Perturbações aditivas Flashcards
O que é uma perturbação aditiva?
Quando as pessoas PERDEM O CONTROLO (perda do eu/da pessoa) em relação à adição, pelo que a pessoa passa a agir de forma diferente (irresponsabilidade, negligência) -> muitas vezes, isto é inconsciente, porque UMA DAS PRINCIPAIS RESPOSTAS PSICOLÓGICAS À ADIÇÃO É A NEGAÇÃO (pessoa acha que controla - “bebo o que quero”).
Intoxicação
Síndrome TRANSITÓRIO provocado pela ingestão de uma substância que causa alterações clínicas psicológicas e físicas significativas. Estas desaparecem quando a substância desaparece do organismo.
Perturbação da utilização (DSM-5) / Uso Nocivo (ICD-10)
Padrões mal adaptativos de utilização de uma substância que levam a um PROBLEMA DE SAÚDE nume espectro amplo.
Dependência (ICD-10)
Designação abandonada pela DSM-5 -> passaram a usar graus de gravidade da patologia).
Na ICD-10, é possível encontrar critérios para uso nocivo, sem dependência.
DEPENDÊNCIA IMPLICA SEMPRE USO NOCIVO e cumprimento de critérios.
Tolerância
Uma substância produz efeito decrescente após sucessivas administrações ou são necessárias doses cada vez maiores para obter o mesmo efeito, o que leva à escalada de consumos.
GANHA-SE MAS TAMBÉM SE PERDE!!!
Abstinência
Grupo de sinais e sintomas que correm quando um FÁRMACO É REDUZIDO EM QUANTIDADE DURANTE UM PERÍODO DE TEMPO. A natureza da abstinência relaciona-se com a classe da substância usada. Algumas substâncias têm tolerância cruzada como o álcool e as BZDs.
Principais características da dependência (ICD-10)
A. Diagnóstico de Dependência deve ser feito se 3 ou mais dos seguintes tenham sido experiencidos ou exibidos em alguma altura durante o último ano:
- Desejo forte ou sensação de compulsão de tomar a substância.
- Dificuldade em controlar comportamentos de tomar a substância em termos do seu onset, terminação ou níveis de uso.
- Estado de abstinência fisiológico quando o uso da substância para ou é reduzido, como prova um dos seguintes: a abstinência característica de substâncias OU uso da mesma substância com a intenção de aliviar ou evitar os sintomas de abstinência.
- Existência de tolerância, de tal forma que doses elevadas de substância psicoativa são necessárias para atingir os efeitos produzidos originalmente com doses mais baixas.
- Negligência progressiva de prazeres ou interesses alternativos devido ao uso da substância psicoativa e ao aumento do tempo necessário para obter ou tomar a substância ou de recuperar dos seus efeitos.
- Continuação do uso da substância apesar de apresentação de provas claras dos seus malefícios (físicos ou mentais).
Classificação de abuso de substâncias (DSM-5)
É classificado em ligeiro, moderado e grave, abandonando a definição de dependência.
Que substâncias?
- Drogas letais de venda livre (ex.: álcool)
- Drogas legalmente prescritas (ex.: abuso de psicofármaco)
- Venda ilegal
Etiologia
- Disponibilidade da substância
- Vulnerabilidade pessoal: patologia psiquiátrica, impulsividade*
- Ambiente social: pressão dos pares, ambiente familiar
- Fatores farmacológicos: alterações neuroadaptativas; sistema dopaminérgico - ref positivo e recompensa; menor atividade dos processos executivos córtex pré-frontal; alterações gabaérgicas.
10% DOS QUE EXPERIMENTAM VÃO DESENVOLVER PROBLEMAS DE CONSUMO
* Existem pessoas que têm traços de risco/vulnerabilidade para dependências -> personalidade aditiva
Modelo dos estadios de mudança de Prochaska e Diclemente
- PRÉ-CONTEMPLAÇÃO - não reconhece o problema, embora reconhecido por outros
- CONTEMPLAÇÃO - avaliação de prós e contras da mudança
- DECISÃO - tomada de decisão de agir ou não
- AÇÃO - escolha de estratégia e execução da mesma
- MANUTENÇÃO - ganhos mantidos e consolidados
- RECAÍDA - regresso ao padrão anterior de comportamento
Sálvia
“Canábis gourmet”
Planta originário do México e que foi usada em rituais pelos índios Mazatecas.
Comercializada como substituto de canábis, mas os EFEITOS SÃO MUITO DIFERENTES -> potencial toxicogénico muito maior.
Frequentemente incluída nas substância psicoativas alucinogénicas.
Pode causar psicose tóxica com atividade alucinatória, desinibição, euforia, agitação, ansiedade, crises dissociativas
Internamento Compulsivo
2 situações (legislação portuguesa):
- Problemas de saúde pública -> pode obrigar o isolamento, mas não necessariamente internamento
- A psiquiatria é a única especialidade em que as pessoas podem ser obrigadas a ser internadas e tratadas, por não terem consciência. Têm de se verificar 3 condições:
- Diagnóstico psiquiátrico grave;
- Existência de risco grave para o próprio ou terceiros;
- O internamento vai contribuir para minorar/resolver esse problema
Pode-se internar compulsivamente uma pessoa com adição?
NÃO! Principalmente, porque é uma intervenção que não vai responder àquilo que é necessário numa adição. A pessoa com adição só pode ser internada compulsivamente SE TIVER UMA PSICOSE.
Pode-se internar compulsivamente uma pessoa com personalidade borderline?
NÃO. Porque estar 2/3 semanas num serviço de psiquiatria não vai mudar a sua personalidade. Só se estiver psicótica, ou com risco elevado de suicídio.
Pode-se internar compulsivamente uma pessoa com ideação suicida estruturada?
SIM! As pessoas com ideação suicida estruturada também podem ser internadas compulsivamente, porque se admite que têm doença psiquiátrica grave subjacente.
Como se procede a um internamento compulsivo’
Tem de se pedir obrigatoriamente, um MANDATO DE CONDUÇÃO.
- Via URGENTE: autoridade de saúde pública -> emissão do mandato (se houver perigo para a saúde pública) -> Família leva o mandato à polícia -> doente leva o doente ao SU DE PSIQUIATRIA -> Avaliação do doente pelo psiquiatra -> Avaliação enviada a juiz -> Internamento da pessoa (de acordo com a decisão do juiz)
- Via NÃO URGENTE (tribunais)
AMBULATÓRIO COMPULSIVO: pessoas são obrigadas a ir à consulta e a cumprir o tratamento. De 60 em 60 dias, o médico faz um relatório sobre como está a pessoa e reavalia-se.
Síndrome amotivacional da canábis
Geralmente caracterizada por apatia, anedonia, embotamento afetivo e diminuição da motivação para atividade dirigidas a objetivos. Em geral é reversível com o fim do consumo.
Canábis - marijuana, erva, ganza, skunk, haxixe, hash, maconha, kif, óleo, …
- Substâncias derivadas da planta Cannabis Sativa: THC substância que altera mais o SNC; CBD não tem tantos efeitos psicóticos.
- Substância mais consumida de forma abusiva
- Via de administração: fumada, alimentos
Efeitos da canábis
- Variáveis com pessoa, dose, situação social e humor prevalente
- Acentuação do humor pré-existente, desinibição, relaxamento, por vezes ansiedade ou crise de pânico.
- Aumento do prazer nas experiências estéticas
- Alteração da perceção tempo/espaço
- Eritema conjuntival, boca seca, taquicardia, diminuição de reflexos, cefaleias, irritação do trato respiratório, tosse
- Variabilidade genética -> mutação gene COMT
- DEPENDÊNCIA PSICOLÓGICA (+ consumo continuado)
- Tolerância
- TERATOGÉNICO
- Doses altas: irritabilidade, náuseas, insónia e anorexia
Efeito adverso psicológico mais comum aquando do consumo agudo de canábis é a ANSIEDADE.
Haxixe (óleo de canábis)
Tem cada vez mais THC -> aumenta o risco de efeitos adversos
Canábis e Psicose
- Consumo aumenta o risco de desenvolver DEPRESSÕES e PERTURBAÇÕES PSICÓTICAS
- Risco relativo de desenvolver esquizofrenia é 2,5X mais elevado nos consumidores de canábis; nos problemáticos é 6X
- Podem aumentar a expressão fenotípica da psicose em algumas pessoas que de outra forma apresentavam risco genotípico insuficiente.
FREQUENTE -> DUPLO DIAGNÓSTICO: Perturbações do uso de substâncias + Doença mental grave -> PIOR PROGNÓSTICO
TRATAR PRIMEIRO A DEPENDÉNCIA
Cocaína
- Inalada, injetada, fumada, forma cristalizada, free base (ex.: adição de amónia - cachimbos de água)
- Crack: início de ação muito rápido, especialmente quando inalado
- Estimulante do SNC que causa grande dependência.
- Boqueia o re-uptake de dopamina nos terminais pré-sináticos, o que leva a um aumento substancial de dopamina extracelular no estriado ventral, ativando o sistema de recompensa fisiológica.
Efeitos predominantes da Cocaína
- Euforia, pode ser acompanhada de pensamentos grandiosos
- Diminuição da fadiga;
- Insónia;
- Aumento da líbido;
- Anorexia
Doses elevada: alucinações visuais e auditivas + ideação paranoide que pode levar a comportamento agressivo.
Uso prolongado de doses altas pode resultar numa psicose paranoide, com comportamento violento.
Efeitos no SNC da Cocaína
Resposta bifásica:
- Doses baixas -> hiperatividade motora
- Doses elevadas -> défice motor, com tremores e convulsões.
Efeitos físicos da Cocaína
- Midríase, náuseas e vómitos
- Taquicardia, vasoconstrição e risco de HTA e arritmia. EAM, miocardite, cardiomiopatia
- Doença cerebrovascular, com enfarte cerebral, hemorragia subaracnoideia, AITs
- Convulsões e paragem respiratória
- Formicação (sensação que há insetos a rastejar na pele)
- Complicações obstétricas: aborto, rotura da placenta, parto pré-termo
Tolerância, abstinência e tratamento da Cocaína
Tolerância: rápido desenvolvimento, em questão de horas a dias
Abstinência: inespecífica, com ansiedade irritabilidade, por vezes mialgias, estado depressivo, alterações psicomotoras, fadiga, insónia e anorexia.
- uso ligeiro: 24h
- uso prolongado: sintomas mais severos, depressão, grande necessidade de consumir e ideação suicida
Tratamento:
- Intoxicação aguda: sedação com BZDs ou antipsicóticos (+grave)
- Dependência: difícil, CBT
Opiáceos - heroína, ópio, codeína, metadona
- Uso medicina na analgesia forte
- Abuso pelos efeitos eufóricos e ansiolíticos
- Agonistas dos recetores opióides (mu, k, sigma, delta)
- Morfina e heroína -> recetores mu
- Administração: EV, sc, aspiração ou inalação