Tomada de Decisão 2 Flashcards
Modelos de Decisão Consequencialista - Definição
Modelos consequencialistas
o Assumem que a decisão é determinada pela antecipação das suas consequências (ex. Teoria da utilidade esperada)
o Apesar destes modelos serem importantes, apresentam várias limitações.
Para entender as limitações podemos analisar interações de decisão social, como o Jogo do Ultimato e o Dilema dos Prisioneiros, que demonstram como as decisões frequentemente divergem do esperado pelos modelos consequencialistas
Modelos consequencialistas - Jogo do Ultimato
Jogo Do Ultimato
Jogo/interação onde há necessidade de dividir um montante
O Proponente dispõe de um montante e deve propor uma divisão entre si e o Respondente: entre 100% e 0%
o Se o Respondente aceitar a divisão proposta, ela é efetuada
o Se o Respondente não aceita a proposta ambos recebem zero
Modelos consequencialistas - Jogo do Ultimato: Resultados
Resultados previstos pelo modelo da utilidade esperada (Assumindo que as pessoas são perfeitamente racionais e procuram maximizar a utilidade):
o Proponente oferece o mínimo possível superior a zero
o Respondente aceita qualquer oferta superior a zero
Resultados reais
o Ofertas mais prováveis entre 20% e 50% - ou seja, raramente oferecem menos de 20% e mais de 50%
o Recusas mais prováveis abaixo de 20%
Efeito consistente através de culturas e diferenças individuais (exceto as crianças muito novas -são maximizadores perfeitos)
Modelos consequencialistas - Jogo do Ultimato: Interpretação dos resultados
Interpretação dos resultados:
Essa divergência dos resultados reais em relação ao previsto sugere que a teoria da utilidade esperada é insuficiente como explicadora do comportamento humano.
Os resultados sugerem que podem existir outros fatores que influenciam os resultados
Limitações dos Modelos consequencialistas: fatores influenciadores dos comportamentos
- Utilidade
- Hipótese de uma heurística social
- Normas sociais
- Estrutura da situação (competição, cooperação ou conflito)
- Categorização e codificação
Limitações dos MCs: Fatores - Utilidade
- Utilidades:
o Outras utilidades como: pontos, dinheiro, anos de prisão, ar limpo, uso sustentável de recursos
o Utilidades sociais: Reputação (PD), Decência, justiça (UG), Empatia, Igualdade e Liberté, egalité, fraternité em diversos formatos
Limitações dos MCs: Fatores - Hipótese de uma heurística social
o A cooperação pode ser uma estratégia adaptativa (observamos os outros e os seus comportamentos, e decidimos baseado neles)
o Na dúvida, cooperamos
o É mais importante o julgamento que fazemos, e que outros fazem sobre a nossa decisão, do que o resultado da decisão
os julgamentos que fazemos sobre os comportamentos dos outros são mais importantes do que os julgamentos que fazemos sobre o que ganhamos/perdemos
Ex. preocupamo-nos mais com a nossa reputação do que ganhar ou perder
Limitações dos MCs: Fatores - Normas Sociais
o ajudam a clarificar as situações e orientam as ações
o podem estabilizar estratégias ótimas (mas arriscadas) em situações como:
Dilema dos Prisioneiros (alto risco) - podem estabilizar a cooperação mútua que é uma estratégia de alto risco (ambos os lados estão tentados a qualquer momento deixarem de cooperar)
Jogo do Ultimato (baixo risco)
o sobre cooperação, conflito e justiça orientam as decisões.
Ex. Respondente recusa uma oferta maior que zero, como 5€ em 100€ possíveis, ele está, na verdade, a punir quem fez a proposta. O respondente quer mostrar que na próxima vez o valor oferecido deve seguir uma “norma” mais justa. Ao rejeitar os 5€, ele acaba por “pagar” por isso, porque, ao rejeitar, acaba por receber 0€, o que representa um “custo” para ele.
Limitações dos MCs: Fatores - Estrutura da situação
- Estrutura da Situação (competição, cooperação ou conflito): avaliações mentais sobre uma situação ser para cooperar, competir ou entrar em conflito implicam comportamentos diferentes (ex. num jogo de cartas, a estrutura de soma zero impede a cooperação, pois o objetivo é vencer)
o Cooperação e competição implicam comportamentos diferentes
o As normas sociais ajudam a gerar cooperação, mas a estrutura da situação é igualmente importante
o Os conflitos entre grupos são muito prováveis e podem impedir a cooperação
o A estratégia de ajudar altruisticamente e de cooperar é fortemente condicionada pela situação em que estamos
ex. dilema dos prisioneiros - a situação incentiva à cooperação como melhor estratégia, mas a tentação de vantagem pessoal pode quebrar essa tendência
ex. jogo do ultimato - apesar de haver uma tendência para procurar fazer com que a divisão fique nos 50/50, há sempre a tentação de tentar ter um pouco mais que o outro
Limitações dos MCs: Fatores - categorização e codificação (Jogo do ultimato)
- Categorização e Codificação – Experiência de Boles e Messick (1990)
Jogo do Ultimato – dividir 6€
Situação 1:
o Participantes (todos respondentes) recebem a explicação completa da situação dejogo
o Passados 2 minutos recebem 1€
o 50% rejeitam a proposta de 1€
Situação 2:
o Participantes (respondentes) recebem 1€
o Passados 2 minutos recebem a explicação da situação
o 15% rejeitam a proposta de 1€
Limitações dos MCs: Fatores - categorização e codificação (Explicações e implicações)
Explicações e implicações:
o Os Participantes que recebem o dinheiro primeiro têm tempo de encontrar uma explicação que torna a sua aceitação adequada e poucos reveem a decisão/explicação com a informação nova – por exemplo, têm tempo para criar um sentimento de propriedade quanto à proposta desenvolvendo uma razão para ficar com o dinheiro
o De acordo com as teorias consequencialistas, a ordem por que a informação é dada deveria ser irrelevante
o De acordo com um modelo social de tomada de decisão, a ordem em que é dada a informação sobre a situação influencia a interpretação da situação e, portanto, a decisão que é tomada
Limitações dos MCs: Dimensões psicológicas da “Não-racionalidade”
Dimensões psicológicas da “não-racionalidade”
O comportamento observável dos sujeitos nestas estruturas de interação sugere que a teoria da utilidade esperada é insuficiente.
o A relevância de fatores extra ”racionais” na explicação destes comportamentos coloca as explicações psicológicas no centro desta questão.
o A “não-racionalidade” não é aleatória: existem padrões nos comportamentos estratégicos que mostram algo sobre os nossos processos mentais.
Limitações dos MCs - Conclusão
Conclusão:
Os padrões de decisão nas teorias consequencialistas foram várias vezes contrariados na/nos:
Teoria dos prospetos:
o Assimetria entre ganhos e perdas (framingeffect)
o Distorção de probabilidades (certaintyeffect)
Comportamentos face à incerteza
o Preferimos trabalhar com mais certezas
o Preferimos ajustar a informação numa boa história
o Preferimos não pensar muito
Teoria dos jogos
o Os resultados mais racionais podem não ser os mais valiosos socialmente
o Nas situações sociais jogamos simultaneamente jogos diferentes com matrizes diferentes
Modelos não-consequencialistas - definição
Modelos sociais ou não consequencialistas: sugerem que a decisão é influenciada por normas sociais relevantes na situação de decisão.
Modelo AIR: Appropriatness, identity and rules (J.March)
Os comportamentos nas tomadas de decisão vão basear-se na avaliação de 3 dimensões:
o Adequação: Classificação da situação – é uma competição, colaboração, ritual ou uma ocasião para autoexpressão?
o Identidade: perante uma decisão social vamos mobilizar aspetos da nossa identidade (valores, atitudes, auto-conceito…) - o que é que uma pessoa como eu faria/deveria fazer nesta situação?
o Regras: Consideração das normas relevantes – como devo agir, que emoções posso mostrar, o que posso ou devo dizer? Como me apresento: o que visto? digo o meu nome? dou o meu número de telemóvel? digo o que faço?
Exemplo: Imagine uma pessoa que entra em um campeonato contra crianças. Ao vencer, percebe que os aplausos não são “os melhores”. Ela entende que seu comportamento (vencer a qualquer custo) não era o mais apropriado. Esse exemplo ilustra como os fatores de adequação, identidade e regras influenciam o comportamento.
Modelo AIR: Aplicação
O Modelo é aplicado a várias situações: um casamento, um jogo de bilhar ou de cartas entre amigos, um bar, uma missa, uma sessão de karaoke, uma viagem de avião, um funeral, uma colisão (ligeira) de automóvel, um exame
Modela AIR: Implicações
Implicações:
O comportamento é então determinado socialmente através do/da:
o Reconhecimento da situação em que estamos
o Categorização das situações
Assim:
o Situações mais codificadas e menos codificadas tem expetativas mais claras ou menos claras (ex.: bystander effect, inibição social)
o Cada situação permite possibilidades diferentes
E por isso, temos implicações diferentes:
o Efeitos da categorização: ajuda em situações de emergência
o Efeitos das decisões anteriores: as decisões já tomadas influenciam que categorias ficam ativas e determinam em parte as decisões subsequentes
o Efeitos da categorização: avaliação da justiça das situações
Categorização e codificação: Bystander Effect (Latané e Darley)
Bystander Effect - Latané e Darley (1970)
Bystander Effect: Em emergências, por vezes os observadores não ajudam quando poderiam ajudar (efeito de paralisia)
Categorização e codificação: Bystander Effect (Latané e Darley) : Causas
Causas do bystander effect
o Difusão de responsabilidade: Qualquer uma das pessoas à minha volta poderia estar a fazer alguma coisa e não faz; talvez seja melhor não ser eu a começar.
o Ignorância pluralista: Não sei o que fazer; os outros não estão a fazer nada, deve estar bem assim
o Inibição social: Vou fazer o quê, com toda esta gente a olhar?
Categorização e codificação: Bystander Effect (Latané e Darley): Modelo
Esquema 4
Explicação: Posso ter consciência do evento, mas ao categorizá-lo, categorizo-o como normal e por isso a inação
Ex*. uma pessoa que cai bêbada num festival de cerveja pode não ser ajudada porque as pessoas podem considerar a situação “normal” dado o contexto
Categorização e codificação: Efeitos da categorização (Larrick & Blount)
Para além do exemplo de Boles e Messick mencionado anteriormente, este efeito também foi estudado por Larrick and Blount (1997)
1. Jogo do ultimato
o Proponente propõe divisão de 7€
o Respondente aceita ou rejeita
2. Dilema social
o Há um valor de 7€, de que todos podem pedir uma parte
o O primeiro jogador faz o seu pedido
o O 2º jogador, sabendo a quantia pedida pelo 1º jogador, faz o seu pedido também
Se a soma dos dois pedidos for superior a 7€ ninguém recebe nada
Categorização e codificação: Efeitos da categorização (Larrick & Blount): Resultados e Interpretação
Resultados:
Os segundos jogadores aceitam quantias menores no dilema social do que no jogo do ultimato
Interpretação dos resultados:
Existe uma diferença entre pedir (dilema social) ou rejeitar (ultimato), que apesar de ser uma diferença subtil faz com que as pessoas aceitem valores inferiores no dilema
Efeitos das decisões anteriores: Dissertação MIP - Julgamentos sobre violações de princípios com ou sem decisão corrupta anterior
Parte 1: participantes foram colocados em uma situação em que poderiam manter-se virtuosos ou ter um pequeno “desvio ético” - a maioria manteve-se virtuosa
Parte 2: participantes realizavam julgamentos morais
Resultados: julgamentos mais severos foram observados entre os participantes que tinham tido um “desvio ético” na etapa anterior
Interpretação de resultados: sugerindo que o autoconceito (dimensão da identidade) que temos sobre nós próprios baseado em decisões anteriores, influenciam decisões subsequentes (ex. se fizermos coisas más é mais provável que façamos coisas más a seguir porque a identidade fica afetada pelo comportamento anterior)
Gráfico 5
Efeitos das decisões anteriores: Dissertação MIP - Conceito de identidade moral (Aquino & Reed)
Esquema 5