PPA's Flashcards

1
Q

Considerando a panóplia de métodos e técnicas relevantes hoje para a Neuropsicologia, indique duas vantagens e duas limitações dos testes neuropsicológicos.

A
  • Os testes neuropsicológicos têm como principal vantagem trazerem AVALIAÇÕES ESTANDARDIZADAS e com vasta validação empírica de alterações cognitivas, emocionais e comportamentais, permitindo fazer correspondências entre a informação da imagiologia (e.g. sobre lesões cerebrais) e a disfuncionalidade na vida sujeito.
  • Podem ainda auxiliar o processo de reabilitação na monitorização de progressos e/ou evolução de défices.
  • Em termos de limitações, temos que DEPENDEM da capacidade de compreensão, concentração, motivação e esforço do paciente. Muitas lesões cerebrais podem resultar, por exemplo, em défices de comunicação graves, seja ao nível da compreensão seja da expressão, pelo que alguns dos sujeitos que mais beneficiariam deste tipo de testes podem à priori ficar excluídos da sua aplicação.
  • Por outro lado, os testes neuropsicológicos NÃO EXPLICAM A CORRESPONDÊNCIA entre o que é observável e o que acontece ao nível do sistema nervoso, permitindo obter uma imagem sobre os défices de uma lesão mas não observar diretamente onde esta se possa localizar, pelo que dependem da imagiologia para que se observe o cérebro do sujeito e estabeleça hipóteses de causa-efeito.
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2
Q

Até que ponto o córtex visual primário (V1) é necessário para a perceção visual? E o córtex visual V4?

A
  • áreas visuais estão organizadas de modo complementar e hierárquico
  • lesões mais “a montante” irão tendencialmente condicionar mais o processamento visual do que lesões mais “a jusante”, onde a informação visual chega mais refinada.
  • V1 extrai a informação mais básica do exterior, como os contornos, muito graças à organização retinotópica (adjacência espacial da retina replica-se no córtice visual primário). Assim, dependendo do tamanho da lesão em V1, pode resultar em cegueira para metade contralateral do campo visual, como é o caso da hemianopsia.
  • Não obstante, sujeitos com esta condição são capazes de percecionar inconscientemente a aproximação de um estímulo e “adivinhar” a sua localização, sugerindo que há informação visual que não passa por V1.
  • A contribuição principal do córtice visual V4 é para o processamento da cor. Por a info ter passado já por várias camadas de processamento na hierarquia do processamento, uma lesão em V4 não produz consequências tão graves para a visão como em V1.
  • Um paciente com lesão em V4 perde a capacidade de percecionar cores pelo que a realidade passa a ser em tons de cinzento, como nos casos de acromatopsia.
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3
Q

“A memória não é simplesmente uma cópia da experiência” - Discuta três argumentos para substanciar esta afirmação, e reflita na sua implicação para o trabalho do psicólogo.

A
  • A memória não é uma cópia da experiência pois está sujeita a inúmeras interferências.
  • Por um lado, a nossa capacidade de processamento é limitada e nem todos os estímulos são codificados. A seleção da informação depende de fatores como a atenção e até mesmo expetativas do sujeito.
  • Por outro lado, nem tudo o que é codificado é armazenado, existe um nível natural de esquecimento e a codificação é tanto melhor quanto mais estratégias de manutenção ocorrerem (como a repetição, elaboração, consolidação e reconsolidação).
  • Mesmo a informação armazenada está sujeita à acomodação com novas experiências e de cada vez que é evocada ocorrem pequenas distorções da memória original, ao ponto de ser possível introduzir-se uma memória falsa.
  • O psicólogo deve ter em conta que o cliente tem dois “agentes mnésicos” - o “experiencing self”, focado no momento presente, e o “remembering self”, que estabelece uma narrativa de vida com base nas suas memórias.
  • O sofrimento do paciente é parcialmente atribuível ao seu próprio discurso interno baseado em memórias que, por exemplo, se focam apenas no momento mais marcante e/ou final do episódio armazenado.
  • Desta forma, as terapias devem envolver exercícios como os de relativização que atue nos diferentes estádios da memória.
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4
Q

Caso LM:
- encefalite
- lesões bilaterais no lobo temporal medial
- amnésia anterógrada (“demonstrou reduzida capacidade de aprendizagem de novos factos”) e retrógrada (“dificuldade em recordar factos do passado”).

  • A intervenção mais bem sucedida na reabilitação de LM ao nível do treino face-nome foi a que envolveu uma estratégia motora. porquê?
  • A estratégia de visualização, por oposição, teve menor sucesso visto que…
  • Ao nível da recordação de informação de textos, a estratégia mais bem sucedida foi a PQRST, a qual requer um elevado envolvimento com o material a recordar… (porquê)
A
  • ambas as amnésias estão associadas a lesões bilaterais no lobo temporal medial.
  • A estratégia motora foi bem sucedida por permitir utilizar a memória implícita procedimental (preservada), resultando em maior sucesso na aprendizagem.
    *A estratégia de visualização teve menor sucesso por exigir mecanismos mnésicos afetados (codificação e armazenamento), isto é, dependentes das estruturas lesionadas no lobo temporal medial.
  • Ao nível da recordação de informação de textos, a estratégia mais bem sucedida requereu elevado envolvimento com o material, permitindo criar “primings” inconscientes do conteúdo e obrigar a recorrer à memória semântica, também preservada, facilitando a criação de ligações que auxiliem o acesso à informação a recordar.
  • Por oposição, a estratégia rehearsal envolve apenas reler e tentar reter informação, uma tarefa que depende inteiramente dos mecanismos de codificação e armazenamento, os quais estão afetados pelas suas lesões no lobo temporal medial.
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5
Q

Comente a performance de “Tono-Tono” à luz de um dos modelos de dupla via da linguagem (o de RS ou o de HP, explicitando qual deles).

A
  • O paciente “Tono-tono” sofre de uma afasia de Broca, tendo assim limitações graves ao nível da produção da fala, ainda que a capacidade de compreensão pareça, aparentemente, estar intacta, tendo em conta que é capaz de comunicar coerentemente através de outros elementos preservados da linguagem, como por exemplo a prosódia, a comunicação não-verbal e até mesmo a seriação verbal de números pequenos.
  • O modelo de dupla via de HP prevê que o processamento da linguagem envolva duas vias paralelas:
  • a via ventral (do som ao significado) - da análise dos fonemas, busca lexical e do processamento de frases;
  • e a via dorsal (do som à ação) - em que se orquestram planos motores e articulatórios da produção de fala.
  • Uma lesão na zona de Broca, como a de “Tono-Tono” afeta principalmente a via dorsal, em que o mapeamento das representações fonológicas em articulatórias, está comprometido, dificultando a expressão oral do paciente.
  • Porém, a região de Broca não está envolvida na via ventral, pelo que o mapeamento das representações fonológicas em lexicais está preservado, o que explica o facto de “Tono-tono” ser aparentemente capaz de compreender.
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6
Q

“A cognição rítmica pode ser simultaneamente uma ferramenta e um condicionante para a melhoria ou reabilitação do comportamento”. Comente esta afirmação e reflita sobre a sua implicação na reabilitação”

A
  • O ritmo é uma sequência mais ou menos padronizada composta por um conjunto de intervalos temporais de sons e silêncios.
  • A cognição rítmica deteta a métrica e tempos dos sons (e.g. da fala, música…), discriminando-os em padrões rítmicos e sincronizando o organismo (e.g. a nível motor, emocional…).
  • A cognição rítmica pode ser uma ferramenta para melhorar o funcionamento cognitivo, motor e emocional em indivíduos com distúrbios ou lesões neurológicas. Por exemplo, pistas rítmicas podem ser usadas para facilitar o movimento e a marcha em indivíduos com perturbações do movimento, como na doença de Parkinson.
  • No entanto, a cognição rítmica também pode constituir uma condicionante, já que os ganhos do treino e reabilitação não são iguais para todos os sujeitos e dependem das suas predisposições individuais.
  • Não obstante, há evidência de que as intervenções baseadas no ritmo podem induzir a neuroplasticidade após uma lesão ou doença, independentemente de o progresso ser maior ou menor de acordo com as predisposições individuais, podendo constituir uma ferramenta eficaz para e a recuperação funcional em indivíduos com distúrbios ou lesões neurológicas.
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7
Q

Se descobrirmos que os músicos profissionais têm regiões do cérebro associadas ao processamento musical com mais volume que pessoas não músicas, isso implica que o cérebro se modificou ao longo da carreira, com a prática? Justifique tendo em consideração a investigação recente em neurociências cognitivas.

A
  • Estudos longitudinais mostram que o treino musical consistente e frequente ​​​​conduz a modificações estruturais e funcionais no cérebro, pelo que o cérebro de músicos possui, graças à sua capacidade de neuroplasticidade, maior volume em áreas associadas ao processamento musical, como o córtex pré-motor, córtex auditivo e cerebelo.
  • Porém, existem fatores que predispõem o indivíduo à aprendizagem (e por consequência à neuroplasticidade) de uma determinada tarefa, pelo que ainda que exista causalidade entre o progresso na expertise e alterações cerebrais, é necessário ter em conta os aspetos genéticos e ambientais dos quais o desempenho também depende.
  • Ademais, os efeitos da plasticidade são específicos da tarefa, mas podem transferir-se para outros domínios. O treino musical envolve mais do que apenas as regiões auditivas do cérebro, exigindo atenção, memória, habilidades motoras, etc., pelo que o músico fica por si mesmo mais capaz a desenvolver outras tarefas as quais, por sua vez, irão produzir alterações cerebrais.
  • Temos então que, não obstante da prática musical levar a mudanças estruturais e funcionais no cérebro (explicando a habilidade dos músicos em processar a música mais eficientemente do que não músicos) essas podem não ser exclusivas da mera prática frequente e continuada.
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8
Q

Discuta as principais diferenças entre as teorias das emoções que assumem categorias discretas versus dimensões contínuas.

A

O caminho multidisciplinar do desenvolvimento

  • As teorias das emoções discretas defendem a existência de emoções básicas e universais, como alegria, tristeza, raiva e medo, como é o caso da teoria de Paul Ekman das emoções básicas.
  • Essas teorias propõem que cada emoção tem uma expressão facial distinta, um padrão de ativação fisiológico e cerebral específico e uma função adaptativa única.
  • Por outro lado, temos teorias que vêem as emoções como um espetro contínuo, em vez de categorias distintas, como a teoria “Core Affect” que sugere o mapeamento das emoções numa dimensão de valência (de positiva a negativa) e uma dimensão de ativação (de alta a baixa).
  • Essa abordagem permite uma maior flexibilidade na descrição e classificação das experiências emocionais, reconhecendo a diversidade e complexidade das experiências humanas.
  • Porém, ambas as teorias estão sujeitas ao fator da cultura (normas, valores, expetativas…), a qual influencia a aprendizagem do reconhecimento, expressão e vivência emocional.
  • Por um lado, numa perspetiva discreta, observam-se diferenças na expressão facial de algumas emoções aparentemente universais.
  • Por outro lado, também a perceção de valência e intensidade é influenciada pela cultura, já que umas valorizam mais e outras menos a expressão emocional.
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9
Q

O caminho multidisciplinar do desenvolvimento

Moreno & Besson et al. (2009). Musical training influences linguistic abilities in 8-year old children. Cerebral cortex.

A
  • É do conhecimento das neurociências que a prática frequente e continuada de uma atividade resulta em mudanças estruturais, funcionais e de longo prazo do cérebro, graças à sua capacidade de neuroplasticidade, sendo este potencial ainda maior entre os jovens e crianças.
  • Sabe-se também que essas mudanças cerebrais são específicas do domínio da tarefa, mas poder-se-á verificar um “spillover” positivo em outros domínios?
  • O artigo de Moreno e colaboradores (2009) procurou analisar se o treino musical tem efeitos sobre as capacidades linguísticas. Selecionaram-se 32 crianças de oito anos, as quais foram alocadas aleatoriamente ou a um grupo de treino musical, ou a um grupo de treino de pintura, idênticos na duração e frequência, e foram recolhidos dados imagiológicos (EEG), neuropsicológicos (WISC-III) e comportamentais (leitura segundo o método ALEPE).
  • Os resultados mostraram, por um lado, que o treino musical conduziu a uma resposta cortical mais rápida e precisa na discriminação fonológica e no processamento de sons da fala.
  • Porém, os benefícios do treino musical não se limitaram às habilidades relacionadas, tendo promovido uma melhor performance de leitura. Estes resultados apoiam a hipótese de que a prática musical tem potencial para desenvolver a linguagem através da melhoria da perceção e produção dos sons da fala.
  • Este tipo de estudos não só contribuem para consolidar e enriquecer o conhecimento da literatura, como ainda são geradores de outras questões de investigação relevantes, como se o treino de pintura pode potenciar outras capacidades que não as linguísticas, ou que outras atividades possuem potencial de desenvolvimento linguístico.
  • Tal tem uma importância prática elevada por exemplo em contexto escolar, um meio privilegiado para incentivar os jovens a explorarem outros domínios de conhecimento para além do formalizado nos currículos.
  • A produção de conhecimento científico que evidencie os benefícios de atividades extra-curriculares pode influenciar os governos a promoverem-nas, enriquecendo não só as experiências escolares dos jovens, aumentando a sua motivação e empenho escolar, como ainda a potenciar o seu desenvolvimento cognitivo, emocional e motor.
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