Psicologia em Saúde Flashcards
Ainda na vigência desse modelo, ainda no final do séc. XIX, na passagem do séc. XIX
para o séc. XX, surgem alguns elementos, alguns fenômenos que o modelo biomédico não
abarcava – tempos de reações individuais, de pensar nos processos de sensação e percepção e algumas doenças que desafiavam o discurso médico.
Uma delas era justamente a histeria, que coloca muito em xeque o discurso médico porque
era algo que se colocava no corpo (espasmos histéricos, paralisias histéricas), mas que não
seguia os caminhos da explicação justamente do modelo biomédico, da medicina da época.
Foram fenômenos como esse que apontavam para o campo da saúde mental, que, de
certa forma, não estavam tão agregados no campo da saúde física e que estavam mais relacionados a transtornos mentais que vão colocar em xeque o modelo biomédico, que vão permitir a emergência de um discurso, de uma psicologia científica, que traz também a visão do
modelo cartesiano, do positivismo de Conte, que se propõe como psicologia científica.
Apesar das condições de possibilidade não serem as melhores, como foi no início do
período científico, algo “rasga” o processo, questiona o modelo biomédico, permitindo a
emergência de questionamentos no campo da psicologia por volta desse final do sec. XIX,
início do séc. XX.
O primeiro processo de surgimento da Psicologia é a psicologia que surgiu nos laboratórios. A marca histórica do surgimento da psicologia, quando Wilhelm Wundt, em 1879, abriu o primeiro laboratório de psicologia.
o primeiro laboratório de psicologia.
A psicologia nasce como uma ciência experimental e que tem como objetivo inicial pesquisar os processos psicológicos básicos e as disfunções desses processos psicológicos, por
exemplo, nas pesquisas conscientes como a sensação, percepção, cognição, aprendizagem.
Nessa mesma época e fora dos laboratórios, pensando na prática do dia a dia, nesses
problemas dessas disfunções que entravam pelos consultórios médicos, que batiam nas
portas dos médicos e que não tinham resolução, surgiu outra corrente: uma corrente ligada
à psicologia de “fazer”, uma psicologia prática dentro da clínica, muitas vezes, desenvolvida
por técnicos, neurologistas, psiquiatras.
Um grande expoente nesse caso do surgimento da psicologia científica, da psicologia clínica, são os trabalhos de Freud, que começam a partir de pesquisas de Jean Martin Charcot sobre a histeria, sobre a hipnose, com os estados alterados de consciência dentro dos processos da histeria.
Isso serve de base para, posteriormente, Freud desenvolver a psicanálise que vem na
tradição da psicologia positivista (Freud é um pensador iluminista), mas que traz ao mesmo
tempo uma quebra com esse modelo biomédico, reproduz e, ao mesmo tempo, quebra com
esse modelo, permitindo a inserção da ideia de funcionamento psíquico dos fenômenos para
pensar a questão do funcionamento psíquico normal e patológico.
A psicologia clínica surge com um pensamento acerca da saúde mental, como lidar com
a problemática da saúde mental.
O berço da psicologia está ligado a essa modalidade da psicologia clínica, que está na
base, na raiz do desenvolvimento da psicologia moderna e que hoje é uma área da qual a
psicologia da saúde busca se diferenciar.
A Segunda Guerra Mundial trouxe todos os elementos de diferença nas vivências do processo de saúde, de doença, os campos sociais, culturais e políticos.
O modelo biomédico vai fazendo uma mudança epidemiológica, principalmente nos
países desenvolvidos. As doenças crônicas vão se estabelecendo de uma forma mais presente, se tornando mais significativas no que diz respeito às causas de morbidade, às causas de mortalidade dentro dos países desenvolvidos.
Emerge uma questão de visão, que cada vez mais vai sendo observada pelos médicos
dentro das instituições de saúde, de que o comportamento do sujeito estava relacionado com
os processos de saúde, de doença e que as vivências estavam relacionadas com a forma
como ele vivenciaria, por exemplo, os momentos de diagnóstico, como receber esse diagnóstico, como aderir ao tratamento – tudo está vinculado à questão do comportamento do
indivíduo.
Uma série de sujeitos que são sobreviventes da Segunda Guerra Mundial e que desenvolvem adoecimentos mostram também que a questão do comportamento influencia como,
por exemplo, o surgimento das neuroses de guerra, os transtornos de estresse pós-traumático. Esses tipos de adoecimento passam a ser alvo do questionamento da psicologia.
Tudo isso vai compondo um novo quadro da psicologia, o que faz com que as demandas
dentro das instituições de saúde passam a dar respostas diferenciadas: é necessário repensar tanto os quadros de técnicas quanto o seu quadro teórico.
Dentro das instituições, muitos sujeitos, por exemplo, os sobreviventes de guerra, chegam
porque estão com adoecimento físico, porque sofreram algum tipo de dano físico e que estão
tendo que lidar com momentos de adaptação a esses danos físicos.
A doença física também é colocada requerendo uma atuação por parte dos psicólogos que estão atuando naquelas instituições.
Diante disso, eles são obrigados a começar a pensar sobre os fatores psicológicos e comportamentais justamente na saúde e na doença física – há um deslocamento da saúde mental para a saúde/doença física.
A brecha que a psicologia encontrou para se desenvolver no período científico foi a psicologia clínica, que tinha como alvo a saúde mental (corpo e mente separados) e restava à
psicologia um discurso sobre a mente, o que se vê neste momento em que o modelo biomédico entra em questão, no momento em que as instituições de saúde, a prática da saúde, as
modificações nos quadros epidemiológicos, especialmente nos países desenvolvidos, contrapõem novos desafios que põem em questão o modelo biomédico, é necessário o desenvolvimento de uma concepção de saúde mais ampla, uma concepção de saúde ecológica,
holística e, diante disso, a psicologia é chamada não apenas para tratar da saúde mental,
mas também da saúde/doença física.
Inicialmente, os psicólogos estão observando, estão elaborando um discurso, mas especialmente os médicos são aqueles que vão primeiramente se dar conta disso e que vão
buscar na psicologia elementos que tentem auxiliá-los nesse processo do tratamento dentro
dessa concepção mais ampla de saúde.
A medicina comportamental, a psicossomática e as tipologias da personalidade são três
elementos, três discursos que surgem a partir dessas necessidades e que demarcam bases
teóricas que, até hoje, trazem as suas marcas dentro da psicologia da saúde, a partir de 1950.
PSICOLOGIA NA CLINICA —-> FUNCIONAMENTO PSIQUICO NORMAL E PATOLOGICO –> SAUDE MENTAL
PSICOLOGIA LABORATÓRIOS –> PROCESSOS PSICOLÓGICOS BÁSICOS E SUAS DISFUNÇÕES –> SAUDE MENTAL
PSICOLODIA DA SAUDE—> NAS INSTITUIÇÕES DE SAÚDE –> FATORES PSICOLÓGICOS E COMPORTAMENTAIS —> SAUDE/DOENÇA FÍSICA
A CRIAÇÃO DA PSICOLOGIA DA SAÚDE
Início século XX: Inicialmente, ocorreu uma transposição do modelo da Psicologia Clínica para o
campo da saúde. Lembremos que esse modelo trazia, em si, as marcas do
modelo biomédico e do pensamento cartesiano. Como o setting encontrado
nas instituições de saúde diferia significativamente do setting
psicoterapêutico tradicional, logo surgiram movimentos que buscavam
repensar as técnicas utilizadas e que flexibilizar a base teórica.
➢As intervenções ainda se restringiam a um nível de atuação intrapsíquico
(ou, no máximo, interpsíquico).
➢A visão dos fenômenos se centrava nos processos psicopatológicos,
portanto a tônica era a da prevenção ou tratamento das doenças psíquicas
que faziam interface com o somático.
➢Buscava a inserção dos saberes psi na formação médica
A CRIAÇÃO DA PSICOLOGIA DA SAÚDE
➢Buscava a inserção dos saberes psi na formação médica.
➢O movimento era por adequar o comportamento do sujeito ao saber
médico, de forma a que ele aderisse passivamente ao tratamento.
➢Na saúde, observava-se uma submissão do saber psicológico ao saber
médico. O psicólogo era visto como um auxiliar no tratamento, bem
diferente da concepção de equipes interdisciplinares que temos hoje.
MEDICINA PSICOSSOMÁTICA
MEDICINA COMPORTAMENTAL
TIPOLOGIAS DA PERSONALIDADE
A CRIAÇÃO DA PSICOLOGIA DA SAÚDE
1. Em um primeiro momento, observou-se a transposição da Psicologia Clínica
para as instituições de saúde. Havia a prevalência do modelo médico
cartesiano, com a subordinação da Psicologia à Medicina. Isso ficava bem expresso nas dicotomias que a Psicologia apresentava então:
Ambulatórios e
hospitais de Saúde
mental
Foco na medicalização
e internação –
paradigma psiquiátrico
Psicologia interessada
nos processos Saúde
Saúde física
Reforma Psiquiátrica
Defesa de um Universal Health Care
Aumento do número dos psicólogos
Saber acumulado na prática cotidiano
PERSPECTIVA
INTRAINDIVIDUAL —->
PERSPECTIVA SOCIAL MAIS
RESTRITA (ASPECTOS
PSICOSSOCIAIS DO
ADOECIMENTO) —–>
PERSPECTIVA MAIS
INCLUSIVA E DINÂMICA DO
SOCIAL
(CONSTRUCIONISMO)
A CRIAÇÃO DA PSICOLOGIA DA SAÚDE
PERSPECTIVA SOCIAL MAIS
RESTRITA (ASPECTOS
PSICOSSOCIAIS DO
ADOECIMENTO)
1. Doença é vista como multicausal. O surgimento dela está
diretamente correlacionado ao impacto de eventos
estressores na vida do indivíduo;
2. Busca compreender os comportamentos de risco que
estariam na base do desenvolvimento de certas doenças,
para poder maneja-los em prol da prevenção da doença e da
promoção da saúde
3. A responsabilidade pela saúde recai sobre as escolhas de
estilo de vida feitas pelo indivíduo. Portanto, o social como
um dos determinantes da saúde e da doença é visto de
forma restrita.
A CRIAÇÃO DA PSICOLOGIA DA SAÚDE
PERSPECTIVA MAIS
INCLUSIVA E DINÂMICA DO
SOCIAL
(CONSTRUCIONISMO)
1. Doença é vista como fenômeno psicossocial construído
historicamente;
2. A doença não pode ser entendida apenas focalizando o
indivíduo. Ela tem uma construção coletiva (cultural, social,
histórica e ideológica)
3. Valoriza-se a representação social da doença e a forma como
o indivíduo se apropria dessa representação, o que
possibilita o confronto entre o significado (social0 da
experiência e o sentido (pessoal que lhe é dado pelo
indivíduo);
4. Nessa perspectiva, o indivíduo não pode ser responsabilizado individualmente por sua saúde ou doença.