com pouca sensibilidade (negativos devem ser confirmados com a cultura)
Como pode ser feito o Diagnóstico Laboratorial de Streptococcus Pyogenes por Cultura?
Amostras obtidas da orofaringe posterior (pois a anterior tem um baixo número de bactérias e a cavidade bucal é colonizada por outras bactérias que inibem o crescimento de S. pyogenes). Não devem ser recolhidas amostras de pústulas cutâneas rompidas uma vez que se encontram contaminadas com estafilococos. Uma vez que possuem grandes necessidades nutricionais o seu período de incubação deve ser prolongado.
Como pode ser feito o Diagnóstico Laboratorial de Streptococcus Pyogenes por Identificação?
O S. pyogenes foi identificado devido à sua sensibilidade bacitracina o que indica que pertence ao grupo A. A diferença entre S. pyogenes e S. anginosus e de outros S. beta-hemolíticos pode ser rapidamente realizada pela demonstração da enzima L-pirrolidonil-arilamidase (PYR)
Como pode ser feito o Diagnóstico Laboratorial de Streptococcus Pyogenes por Deteção de Anticorpos?
O Teste ASO trata-se da quantificação dos anticorpos contra a estreptolisina O que permite quantificar a presença de febre reumática ou glomerulonefrite aguda que tenha derivado de uma infeção faríngea por Streptococcus recente. O Teste Anti-DNAse B deve ser realizado se se suspeitar de glomerulonefrite estreptocócica.
Qual a terapêutica ideal para o Streptococcus pyogenes e qual a opção secundária (em que casos se deve utilizar)?
Muito sensível à Penicilina mas em caso de alergia deve ser utilizada a Eritromicina ou Cefalosporina oral (como em Portugal não há Penicilina oral muitas vezes é utilizada a opção de tratamento como se fosse um paciente alérgico).
Qual a terapêutica que deve ser aplicada se, para além de Streptococcus pyogenes, nos encontrarmos na presença de Staphylococcus aureus?
A penicilina não é eficaz e deve ser utilizada Oxacilina ou Vancomicina
A que se deve a resistência a Macrólidos?
A uma bomba de efluxo, característica do fenótipo M (gene mef), ou de uma metilação ribossómica resultando no fenótipo MLSb (gene erm). Assim distinguem-se 3 fenótipos:
- Fenótipo MLSb Indutível – resistente à Eritromicina e sensível à Clindamicina, mas quando existe elevada concentração de antibiótico torna-se resistente a ambos;
- Fenótipo MLSb Constitutivo – resistente à Eritromicina e à Clindamicina;
- Fenótipo M – resistente à Eritromicina e susceptível à Clindamicina;
No caso do MLSB Indutível a resistência apenas se manifestar quando na presença de elevadas concentrações de Macrólidos.
Qual a ordem preferencial das Terapêuticas a Aplicar?
Penicilina, se esta não se encontrar disponível Macrólidos (quer no caso de necessidade de toma oral ou de alergia à penicilina). Nas infeções graves deve-se associar a Penicilina a Clindamicina, Dicloxacilina ou Vancomicina.
Que tipo de Terapêutica se deve realizar em doentes com historial de Febre Reumática?
Profilaxia Antibiótica prolongada para evitar a recorrência da doença (toma de uma injeção de Penicilina de Difusão Lenta um vez por mês durante pelo menos 5 anos e caso o doente seja submetido a intervenções cirúrgicas ou qualquer procedimento evasivo (devido à possibilidade de endocardite). A profilaxia da Endocardite deve ser feita com Amoxicilina, em associação, ou não com um aminoglicosídeo.
Qual a única espécie de Streptococcus que apresenta o antígeno do grupo B?
Streptococcus agalactiae