CIR01 - Síndromes de Insuficiência Hepatocelular e Hipertensão Porta Flashcards
Qual a definição de hipertensão porta? Ela é usada na prática?
Pressão porta > 5mmHg, ela é conceitual sem uso na prática.
Quais são as marcas clínicas da hipertensão porta? O que é mais comum de aparecer?
- Varizes (mais comum).
- Ascite (mais comum).
- Circulação colateral.
- Esplenomegalia.
- Encefalopatia.
O que é um sistema porta?
A presença de uma veia entre dois capilares. Artéria > Capilares > Veias > Capilares > Veias > Coração.
A veia porta é formada por quais veias?
- V. mesentérica superior.
- V. esplênica.
- Contribuições: Vv. mesentérica inferior, gástricas curtas e gástrica esquerda.
Qual a clínica da hipertensão porta? Explique a ocorrência de cada sinal e sintoma.
- Esplenomegalia: aumento da pressão porta dificulta saída de sangue do baço.
- Varizes: aumento da pressão porta dificulta entrada de sangue no fígado, sangue precisa encontrar outro caminho (através do sistema cava) para voltar ao coração.
> Esofágicas.
> Fundo gástrico.
> Anorretal.
> Abdominal. - Encefalopatia: sangue não passa pelo fígada adequadamente o que gera acúmulo de compostos tóxicos, principalmente amônia.
- Ascite: o aumento da pressão posterior ou ao nível dos sinusoides faz com que o sangue em alta pressão “vaze” pelos capilares fenestrados gerando ascite.
Como é classificada a síndrome da hipertensão porta? Onde terá a presença de mais ascite/varizes?
- Pré-hepática: + varizes e - ascite.
- Intra-hepática:
> Pré-sinusoidal: + varizes e - ascite.
> Sinusoidal: pode tudo.
> Pós-sinusoidal: + ascite - varizes. - Pós-hepática: + ascite - varizes.
Porque quem cursa com mais ascite normalmente tem menos varizes e vice-versa?
A ascite funciona como uma válvula de escape de pressão no sistema porta pelos simusoides. Quando tem muita ascite não faz muitas varizes normalmente.
Quais são as causas da síndrome de hipertensão porta pré-hepática?
- Pré-hepática:
> Trombose de veia porta: hipercoagubilidade (SAF, cirurgia bariátrica).
> Trombose de veia esplênica: a principal causa é a pancreatite crônica (inflamação próximo a veia esplênica que trombosa). Causa hipertensão porta segmentar, com varizes em fundo gástrico isoladas.
*V. mesentérica superior é raro em trombosar.
Quais são as causas da síndrome de hipertensão porta intra-hepática?
- Intra-hepática:
> Pré-sinusoidal: esquistossomose (impacta no espaço porta).
> Sinusoidal: cirrose.
> Pós-sinusoidal: doenaça veno-oclusiva (veia centro-lobular), doença rara causada por doença enxerto hospedeiro e “chá da Jamaica”.
Quais são as causas da síndrome de hipertensão porta pós-hepática? Qual a manifestação comum a todas as causas?
- Pós-hepática:
> Budd- Chiari: trombose da veia hepática.
> Obstrução da veia cara inferior: câncer e trombose.
> Doenças cardíacas: pericardite constrictiva e insuficiência da tricúspide.
Comum a todas: cursam com hepatomegalia.
O que é hipertensão porta segmentar?
Quando ocorre obstrução de parte da circulação que compreende o sistema porta sem obstruir a veia porta, assim ocorre aumento da pressão em um segmento desse sistema e formação de varizes em locais específicos a depender da drenagem venosa de cada local.
A causa na barriga de água na esquitossomose é hepática?
Não, a ascite é causada pela desnutrição que normalmente acompanha a doença nesse estágio. A esquistossomose causa hipertensão porta intra-hepática pré-sinusoidal, logo, a doença hepática não costuma causar muita ascite.
Quais as marcas do exame clínico que podem ajudar a diferenciar Budd-Chiari de cirrose cardíaca?
- Budd-Chiari: ascite refratária e poucas varizes.
- Cirrose cardíaca: ausculta cardíaca alterada, turgência de jugular e edema de MMII.
Em qual valor de pressão porta ocorre a formação das varizes de esôfago e qual valor tem risco aumentado de ruptura?
- Hipertensão porta: >5mmHg.
- Formação de varizes: >10mmHg.
- Ruptura de varizes: >12mmHg.
Qual a conduta deve ser realizada em um paciente com clínica ou risco alto de ter varizes esofágicas, mas que nunca sangrou?
- Clínica ou risco alto de ter varizes esofágicas = EDA de rastreio.
- Tem varizes? Profilaxia primária SE:
- Calibre médio ou grande das varizes (F2/F3).
- Child-Pugh B ou C.
- Presença de cherry-red spots (pontos avermelhados).
Profilaxia com: B-bloqueador OU ligadura elástica (LEV).
O que fazer com um paciente com clínica ou risco alto de ter varizes esofágicas, mas que a EDA não está disponível?
De acordo com o BAVENO 7 na indisponibilidade de EDA paciente com alto risco de sangramento já se pode iniciar beta bloqueador profilático.
Qual a conduta deve ser realizada em um paciente com hemorragia digestiva alta ativa por ruptura de varizes esofágicas?
- Estabilização inicial (A,B,C,D,E…)
- Investigação e tratamento agudo.
- EDA precoce: ligadura elástica (padrão ouro) OU escleroterapia (estimula coagulação, hepatopata pode ter coagulação deficitária, não é o preferível. Particulamente utilizada no sangramento de grande monta).
- Drogas (vasoconstrictores esplâncnicos): somatostatina, octretide OU terlipressina.
SE não resolver = medidas adicionais.
*Pode ser realizado reposição de fatores de coagulação com plasma fresco se houver alteração na coagulação.
Paciente com hemorragia digestiva alta na emergência sem causa definida começamos usando IBP (pensando em ruptura de úlcera estomacal/duodenal) ou vasoconstrictor esplâncnico (pensando em ruptura de varizes esofágicas)?
Usamos os dois medicamentos, após investigação guiamos tratamento.
Qual a conduta deve ser realizada em um paciente com hemorragia digestiva alta ativa por ruptura de varizes esofágicas APÓS FALHA DAS MEDIDAS INICIAIS? Qual as vantagens e desvantagens de cada medida?
Medidas iniciais:
1. Estabilização inicial (A,B,C,D,E…)
2. Investigação e tratamento agudo. EDA precoce + vasoconstrictores esplâncnicos.
SE não resolver = medidas adicionais.
- Balão de Sengstaken-Blakemore (3 vias): Medida desesperada se TIPS indisponível. Tempo máximo de duração 24h (risco de necrose esofágica e intestinal). Desinsuflar balão a cada 6h para prevenir isquemia.
- Shunt-portossistêmico intra-hepático transjugular (TIPS): feito pela hemodinâmica, é realizado um shunt entre a veia porta e a veia hepática o que causa uma redução imediata da hipertensão porta. Gera controle do sangramento e da ascite e permite transplante. No entanto, é pouco disponível e pode causar/piorar encefalopatia e estenose. Não impossibilita transplante.
- Cirurgia: anastomose entre veia porta e veia cava, é um shunt NÃO seletivo. Entrou em desuso pela altíssima mortalidade. Impossibilita transplante.
Na ruptura de varizes de esôfago com sangramento ativo qual o tempo máximo preconizado para realização de EDA?
EDA precoce. Colégio Americano de Cirurgiões fala em menos de 24h e o BAVENO 7 em menos de 7h.
Quais as profilaxias devem ser realizadas após um quadro de hemorragia digestiva alta por ruptura de varizes de esôfago?
- Ressangramento (profilaxia segundária): EDA mensal. Beta bloqueador E ligadura elástica.
- Peritonite bacteriana espontânea: Ceftriaxona depois Norfloxacina por um TOTAL de 7 dias.
- Encefalopatia: lactulose.
Qual a principal causa de morte por cirrose?
Ruptura de varizes esofágicas.
Quais as indicações para a realização de TIPS?
- Sangramento ativo não controlado por EDA e vasoconstrictores esplâncnicos (emergência).
- Ascite refratária ao tratamento clínico, Child B/C (eletivo).
Qual a classificação das varizes de esôfago?
- F1: pequena (<3mm) e não tortuosa.
- F2: aumentadas (entre 3-5mm), tortuosa e <1/3 do lúmen.
- F3: grandes (>5mm), tortuosas e >1/3 lúmen.
Qual a avaliação inicial devemos fazer em um paciente com ascite (exame físico e exames complementares iniciais)?
- Exame físico: Piparote, macicez móvel em decúbito, semicírculo de Skoda e rechacamento da parede posterior do reto ao toque retal.
- USG (exame de escolha para diagnóstico). Evidencia ascites de até 100ml.
- Paracentese diagnóstica (1° caso de ascite e mudança do estado clínico): diferenciar transudato e exsudato.
Na avaliação da ascite, qual exame físico tem mais sensibilidade e qual tem menos?
Toque retal é o mais sensível e o menos sensível é o piparote.
Normalmente o diagnóstico de ascite é dado pelo exame físico?
Não, o exame pode complementar um achado visual ou queixa do paciente, mas tem baixíssima acurácia.
Qual a diferença entre uma ascite com transudato e exsudato? Como diferencia-las?
- Transudato: pouca proteína, as principais causas são da hipertensão porta (cirrose, pericardite, ICC direita, Budd-Chiari…).
- Exsudato: muita proteína, as principais causas são as doenças do peritônio (carcinomatose, tuberculose…)
Como diferenciar transudato e exsudato na ascite?
Paracentese diagnóstica com cálculo do GASA (proteína do soro menos proteína da ascite).
- GASA ≥ 1,1 é transudato.
- GASA < 1,1 é exsudato.
Qual o tratamento da ascite na síndrome de hipertensão porta? Qual a meta de perda por dia com tratamento otimizado?
- Restrição de sódio: 2g/dia.
*Restrição hídrica só SE: hipoNa dilucional. - Diuréticos
> Espirolactona 100mg/dia (1° escolha por inibir o SRAA).
> Furosemida (complementar).
Meta: perda de 0,5 kg/dia ou 1kg/dia se edema associado.
Porque o sistema renina angiotensina aldosterona contribui para a formação e manutenção da ascite?
Pois ao perder volume para a ascite a pressão porta diminui, o que em tese reduziria a formação da ascite. No entanto, o rim interpreta essa perda de volume como hipotensão/hipovolemia e ativa o SRAA, reestabelecendo a hipertensão porta e gerando mais ascite.
Em ascites refratárias ao tratamento qual a conduta terapêutica auxiliar?
Paracentese terapêutica seriada.
O que é uma paracentese de grande volume? Quais cuidados devemos ter?
Paracentese com retirada de cinco ou mais litros. Para cada líquido retirado temos que repor 6-10g de albumina para manter o líquido dentro do vaso e prevenir a síndrome hepatorrenal (o líquido retirado pode estimular a drenagem de mais líquido por uma hipotensão relativa intra-abdominal. A formação rápida de ascite geraria uma hipotensão relativa que pode deflagrar a síndrome hepatorrenal).
Como é gerada a peritonite bacteriana espontânea e porque?
O líquido ascítico é pobre em proteínas (inclusive imunoglobulinas) o que reduz a defesa e facilita a translocação monobacteriana espontânea de E. coli e que causa a PBE.
Qual a clínica da PBE?
Dor abdominal, febre e encefalopatia.
Como é realizado o diagnóstico da PBE?
Paracentese diagnóstica com:
- Polimorfonucleares >250/mm3.
+
- Cultura monobacteriana positiva de gram negativo (E. coli mais comum).
Quando iniciamos o tratamento da PBE?
Presença de polimorfonucleares >250/mm3 já inicia o tratamento. Afecção de grave morbimortalidade não esperar cultura para iniciar tratamento.
Qual o tratamento da PBE?
Cefalosporina de terceira geração (Cefotaxima) por 5 dias.
Quando realizar profilaxia para PBE? Qual fármaco utilizar?
- Profilaxia primária:
> Aguda: sangramento por varizes. Fazer: Ceftriaxone e Norfloxacina por 7 dias no TOTAL.
> Crônica: proteínas totais do líquido ascítico menos do que 1,5g/dL.
Fazer: Norfloxacina para sempre. - Profilaxia segundária: após PBE para todos. Fazer Norfloxacina 400mg/dia VO para o resto da vida.
Qual profilaxia deve ser realizada após um quadro de PBE?
Profilaxia para síndrome hepato-renal para TODOS, com: Albumina 1,5g/Kg no 1° dia e 1g/Kg no 3° dia,
Quais são os diagnósticos diferenciais de PBE?
- Ascite neutrofílica.
- Bacterascite.
- Peritonite bacteriana segundária.
O que é a ascite neutrofílica e como trata-la?
> 250 de polimorfonucleados no líquido ascítico com cultura NEGATIVA. Tratamento = PBE.