Cefaleias - geral Flashcards
O que é cefaleia?
Aplica-se a todo processo doloroso referido no segmento cefálico, o qual pode originar- se em qualquer das estruturas faciais ou cranianas.
Qual a importância da sensibilidade dolorosa do segmento encefálico?
Mecanismo de proteção e defesa, sendo o mais rico em estruturas sensíveis à dor, já que aí se situam o encéfalo e os órgãos das sensibilidades especiais
Quais são as estruturas sensíveis à dor?
> todas as estruturas faciais superficiais ou profundas; > o couro cabeludo; > o periósteo craniano; > os vasos sanguíneos extracranianos; > as artérias do círculo de Willis e as porções proximais extracerebrais de seus ramos; > os grandes seios venosos intracranianos e suas veias tributárias; > a parte basal da dura-máter; > os nervos sensitivos.
E quais são as estruturas que não são sensíveis à dor?
> os ossos da calota craniana;
as leptomeninges e a maior parte da dura-máter;
o parênquima encefálico e todos os vasos no seu interior.
Quais são os mecanismos envolvidos na produção das cefaleias?
1) deslocamento, tração,
distensão, irritação ou inflamação das estruturas
sensíveis à dor, enumeradas acima;
2) vasodilatação.
Classificação e critérios diagnósticos para cefaleias, nevralgias cranianas e dor facial da Sociedade
Internacional de Cefaleias (SIC):
- Enxaqueca
1.1. enxaqueca sem aura
1.2. enxaqueca com aura
1.2.1. enxaqueca com aura típica
1.2.2. enxaqueca com aura prolongada
1.2.3. enxaqueca hemiplégica familiar
1.2.4. enxaqueca basilar
1.2.5. aura enxaquecosa sem cefaleia
1.2.6. enxaqueca com aura de instalação aguda
1.3. enxaqueca oftalmoplégica
1.4. enxaqueca retiniana
1.5. síndromes periódicas da infância que podem ser precursoras ou estar associadas à enxaqueca
1.5.1. vertigem paroxística benigna da infância
1.5.2. hemiplegia alternante da infância
1.6. complicações da enxaqueca
1.6.1. estado de mal enxaquecoso
1.6.2. infarto enxaquecoso
1.7. distúrbio enxaquecoso que não preenche os
critérios acima - Cefaleia tipo tensão
2.1. cefaleia tipo tensão episódica
2.2. cefaleia tipo tensão crônica
2.3. cefaleia tipo tensão que não preenche os
critérios acima - Cefaleia em salvas e hemicrania paroxística
crônica
3.1. cefaleia em salvas
3.1.1. cefaleia em salvas de periodicidade indeterminada
3.1.2. cefaleia em salvas episódica
3.1.3. cefaleia em salvas crônica
3.2. hemicrania paroxística crônica
3.3. distúrbio semelhante à cefaleia em salvas que não preenche os critérios anteriores - Miscelânea de cefaleias não associadas com lesões estruturais
- cefaleia idiopática em pontadas
- cefaleia por compressão extrínseca
- cefaleia por estímulos gelados
- cefaleia benigna da tosse
- cefaleia benigna do esforço
- cefaleia associada à atividade sexual
- Cefaleias associadas com traumatismos
cranianos
5.1. cefaleia pós-traumática aguda
5.2. cefaleia pós-traumática crônica - Cefaleias associadas com distúrbios vasculares
- doença cerebrovascular isquêmica aguda
- hematoma intracraniano
- hemorragia subaracnoidea
- malformação vascular não rota
- arterite
- dor das artérias carótidas ou vertebrais
- 6.1. dissecção arterial
- 6.2. carotidínea
- 6.3. cefaleia pós-endarterectomia
- trombose dos seios venosos intracranianos
- hipertensão arterial
- Cefaleias associadas a outras anormalidades
intracranianas
7.1.1. hipertensão intracraniana benigna
7.1.2. hidrocefalia hipertensiva
7.2. cefaleia por hipotensão liquórica
7.3. infecções intracranianas
7.4. sarcoidose e outras doenças inflamatórias
não infecciosas
7.5. neoplasias intracranianas
7.6. cefaleias associadas ao uso de substância ou à sua supressão
7.7. cefaleias associadas com outras patologias
intracranianas - Cefaleias associadas com o uso de substâncias
ou sua suspensão
8.1. cefaleias induzidas por substâncias de uso agudo
8.1.1. por nitratos e nitritos
8.1.2. por glutamato monossódico
8.1.3. por monóxido de carbono
8.1.4. por álcool
8.2. cefaleias induzidas pelo uso ou exposição
crônica a drogas
8.2.1. ergotamina
8.2.2. analgésicos
8.3. cefaleia por suspensão de drogas usadas agudamente
8.3.1. por abstinência de ergotamina
8.3.2. outras substâncias
8.4. cefaleias por suspensão de drogas usadas cronicamente
8.4.1. por abstinência de ergotamina
8.4.2. por abstinência de cafeína
8.4.3. por abstinência de narcóticos
8.4.4. outras substâncias - Cefaleias associadas com infecções não cefálicas
- Cefaleias associadas a distúrbios metabólicos
- hipóxia
- 1.2. hipercapnia
- 1.3. mistas (com hipóxia e hipercapnia)
- 1.4. hipoglicemia
- 1.5. diálise
- Cefaleias ou dores faciais associadas a
distúrbios do crânio, pescoço, olhos, ouvidos,
nariz, seios da face, dentes, boca ou a outras estruturas da face ou do crânio - Nevralgias cranianas, dor de troncos nervosos
e dor por desaferentação
Qual a diferença entre cefaleia primária e secundária?
PRIMÁRIA
- Grupos de 1 a 4
- Não-associadas a anomalias estruturais
- As do grupo 4 algumas vezes necessitam de investigação clínica antes de serem consideradas primárias
- Desagradáveis ao paciente
- De modo geral, não oferecem riscos
- Não há doenças ou transtornos causadores
SECUNDÁRIA
- Grupos de 5 a 12
- Numerosas e decorrentes de variadas causas
- É provocada por outra doença ou condição
- O tratamento de cada uma delas requer, na maioria das vezes, tratamento específico da afecção causadora da cefaleia, diferentemente do que acontece com as cefaleias primárias
Qual é o fator decisivo para classificar uma cefaleia como secundária segundo o Comitê de Classificação das Cefaleias da Sociedade Internacional de Cefaleia (SIC)?
- A cefaleia ocorra em associação temporal estreita com uma doença orgânica
- Se a cefaleia ocorre muito tempo após a doença orgânica, ela não pode ser aceita como cefaleia secundária.
OBS: Muitas vezes esta associação temporal é
difícil de ser estabelecida, podendo tratar-se apenas
simplesmente da coexistência das duas afecções.
Se a mesma cefaleia ocorre mais de uma vez, qual é a cefaleia mais provável?
- Enxaqueca (80%)
- Cefaleia de tensão
- Associação entre ambas cefaleias citadas
Quais as cefaleias mais preocupantes?
- As de origem intracraniana
- Ex: processos expansivos, irritação meníngea e hipertensão intracraniana
- São menos frequentes
- Causam maior preocupação ao paciente e merecem maior atenção do médico por acompanharem patologias mais graves
- Não há, também, relação
direta entre intensidade da dor e gravidade da lesão
intracraniana
OBS: Causas intracranianas devem ser especialmente consideradas em cefaleias que aparecem “de novo”, em quem nunca as apresentou ou naquelas que assumem um caráter diferente em indivíduos que já conhecem seu tipo habitual de cefaleia e são capazes de identificar um novo tipo, distinto do mesmo.
O que são cefaleias referidas?
- Dependem de processos que acometem o crânio, o pescoço, os olhos, orelhas, nariz, seios da face, dentes e estruturas da orofaringe e rinofaringe
- A dor é inicialmente sentida na estrutura em questão
- Dependendo da intensidade do processo, a dor pode irradiar, terminando por generalizar-se
Enxaqueca - Definição
- Distúrbio familiar
- Crises recorrentes de cefaleia muito variáveis em intensidade, freqüência e duração
- Crises comumente unilaterais (2/3)
- Pode piorar com esforço físico e movimentos da cabeça
- Intensidade moderada ou forte, prejudicando ou impedindo as atividades do indivíduo
- Pode ser predominantemente temporal, frontal, occipital, sendo possível qualquer localização craniana
- Pulsátil (latejante)
- Associadas com anorexia, náuseas e vômitos.
- Podem ser precedidas por, ou associadas com, perturbações neurológicas ou de humor.
- Todas estas características referidas não estão necessariamente presentes
em cada crise ou em cada paciente - Podem aparecer fenômenos vasomotores
- Palidez, sudorese, congestão nasal e conjuntival
Enxaqueca - Características
- É uma das formas mais comuns da cefaleia (2ª em frequência, só perdendo pra cefaleia tipo tensão)
- Principais características a considerar: frequência e intensidade dos sintomas
- 2 ou 3 mulheres: 1 homem
- Em 25%, a 1ª manifestação da enxaqueca ocorre antes dos 10 anos; e na sua maioria antes dos 20 anos, mas pode aparecer até nas décadas finais da vida
- Há evidências de história familiar em cerca de 2/3 dos casos
Aura de enxaqueca
- Constitui-se de sinais de disfunção neurológica focal que levam a distúrbios
- Mais frequentes são os distúrbios de tipo sensorial, mas podem ser motores, psíquicos ou de funções simbólicas
- Auras mais frequentes: visuais = aparecem subitamente e tendem a aumentar com fenômenos negativos (escotomas) ou positivos (luzes, cores, cintilações, etc)
- Dura poucos minutos e quando desaparece, começa a dor e os fenômenos associados
Fisiopatogenia da enxaqueca
- Ainda é desconhecida
- Fase dolorosa = vasodilatação de vasos extra e intracranianos; pode ter edema cerebral (Crises prolongadas)
- A rede vascular exibe algumas diferenças estruturais
- Ocorrem alterações angiogênicas junto aos vasos, além de alterações séricas (serotonina)
O que causa a vasodilatação dos vasos na enxaqueca?
- Uma inflamação estéril neurogênica perivascular com liberação de neuropeptídeos na parede dos vasos, posta em marcha por um distúrbio central denominado: DEPRESSÃO ALASTRANTE DE LEÃO (determina a aura enxaquecosa)
- A depressão alastrante da atividade elétrica cerebral caracteriza-se por uma supressão dos disparos neuronais
- Ocorre hipoperfusão alastrante no mesmo território e profundas alterações metabólicas e iônicas
Enxaqueca - Diagnóstico
- Depende fundamentalmente da história clínica
- Exames complementares dependem das hipóteses diagnósticas emanadas da história e de eventuais achados do exame neurológico
Quais são os possíveis fatores predisponentes ou desencadeadores de enxaqueca?
> fumo
bebidas alcoólicas
alguns alimentos como chocolate, queijos curados (com alto teor de tiramina), embutidos de carne (nitritos e nitratos) e comidas orientais
(glutamato de sódio)
drogas vasodilatadoras > fatores ambientais como exposição prolongada ao sol
excesso de luminosidade
aglomerações em recintos fechados (aumento do CO2)
OBS: Algumas situações merecem comentários particulares. Assim, são muito importantes fatores emocionais como estresse, medo, ansiedade, angústia, ou fatores situacionais como fadiga (por exercícios físicos ou esforço mental), privação de sono, hipoglicemia.
OBS: Muitas vezes, a correção de um ou mais desses fatores é suficiente para reduzir a freqüência de crises.
Enxaqueca e anticoncepcionais?
Anticoncepcionais geralmente representam um importante fator de piora da enxaqueca e provavelmente aumentam o risco de problemas vasculares relacionados ou não à enxaqueca.
Analgésicos
- Enxaquecas com crises esparsas e de início recente
- Muitas vezes respondem exclusivamente a analgésicos comuns em doses habituais:
> aspirina
> dipirona
> paracetamol
OBS: Uma condição importante é a rapidez da medicação, sendo o efeito terapêutico mais eficaz no início da crise.
Drogas anti-inflamatórias não-hormonais (AINH)
- Úteis para tratamento da crise de enxaqueca
- Superior ao placebo
- Ação comparável à ergotamina
- Não se conhece bem o mecanismo de ação dessas drogas na enxaqueca, mas sim que a infusão de prostaglandinas não provoca crises de enxaqueca
- Indometacina tem pouca eficácia no tratamento da crise de enxaqueca
> Naproxeno (flanax, naproxeno, naprosyn)
Ibuprofeno (motrin, advil, ibuprofeno e vários outros produtos comerciais)
Cetoprofeno (profenid e vários outros produtos comerciais)
Ácido tolfenâmico (clotan, fenamic)
Ácido mefenâmico (ponstan)
Diclofenaco (voltaren, cataflam e outros)
SOBRE AS DROGAS CITADAS:
- Efeito analgésico
- Reduz sensibilização de nociceptores periféricos
- Efeitos mais específicos no sistema trigeminal e antinociceptivo no TC
- Início de ação rápido
- Atingem concentração máxima em 1 a 2 horas
- Podem ser utilizados para tratamento de crises fortes por via intramuscular
- Úteis para enxaqueca menstrual, inclusive para profilaxia
- Úteis para a fase de suspensão de ergotamina e triptanos utilizados absivamente
- PROBLEMA DO USO:
> difícil tolerância gastrintestinal
Com o uso repetido
> hemorragia gástrica
> reações de hipersensibilidade
Vasoconstritores
- Quando as crises não respondem aos analgésicos comuns
- Prefere-se utilizá-lo associados a analgésicos
> Ergotamina e diidroergotamina (DHE)
Isometepteno
Triptanos
Cafeína
Ergotamina e diidroergotamina (DHE)
- Útil para pacientes que têm crises prolongadas ou naqueles que a recorrência é um fato importante
- Ergotamina é a mais utilizada
- Deve ser prescrita na dose inicial de 2mg, repetida a cada 30 minutos se a cefaleia não tiver melhorado (até o máximo de 6mg).
- A dose de DHE corresponde à metade (1mg de início até o máximo de 3mg)
- Ambas podem provocar vômitos
- A frequência de uso atualmente recomendada de ergotamina é de uma vez por semana ou de até seis vezes por mês, sendo a dose utilizada em cada ataque de 0,5 a 2mg.
- Não devem ser usados em idosos ou portadores de afecções vasculares graves, periféricas, cardiovasculares ou cerebro-vasculares (efeitos vasoconstritores)
- PROBLEMA: uso crônico pode levar ao ERGOTISMO (raro; gangrena por oclusão de ramos arteriais distais dos membros) e amaurose.
Para que isto não ocorra, recomendam-se doses semanais máximas de 12mg para a ergotamina e 6mg para a diidroergotamina.
OBS: Quando os vômitos ocorrem pela própria enxaqueca ou pelos derivados do ergot, outra via de administração deveria ser indicada. Isto também seria indicado em casos onde a absorção por via oral não é suficientemente rápida
para abortar as crises.
OBS: Embora utilizada há várias décadas, não existem muitos estudos randomizados envolvendo a ergotamina.
Quais as diferenças entre ergotamina e DHE?
- Tem as mesmas características de absorção e espectro de ação
- Doses terapêuticas equivalentes
- Mesmos efeitos colaterais
- As formas de apresentação parenteral e inalatória nasal são disponíveis só para DHE na maioria dos países