Complemento Flashcards
Como se define o complemento?
- Componente normal do plasma que potencia a fagocitose e destruição de bactérias não resistentes ao calor, e complementa a atividade antibacteriana dos anticorpos.
- São mediadores proteicos muito importantes no combate a infecções, em especial aquelas causadas por bactérias e patógenos extracelulares.
- Ativam diversas proteínas para mediar a destruição de patógenos.
Quais são as vias de ativação do complemento?
- Via clássica,
- Via alternativa
- Via das lectinas.
As três vias culminam numa via final comum:
MAC (Membrane Attack Complex)
Em que consiste a ativação do complemento?
- Recrutamento de células inflamatórias e imunocompetentes (C3a, C4a e C5a - anafilotoxinas);
- Opsonização de patogénios (C3b e C4b - opsoninas);
- Morte de patogénios (C5b a C9 - MAC).
*As três vias de ativação do complemento convergem para a formação de uma mesma estrutura (fragmento protéico) chamado de C3b.
Quais os elementos característicos de cada via de ativação?
- Via clássica: C1q, C1r, C1s, C4, C2;
- Via das lectinas: MBL/ficolina, MASP-1 e MASP-2, C4 e C2;
- Via alternativa: Fator B, Fator D, C3
Como funciona a nomenclatura do complemento?
“a”: fragmento menor
“b”: fragmento maior
Ex: C5 é clivado por C5 convertase, originando C5a e C5b. [Exceção: C2 é ao contrário!!]
Como é que a via Clássica funciona?
- É ativada por C1 (molécula inteira) → C1q vai ligar-se ao complexo antigénio-anticorpo e induzir uma alteração conformacional em C1r, ativando esta molécula → C1r ativo vai ativar o segundo C1r e as duas moléculas de C1s.
* (C1q, C1r e C1s são componentes ou fragmentos que compoem C1). </sub>
* A via clássica consegue unir imunidade inata e adaptativa, pois essa via pode ser ativada por anticorpos </sub> - C1s vai clivar C4 em C4b e C4a. C4b vai ligar-se à membrana e a C2, expondo C2 à ação de C1s. C1s vai então clivar C2 (C2a + C2b). Assim, forma-se a C3 convertase: C4b2a. 3.- C3 convertase hidroliza moléculas de C3 - C3a (anafilotoxina) e C3b (opsonina). Algumas moléculas de C3b juntam-se à C3 convertase para formar a C5 convertase: C4b2a3b. 4.- C3b da C5 convertase liga-se a C5, permitindo que este seja clivado em C5a e C5b [1ª posição da via final comum].
Como é que a via das lectinas funciona?
[Muito semelhante a via clássica]
As lectinas são proteases semelhantes a C1q, mas que são ativadas por manose (MBL) e alguns elementos açucarados. Assim, reconhecem carboidratos da superfície de microorganismos, e depois associam-se a MASP-1 e MASP-2 (proteases de serina), e vão, tal como C1s ativado, clivar C2 e C4.
<em>*MBL: lectina ligadora de manose</em>
Como é que a via alternativa funciona?
Não há nenhuma estrutura tipo C1 - Reconhecimento mais direto. 1.- C3 hidroliza espontaneamente (C3H2O). 2.- Fator B funciona como protease - C3H2O passa a C3(H2O)B. 3.- Fator D cliva C3(H2O)B - passa a C3(H2O)Bb e C3(H2O)Ba. 4.- Forma-se C3 convertase de fase fluida: C3(H2O)Bb. 5.- C3 convertase de fase fluida cliva C3 perto da membrana, formando C3a e C3b. 6.- C3b sofre ação de Fator B - C3bB. 7.- C3bB clivado por Fator D - C3bBa + C3bBb (C3 convertase membranar). 8.- C3 convertase é estabilizada poor fator P (properdin - exclusivo da via alternativa). 9.- C3 convertase cliva C3 em C3a e C3b. 10.- C3b junta-se a C3 convertase para formar a C5 convertase - C3bBbC3b. 11.- C5 convertase cliva C5 em C5a e C5b (via final comum).
Como se forma o MAC (Membrane Attack Complex)?
1.- C5b junta-se a C6 e C7. 2.- C5b67 une-se à membrana através de C7. 3.- C8 une-se ao complexo e insere-se na membrana. 4.- Moléculas de C9 ligam-se ao complexo e polimerizam. 5.- 10-16 moléculas de C9 unem-se e formam um poro na membrana. Este poro permite a entrada de fluido na célula e consequente lise celular.
Há bactérias resistentes à ação do MAC?
Sim. As bactérias do género Neisseria são resistentes à ação do MAC e, neste caso, o complemento atua apenas como opsonina.
Como é que as anafilotoxinas levam ao recrutamento celular?
ANAFILOTOXINAS: C3a, C4a, C5a. - Ativam adesão e quimiotaxia (atraem neutrófilos e monócitos); - Ativam macrófagos; - Ativam mastócitos - produção de quimiocinas e aminas vasoativas (aumento da permeabilidade vascular e contração do músculo liso).
Quais são os mecanismos reguladores do complemento?
C1-INH (inibidor C1) - dissociação de C1q e C1r+C1s => VIA CLÁSSICA + VIA LECTINAS. DAF (CD55) - acelera dissociação das C3 conversasse => TODAS AS VIAS. C4BP - bloqueia formação, ou acelera dissociação de C4b2a (C3 convertase) => VIA CLÁSSICA + LECTINAS. Fator I - cliva C4b e C3b => TODAS AS VIAS. Proteína S (vitronectina) -previne inserção de C5b67 na membrana => TODAS AS VIAS (MAC). Protectina (CD59) e HRF - impede ligação de C9 ao complexo, inibe formação de MAC => TODAS AS VIAS (MAC). Carboxipeptidase N, B e R - inativa anafilotoxinas clivadas (C3a, C4a e C5a) => TODAS AS VIAS.
Quais são os possíveis mecanismos de evasão do complemento?
1.- Anular factores do complemento. 2.- Mimetizar reguladores do complemento.
A que estão associadas as deficiências da via clássica do complemento?
- Deficiências em C1 q,r,s, C4 e C2. Maior propensão para infeções e doença. Há deposição de imunocomplexos (Lupus Eritematoso Sistémico). - Dosear: C1q (só é possível dosear este), C2 e C4.
A que estão associadas deficiências da via das lectinas?
Infecção por pneumococcus, influenza. Infeções recorrentes - otites, amigdalite, pneumonias. - Dosear: lectinas + Fator B, D, properdina e C3.
A que estão associadas deficiências da via alternativa?
- Fator B, D, properdina e C3. Diminuição da capacidade de opsonização e consequente aumento da propensão para infecção, em especial por bactérias encapsuladas.
Como se apresenta uma deficiência de C3?
Opsonização deficiente; Quimiotaxia deficiente; Diminuição da atividade bactericida (há menor formação de MAC). -> Associam-se a infeções recorrentes por bactérias encapsuladas, e têm 79% de probabilidade de se desenvolverem com deposição de imunocomplexos.
Como se apresenta uma deficiência de MAC?
Risco aumentado de infecção, especialmente com N. meningitis. —> [Menor morbilidade e mortalidade que deficiências de C3.]
O que avalia o CH50, o CH100 e o AH50?
CH50 - capacidade funcional de 50% do complemento. CH100 - avalia toda a cascata (em especial a via clássica). AH50 - avalia via alternativa.
Como se alteram estes parâmetros (CH50, CH100, AH50, etc.) nas deficiências de certos elementos do complemento?
º Def. C1q - CH50 perto de 0 º Def. C1 r/s - CH50 perto de 0 º Def. C4 - CH50 perto de 0 º Def. C2 (+ frequente) - CH50 perto de 0 º Def. C3 (+ grave) - CH50 perto de 0 º Def. Fator D - AH50 perto de 0 º Def. Fator B - AH50 perto de 0 º Def. Properdina - AH50 diminuído º Def. MBL - CH50 normal º Def. C5 a C8 - CH50 perto de 0 º Def. C9 - CH50 diminuído º Def. Fator I - C3 diminuído º Def. Fator H - C3 diminuído º Def. C1INH - C1 com número e função normal º Def. CD55 e CD59 - citometria de fluxo º Def. CR3/CR4 - citometria de fluxo
Como se caracterizam as deficiências do complemento?
Podem ter início em qualquer idade; Maioria são autonómicas recessivas; Deficiência dos componentes iniciais - doença autoimune e infeções; Deficiência dos componentes finais - infeções recorrentes a Neisseria (meningite), vasculite; Deficiência de C3 (+ grave) - doença autoimune, infecções recorrentes e septicemia.
Quais as proteínas envolvidas nas deficiências do complemento?
Proteínas de fase fluida: - C1INH = Angioedema hereditário; - C4BP = doença autoimune; - Fator I e Fator H = infeções piogénicas recorrentes; Proteínas ligadas a células: - CR1 e CR3 = Infeções piogénicas recorrentes; - CD59/DAF/HRF = Hemoglobinúria paroxística noturna.
Lúpus Clássico
- Doença autoimune, com deposição de complexos imunes, e produção de autoanticorpos (antiDNA e antinucleares). - Manifestações: º Renais; º Microvasos da pele = fenómeno de Raynaud e butterfly rash; º Articulações.
Como podemos ver se o lúpus está em fase ativa?
- Toma de glicocorticoides e imunosupressores; - Doseamento de C1, C2, C3 e C4; º Se valores ok = doença controlada; º Se valores diminuídos = doença ativa (gasta complemento).
Fenómeno de Raynaud
- Acontece por deposição de complexos imunes nos vasos = lúmen diminui = vasoconstrição 1.- dedos brancos (vasoconstrição); 2.- dedos azuis (vasodilatação compensatória) + dor; 3.- dedos encarnados (débito volta ao normal). - Tratamento = bloqueadores dos canais de cálcio
Lúpus Subagudo Cutâneo
- Défice de C2 e C4. - Diagnóstico = biópsia, que, se for compatível com doença, deve ser seguida do doseamento de C2 e C4 (diminuição destes confirma diagnóstico).
Quadro clínico de sinusopatia grave + infecção na ponta dos dedos Possível diagnóstico?
- Défice C3 (79% com deposição imunocomplexos). - Bactéria encapsulada?
Quadro clínico de sépsis a meningococcus Possível diagnóstico?
Défice de C5 - C8 [MAC] [C9 é menos grave]
Angioedema recorrente
!! Causa + comum de angioedema no adulto é a TERAPÊUTICA (fármacos como anti-HT, ACO, AINEs). !! - Défice de C1INH (alfa-2globulina, família das serpinas, produzida por hepatócitos). º Alfa-2 globulina, da família das serpinas. º Produzida maioritariamente por hepatócitos, mas também por fibroblastos, monócitos, megacariócitos e células placentares. º C1INH é regulado por androgénios, IFN-alfa e IL-6 (aumenta C1INH). - Pode ser hereditário ou adquirido. - Diagnóstico laboratorial = CH100, C3, C4, C1q, C1INH (doseamento e função)
Angioedema hereditário (AEH)
- Autossómica dominante (cromossoma 11); - Defeito mais frequente no sistema do complemento; - Classicamente: Pele em 75%, aparelho GI em 52%, sintomas respiratórios em 36%, mas pode afetar qualquer órgão; - Mortalidade: 30%, por falta de diagnóstico ou tratamento errado (edema da glote, choque hipovolémico); - Crise habitual dura 2 a 5 dias, com resolução espontânea; - Traumatismo, em particular nas mucosas, é o fator precipitante; - Ausência de história familiar NÃO deve excluir diagnóstico; - Rastreio: redução da fração C4; - 3 tipos de AEH: º Tipo 1 - mais frequente, défice quantitativo; º Tipo 2 - défice qualitativo (funcional) [tem C1 em quantidade normal ou aumentado, como tentativa de compensação]; º Tipo 3 - ligado ao cromossoma X, só acontece em mulheres, relacionado com estrogénios e período menstrual; - Valores de C1q inalterados, C4 diminuído.
Angioedema adquirido (AEA)
- Muito raro; - Início em idade adulta e idosa; - 2 formas clínicas: º Tipo 1 - défice quantitativo => neoplasias; º Tipo 2 - défice funcional => doença autoimune; - Distingue-se do AEH por ter diminuição de C1q, mas ambos têm C4 diminuído.
Hemoglobinúria Paroxística Noturna (HPN)
- Anemia hemofílica autoimune; - Rara; - Tríade = falência MO (citopénias), trombose em locais pouco comuns (s. Budd-Chiari), hemólise crónica (hemoglobinúria); - Alteração associada ao X, com alteração do gene PIG-A, e consequente défice nas GPI (proteínas de âncora associadas a CD55 e CD59). - Durante o dia, a pessoa bebe H2O, dilui a urina e, portanto, disfarça a hemoglobinúria (NÃO acontece só a noite!); - Diagnóstico = citometria de fluxo (com défice de CD55 e CD59 é diagnóstico positivo de HPN)
Síndrome Anticorpo Antifosfolípido (SAAF)
- Ac anticardiolipina, anticoagulante lúpico, antibeta2glicoproteína 1; - Pode dar falso positivo em testes de sífilis (placa tem cardiolipina);
Síndrome Hemolítico Urémico (SHU)
- E. coli enterohemorrágica; - Ocorre devido a mutações ou anticorpos contra via alternativa do complemento. - Tríade de sintomas = diarreia, anemia súbita e insuficiência renal aguda; - Manifestações: º Anemia hemolítica microangiopática; º Trombocitopenia; º Oligúria (lesão renal aguda); º Diarreia.