Síndrome colestática Flashcards
Qual a principal causa de icterícia no pós-natal imediato? Qual a fisiopatologia desse quadro? Em quanto tempo tende a regredir?
A icterícia no período pós-natal imediato, é, com maior freqüência, secundária a um atraso na maturação da UGT hepática, enzima responsável pela conjugação da bilirrubina, condição chamada de “icterícia fisiológica”. A hiperbilirrubinemia indireta desses lactentes melhora em torno do final da primeira semana de vida, quando a UGT torna-se plenamente funcional.
Que outra causa comum de icterícia pode ser observada no período neonatal? Como é sua evolução?
Uma segunda causa frequente de icterícia neonatal, em decorrência de hiperbilirrubinemia indireta, é a icterícia relacionada ao leite materno, uma condição benigna observada em 2,4% a 15% dos recém-nascidos. Em geral, nessa situação, a icterícia inicia-se na segunda semana de vida e pode persistir além da décima semana, nos lactentes em aleitamento materno exclusivo. A patogênese desse processo não é claramente compreendida, mas a concentração elevada de pregnane-3(α),20(β)-diol, a atividade da lipase e/ou a p-glicuronidase em algumas amostras de leite podem exercer um papel na elevação persistente da bilirrubina indireta.
Que outras causas de bilirrubinemia indireta podem ser observadas em neonatos além da icterícia fisiológica e da icterícia relacionada ao leite materno?
Outras causas menos comuns de hiperbilirrubinemia indireta resultam de mutações genéticas no gene da UGT.
O que é a síndrome de Crigler Najjar? Quais as suas formas?
É uma doença resultante de uma mutação genética no gene de UGT. A síndrome de CN pode apresentar-se de duas formas, que apresentam diferentes graus de hiperbilirrubinemia. Os pacientes portadores de CN tipo I evoluem com hiperbilirrubinemia grave, enquanto as formas mais leves são observadas nos pacientes com CN tipo II, bem como na síndrome de Gilbert. O defeito genético observado na síndrome de Crigler-Najjar tipo II parece diminuir a glicuronidação da bilirrubina e do fenol, por meio da redução da ligação da bilirrubina a UGT1, deixando outras isoformas da UGT codificadas pelo lócus do gene UGT não afetadas. O impacto dessa mutação não é tão grave, e os pacientes são capazes de produzir monoglicuronideo de bilirrubina e uma pequena fração de diglicuronideo, o que permite um fenótipo hiperbilirrubinemico mais leve.
O que é a síndrome de Gilbert? Qual o defeito genético envolvido?
É uma doença resultante de uma mutação no gene da UGT. Nos pacientes com síndrome de Gilbert, embora possa ocorrer uma mutação na região codificadora do gene UGT1, a alteração mais comum ocorre na região reguladora do gene UGT1, na qual uma mutação do elemento TATAA diminui a expressão de transcrição da UGT1.
Como é o prognóstico e a abordagem de pacientes com doenças relacionadas a mutações na UGT? (Gilbert e Crigler Najjar)
Embora a evolução clinica dos pacientes portadores de síndrome CN tipo II e de Gilbert seja favorável, as crianças com CN tipo I necessitam uso prolongado de fototerapia e, em ultima analise, transplante hepático, em vista do grande risco de encefalopatia por impregnação do córtex cerebral e dos gânglios da base pela bilirrubina.
Quais as principais diferenças da hiperbilirrubinemia direta e indireta em neonatos?
De modo diferente da hiperbilirrubinemia indireta, que pode ser fisiológica, a elevação da bilirrubina direta correlaciona-se sempre com estados patológicos, traduzindo a presença de comprometimento do fluxo biliar por doença hepatocelular ou biliar. Nessas situações, a bilirrubina conjugada aumenta no soro e nos tecidos. Portanto, esses casos requerem exploração clínica e laboratorial urgente, e a terapia deve ser iniciada o mais rápido possível, para minimizar as conseqüências da patologia em questão e da própria colestase.
Qual a definição de colestase? Quando podemos classificá-la como neonatal?
Colestase é o termo utilizado para descrever a redução ou ausência do fluxo biliar canalicular, com elevação dos níveis séricos de todos os componentes da bile, sendo mais comumente avaliada por meio da elevação da bilirrubina direta. Deve ser considerado na síndrome de colestase neonatal, quando a mesma se inicia até os 3 meses de vida. A freqüência da colestase neonatal varia de 1:5.000 a 1:9.000 nascidos vivos.
Como é feito o screening para colestase?
Nenhum teste de screening pode predizer qual criança irá apresentar colestase. Então a detecção de colestase se baseia no reconhecimento clínico de icterícia, da presença de fezes claras e/ou urina escura pelos pais e/ou cuidadores. Entretanto, estes achados clínicos são um método imperfeito de detectar colestase.
Como é feito o rastreio para colestase em crianças?
O Guideline de Colestase (2004) recomenda dosagem de bilirrubina total e direta de todas as crianças com icterícia até a segunda semana de vida. Entretanto, crianças alimentadas ao seio materno sem alterações clínicas ao exame físico podem ser reavaliadas apenas na terceira semana e persistindo a icterícia realizar as dosagens séricas das bilirrubinas.
Como podemos classificar as colestases?
A colestase é classificada, do ponto de vista anatômico, em colestase intra-hepática (CIH) e colestase extra-hepática (CEH).
Qual a participação das CIH entre as causas de colestase? Quais as principais etiologias?
A CIH representa 60% a 70% de todas as causas de colestase neonatal e os principais grupos de doenças envolvidos são: infecção congênita, doenças metabólicas, hipoplasia das vias biliares intra-hepáticas, tóxico-medicamentoso, transinfecciosa, genético-cromossômica e idiopática.
Qual a participação das CEH entre as causas de colestase? Qual a principal etiologia envolvida?
A CEH representa 30% a 40% de todas as causas de colestase neonatal e a principal doença envolvida é a atresia das vias biliares extra-hepáticas (AVBEH).
Quais os mecanismos patológicos envolvidos nas CIH?
Na CIH, a patogênese depende da etiologia envolvida. De forma geral, a colestase ocorre quando há alterações nos diferentes elementos que interferem na secreção biliar: 1) diminuição da fração dependente dos ácidos biliares, seja por deficiência de síntese, ou por suas alterações qualitativas; 2) diminuição da fração independente dos ácidos biliares; 3) alterações na permeabilidade da membrana canalicular; e 4) disfunção dos microfilamentos contráteis do hepatócito.
O que é a deficiência de alfa-1-antitripsina?
A alfa-1 -antitripsina é uma glicoproteína produzida, especialmente, no figado, cuja propriedade é inativar a elastase dos neutrófilos e outras proteases. A sua deficiência manifesta-se, em geral, com doença hepática em crianças e enfisema de início precoce em adultos.