Pâncreas Flashcards
INSUFICIÊNCIA PANCREATICA EXÓCRINA
(IPE) ocorre por insuficiente síntese (e secreção) de enzimas digestivas pelas células acinares do pâncreas.
A IPE só se desenvolve quando a capacidade secretora exócrina é reduzida para menos de 10 a 15% do normal. Nesse ponto, a função pancreática “de reserva”, juntamente com os mecanismos de digestão extra-pancreáticos, não consegue suportar uma digestão adequada de nutrientes e, portanto, o animal apresenta perda de peso, diarreia e outros sinais clínicos (como polifagia, picacismo, flatulência, borborigmos intestinais e pelo em má condição). Pode também causar disbiose pois as proteínas antibacterianas não estão a ser produzidas pelo pâncreas.
IPE
ETIOLOGIA/CAUSAS
▪ Atrofia Acinar Pancreática (PAA)
▪ Pancreatite crónica
▪ Aplasia ou Hipoplasia pancreática congénita
▪ Neoplasia pancreática
IPE
EPIDEMIOLOGIA
▪ Menos comum em gatos
▪ Raças: Pastor Alemão e Rough Coated Collies (RCC)
▪ mais comum em fêmeas
IPE
SINAIS CLINICOS
(generalizado)
▪ Caquexia (perda de peso)
▪ Polifagia
▪ Picacismo (como coprofagia)
▪ Diarreia do ID → fezes volumosas (c/ alimento por digerir) e esteatorreicas (acinzentadas e oleosas). Ao limpar, fezes ficam coladas ao chão. Fezes brilhantes devido à gordura.
▪ Borborigmos intestinais
▪ Flatulência
▪ Pêlo em má condição
IPE
TESTES LABORATORIAIS
▪ Exame microscópico de fezes
▪ Atividade sérica da lípase e amílase
▪ Turbidez do plasma
▪ Digestão do NBT-PABA
▪ Absorção da D-xilose
▪ Tripsin-Like Immunoreactivity (TLI)
▪ Ácido fólico
▪ Vit. B12
IPE
TESTES LABORATORIAIS
Exame microscópico de fezes
(grânulos em campo = má digestão).
TESTE INCONCLUSIVO –> é subjetivo e varia com o
tempo do transito intestinal.
IPE
TESTES LABORATORIAIS
Atividade sérica da lípase e amílase
(concentração baixa = IPE)
TESTE INCONCLUSIVO –> podem aparecer altas na IPE porque a doença pode não afetar estas enzimas e também porque estas têm outras fontes para além do pâncreas.
IPE
TESTES LABORATORIAIS:
▪ Turbidez do plasma
▪ Digestão do NBT-PABA
▪ Absorção da D-xilose
TESTE INCONCLUSIVO –> dão muitos falsos positivos e falsos negativos e são demasiado laborosos para realizar em rotina
IPE
TESTES LABORATORIAIS
Ácido fólico
(avalia pâncreas exócrino e ID proximal)
- ⬇ indica lesão da mucosa do ID.
- ⬆ indica disbiose (bactérias sintetizam folatos) OU alimentação rica em folatos (vegetais)
IPE
TESTES LABORATORIAIS
Vit. B12
(avalia pâncreas exócrino e ID distal/íleo)
- Lesão do pâncreas exócrino → não é produzido fator intrínseco → não há absorção de Vit.B12
- Causas de estar ⬇:
- IPE.
- Disbiose (bactérias competem por Vit. B12 e esta não é absorvida).
- Lesão da mucosa do íleo (não consegue absorver).
IPE
TESTES LABORATORIAIS
Tripsin-Like Immunoreactivity (TLI)
mede [tripsinogénio], quando ⬇ indica IPE –> TESTE IDEAL
✓ Permite detetar IPE subclínica.
✓ Específica para espécie.
✓ Não precisamos de retirar suplementos enzimáticos (usados no tratamento, descrito à frente).
✓ Estável à temperatura ambiente (⚠ luz e elevadas temperaturas dão falsos positivos).
A pequena quantidade de tripsinogénio libertada na corrente sanguínea pode então ser medida por meio do teste TLI. Quando a massa de células acinares é severamente diminuída, a quantidade de tripsinogénio libertado na corrente sanguínea também é diminuído e as concentrações séricas de TLI são diminuídas da mesma forma.
Este teste deteta tripsinogénio, tripsina, tripsina ligada a moléculas inibidoras e, indiretamente, o estado da função pancreática. A enzima ativa (tripsina) só está presente no soro quando há inflamação pancreática.
O TLI sérico é específico para a espécie (fTLI – gato // cTLI – cão) e para o pâncreas.
Valores de TLI sérico acima de 50,0 μg / L (cães) e 100,0 μg / L (gatos) podem estar associados a:
- pancreatite aguda ou crónica.
- diminuição da excreção renal devido a insuficiência renal grave.
- pacientes desnutridos (cães geralmente) sem evidência de pancreatite (observado algumas vezes).
- alguns gatos com hipertrofia / atrofia pancreática irregular (geralmente considerada uma alteração benigna relacionada à idade).
IPE EM GATOS
Epidemiologia
Em felinos, a IPE não tem preferência por raça ou sexo.
Foi registada IPE com maior frequencia em gatos com 6 ou < meses de idade, seguido de 1 ou < anos de idade.
Os registos menos comuns são de gatos geriátricos com média de 12 anos de idade.
IPE EM GATOS
Sinais Clínicos
IPE → má digestão → nutrientes acumulados no intestino s/ absorção → perda de peso + défice em vitaminas → Fezes moles e volumosas
- Perda de peso
- Fezes moles e volumosas
- Esteatorreia
- Polifagia
- Sujidade gordurosa do pelo da zona perianal
IPE EM GATOS
Diagnósticos Diferenciais
Hiperparatiroidismo
Doença dental/periodontal
Doença Renal Crónica
Falência Cardíaca
Neoplasia
Doença Intestinal Crónica
Falência Hepática
Tratamentos c/ Corticosteroides
Diabetes Mellitus
IPE EM GATOS
Causas de não secreção de enzimas pancreáticas no gato
▪ Obstrução do ducto pancreático por neoplasias.
▪ Verme pancreático – Eurythema procyonis – causa proliferação de muco + fibrose nos ductos (causando também obstrução).
▪ Cirurgia abdominal.
▪ Falta de enteropeptidase no intestino – não ativa os zimogénios.
▪ Pancreatite crónica.
▪ Atrofia Acinar Pancreática (PAA)
▪ Hipoplasia pancreática.
Até ao dia de hoje, a causa mais comum, no gato, de não secreção de enzimas pancreáticas e consequente IPE é a PANCREATITE CRÓNICA. Segue-se a PAA e depois a hipoplasia pancreática.
IPE EM GATOS
Relação Diabetes mellitus vs IPE
Nos gatos que apresentam diabetes mellitus + fezes amolecidas, a probabilidade de terem IPE é maior, logo devem ser avaliados.
Isto porque na pancreatite crónica há destruição de todo o pâncreas (endócrino e exócrino) e os ilhéus pancreáticos são substituídos por fibrose, perdendo a sua função de produção de insulina → diabetes mellitus
IPE EM GATOS
Diagnóstico
Feito através do TLI (< 8 μg/L), teste da cobalamina e teste do ácido fólico.
(como já visto anteriormente, a TLI pode estar aumentada em gatos com função renal diminuída (gatos com azotemia))
▪ [cobalamina] sérica ⬇ em quase todos os gatos.
▪ [folatos] sérica ⬇ (ou está dentro das referências) se houver doença intestinal concorrente proximal ou total. ⬆ se houver disbiose.
IPE EM GATOS
Tratamento
Suplementação enzimática
▪ c/ extrato pancreático em pó → 1 colher de chá com comida enlatada ou óleo de peixe
OU
▪ c/ pâncreas cru → picado, pode ser congelado
+
Administração parenteral de cobalamina
▪ ao longo da vida
OU
▪ 250 μ/g subcutânea, 1 vez/semana, por 6 meses → 1 mês depois volta a injetar → recheck 1 mês após a última dose
(Nos gatos a falta de absorção de cobalamina é mais grave, pois nestes animais a produção de cobalamina é 100% feita no pâncreas (no cão também é produzida no estômago))
+
Dieta
▪ Evitar dietas pobres em gordura (por causa das vitaminas lipossolúveis).
▪ Não dar fibras não fermentativas, pois impedem a digestão das gorduras
IPE EM GATOS
Resposta ao tratamento
A maioria gatos respondem muito rapidamente à terapia de reposição enzimática e mostram resolução das fezes amolecidas em 3 a 4 dias. Quando os sinais clínicos já não são visíveis, a quantidade de enzimas pancreáticas administradas com cada refeição pode ser gradualmente diminuída para a menor dose eficaz. Esta dose pode variar de paciente para paciente, e também pode variar entre os diferentes tipos de suplemento pancreático.
Gatos que não respondem ao tratamento → dar inibidores de protões (omeprazole) → ⬇ a lípase no estômago melhorando a absorção de lípidos.
Gatos que não respondem à suplementação de cobalamina (grave) por terem inflamação do intestino → dar antibiótico (tilosina ou metronidazole) para reduzir a disbiose e consequente inflamação.
Alguns gatos morreram de IPE mesmo com a terapia, apresentando vómitos e baixas concentrações de cobalamina e folatos → tinham outra doença mas do intestino, que emparou a terapia
IPE EM GATOS
Outras consequências
▪ Acidose lática D → a acidose formou-se pela fermentação excessiva no intestino devido à disbiose causada pela IPE. Resolve-se com suplemento pancreático também.
▪ Dor abdominal → quando a causa é pancreatite crónica, também pode causar dor abdominal e anorexia pois a inflamação pode passar para outros órgãos do abdómen causando colangite, nefrite, etc.
Esta é única razão pela qual se faz ecografia e radiografia na IPE, caso contrário nunca são usadas para
diagnóstico desta doença.
IPE em gatos
HEMOGRAMA
- linfopenia
- linfocitose
- neutrofilia
- eosinofilia
- aumento das enzimas hepáticas
Inconclusivos para IPE, mas podem aparecer por causa de diabetes mellitus ou inflamações como colangite
IPE EM CÃES
Sinais clínicos
▪ Polifagia
▪ Perda de peso
▪ Aumento do volume fecal
IPE EM CÃES
Raças predispostas, Idade, Género e Causas associadas
Nos cães, a IPE é mais frequente nas fêmeas, excepto em Rough Coated Collies (nos testes feitos, não foi detetado em maioria das fêmeas da raça).
Pastor Alemão (GS) – 60% dos casos:
* Jovem adulto (cerca de 3 anos de
idade)
* PAA por patogenia mediada (infiltrados de linfoplasmocitos no pâncreas) quando a IPE é subclínica
Rough Coated Collie (RCC) – muitos estudos:
* Jovem adulto (cerca de 3 anos de idade)
* PAA por patogenia mediada (infiltrados de linfoplasmocitos no pâncreas) quando a IPE é subclínica
Cavalier King Charles Spaniels – muitos estudos:
* Cerca de 7 anos
* Pancreatite crónica (+ provável)
* Hipoplasia
* Neoplasia
Cocker-Spaniels
Chow Chows
* 18 meses
* Gene autossómico recessivo (ainda não se sabe qual)
* Hipoplasia pancreática (sendo que o animal ainda é muito jovem)
White Terrier
Setter Inglês - 1 estudo
* Ausência de células acinares (congénita)
▪ Em animais mais jovens (caso dos Chows) suspeita-se que a causa da IPE sejam mecanismos imunomediados ou doença congénita.
▪ Em animais mais velhos (GS, RCC e Charles Spaniel) suspeita-se que a IPE surja em consequência de outras doenças como a pancreatite crónica.
▪ Pode afetar outras raças por diferentes doenças congénitas em cães de diferentes continentes (foram encontrados casos em Boxer, Great Dane, Golden Retriever, Labrador Retriever, Rotweiller e Weimaraner).