Endocrinologia: diabetes mellitus: hiperglicemia hospitalar Flashcards
1
Q
Conceito, diagnóstico e fisiopatologia
A
- A hiperglicemia hospitalar pode ocorrer em pacientes com diagnóstico prévio de DM, com diagnóstico desconhecido de DM ou em reposta a situações de estresse (ex., traumas, infecções, estresse da internação, hipercortisolismo)
- Diagnóstico:
–> Todo paciente internado, independente de história e diagnóstico prévio de DM, deve ser submetido à coleta de GLICEMIA CAPILAR
–> Se a glicemia capilar de admissão ser > 140 mg/dl temos um caso de hiperglicemia hospitalar!
–> Resta saber se essa glicemia aumentada é secundária a uma situação de estresse ou se o paciente era portador de DM previamente à internação
–> Para isso devemos solicitar HbA1c, pois ela prediz a média da glicemia nos últimos 3 meses!
HbA1c ≥ 6,5% –> DM prévio
HbA1c < 6,5% –> hiperglicemia de estresse (não tinha DM prévio) - Hiperglicemia de estresse:
–> Estresse oxidativo, liberação de citocinas inflamatórias e hormônios contrarreguladores aumentados (cortisol, adrenalina, GH, glucagon) –> aumentam a resistência a insulina e diminuem a secreção insulínica, induzindo hiperglicemia de estresse
–> Outros fatores inerentes à internação hospitalar, como desidratação, medicamentos hiperglicemiantes (glicocorticoides, drogas vasoativas), dietas e soluções concentradas de glicose podem acarretar ou piorar o estado hiperglicêmico!
–> A hiperglicemia de estresse aumenta sim o risco futuro de DM tipo 2, bem como aumenta o risco de mortalidade quando comparados a pacientes diabéticos compensados
2
Q
Metas glicêmicas
A
- Procedimentos eletivos de baixo risco (p.ex., cirurgias de catarata): HbA1c < 8%
- Para paciente críticos: 140-180 mg/dl
- Para pacientes não críticos: 110-140 mg/dl*
*Endocrino society 2022 –> recomendam manter uma meta de 100-180 mg/dl em pacientes não críticos internados. - Monitorização glicêmica:
–> Depende do regime dietético do paciente:
DIETA ORAL –> aferição de glicemia capilar antes das refeições e 2 h pós-prandial
JEJUM OU DIETA PARENTERAL –> aferir de 4/4 h ou 6/6 h
USO DE BOMBA DE INFUSÃO DE INSULINA –> monitorizar glicemia de 1/1 h ou 2/2 h - Existem circunstâncias que comprometem a aferição da glicemia capilar e exigem a coleta de amostras no CATETER VENOSO ou ARTERIAL, como ANEMIA, ACIDOSE, HIPOPERFUSÃO SISTÊMICA/CHOQUE e EDEMA
3
Q
Tratamento
A
- A INTERNAÇÃO HOSPITALAR DE PACIENTES DIABÉTICOS É INDICAÇÃO DE INSULINOTERAPIA!
- De forma geral, suspende-se as medicações orais e inicia-se a insulina para todos os pacientes que se submeterão a internações prolongadas ou procedimentos de alto risco, que mudarão seu esquema de dieta ou que necessitam de terapia intensiva.
- O tratamento ambulatorial com medicações orais podem ser mantidas nas seguintes situações:
PACIENTES NÃO CRÍTICOS
PROCEDIMENTOS POUCO INVASIVOS E DE BAIXO RISCO
SEM MUDANÇA ALIMENTAR (sem instituição de jejum ou dieta específica) - A associação de sitagliptina (inibidor de DPP-4) com insulina basal normalmente é bem tolerada, devido ao perfil seguro dos iDPP-4
- A UTILIZAÇÃO DE SLIDING SCALE NÃO É MAIS RECOMENDADA POR INDUZIR GRANDE VARIABILIDADE GLICÊMICA E RISCO DE HIPOGLICEMIA
4
Q
Tratamento do paciente crítico
A
- Glicemia > 180 mg/dl em paciente crítico –> iniciar esquema com INSULINA EV em bomba de infusão
- Esquema utilizado: insulina regular 100 UI + 100 ml de SF 0,9%
- Tempo de meia-vida do esquema: 15 minutos
- Monitorização glicêmica: aferir glicemia capilar ou via cateter venoso/arterial a cada 1 h ou 2 h
- Ajustar doses conforme protocolo da instituição
- Transição para insulina SC
–> Em todos os pacientes críticos que vinham utilizando bomba de infusão de insulina e que apresentam condições de saírem da terapia infusional, devem fazer transição com insulina SC
–> Antes de instituirmos a terapia de transição, devemos calcular a QUANTIDADE TOTAL DE INSULINA EV EM BI FORNECIDA NAS ÚLTIMAS 6-8 H, MULTIPLICÁ-LA POR 4 E OBTER 80% DO VALOR PARA DETERMINAR A DOSE DA INSULINA BASAL
{(Quantidade total de insulina EV fornecida nas últimas 6-8 h) x 4} x 80% = dose total da insulina basal
–> O próximo passo é introduzir a insulina basal:
Glargina ou determir = introduzir cerca de 2 a 4 h antes da interrupção da infusão EV
NPH = introduzir cerca de 1 a 2 h antes da interrupção da infusão EV
5
Q
Tratamento do paciente não-crítico
A
- Nesses casos, utiliza-se o esquema basal-bolus com as devidas correções
- Determinar a dose total diária de insulina (DTD): basal + bolus:
–> Pacientes sem insulinização prévia –> 0,4-0,5 UI/kg
–> Idosos e portadores de doença renal crônica –> 0,2-0,3 UI/kg
–> Usuários prévios de insulina –> 75-80% da dose de uso domiciliar - PACIENTES EM DIETA ORAL
–> Calcular a DTD e dividir em 50% basal e 50% bolus
Basal:
Glargina ou determir: aplicar 1 vez ao dia
NPH: aplicar 2-3 vezes ao dia (2/3 manhã e 1/3 noite)
Bolus:
Regular, aspart, lispro: 1/3 antes do café, 1/3 antes do almoço e 1/3 antes do jantar - PACIENTES EM JEJUM OU DIETA ENTERAL CONTÍNUA
–> Considerar aplicar apenas 40% da dose total diária de insulina (DTD) e doses de correção a cada 4 ou 6 h - Doses de correção:
–> A dose de correção sempre é ajustada conforme a GLICEMIA PRÉ-PRANDIAL. NUNCA CORRIGIR A PARTIR DA GLICEMIA PÓS-PRANDIAL 2 h APÓS A REFEIÇÃO
–> As doses de correção variam de acordo com a sensibilidade do paciente à insulina e do alvo terapêutico.
–> A dose de insulina obtida pela correção é adicionada no valor da dose de insulina bolus (pré-prandial)
Fica assim: dose bolus + correção do dia anterior.
6
Q
Pacientes internados em corticoterapia
A
- Os glicocorticoides suprimem a secreção pancreática da insulina e reduzem a sensibilidade à insulina
- Além disso, os corticoides aumentam a gliconeogênese.
- A cada aumento de dose de glicocorticoide, devemos aumentar 10-20% da dose de insulina
- Especificidades:
–> Prednisona: tem curta ação, normalmente é administrada pela manhã. Tem maior efeito nas glicemias pós-prandiais das primeiras refeições diárias. Por esse motivo, devemos ajustar apenas a dose da insulina bolus (70% da bolus)
–> Dexametasona e hidrocortisona: a dexametasona é um corticoide de longa ação, enquanto a hidrocortisona apresenta curta ação, porém é administrada em múltiplas doses diárias; em ambas as situações, há comprometimento glicêmico tanto no jejum, quanto nas avaliações pós-prandiais. Portanto, deve-se adicionar doses de basal e bolus
7
Q
Programação de alta
A
- A conduta deve ser feita de acordo com o HbA1c da admissão:
–> < 7,5%: retornar ao tratamento pré-hospitalar (que o paciente estava fazendo em casa), reintroduzir de 1 a 2 dias antes da alta
–> 7,5 a 9%: introduzir precocemente agentes orais e insulina basal (50% da dose hospitalar)
–> > 9%: esquema basal-bolus de insulina OU associar agentes orais adequados à insulina basal (80% da dose hospitalar)