Estomatologia Flashcards
DOENÇA PERIODONTAL
Definição
Doença inflamatória progressiva e cíclica do periodonto, induzida pela placa bacteriana (predominantemente anaeróbios de gram negativo) subgengival e que evolui com perda de inserção periodontal
É o problema mais comumente diagnosticado em pequenos animais.
Apresenta poucos ou nenhuns sinais clínicos externos e, por isso, muitas vezes a terapia é aplicada já tarde no percurso da doença – por consequência, é a doença menos tratada.
A doença periodontal não controlada tem inúmeras consequências graves tanto a nível local como a nível
sistémico:
LOCAIS:
▪ Fistulas oronasais (ONF)
▪ Lesões peri-endo de classe III
▪ Fraturas patológicas
▪ Problemas oculares
▪ Osteomielite
▪ ⬆ incidência de carcinoma oral
SISTÉMICAS:
▪ Doença renal
▪ Doença hepática
▪ Doença pulmonar
▪ Doença cardíaca
▪ Osteoporose
▪ Efeitos adversos na gravidez
▪ Diabetes Mellitus
ESTÁGIOS DA DOENÇA PERIODONTAL
Gengivite
Periodontite
Gengivite
- Sinal inicial.
- Inflamação limitada à gengiva provocada por bactérias da placa, podendo estar ou não associada a cálculo (= tártaro, placa calcificada pelos minerais da saliva).
- Por sua vez, pode existir cálculo sem existir gengivite. O cálculo não é patogénico por si só.
- Pode ser revertida por uma profilaxia dentária completa e tratamento em casa constante.
Periodontite
- Sinal mais tardio.
- inflamação das estruturas mais profundas do dente (ligamento periodontal e osso alveolar) causada por microorganismos.
- provoca a destruição progressiva dos tecidos levando a recessão gengival, formação de bolsa periodontal ou ambas.
RECESSÃO GENGIVAL
Processo no qual a gengiva que envolve os dentes se afasta dos mesmos, expondo mais o dente e progressivamente a sua raiz.
Os dentes apresentam-se mais longos e com um tom acastanhado perto da gengiva.
BOLSA PERIODONTAL
Ocorre quando entram bactérias no sulco entre a gengiva e o osso que envolve o dente e não são removidas, causando inflamação e posterior destruição do osso e, por consequência, um aprofundamento desse sulco.
Bolsas leves a moderadas podem ser reduzidas ou eliminadas por remoção adequada de placa e cálculo. No entanto, a perda de tecido ósseo é irreversível. Sem cirurgia regenerativa, apenas podemos interromper a sua progressão.
DOENÇA PERIODONTAL
ETIOLOGIA
Bactérias orais
As bactérias orais aderem ao dente pela placa. A placa pode conter até 100 milhões de bactérias por grama!
Estas bactérias estão organizadas em biofilme contidas numa matriz composta por glicoproteínas salivares e polissacáridos extracelulares, matriz esta que elas próprias produzem. O facto de estarem assim organizadas em biofilme permite que consigam viver em ambientes hostis – formam-se em qualquer ambiente e superfície húmida, seja biótica ou abiótica. Deste modo, são 1000 a 1500 x mais resistentes a antibióticos do que as bactérias de vida livre.
Tipos de bactérias existentes na cavidade oral
Numa placa saudável
bactérias gram-positivas aeróbicas facultativas e cocos
Tipos de bactérias existentes na cavidade oral
gengivite
aumento do nº de bactérias gram-negativas móveis e espécies anaeróbicas
Tipos de bactérias existentes na cavidade oral
bolsas periodontais
elevado nº de espiroquetas
Tipos de bactérias existentes na cavidade oral
doença periodontal
bastonetes gram-negativos são cerca de 74% da flora microbiótica
Tipos de bactérias existentes na cavidade oral
doença periodontal crónica
elevado nº de espiroquetas
PROCESSO DE COLONIZAÇÃO
- As bactérias colonizadoras primárias têm capacidade de adesão, aderindo assim à coroa do dente. Nem todas as bactérias têm esta capacidade de adesão.
- A partir do momento em que fazem a adesão, possibilitam a formação de estruturas glicoproteicas que depois facilitam a adesão das bactérias que não têm capacidade de adesão inicial.
- Finaliza com a expansão das colónias para outros locais ainda livres de bactérias.
- A formação da placa pode evoluir para mineralização e cálculo.
Postulados de Socransky
Afirmam que para ser considerada como periodontopatogénica, as espécies bacterianas têm de possuir os seguintes critérios:
ASSOCIAÇÃO
ELIMINAÇÃO
RESPOSTA DO HOSPEDEIRO
VIRULÊNCIA
MODELOS ANIMAIS
A doença periodontal não é considerada uma infeção convencional, pois se se colocar as bactérias orais de um cão com doença periodontal noutro cão saudável, este não desenvolve obrigatoriamente a mesma doença. Segue, então, os postulados de Socransky
Postulados de Socransky
ASSOCIAÇÃO
Relacionamos os agentes etiológicos apenas com locais onde haja doença ativa. No mesmo dente vamos encontrar zonas de grande atividade e zonas de dormência
Postulados de Socransky
ELIMINAÇÃO
Se se eliminar o agente há paragem do desenvolvimento da doença
Postulados de Socransky
RESPOSTA DO HOSPEDEIRO
resposta do hospedeiro tem de validar o papel específico do agente na doença.
Postulados de Socransky
VIRULÊNCIA
o agente tem que possuir fatores de virulência relevantes para a iniciação e progressão da doença
Postulados de Socransky
MODELOS ANIMAIS
a patogenia do agente num animal modelo tem que concluir que pode causar doença periodontal
Há 2 tipos de placa
▪ Placa da superfície do dente – placa supragengival (na coroa)
▪ Placa entre o osso alveolar e a gengiva – placa subgengival
as bactérias da placa subgengival secretam
toxinas – citotoxinas e endotoxinas
bacterianas – e subprodutos metabólicos que podem invadir os tecidos por si mesmos e então causar inflamação, começando na gengivite e acabando na periodontite. MAIS GRAVE!
A inflamação produzida pela combinação de bactérias subgengivais + resposta do hospedeiro
danifica o tecido do dente, e diminui o suporte ósseo devido à atividade osteoclástica
À medida que a doença periodontal progride ao longo do tempo
há uma perda continua de tecido ósseo num padrão não linear com estágios ativos de destruição seguidos de fases de repouso
O estágio final da doença periodontal é
a perda do dente
No entanto, a esse ponto, a doença já causou outros problemas significativos
Ortoclusão classe 0 ou Mordida em Tesoura
Dentes desalinhados que, ao mastigar, maceram o espaço gengival entre outros dois dentes. Acumulam-se também alimentos, pêlos, depósitos de placa que predispõem ao desenvolvimento da doença periodontal
Animais braquicéfalos
Não há espaço para os dentes nascerem e erupcionar normalmente.
Esses dentes rodam e formam como que uma ilha de dentes que facilita os depósitos de cálculo.
Hiperplasia gengival
genética em boxers e pode ser induzida por medicamentos (como ciclosporina) tomados por um longo período de tempo
hipoplasia do esmalte
há falta de formação do esmalte dentário expondo a dentina, que é rugosa e assim facilita o depósito de placa. Uma das causas para esta hipoplasia é o vírus da esgana – tem tropismo para as células que produzem o esmalte (ameloblastos), destruindo-as, e estas já não conseguem repor o esmalte
progressão da doença periodontal é determinada pela
virulência das bactérias combinada com a resposta do hospedeiro
A resposta do hospedeiro é até a que muitas vezes lesiona o tecido periodontal. No entanto, os pacientes com sistema imunológico débil normalmente têm uma doença periodontal mais grave do que os indivíduos com boa saúde
Os glóbulos brancos lutam contra a infeção fagocitando as bactérias e libertando enzimas para destruir os invasores bacterianos, estejam em curso ou após a sua morte. Quando libertadas, essas enzimas causam ainda mais inflamação nos tecidos gengivais e periodontais.
Um indivíduo que não tem suscetibilidade genética, sujeito às mesmas condições ambientais
não desenvolve doença
Os processos destrutivos envolvidos na progressão da doença periodontal resultam essencialmente
da resposta inflamatória que se desencadeia e esta é influenciada por fatores genéticos
A resposta imunitária depende de determinados genes, nomeadamente os que dão origem
às citocinas (pex. IL-1). As citocinas vão induzir células como os fibroblastos a produzir prostaglandina e metaloproteinase matriz responsáveis associadas respetivamente à destruição óssea e à degradação do tecido conjuntivo.. Temos assim uma justificação para o aumento da destruição periodontal conforme o aumento da resposta inflamatória do individuo.
IL-1
▪ Promove reabsorção óssea.
▪ Permite entrada de cels. infl. nos locais com infeção
▪ Estimula libertação de PGE2 pelos fibroblastos e macrófagos.
▪ Estimula libertação de metaloproteinase que degradam as proteínas da matriz extracelular
IL-6
▪ Promove reabsorção óssea.
▪ Modula a resposta inflamatória a gram negativos.
a presença de um determinado polimorfismo num indivíduo não é necessariamente sinónimo de
este vir a desenvolver doença periodontal
nem a sua ausência é sinónimo de a não vir a desenvolver!
Doença periodontal é uma doença …
multifatorial
Um só polimorfismo não dá origem à doença. No entanto, um conjunto grande de polimorfismos juntamente com fatores ambientais (maior densidade bacteriana), fatores comportamentais (comer pedras do chão com fraturas do esmalte) e fatores microbianos podem predispor à instalação da doença.
PATOGENIA
A nível dos tecidos periodontais:
Na presença da placa madura ocorre ulceração do revestimento epitelial, migração apical de bactérias patogénicas, como Porphyromonas gingivalis com consequente degradação do ligamento periodontal e reabsorção óssea
PATOGENIA
A nível celular:
Aumento do número de linfócitos, monócitos, macrófagos, neutrófilos e mastócitos que são atraídos para o local, onde libertam citocinas proinflamatórias e vasoativas, como a histamina, que promove vasodilatação
PATOGENIA
A nível bioquímico:
As citocinas proinflamatórias aumentadas regulam a liberação de MMPs (envolvidas na reabsorção óssea e degradação do colagénio); fragmentos de colagénio fornecem nutrição para bactérias patogénicas; ocorre produção de prostaglandina (envolvida na reabsorção óssea).
Propriedades invasoras da bactérias:
Produzem exotoxinas
Produzem endotoxinas
exotoxinas:
Hialuronidase → Aumenta a permeabilidade dos tecidos
Colagenase → Destrói o tecido conjuntivo
Protease → Lesa a membrana celular
Fosfolipase → Induz reabsorção óssea mediada por prostaglandinas
Leucotoxinas → Necrose e apoptose dos leucócitos
endotoxinas
Os lipopolissacáridos das paredes das bactérias de gram negativo ativam os osteoclastos promovendo a reabsorção do osso e alteram a resposta imune.
1º sinal clínico
GENGIVITE – eritema (gengiva fica vermelha por causa da vasodilatação capilar) + edema + sangramento gengival durante a escovagem/mastigação + halitose
2º sinal clínico
PERIODONTITE – perda de conexão entre a gengiva e o dente, a zona periodontal migra apicalmente. Começa a haver perda alveolar.
… em alguns casos:
A migração apical resulta em RECESSÃO GENGIVAL e a profundidade do sulco mantém-se.
Por causa da recessão, a raiz do dente começa a ficar exposta e a doença é facilmente identificada num exame com o animal consciente.
… noutros casos
A gengiva permanece com a mesma altura mas a zona de conexão continua a mover-se apicalmente acabando por se formar uma BOLSA PERIODONTAL.
Só diagnosticada com o animal sob anestesia, usando uma sonda periodontal
3º sinal clínico
EXFOLIAÇÃO DO DENTE – a perda alveolar é contínua até haver exfoliação do dente
4ª sinal clinico
PERDA PERMANENTE - depois da exfoliação do dente, a área deixa de estar infetada mas a perda óssea é permanente
reabsorção horizontal
Epitélio juncional acima da crista
reabsorção vertical
Epitélio juncional abaixo da crista
Pseudobolsa
Quando se mede a profundidade do sulco há profundidade acrescida não por haver bolsa periodontal mas sim porque houve sobrecrescimento, hiperplasia da gengiva
ONF – Fístula oronasal
Mais comum em raças de cães pequenos (especialmente condrodistróficas) de idade mais avançada. Pode ocorrer com menos frequência noutras raças e em felinos.
Aparecem quando a doença periodontal progride para cima ao longo da face palatal dos caninos maxilares (embora qualquer dente maxilar seja candidato). Isto vai resultar numa comunicação entre a cavidade oral e a cavidade nasal, criando infeção na mesma (sinusite)
ONF – Fístula oronasal
Sinais clínicos
- descarga nasal crónica
- espirros
- anorexia ocasional
- halitose
ONF – Fístula oronasal
Diagnostico Final
Animal precisa de anestesia
Introduz-se uma sonda periodontal na face palatal do dente, verificando-se uma fissura.
ONF – Fístula oronasal
Tratamento
Extração do dente e fecho da fissura com uma aba muco-gengival
Abcesso Perio-endo Classe III
Também em cães pequenos e toy, mais velhos.
Ocorre em dentes multi-raizados.
O local mais comum é a raiz distal dos primeiros molares mandibulares.
A perda periodontal ocorre apicalmente e acessa o sistema endodôntico causando infeção por contaminação bacteriana. A infeção espalha-se por dentro do dente através da câmara pulpar e causa ramificações periapicais nas outras raízes.
Fraturas Patológicas
Afeta os caninos e primeiros molares da mandíbula
Fraturas Patológicas
Ocorre por:
▪ Perda periodontal crónica que enfraquece o osso.
▪ Por causa da extração dentária.
▪ Em cães pequenos porque os dentes são mais largos em proporção com a mandíbula
Fraturas Patológicas
Têm um prognóstico reservado por várias razões:
- a cura adequada é difícil de obter por causa da falta de osso remanescente.
- há pouco oxigênio na área.
- pela dificuldade em fixar rigidamente a mandíbula caudal.
Fraturas Patológicas
Resolução:
Existem inúmeras opções de fixação das fraturas patológicas mas o uso de fios, pinos ou placas é geralmente necessário. Independentemente do método de fixação, a(s) raiz(es) com doença periodontal devem ser extraídas para que a cura ocorra.
Se uma das raízes de um dente multi-enraizado afetado estiver periodontalmente saudável, há uma chance ainda maior de fratura mandibular por causa do aumento da força necessária para extrair a raiz saudável. Uma forma alternativa de tratamento para esses casos é seccionar o dente, extrair a raiz doente e realizar terapia de canal radicular na raiz saudável.
Inflamação perto da órbita
Pode potencialmente levar a cegueira.
Quando a inflamação ocorre nos ápices dos molares e 4ºs pré-molares superiores, ocorre muito perto do tecido ótico colocando-o em risco.
Nos gatos (especialmente os braquicefálicos) os ápices dos caninos maxilares criam o mesmo problema.
Carcinoma Oral
Possivelmente relacionado com a inflamação crónica que existe na periodontite
Osteomielite crónica
É uma área de osso infetado, morto.
As doenças dentarias são a causa nº1 de osteomielite crónica. Para piorar, quando uma área de osso está necrótica, não responde a qualquer tipo de terapia com antibiótico. Sendo assim, a terapia definitiva geralmente requer um desbridamento cirúrgico agressivo.
IMPACTO SOCIAL DA DOENÇA PERIODONTAL
Os animais ficam com dor, deixam de se alimentar como antes, têm alterações de comportamento (retraídos deixando de conviver com as famílias ou agressivos), halitose e desenvolvem corrimentos nasais. Estes dois últimos, principalmente, tornam a aceitação destes animais dentro das famílias mais complicada.
CONSEQUÊNCIAS SISTÉMICAS SEVERAS
A formação de placa e o seu crescimento vai provocar uma resposta inflamatória com chuva de citocinas. Estas células fazem com que aumente a permeabilidade vascular, permitindo assim a entrada das bactérias na circulação tendo acesso ao resto do corpo. Deste modo, a doença periodontal:
- Afeta em 1º lugar o pulmão devido à sua grande vascularização, podendo causar pneumonia.
- Afeta rins e fígado (abcessos hepáticos) levando a uma perda de função deste órgãos ao longo do tempo.
- Afeta válvulas cardíacas que estejam previamente lesionadas (pex. por displasia valvular) e causa endocardite e/ou miocardite que pode resultar em infeções intermitentes e doença tromboembólica.
- Pode causar artrites
- Pode causar enfarte cerebral e enfarte do miocárdio.
- Baixa o peso à nascença e aumenta a morte fetal.
- Pode ⬆ lípidos inflamatórios, causando um estado de lipidemia geral → estado de inflamação de todo o corpo levando a processos de doenças crónicas e respostas imunes anormais.
- Com a manutenção do estado de resposta inflamatória sistémica, pode conduzir mais tarde à instalação de tumores
Doença Periodontal e Diabetes Mellitus
A doença periodontal pode levar à resistência à insulina, resultando num pobre controlo da diabetes mellitus (podendo, como consequência, causar doença microvascular).
Foi também demonstrado que a diebetes mellitus é um fator de risco para a doença periodontal.
As duas doenças têm uma relação bidirecional → uma piora a outra
GRAUS DA DOENÇA PERIODONTAL
PD0
(Normal)
Periodonto normal, sem inflamação gengival ou periodontite clinicamente evidentes
GRAUS DA DOENÇA PERIODONTAL
0 a 4
GRAUS DA DOENÇA PERIODONTAL
PD1
(Gengivite)
- Gengivite (GI, GII ou GIII) sem perda de inserção;
- Tamanho e arquitectura da margem alveolar normais;
- Profundidade do sulco gengival normal (≤ 3mm no cão e ≤ 0,5mm no gato);
- Sem evidência de dor.
GRAUS DA DOENÇA PERIODONTAL
PD2
(Periodontite Incipiente)
- Formação das bolsas periodontais (3-5mm no cão e 1mm no gato);
- Sinais radiográficos que evidenciam perda de inserção até 25%;
- Mobilidade normal ou grau 1;
- Envolvimento da furca (F0 ou F1);
- Desconforto moderado em certos doentes
GRAUS DA DOENÇA PERIODONTAL
PD3
(Periodontite Moderada)
- Formação das bolsas periodontais (5-7mm no cão e 1-2mm no gato);
- Sinais radiográficos que evidenciam perda de inserção de 25 a 50%;
- Mobilidade grau 1 ou grau 2;
- Envolvimento da furca (F1 ou F2);
- Dor de moderada a acentuada.
GRAUS DA DOENÇA PERIODONTAL
PD4
(Periodontite Avançada)
* Formação das bolsas periodontais (>7mm no cão e >2mm
no gato);
* Sinais radiográficos que evidenciam perda de lnserção superior a 50%;
* Mobilidade grau 2 ou grau 3;
* Envolvimento ou exposição da furca (F2 ou F3);
* Dor de moderada a acentuada.
TRATAMENTOda Doença periodontal
O pilar da terapia periodontal é uma profilaxia dentária completa. Deve ser realizada enquanto o paciente está sob anestesia geral com um tubo endotraqueal adequadamente inflado. A profilaxia deve incluir as seguintes etapas:
1. Examinação e consulta pré-cirúrgica
2. Lavagem com Clorexidina
3. Limpeza Supragengival
4. Limpeza da placa Subgenvival e do Cálculo
5. Polir
6. Lavagem do sulco
7. Terapia com fluor (opcional)
8. Sondagem periodontal, avaliação oral e mapeamento dental
9. Radiografia
10. Plano de tratamento
11. Aplicação de uma barreira selante (opcional)
12. Educação do tutor
TRATAMENTO
1. Examinação e consulta pré-cirúrgica
O médico veterinário deve realizar uma examinação física e oral o mais completa possível.
A examinação física é importante para procurar problemas de saúde e ajudar a induzir uma anestesia segura.
Primeiro deve-se observar o animal a comer e a beber e só depois anestesiar para avaliar a cavidade oral.
A examinação oral identifica patologias óbvias (como dentes fraturados, dentes intrinsecamente manchados, dentes móveis, massas orais e lesões reabsortivas) e também permite uma avaliação preliminar do estado periodontal.
Antes de passar às etapas seguintes, é importante conhecer o equipamento de profilaxia dentária:
* Aspirador dentário
* Seringa de 3 vias
* Sonda de higienização (destartarizador)
* Turbina
* Peça de mão com borracha de polimento
TRATAMENTO
2. Lavagem com Clorexidina
Já com o animal anestesiado.
A cavidade oral é uma área bastante contaminada e a limpeza convencional pode ser invasiva. Consequentemente, as limpezas profiláticas resultam muitas vezes em bacteremia transitória. É então recomendado enxaguar a cavidade oral com solução de Gluconato de Clorexidina a 0,12% antes de iniciar a lavagem profilática para diminuir a carga bacteriana pré-existente.
Os membros do staff que realizam a profilaxia dentária devem usar equipamento de proteção (luvas, mascara e óculos) para também diminuir a contaminação bacteriana, pois os higienistas estão muito sujeitos a desenvolver conjuntivite sética e otites!
Em conjunto com a lavagem sulcal, este procedimento é o chamado “one-stage full-mouth
desisnfection”.
TRATAMENTO
3. Limpeza Supragengival
Inicialmente, faz-se a revelação da placa com luz ultravioleta ou com reveladores da placa como a eritrosina ou verde malaquita.
Após a visualização da placa, a limpeza supragengival propriamente dita é realizada com raspagem mecânica ou manual.
TRATAMENTO
3. Limpeza Supragengival - tipos de sondas de higienização / destartarizador
- Manuais
- Mecânicos
- Sónico - Funcionam por ar de
compressão; Vibram a 2 - 6 500
Hz; São mais lentos mas mais seguros pois não provocam cavitação - Ultrassónicos
- Magnetorestritivos - Com padrão elítico, limpeza + eficaz
- Piezoelétricos - Com padrão linear, limpeza - eficaz
- Sónico - Funcionam por ar de
Estas sondas de higienização mecânicas podem, no entanto, deixar ainda algum cálculo para trás e acabar por prejudicar o dente. Deste modo, é recomendada a combinação de uma sonda de higienização mecânica ultrassónica + sonda manual para uma remoção de calculo assegurada.
TRATAMENTO
3. Limpeza Supragengival - modo de uso das sondas de higienização / destartarizador
Não se deve usar a ponta do instrumento diretamente no dente porque não é efetivo na redução de cálculo e pode danificar o osso. A parte que apoiamos no dente resume-se aos últimos 1 a 3 mm do lado do instrumento, sempre com um toque suave e num contacto máximo de 15 segundos. O instrumento deve ser mantido em constante movimento correndo lentamente sobre o dente com movimentos amplos e sobrepostos para abranger cada milímetro quadrado.
A sonda de higienização manual é um instrumento triangular com arestas de corte afiadas e com ponta afiada. Num destartarizador universal, a lâmina faz 90º com o eixo longitudinal.
O instrumento é segurado pela parte da borracha, como uma caneta (entre o polegar e o indicador). O dedo médio é colocado perto da extremidade para sentir as vibrações que sinalizam cálculo residual ou dente áspero/doente. É usado paralelamente à superfície do dente com a lâmina colocada na margem gengival. Fazem-se movimentos de “puxão” (para evitar lacerar a gengiva) sobrepostos várias vezes até o dente ficar liso.
A placa residual e o cálculo podem ser identificados usando uma solução reveladora de placa ou secando a superfície do dente com ar (o cálculo residual aprece como giz).
TRATAMENTO
4. Limpeza da placa Subgenvival e do Cálculo
Este é o passo mais importante da profilaxia pois o controlo da placa subgengival é suficiente para tratar a doença periodontal. Infelizmente, é também o passo mais difícil:
▪ o calculo subgengival é mais duro que o supragengival e tende a estar preso nas irregularidades da superfície dentária.
▪ a visualização desta parte do dente é difícil e limitada por causa do sangramento dos tecidos inflamados (requer bom tato por parte do veterinário).
▪ os sulcos ou bolsas periodontais possivelmente existentes limitam o movimento do instrumento.
O problema destes entraves é que, se ficar cálculo residual, este vai aumentar proporcionalmente ao aumento da profundidade da bolsa periodontal.
Para a limpeza da placa subgengival, a destartarização mecânica e manual (com cureta) devem ser feitas em conjunto, mais uma vez.
A cureta tem duas arestas cortantes e ponta romba. Desta maneira, não corta o anexo periodontal, desde que não seja aplicada força excessiva.
TRATAMENTO
4. Limpeza da placa Subgenvival e do Cálculo - tipos de cureta
- Universal - Têm um ângulo de 90º e podem, por isso, ser usadas por toda a boca desde que o instrumento esteja adaptado ao dente
- Gracey - Têm ângulos diferentes e são por isso especificas para uma determinada área do dente
As curetas estão rotuladas por números, cujo menor número corresponde ao menor ângulo. Quanto menor o ângulo, mais rostral na boca pode ser usado
TRATAMENTO
4. Limpeza da placa Subgenvival e do Cálculo - procedimento
- Colocar a face da cureta plana contra a superfície do dente.
- Inserir o instrumento gentilmente na base do sulco/bolsa periodontal.
- Rodar o instrumento de modo a que fique paralelo ao eixo longo do dente.
- O instrumento está na posição adequada para remover o cálculo, para descamação da superfície da raiz e para o desbridamento subgengival.
- Com o instrumento em contacto solido com o dente, puxá-lo da bolsa com um golpe curto e firme.
Este processo é repetido as vezes necessárias, com sobreposições, até a raiz ficar suave.
No final do processo, deve-se passar a cureta à procura de áreas mais rugosas que indiquem patologia da raiz ou cálculo residual.
Novamente, a limpeza pode ser avaliada secando a superfície do dente – qualquer calculo residual aparecerá farináceo.
TRATAMENTO
4. Limpeza da placa Subgenvival e do Cálculo - LESÕES TÉRMICAS
Os destartarizadores tradicionais (principalmente os piezoeletricos) NÃO DEVEM ser usados subgengivalmente para não causar lesões térmicas na gengiva e na polpa do dente.
A água que sai do destartarizador sai sempre no fundo do instrumento pois permite que este arrefeça mais.
Se a destartarização sobreaquecer o dente, para além de aquecer o esmalte, aquece a polpa – é um tecido mole dentro de um tecido duro, com o calor começa a expandir batendo nas paredes do tecido duro e morre (polpite/necrose térmica da polpa).
TRATAMENTO
5. Polir
Polir o dente fará com que a superfície do dente fique ainda mais macio e retarda o crescimento de placa dentária.
O polimento é realizado com um instrumento com ponta de borracha de baixa velocidade (até 3000 RPM) e com ângulo de 90º.
É importante usar uma boa quantidade de polidor pois se usarmos o instrumento seco, para além de ineficiente, pode sobreaquecer o dente.
Deve-se aplicar uma ligeira pressão no dente para conseguir polir as áreas subgengivais. Cada dente deve ser polido durante um máximo de 5 segundos (por causa do sobreaquecimento). Se for necessário mais tempo, faz-se uma pequena pausa e só depois se volta a polir o mesmo dente.
TRATAMENTO
6. Lavagem do sulco
Durante as etapas de limpeza e polimento, resíduos como cálculo e pasta de profilaxia (alguns dos quais
estão carregados de bactérias) acumulam-se no sulco gengival. Em alguns casos esses depósitos são visíveis
mas em todos os casos há depósitos microscópicos. A presença destes depósitos indetetáveis faz com que ocorra
infeção e inflamação contínuas. Deste modo, uma lavagem do sulco é fortemente recomendada.
A lavagem sulcal é realizada com uma cânula de ponta romba.
A cânula é colocada suavemente no sulco e depois injeta-se a solução de lavagem (salina estéril ou de
clorexidina) enquanto se move lentamente o instrumento ao longo das arcadas.
TRATAMENTO
7. Terapia com fluor (opcional)
Os aspetos positivos do fluor incluem o endurecimento da estrutura dentária, a diminuição da sensibilidade dentária e a inibição da atividade plaquetária e bacteriana. A diminuição da sensibilidade dentária é mais importante em pacientes com recessão gengival e consequente exposição da raiz.
A preparação de flúor deve ser aplicada nos dentes durante o tempo prescrito (3 minutos para espuma e 10 minutos para gel). Depois do tempo de contato apropriado, o flúor deve ser removido com um pano ou soprado com ar comprimido. O flúor não pode ser enxaguado com água, pois diminui a sua eficácia.
TRATAMENTO
8. Sondagem periodontal, avaliação oral e mapeamento dental - sondagem periodontal
A sondagem periodontal para avaliar bolsa periodontal realiza-se com uma sonda periodontal, porque as bolsas não são diagnosticadas por radiografia.
A sondagem Periodontal é realizada inserindo suavemente a sonda no bolso até parar e, em seguida, “caminhar” o instrumento ao redor do dente. As medições de profundidade devem ser feitas em 6 pontos ao redor de cada dente. Num sulco normal, a profundidade em cães é de 0 a 3 mm e em gatos é de 0 a 0,5 mm. Achados anormais devem ser registados no prontuário odontológico.
TRATAMENTO
8. Sondagem periodontal, avaliação oral e mapeamento dental - sondagem periodontal
A sondagem periodontal para avaliar bolsa periodontal realiza-se com uma sonda periodontal, porque as bolsas não são diagnosticadas por radiografia.
A sondagem Periodontal é realizada inserindo suavemente a sonda no bolso até parar e, em seguida, “caminhar” o instrumento ao redor do dente. As medições de profundidade devem ser feitas em 6 pontos ao redor de cada dente. Num sulco normal, a profundidade em cães é de 0 a 3 mm e em gatos é de 0 a 0,5 mm. Achados anormais devem ser registados no prontuário odontológico.
TRATAMENTO
8. Sondagem periodontal, avaliação oral e mapeamento dental - mapeamento dental
Fácil e eficiente se realizado por 2 pessoas, sendo que uma pessoa avalia a boca e dita as descobertas patológicas e outra regista-as no gráfico.
Este mapeamento faz-se usando o Sistema Triadan modificado. O sistema Triadan modificado usa números para identificar os dentes.
Cada quadrante é numerado começando no maxilar direito com a série 100. Isso progride no sentido horário de modo que o maxilar esquerdo seja 200, o mandibular esquerdo é 300, e o mandibular direito é a série 400.
Em seguida, começando na linha média rostral, os dentes são contados distalmente, começando com o primeiro incisivo, que é o dente 01, os caninos são sempre os números 04, os primeiros molares são 09. Por exemplo, o quarto pré-molar superior esquerdo é o dente 208.
As alterações encontradas são registadas num odontograma ou tabela dentária. Tudo o que estiver normal não se coloca no odontograma!
Todo o odontograma é de leitura, apenas com informação gráfica preenchido à base de símbolos (canto inferior direito) e numeração romana, nada é escrito por extenso.
TRATAMENTO
8. Sondagem periodontal, avaliação oral e mapeamento dental - Medição do grau de gengivite
Indice 0 (GI 0) - Gengiva saudável com bordo fino e não inflamado, não se assinala na tabela;
Índice 1 (GI I) - Gengiva ligeiramente inflamada (gengivite marginal), surge um ligeiro eritema e/ou edema. A gengiva não sangra na prova com sonda periodontal;
Índice 2 (GI II) - Gengiva moderadamente inflamada, com eritema e edema óbvios. A gengiva sangra na prova quando tocada;
Índice 3 (GI III) - Gengiva muito inflamada, hiperplásica ou atrófica, com eritema e edema óbvios. A gengiva sangra espontaneamente e por vezes profusamente na prova. Pode ocorrer a formação de bolsas e a ulceração da gengiva.
TRATAMENTO
9. Radiografia
Devem ser feitas radiografias dentárias de todas as áreas com patologia anotadas no exame odontológico. Isto inclui qualquer bolsa periodontal maior do que o normal ou fraturada, dentes lascados, massas, inchaços ou falha de dentes
TRATAMENTO
9. Radiografia - As maiores limitações à avaliação radiográfica do osso alveolar
▪ A perda do osso periodontal não se torna radiograficamente evidente até que 30% a 50% da mineralização seja perdida.
▪ Há situações onde o exame clínico é necessário. Ex. se há perda de osso apenas na face lingual/palatal ou vestibular do osso alveolar.
▪ Na fase incipiente de gengivite há evidência clínica mas não há alterações radiográficas.
▪ As furcas de grau 1 (F1) não são radiograficamente evidentes.
TRATAMENTO
9. Radiografia - exposição das radiografias
Para interpretação da doença periodontal as radiografias devem ser ligeiramente subexpostas. Radiografias demasiado subexpostas, queimadas ou mal posicionadas não permitem o diagnóstico.
TRATAMENTO
9. Radiografia - A melhor técnica radiográfica para evitar distorção das imagens
técnica paralela (vista lateral direta)
Antes de efetuar a avaliação radiográfica deve-se realizar uma higienização dado que o cálculo é radiodenso e pode obscurecer lesões patológicas numa radiografia, tal como pode ser confundido com outras lesões.
TRATAMENTO
9. Radiografia - A avaliação do aspeto radiográfico do periodonto envolve:
- A continuidade da lâmina dura - a lâmina dura deve ser visível, contínua e mesmo linear. Na doença periodontal perde estas características.
- A espessura do espaço do ligamento periodontal - o espaço do ligamento periodontal torna-se largo e irregular
- A forma, altura e densidade do processo ósseo alveolar - os bordos dos septos interalveolares perdem a sua nitidez anatómica
TRATAMENTO
9. Radiografia - A perda vertical de osso
Ocorre quando há uma área de recessão com o tecido adjacente ficando mais alto e perto da JCE.
Na fase inicial da perda óssea: bolsa óssea com três paredes, sendo definido pela raiz como uma parede e três superfícies do osso alveolar.
TRATAMENTO
9. Radiografia - A perda horizontal de osso
A perda horizontal de osso define-se como o processo
osteolítico que conduz à diminuição da altura do bordo alveolar e à
exposição radicular.
Os graus de furca
O envolvimento da furca aparece como uma perda de densidade e perda de substância na face coronal do osso interradicular em três graus:
Grau 1 – A sonda pode ser inserida na área da furca mas a destruição é menor do que um terço da largura horizontal.
Grau 2 – A sonda explora mas não passa através da furca.
Grau 3 – A sonda passa através da furca de um lado ao outro.