Abordagem à criança com febre e síndromes febris Flashcards
Definição de febre
Elevação da T corporal superior ou igual a 1ºC acima da média basal diária individual
- normal: 36,6-37,9ºC (retal) com variação circadiana
Temperatura nas crianças
É mais alta devido a maior razão superfície - peso corporal e maior atividade metabólica
Variação da temperatura na criança
Pico à tarde (17-19h) - “febre da criança que chega da escola”
Mínimo na madrugada (2h-6h) - não subvalorizar T ligeiramente elevadas a esta hora!
Regulação da temperatura corporal normal
Hipotálamo anterior
Definição geral de febre
T retal superior ou igual a 38ºC
(T axilar pode ser 0,5-1ºC inferior à retal)
- elevação anormal e autorregulada da T corporal
4 cut-offs para febre (4 locais de medição diferentes)
− Retal ≥ 38ºC
− Axilar ≥ 37,6ºC
− Timpânica ≥ 37,8ºC
− Oral ≥ 37,6ºC
Definição de hipertermia
Aumento não regulado da T corporal, sem relação com o centro regulador (hipotálamo)
Causa da hipertermia
Resulta do aquecimento corporal por aquisição de calor proveniente de fontes externas, produção excessiva (exercício físico,
hipertiroidismo) ou perda inadequada de calor (excesso de roupa)
Tratamento da hipertermia
Está indicado fazer arrefecimento físico (sem uso de antipiréticos)
Método mais rigoroso de medição da temperatura
Temperatura retal
- é o que melhor corresponde à temperatura central (deve ser preferido quando é necessária T exata)
Medição da temperatura retal
Introduzir o termómetro digital de ponta flexível ou o de galinstan no ânus (3 cm ou +) e esperar pelo 1.º toque (demora média de 37 + 14 s) esperar 3 min com galinstan
Medição da temperatura axilar
A T na axila demora cerca de 5 min a estabilizar; para uma avaliação correta, colocar o termómetro digital (desligado) na axila, manter o braço firmemente encostado ao tronco durante 5 min após os quais se deve ligar o termómetro e esperar pelo toque; com o termómetro de galinstan a leitura deve
ser também aos 5 min
Medição da temperatura timpânica
Medição em poucos segundos e de forma higiénica pelo uso de pontas descartáveis (vantagem em
serviços de triagem pediátrica) mas com elevada imprecisão
- A deteção da radiação infravermelha deve ser a da membrana timpânica, irrigada por arteríolas das
artérias timpânicas, traduzindo uma T central; se a radiação for proveniente do canal auditivo externo são obtidas T periféricas (auriculares) - Elevada % de medições imprecisas (orientação incorreta do termómetro, canal auditivo estreito,
cerúmen, …) pelo que é desaconselhada a sua utilização em crianças com menos de 3 A
Medição da temperatura oral
Pouco usada em Portugal, é viável apenas a partir dos 5 A porque implica colaboração a manter a boca fechada com a ponta do termómetro debaixo da língua durante pelo menos 3 min
- As chupetas com termómetro digital não cumprem estas exigências e têm muitos falsos negativos
Febre sem foco - definição
Em até 20% dos casos não encontramos uma etiologia que justifique a febre
Infeção bacteriana potencialmente grave - 6 exemplos
Sépsis, meningite, ITU, pneumonia, infeção articular
GEA bacteriana em < 3 meses
Infeção bacteriana invasiva - definição
Cultura de LCR e/ou hemocultura positivos
Objetivo da febre
É parte da resposta inflamatória e tem um papel no combate à infeção
Vantagens da febre
Inibição do crescimento de algumas bactérias e vírus
Aumento da atividade imunitária que ocorre em temperaturas mais elevadas
Nas infeções graves verifica-se maior sobrevida para T corporal 38,5-40,5ºC
Desvantagens da febre
Desconforto associado ao aumento da atividade metabólica, consumo de
O2, produção de CO2 e aumento da atividade cardiovascular e respiratória
Febre - sinal ou doença?
A febre é um sinal encontrado nas reações de fase aguda, não é uma doença
Fisiopatologia da febre
Infeção/ inflamação/ neoplasia
(micróbios e toxinas microbianas atuam como pirogénios exógenos ao
estimular a libertação de pirogénios endógenos)
-
libertação de pirogénios
endógenos (IL-1, IL6, TNF, IFNs)
-
pirogénios atingem o hipotálamo anterior
-
libertação de ácido araquidónico que é convertido em PGE2 (os antipiréticos inibem a cicloxigenase hipotalâmica e reduzem a produção de PGE2)
-
interação complemento-PGE2
-
elevação do termostato hipotalâmico
Elevação do termostato hipotalâmico
= mecanismos de conservação e produção de calor com o objetivo de elevar a T corporal 3-4ºC acima da T basal média individual
- Nunca >5ºC acima da T basal média individual
- Nunca acima de 42.2ºC de T corporal
Febre - produção de calor (3)
Metabolismos energéticos
Calafrios
Ereção dos pêlos
Febre - conservação de calor (5)
Vasoconstrição generalizada, mais notória nas extremidades
- extremidades frias (++ mãos e pés)
- acrocianose
- palidez
Sensação de frio
Enrolar o corpo (“encolher-se”) na “posição fetal”
Procura de agasalhos
Procura de calor
Etiologia vírica da febre
Vírus:
- “Viroses” – são possíveis 581 infeções virais febris diferentes (conhecidas)
- Pelo menos 11 das 20 espécies de vírus comuns não conferem imunidade definitiva
Etiologia da febre - parasitas
Leishmania spp, Plasmodium spp, Toxoplasma gondii e Toxocara spp) são intracelulares obrigatórios
Pouco frequentes como causa de febre em Portugal
Etiologia da febre - bactérias
Cerca de 30 bactérias (intra ou extracelulares) são responsáveis por mais de 98% das infeções bacterianas pediátricas adquiridas na comunidade
Etiologia da febre - bactérias predominantemente extracelulares
S. pneumoniae (≈90 serotipos), S. pyogenes (≈130 serotipos), S. aureus, H.
influenzae (do tipo B ou não tipável), M. catarrhalis, N. meningitidis (dos grupos A, B, C, W135, Y), E. coli, P. mirabilis, K. pneumoniae, E. faecalis, P. aeruginosa, C. jejuni, S. agalactiae, K. kingae, Shigella spp. Muitas destas bactérias coabitam silenciosamente, durante semanas ou meses no estado de portador assintomático, na pele ou nas diversas mucosas; algumas aproveitam-se das infeções virais e do consequente processo inflamatório local, para se multiplicarem e invadirem ou não a corrente sanguínea
Etiologia da febre - bactérias intracelulares
Brucella spp, Salmonella spp, M. pneumoniae, C. trachomatis, C. pneumoniae, C. burnetti, L. pneumoniae, L. monocytogenes, R. conorii, M. tuberculosis, B. henselae, B. burgdorferi, tendem a manifestar-se com doença
insidiosa e prolongada, frequentemente com hepatomegália e/ou esplenomegália e/ou linfoadenopatias
Maioria dos casos de febre
Associa-se a doença infeciosa benigna autolimitada de etiologia viral ou bacteriana
“Fobia da febre”
Assenta nos falsos pressupostos de que a temperatura não controlada continuará a aumentar e poderá causar dano neurológico e/ou morte, e no receio de uma infeção grave subjacente e respetivas consequências
- mesmo que a febre não seja medicada a T não ultrapassa os limites fisiológicos, desde que sejam
permitidos os comportamentos individuais e espontâneos de adaptação às fases da curva térmica
Dos episódios infeciosos febris agudos em idade pediátrica: infeções benignas
≈95% são devidos a infeções benignas, virais ou bacterianas, na sua maioria autolimitadas
− Nasofaringites, OMA, amigdalites, laringotraqueítes, bronquiolites, GEA, etc. - a maioria contraídas em creches e infantários (as “daycaritis“, pelo que é importante conhecer o contexto epidemiológico)
Dos episódios infeciosos febris agudos em idade pediátrica: doenças potencialmente graves
≈5% resultam de doenças potencialmente graves (IBPG)
− Pneumonia, pielonefrite, gastroenterite por microrganismo invasor, artrite sética, osteomielite, discite, otomastoidite,
meningite, sépsis, celulite / abcessos vários, apendicite, endocardite bacteriana, doença de Kawasaki, bacteriemia oculta,
etc.) - habitualmente com recurso aos cuidados de saúde em tempo útil
Dos episódios infeciosos febris agudos em idade pediátrica: doenças febris muito graves
0,04% correspondem a doenças febris muito graves (IBI), com possível risco de vida (ex.: sépsis e meningite)
Febre antes dos 3 meses
Importante!
- Dos 0-3 meses, 10% dos episódios febris correspondem a doença grave
- Em RN até 20% correspondem a doença grave