Figuras de Linguagem Flashcards

1
Q

Antítese e Paradoxo

A

Antítese é a aproximação de ideias contrárias.

Ex.: Ela não odeia, ela ama.
Paradoxo consiste na exposição de palavras contrárias.

Ex.: Já estou cheio de me sentir vazio.
Fica evidente a diferença entre estas duas figuras de linguagem frequentemente confundidas:

“Como podemos ver, na antítese, apresentam-se ideias contrárias em oposição. No paradoxo, as ideias aparentam ser contraditórias, mas podem ter explicação que transcende os limites da expressão verbal.”

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2
Q

Catacrese

A

É a figura de linguagem que consiste na utilização de uma palavra ou expressão que não descreve com exatidão o que se quer expressar, mas é adotada por não haver outra palavra apropriada - ou a palavra apropriada não ser de uso comum.

Ex.: Não deixe de colocar dois dentes de alho na comida.

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3
Q

Sinestesia

A

Consiste na fusão de impressões sensoriais diferentes.

Ex.: Aquela criança tem um olhar tão doce.

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4
Q

Comparação

A

Como o próprio nome diz, essa figura de linguagem é uma comparação feita entre dois termos com o uso de um conectivo.

Ex.: O Amor queima como o fogo.
Ex.: Carcará / Lá no sertão / É um bicho que voa que nem avião (…)

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5
Q

Metáfora

A

É a figura de palavra em que um termo substitui outro em vista de uma relação de semelhança entre os elementos que esses termos designam

Ex.: (…) se ela é um morango aqui do Nordeste (…)
Essa semelhança é resultado da imaginação, da subjetividade de quem cria a metáfora.

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6
Q

Disfemismo

A

É uma figura de estilo (figura de linguagem) que consiste em empregar deliberadamente termos ou expressões depreciativas, sarcásticas ou chulas para fazer referência a um determinado tema, coisa ou pessoa, opondo-se assim, ao eufemismo. Expressões disfêmicas são frequentemente usadas para criar situações de humor.

Ex.: Comer capim pela raiz.

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7
Q

Hipérbole

A

É a figura de linguagem que consiste no exagero.

Ex.: “Rios te correrão dos olhos, se chorares!”
Ex.: (…) E pro inferno ele foi pela primeira vez (…)

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8
Q

Metonímia

A

É a figura de linguagem que consiste no emprego de um termo por outro, dada a relação de semelhança ou a possibilidade de associação entre eles. Definição básica: Figura retórica que consiste no emprego de uma palavra por outra que a recorda.

Ex.: Lemos Machado de Assis por interesse. (Ninguém, na verdade, lê o autor, mas as obras dele em geral.)

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9
Q

Personificação ou Prosopopeia

A

É uma figura de estilo que consiste em atribuir a objetos inanimados ou seres irracionais sentimentos ou ações próprias dos seres humanos.[3]

Ex.: (…) Eu vi a Estrela Polar / Chorando em cima do mar (…)

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10
Q

Antonomásia ou Perífrase

A

Consiste no emprego de palavras para indicar o ser através de algumas de suas características ou qualidades.
Ex.: O rei dos animais (Leão)
Ex.: Visitamos a cidade-luz (Paris)

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11
Q

Sarcasmo

A

Consiste em apresentar um termo em sentido oposto.

Ex.: Meu irmão é um santinho (malcriado).

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12
Q

Eufemismo

A

Consiste em suavizar um contexto.

Ex.: Você faltou com a verdade (Em lugar de mentiu).

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13
Q

Alusão

A

A alusão é uma figura de linguagem caracterizada pelo uso de uma referência ou citação a um fato ou pessoa[1] (real ou fictícia), necessariamente conhecido pelo interlocutor.[2] Faz parte da intertextualidade, só que sua principal diferença está na claridade.[3] É uma comunicação sutil entre os textos, em que se nota apenas uma leve menção de outro texto ou a um componente seu. Na alusão, não se aponta diretamente o fato em questão; apenas o sugere através de características secundárias ou metafóricas.[4]

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14
Q

Alegoria

A

Uma alegoria (do grego αλλος, allos, “outro”, e αγορευειν, agoreuein, “falar em público”, pelo latim allegoria) é uma figura de linguagem, mais especificamente de uso retórico, que produz a virtualização do significado, ou seja, sua expressão transmite um ou mais sentidos além do literal. Diz-se b para significar a. Uma alegoria não precisa ser expressa no texto escrito: pode dirigir-se aos olhos e, com frequência, encontra-se na pintura, escultura ou noutras formas de linguagem. Embora opere de maneira semelhante a outras figuras retóricas, a alegoria vai da simples comparação da metáfora à sátira, passando pelo símbolo, a fábula, o apólogo, a prosopopeia, o oximoro, o Adynaton, ou implicando a ironia, oscilando entre a polissemia e a antífrase. A fábula, o apólogo, o mito e a parábola são exemplos genéricos (isto é, de gêneros textuais) de aplicação da alegoria, às vezes acompanhados de uma moral que deixa claro a relação entre o sentido literal e o sentido figurado. [1]

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15
Q

Anfibologia

A

A anfibologia (do grego amphibolia) é considerada um vício de linguagem[1] que vem a ser, na lógica e na linguística moderna, um sinônimo de ambiguidade (do latim ambiguitas, atis), isto é, a duplicidade de sentido em uma construção sintática. Um enunciado é ambíguo e, portanto, anfibológico quando permite mais de uma interpretação[2]. É a falta de clareza que acarreta duplo sentido; em suma, significado duvidoso

Na lógica aristotélica, designa uma falácia baseada no dúbio sentido - proposital ou não - da estrutura gramatical da sentença de modo a distorcer o raciocínio lógico ou a torná-lo obscuro, incerto ou equivocado.

A ambigüidade pode ser proposital ou inconsciente (ato falho) ou, ainda, dar-se por mero descuido do falante ou do escritor ao organizar as palavras do enunciado. [1]

Além disso pode ser usada como recurso falacioso de argumentação ou como recurso estilístico.[1] O uso estilístico da ambiguidade é comum na poesia (licença poética) e também na linguagem informal, sobretudo no cotidiano do registro falado de uma língua (em brincadeiras, insinuações, por meio de trocadilhos e jogos de palavras). Neste caso, a utilização da ambigüidade se vale da polissemia das palavras ou da semelhança fonética, fenômenos lingüísticos presentes em praticamente todas as línguas.

De um modo geral, a ambiguidade é considerada um vício de linguagem ou recurso estilístico, e a anfibologia, uma falácia.

Uma vez que a anfibologia ou a ambiguidade está estreitamente associada à sintaxe, isto é, à posição e organização das palavras dentro de um enunciado, à relação delas entre si e, de um modo geral, à construção das frases, a ocorrência dessa falácia ou desse vício de linguagem assumirá diferentes formas de acordo com a língua de que se trate, pois cada idioma possui sua própria estrutura e sua sintaxe.

1) Uso de sujeito posposto a verbo que seja transitivo direto:

Venceu o Brasil a Alemanha - Quem foi o vencedor: o Brasil ou a Alemanha?
2) Uso de pronome possessivo na terceira pessoa - “seu” e flexões: “sua”, “seus”, “suas” - (é um uso que, se o escritor não estiver atento, frequentemente produz ambiguidade):

Meu pai(Caio) foi à casa de Vitor Alexsandro em seu carro. - No carro de quem, de Vitor, do pai ou da pessoa com quem se fala?
Oi, Macedo , Lindomar lavou seu carro sujo hoje. - O carro de quem, de Macedo ou da segunda pessoa (você)?
3) Uso de certas comparações:

Na década de 70, os jogadores do Vasco não levavam os treinos a sério, como acontecia no Cruzeiro. - O que acontecia no Cruzeiro? O autor da frase quis equiparar os jogadores do Cruzeiro aos do Vasco ou, ao contrário, quis fazer uma oposição, afirmando que os cruzeirenses levavam os treinos a sério, diferentemente dos vascaínos?
4) Uso da preposição “de” em certos casos entre dois substantivos - as preposições também são frequentemente fonte de ambiguidade:

Onde está a cadela da Karine? - Está-se referindo à cadela que pertence à Karine ou está-se insultando-a?
5) Uso do pronome relativo quando há substantivos num adjunto adnominal:

O Rafael roubou o carro do homem que estava perto da árvore. - O que estava perto da árvore, o carro ou o homem?
6) Uso de certos adjuntos adverbiais entre duas orações:

Pessoas que desobedecem as leis de trânsito frequentemente são multadas. - Desobedecem as leis de trânsito frequentemente ou são multadas frequentemente?
7) Confusão com o que um termo se refere

Alexandro conversou com Rayanne sentado no muro. - Quem estava sentado no muro?

8) Uso do verbo deixar:

Agostinho deixou as pessoas felizes. - Agostinho fez as pessoas ficarem felizes ou saiu de onde estão as pessoas que eram felizes?

9) Uso do verbo ficar:

Após o leilão, a empresa brasileira ficou com a empresa de Duque de Caxias. - A empresa brasileira foi vendida ficando com a de Duque ou a brasileira comprou a de Duque e por isso ficou com ela?

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16
Q

Antífrase

A

A antífrase é uma figura de linguagem, facilmente confundida com as figuras da ironia, sarcasmo, eufemismo e sátira, e consiste na utilização de uma palavra com o sentido contrário àquele que tem normalmente. Camões refere este recurso estilístico de forma explícita na sua Canção IX: “Junto a um seco, fero e estéril monte, (…) Cujo nome do vulgo introduzido, / É Felix, por antífrase infelice.” O seu uso pode justificar-se como forma de atenuação de uma ideia negativa, como quando se chamavam de Euménides (“benévolas”) às Fúrias, na Grécia Antiga; ou quando D. João II decidiu renomear o Cabo das Tormentas como Cabo da Boa Esperança. Pode-se considerar, por vezes, a antífrase como um eufemismo levado ao extremo - quando o sentido original das palavras é invertido.

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17
Q

Apóstrofe

A

Disambig grey.svg Nota: Não confundir com apóstrofo.
Apóstrofe é uma figura de linguagem caracterizada pela evocação de determinadas entidades, consoante o objetivo do discurso. Caracteriza-se pelo chamamento do receptor, imaginário ou não, da mensagem. Nas orações religiosas é muito frequente (“Pai Nosso, que estais no céu”, “Ave Maria” ou mesmo “Ó meu querido Santo António” são exemplos de apóstrofes). Em síntese, é a colocação de um vocativo numa oração. Ex.:”Ó Leonor, não tombes!”. É uma característica do discurso direto, pois no discurso indireto toma a posição de complemento indireto: “Ele disse a Leonor que não caísse”.[1]

No discurso político é também muito utilizado (“Povo de Araguari!!!”), já que cria a impressão, entre o público, de que o orador está a dirigir-se diretamente a eles, o que aumenta a receptividade. Um professor ao dizer “Meninos!” está também a utilizar a apóstrofe. A apóstrofe é também utilizada frequentemente, tanto na poesia épica quanto na poesia lírica. No primeiro caso, podemos citar Luís de Camões (“E vós, Tágides minhas…”); na poesia lírica podemos citar Bocage (“Olha, Marília, as flautas dos pastores…”). Existe, graças a esta figura de estilo, uma aproximação entre o emissor e o receptor da mensagem, mesmo que o receptor não se identifique com o receptor ideal explicitado pela mensagem.[2]

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18
Q

Cacofonia

A

Cacofonia, cacófato ou cacófaton são sons desagradáveis ao ouvido formados muitas vezes pela combinação do final de uma palavra com o início da seguinte, que ao ser pronunciadas podem dar um sentido ridículo, ou apenas serem indístinguiveis entre si.

A cacofonia pode constituir-se em um dos chamados vícios de linguagem.

Exemplos vários podem ser coletados na Literatura de cacófatos que, entretanto, podem ser justificáveis.

Em Camões, no soneto “Alma Minha…”, a própria expressão-título é criticada por formar o cacófaton “maminha”.

O historiador José Marques da Cruz[1], porém, justifica a expressão como:

“própria do século XVI, em que vários clássicos empregaram frases assim: amigo meu, amiga minha. alma minha (…) É que toda gente estudava o latim puro, onde se diz amicus meus (e não meus amicus), anima mea (e não mea anima), mostrando sempre os escritores da época, nos seus escritos, a profunda influência da sintaxe latina.”

19
Q

Hipálage

A

A hipálage é uma figura de linguagem que se caracteriza pelo desajustamento entre a função gramatical e a função lógica das palavras, quanto à semântica, de forma a criar uma transposição de sentidos. Uma das formas mais frequentes consiste na atribuição, a um substantivo, de uma qualidade (adjetivo) que, em termos lógicos, pertence a outro. É um dos recursos estilísticos mais frequentes na obra de Paulo Coelho e Eça de Queirós (como em “Fumar um cigarro pensativo.” - claro que quem está pensativo é o fumante, subentendido na frase). Outro exemplo vem de Ovídio: Os meus punhos tristes feriram o meu peito nu. É frequente, nesta ra dentendidos conforme o contexto. Esta figura está intimamente ligada à alusão, à metonímia e à sinestesia e foi abundantemente utilizada no Classicismo, no Renascimento, no Barroco, mas também em movimentos historicamente mais recentes (o “Realismo” de Eça de Queirós comprova-o, bem como diversos poemas de representantes do Simbolismo).

Usa-se frequentemente em textos de apreciação crítica.

A vaca sonolenta me dava belos sonhos.
As tias fazendo meias sonolentas.
Crianças brincando em jardins alegres e verdes.
Rasguei uma raivosa folha de papel
Calçar as luvas nas mãos (em vez de calçar as mãos nas luvas)
Fumei um pensativo cigarro.
A moça dormia transparente (Chico Buarque)

20
Q

Hipérbato

A

Hipérbato (do grego hyperbaton, que ultrapassa) também conhecido como inversão, é uma figura de linguagem que consiste na troca da ordem direta dos termos da oração (sujeito, verbo, complementos, adjuntos) ou de nomes e seus determinantes[1]. Incide quando há demasia propositada num conceito. Assim expressando de forma muito dramática tudo aquilo que se ambiciona o vocabular.

“ Aquela triste e leda madrugada ”
—Luís Vaz de Camões

“ Do que a terra mais garrida / Teus risonhos, lindos campos têm mais flores ”
—Osório Duque Estrada, em Hino Nacional Brasileiro

“ Não é que o meu o teu sangue / Sangue de maior primor. ”
—Alexandre Herculano

“ Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De um povo heroico o brado retumbante. ”
—Osório Duque Estrada, em Hino Nacional Brasileiro

“ O caso triste e dino da memória / Que do sepulcro os homens desenterra, ”
—Camões, em Os Lusíadas no episódio de Inês De Castro (Canto III))

Outros exemplos:

Dança, à noite, o casal de apaixonados no clube.
Aves, desisti de as ter!
Das minhas coisas cuido eu!
Escura, sombria e assustadora noite.
acompanhando o som da torcida, dançava com a boca o atleta
Brincavam antigamente na rua as crianças.

Exemplo de hipérbato com paráfrase
Original:

“ Ó gente ousada mais que quantas/ no mundo cometeram grandes cousas/, tu, que por guerras cruas tais e tantas/ e por trabalhos vãos nunca repousas:/ pois os vedados términos quebrantas/ e navegar meus longos mares ousas/ (que tanto tempo há já que guardo e tenho/ nunca arados d’estranho ou próprio lenho)/ – pois vens ver os segredos escondidos/ da natureza e do húmido elemento/ (a nenhum grande humano concedidos/ de nobre ou de imortal merecimento) –;/ ouve os danos de mi, que apercebidos/ estão a teu sobejo atrevimento/ por todo o largo mar e pola terra/ que inda hás de sojugar com dura guerra. ”
—Os Lusíadas, Canto Quinto (episódio do Gigante Adamastor)

Em ordem directa:

Ó gente mais ousada que quantas cometeram grandes cousas no mundo, tu, que nunca repousas por tais e tantas guerras cruas e por trabalhos vãos: ouve os danos de mi, que estão apercebidos a teu sobejo atrevimento por todo o largo mar e pola terra que inda hás de sojugar com dura guerra; pois quebrantas os vedados términos e ousas navegar meus longos mares (que já há tanto tempo que guardo e tenho nunca arados de lenho estranho ou próprio) – pois vens ver os segredos escondidos da natureza e do húmido elemento (concedidos a nenhum humano de merecimento nobre ou imortal).

21
Q

Ironia

A

A ironia (do grego antigo εἰρωνεία, transl. eironēia, ‘dissimulação’) é uma forma de expressão literária ou uma figura de retórica que consiste em dizer o contrário daquilo que se quer expressar. Na Literatura, a ironia é a arte de zombar de alguém ou de alguma coisa, com um ponto de vista a obter uma reação do leitor, ouvinte ou interlocutor.

Ela pode ser utilizada, entre outras formas, com o objetivo de denunciar, de criticar ou de censurar algo. Para tal, o locutor descreve a realidade com termos aparentemente valorizantes, mas com a finalidade de desvalorizar. A ironia convida o leitor ou o ouvinte, a ser activo durante a leitura, para refletir sobre o tema e escolher uma determinada posição. O conceito de ironia socrática, introduzido por Aristóteles, refere-se a uma técnica integrante do método socrático. Neste caso, não se trata de ironia no sentido moderno da palavra. A técnica de Sócrates, demonstrada nos diálogos platônicos, consistia em simular ignorância, fazendo perguntas e fingindo aceitar as respostas do interlocutor (oponente), até que este chegasse a uma contradição e percebesse assim os erros do próprio raciocínio

Tipos de ironia
A maior parte das teorias de retórica distingue três tipos de ironia: oral, dramática e de situação.[carece de fontes]

A ironia oral é a disparidade entre a expressão e a intenção: quando um locutor diz uma coisa mas pretende expressar outra, ou quando o significado literal da fala é contrário ao pretendido.
A ironia dramática (ou sátira) é a disparidade entre a expressão e a compreensão/cognição: uma palavra ou ação põe uma questão em jogo e a plateia entende o significado da situação, mas a personagem não.
A ironia de situação é a disparidade existente entre a intenção e o resultado: o resultado da ação é contrário ao desejado ou ao efeito esperado. Da mesma maneira, a ironia infinita (cosmic irony) é a disparidade entre o desejo humano e as duras realidades do mundo externo. Certas doutrinas afirmam que a ironia de situação e a ironia infinita, não são ironias de todo.
Exemplos:

“Acho que é um urso polar albino” (para causar um efeito humorístico)

“Meu marido é um santo. Só me traiu três vezes!”

A ironia é também um estilo de linguagem caracterizado por subverter o símbolo que, a princípio, representa. A ironia utiliza-se de uma forma de linguagem preestabelecida para, a partir e de dentro dela, contestá-la.

22
Q

Lítotes

A

Lítotes (substantivo feminino de dois números) é uma figura de linguagem que combina, frequentemente num eufemismo, a ênfase retórica com a ironia, em geral sugerindo uma ideia pela negação do seu contrário (por exemplo: “não ser dos melhores” por “ser ruim”; “não ser dos mais bonitos” por “ser feio”). A lítotes pode ser tanto depreciativa como laudatória. Dizer que um indivíduo não é dos mais espertos corresponde a dizer que ele é tolo ou ingênuo; dizer que o indivíduo não é nada tolo, corresponde a dizer que ele é esperto ou perspicaz.

23
Q

Metalepse

A

Metalepse é uma figura de linguagem em que se toma o antecedente pelo consequente e vice-versa.

Ex: Sonorosas trombetas incitavam, os ânimos alegres ressoando.

Eles viveram (por “eles estão mortos”)

Pode também ser expressada por meio de ‘coisa significada’ por um sinal. Exemplo: “o suor do teu rosto” em lugar de “teu esforço”; “em sinal de respeito a teus cabelos brancos” em lugar de: “tua idade” ou “tua velhice”.

24
Q

Sinédoque

A

Sinédoque consiste em exprimir o todo pela parte ou a parte pelo todo. É de certo modo um dos casos de metonimia. (A metonímia é uma figura de estilo do nível semântico que consiste em designar uma realidade por meio de outra realidade relacionada com a primeira, por contiguidade ou proximidade.)

Exemplo 1 (Raul Brandão, Os Pescadores):

«Só tendo a morte quase certa é que o poveiro não vai ao mar. Aqui o homem é acima de tudo pescador.»

[Emprego do singular pelo plural: poveiro – poveiros; homem – homens]

Exemplo 2 (Luís de Camões, Os Lusíadas, VII, 73):

«Manda equipar batéis, que ir ver queria/
Os lenhos em que o Gama navegava.»

[A parte representando o todo: lenho ou madeira, de que eram feitos os navios – lenhos, em vez de navios]

25
Q

Oxímoro

A

Oxímoro, oximóron ou paradoxismo (do grego ὀξύμωρον, composto de ὀξύς, “agudo, aguçado” e μωρός, “estúpido”) é uma figura de linguagem que consiste em relacionar numa mesma expressão ou locução palavras que exprimem conceitos contrários, tais como festina lente (“apressa-te lentamente”), “lúcida loucura”, “silêncio eloquente” etc. Trata-se duma figura da retórica clássica. Dependendo do contexto, um oximoro pode ser considerado um vício de linguagem.

Dado que o sentido literal de um oximoro (por exemplo, um instante eterno) é absurdo, força-se o leitor a procurar um sentido metafórico (neste caso, um instante que, pela intensidade do vivido durante o mesmo, faz perder o sentido do tempo). O recurso a esta figura retórica é muito frequente na poesia mística e na poesia amorosa.

silêncio ensurdecedor
inocente culpa
gelo fervente
declaração tácita
ilustre desconhecido
guerra pacífica
morto-vivo
lentamente rápido
tristemente alegre
inimigo amistoso
cooperado vagabundo
catedrático néscio
mentiroso honesto
26
Q

Anacoluto

A

Anacoluto é uma figura de linguagem que, segundo a retórica clássica, consiste numa irregularidade gramatical na estrutura de uma frase, como se o locutor começasse uma frase e houvesse uma mudança de rumo no pensamento — por exemplo, mediante o desrespeito das regras de concordância verbal ou da sintaxe.

Sintaticamente, pode-se definir anacoluto (ou tópico pendente) como a quebra da estrutura sintática da frase pela inserção de um sintagma ou pela mudança abrupta de uma determinada construção sintática. Isso ocorre quando o falante explicita o tópico ou assunto da sua fala para depois prosseguir com uma construção normal.

Exemplo: “O homem, chamar-lhe mito não passa de anacoluto” (Carlos Drummond de Andrade).

27
Q

Aliteração

A

A Aliteração é uma figura de linguagem relacionada a aspectos fonéticos/fonológicos da palavra, que consiste em repetir sons consonantais idênticos ou semelhantes em palavras de uma frase ou de versos de uma poesia[1] para criar sonoridade. É comum para fins onomatopaicos onde a repetição tenta representar sons dos objetos relatados.[2] A aliteração vem sendo considerada recurso fônico de intensificação.[3]

A aliteração é usada como recurso de estilo em poesia que possibilita em certas poesias antigas reconstituir uma pronúncia que desapareceu na transcrição.[4]

Exemplos de aliteração: O rato roeu a roupa do rei de Roma. Essa frase tão conhecida é um exemplo claro de aliteração. Nela temos a repetição do som do R no início das palavras.

28
Q

Anadiplose

A

Anadiplose é a figura de linguagem que consiste na repetição da última palavra ou expressão de uma oração ou frase no início da seguinte, com intenção de realce. Existem dois tipos de Anadiplose:

  • Oblíqua: onde a Anadiplose pode se repetir entre duas frases verbais e/ou não verbais.
  • Cárnea: onde a Anadiplose se repete em apenas uma frase. Exemplo: “Todo pranto é um comentário. Um comentário que amargamente condena os motivos dados.”; “Pede-se aos senhores a aplicação da justiça. Justiça que outra coisa não é senão a razão do Direito.”; “Só depois de me fazer isto é que chorei. Chorei todas as lágrimas que tinha em mim.”
29
Q

Anáfora

A

Em retórica, anáfora é a repetição da mesma palavra ou grupo de palavras no princípio de frases ou versos consecutivos. É uma figura de linguagem muito usada nos quadrinhos populares, música e literatura em geral, especialmente na poesia.

30
Q

Analepse

A

Analepse (termo mais utilizado em literatura), flash-back, flashback, cutback ou switchback (termos mais utilizados no teatro) é a interrupção de uma sequência cronológica narrativa pela interpolação de eventos ocorridos anteriormente. É, portanto, uma forma de anacronia ou seja, uma mudança de plano temporal. Os Lusíadas, de Camões, como começam “a meio da ação” (in media res), farão, depois, uso da analepse para que sejam referidos acontecimentos prévios. No livro d’ Os Maias também existe uma analepse que começa no capitulo I e termina no capitulo IV. No cinema, o flashback é um recurso típico de vários géneros cinematográficos, sendo frequente nos filmes policiais e nos clássicos do filme negro norte-americano, por exemplo: Out of the Past, de Jacques Tourneur, em que o passado, essencial para a compreensão da acção, é apresentado numa longa sequência que justifica o título original do filme (Fora do Passado, em tradução literal). O flashback também foi muito utilizado na série de televisão norte-americana Lost, assim como o recurso de flashforward.

31
Q

Assíndeto

A

Assíndeto é uma figura de estilo que consiste na omissão das conjunções ou conectivos (em geral, conjunções copulativas), resultando no uso de orações justapostas ou orações coordenadas assindéticas, aquelas separadas por vírgulas. É uma figura de sintaxe, por omissão (ocultação), tal como a elipse e o zeugma. Por exemplo, em Os Lusíadas, de Camões, podemos ler: “Fere, mata, derruba denodado…”. Outro bom exemplo, que mostra a eficácia deste recurso retórico ao transmitir a ideia de insistência energética, rapidez e força aparece no Cântico Negro de José Régio: “Tendes jardins, tendes canteiros,/Tendes pátrias, tendes tectos”, ainda que no verso seguinte, seja substituído por uma anáfora: “E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios…”, em que a conjunção copulativa volta a aparecer, mas no mesmo contexto rítmico.

“Assim, sequências de palavras desligadas, bem como a repetição constante de palavras e orações são condenadas, e com muita razão, no discurso escrito; mas não no discurso oral — os oradores usam-nas livremente, pelo seu efeito dramático. Nesta repetição deve existir diversidade de tons, como se abrisse caminho a esse efeito dramático. Por exemplo: ‘Este é o vilão que de entre vós vos enganou, vos defraudou, que vos traiu por completo.’” — note-se que neste exemplo, dado por Aristóteles, se faz, também, uso da gradação.
“Soltei a pena, Moisés dobrou o jornal, Pimentel roeu as unhas” (Graciliano Ramos)
Peguei o exercício, levei-o para casa, li, reli, voltei à escola, briguei com a professora, fui à direção, reclamei a falta de conectivo.
O polissíndeto é a figura de estilo contrária ao assíndeto.

32
Q

Assonância

A

Assonância é uma figura de linguagem ou um recurso sonoro que consiste em repetir sons de vogais em um verso ou em uma frase, especialmente as sílabas tônicas. A assonância é largamente utilizada em poesias mas também pode ser empregada em prosas, especialmente em frases curtas.

Exemplos
Anule aliterações aliteralmente abusivas
— manual de redação humorístico (assonância em A)
Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
— Cruz e Sousa (assonância em A).
Não sei d'onde viera quimera tão fera
— Jaime de Andruart (assonância em E)
A mágica presença das estrelas!
— Mario Quintana (assonância em A)
33
Q

Circunlóquio

A

Circunlóquio é uma figura de linguagem que consiste em um discurso pouco direto, onde o escritor foge do ponto principal pelo abuso de expressões, que estende demasiadamente algo que pode ser dito em poucas palavras.

exemplos :

“Manter um alto grau de atividade…” (Em vez de “trabalhar bastante”)
“Grupos de idêntica natureza…” (Em vez de “grupos iguais”)
“Estamos trabalhando para que haja consenso entre os estudantes” (Em vez de “Queremos um consenso”)
“Estudamos demasiadamente para obtermos êxito na prova de seleção da universidade” (Em vez de “Estudamos muito para passar no vestibular”).
“Sua frase está ortograficamente equivocada” (Em vez de “Sua frase está errada”)

34
Q

Clímax

A

A figura de estilo conhecida como clímax, ou gradação ascendente, consiste na enumeração de uma sequência de ideias em andamento crescente. Há, contudo, autores que consideram que clímax ou gradação são o mesmo (incluindo, neste caso, também a gradação descendente, também designada por alguns autores como anticlímax).[1]

Um exemplo é dado neste excerto de Cecília Meireles:

“Por mais que me procure, antes de tudo ser feito,
eu era amor. Só isso encontro.
Caminho, navego, vôo,
sempre amor (…)”[1]
Na Primeira Epístola aos Coríntios de Paulo de Tarso, capítulo 13, versículo 7, onde se diz “[O Amor] tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”, essa gradação é evidente: perante a dúvida e o sofrimento, o Amor aceita tudo, em primeiro lugar graças à crença, depois graças à esperança e, finalmente, graças à força própria desta virtude. Esta ideia é reforçada no final desta mesma famosa passagem bíblica (versículo 13), onde a palavra clímax aparece na sua aceção original em grego (klimax = o maior): “Agora, pois, permanecem a Fé, a Esperança, o Amor, estes três; mas o maior destes é o Amor”

35
Q

Diácope

A

Diácope é uma figura de linguagem que consiste na repetição da mesma palavra em semelhante com outra de permeio.

Exemplos:

“Tu só tu, puro amor…” (Lus,3,119)
Dargo o valente dargo, a quem na guerra ninguém nunca jamais não viu as costas.” (Garrett)

36
Q

Elipse

A

Elipse (do grego élleipsis, “omissão”, através do latim ellipse) é a omissão de um termo da frase que seja facilmente subentendido.

Exemplos
“No mar, tanta tormenta e tanto dano” (em “Os Lusíadas” de Camões) - onde se omite o verbo “haver”, ainda que seja óbvia a intenção do autor.
“Na sala, apenas quatro ou cinco convidados” (Machado de Assis) omite o verbo “haver”.
“Quanta maldade na Terra” omite o verbo haver.
Na oralidade, quando alguém serve chá, pode perguntar “com ou sem açúcar?” - ainda que a frase não explicite que se está a referir ao chá, o próprio contexto serve para esclarecer o seu sentido.

37
Q

Epizeuxe

A

A epizeuxe é uma figura de linguagem na qual a mesma palavra é repetida duas ou mais vezes seguidas sem outra de permeio. Relaciona-se, portanto, com a diácope. Para comparar, consulte também o verbete “diácope”.

Por exemplo:

“Marília, Marília, és a estrela da manhã.”
“Amigo, amigo, por favor não vá embora.”

38
Q

Pleonasmo

A

Pleonasmo consiste na repetição de um termo da oração ou do significado de uma expressão, isto é, alguma informação que é repetida desnecessariamente.

Também denominado pleonasmo de reforço, estilístico ou semântico, trata-se do uso do pleonasmo como figura de estilo para enriquecer algo num texto. Grandes autores usam muito este recurso. Nos seus textos os pleonasmos não são considerados vícios de linguagem, e sim pleonasmos literários.

Exemplos
“A lealdade torna lealdade”. (Domingos António)

“Iam vinte anos desde aquele dia
Quando com os olhos eu quis ver de perto
Quanto em visão com os da saudade via.”
(Alberto de Oliveira)

“Morrerás morte vil na mão de um forte.”
(Gonçalves Dias)

“O cadáver de um defunto morto que já faleceu”
(Roberto Gómez Bolaños)

“E rir meu riso”
(Vinícius de Moraes)

Pleonasmo vicioso
Ver artigo principal: Tautologia
Trata-se da repetição desnecessária de algum termo ou ideia na frase. Essa não é uma figura de linguagem, e sim um vício de linguagem.

39
Q

Prolepse

A

Prolepse, do grego prólepsis “ação de tomar antes”, ou “flashforward”, numa linguagem mais cinematográfica, é figura também conhecida como antecipação, é uma figura de sintaxe onde ocorre o deslocamento de um termo de uma oração para outra que a precede, com o que adquire excepcional valor. Ao contrário de Analepse, a prolepse é um recurso narrativo através do qual se pode descrever o futuro; um acto futuro; prever o futuro, etc. Aparece em Os Lusíadas, no plano da história de Portugal.

O livro “Cem anos de solidão” de Gabriel Garcia Marques abre com prolepse analéptica, isto é, o que o narrador conta são, na verdade, recordações. Por analepse ele ‘volta’ ao tempo para antecipar, por prolepse, o acontecimento narrado.

Exemplos:

  • O próprio ministro diz que não gostou do ato.(Machado de Assis)

Em contrapartida à analepse, está a prolepse, que significa o contrário, até como seus próprios prefixos deixam claro. Da mesma forma que a analepse, prolepse também é uma figura de sintaxe. A diferença é que este último termo em questão vai remeter ao futuro no decorrer do texto e até mesmo prever o futuro. Essa previsão, citada anteriormente, aparece, muitas vezes, num adiantamento dos termos de uma oração, como é o caso de “As pessoas parece que gostam de dramas do cotidiano”. No exemplo em questão, “as pessoas”, que, na ordem direta, apareceria entre “que” e “gostam”, tornando a frase em: “Parece que as pessoas gostam de dramas do cotidiano. Apesar da antecipação dos termos, não há erros, gramaticalmente falando, no perído citado. Eduardo Satangua

40
Q

Sínquise

A

Sínquise, do grego sýnchysis “confusão”, “mistura”, na língua portuguesa, é o nome da figura de linguagem em que os termos da oração são transpostos de forma violenta, produzindo confusão artística das palavras.[1] Geralmente esse efeito é conseguido usando-se simultaneamente hipérbatos, anacolutos, e outras figuras de repetição ou omissão, dificultando o entendimento do enunciado em uma primeira leitura.

Exemplo:

“ A grita se levanta ao céu, da gente. ”
Uma forma mais direta seria: “A grita da gente se levanta ao céu”.

41
Q

Silepse

A

Silepse é uma figura de construção ou sintática que trata da concordância que acontece não com o que está explícito na frase, mas com o que está mentalmente subentendido, com o que está oculto. É, portanto, uma concordância ideológica, irregular ou figurada, que ocorre com a ideia que o falante quer transmitir. É também chamada de concordância irregular. O termo silepse vem da língua grega e significa “ato de compreender”, “compreensão”.

Na linguagem
A palavra silepse vem do grego e significa ato de compreender, “compreensão”. É uma figura de construção ou sintática. Trata-se da concordância que acontece, não com o que está explícito na frase, mas com o que está mentalmente subentendido, com o que está oculto. Portanto, é uma concordância ideológica, que ocorre com a ideia que o falante quer transmitir. É também chamada de concordância irregular ou figurada.

Há três tipos de silepse:

Silepse de pessoa

“Todos nesta sala somos brasileiros”. Nesta frase, o verbo somos não concorda com o sujeito claro Todos, que é da 3ª pessoa, portanto, a concordância “normal” seria “Todos nesta sala são brasileiros”. O verbo concorda com a ideia nele implícita. O falante se inclui entre os brasileiros.

Para entender melhor este tipo de concordância, é preciso recordar uma regra que diz: Quando o sujeito for composto de pessoas diferentes (eu, tu, ele), do qual faça parte o EU, o verbo vai para a 1ª pessoa do plural. Exemplo: “Tu, ele e eu fomos ao cinema ontem”.

Logo, no exemplo acima, a ideia subentendida é o EU, que representa a pessoa que fala.

Este tipo de construção é constantemente utilizado na publicação de decretos, como em: O Presidente da República faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei (…)

Silepse de número
“O brasileiro é bravo e forte. Não fogem da luta”.

O verbo fugir – fogem – não concorda com o sujeito o brasileiro, e sim com o que ele representa: os brasileiros.

Observação: Estamos ciente. Nesta frase, o sujeito é da primeira pessoa do plural (nós) e o predicativo é usado no singular, porque se trata de uma pessoa. É o que se chama de “plural de modéstia”. Em vez de o verbo ser empregado na 1ª pessoa do singular, é usado na 1ª pessoa do plural. Muito empregado por escritores e oradores, principalmente políticos, para evitar o tom individualista no discurso, expressando uma fala coletiva.

Silepse de gênero

“Rio de Janeiro é linda. Vista daqui parece o paraíso”.

Nesse caso, os adjetivos linda e vista não concordam com o substantivo Rio de Janeiro, mas com a palavra cidade. Este tipo de silepse ocorre principalmente com:

Pronomes de tratamento: Vossa Senhoria foi taxativo em seu discurso.
Subentende-se neste exemplo que a pessoa representada pelo pronome Vossa Senhoria é do sexo masculino.

Com nomes de cidades: São Paulo está muito poluída.
O adjetivo poluída concorda com cidade, que está subentendida.

Com a expressão “a gente”: A gente é novo ainda.
O adjetivo novo não concorda com a gente, levando a entender que o falante é do sexo masculino.

A silepse é muito empregada na linguagem coloquial, mas grandes escritores também a utilizaram em suas obras. Eis alguns exemplos:

“Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.” – Olavo Bilac. “Nuvens baixas e grossas ocultavam Ilhéus, vista dali em mar grande e livre.” – Adonias Filho. “A certa altura, a gente tem que estar cansado.” – Fernando Pessoa. “Corria gente de todos os lados, e gritavam.” – Mário Barreto. “O casal de patos nada disse, pois a voz das ipecas é só um sopro. Mas espadanaram, ruflaram e voaram embora.” – Guimarães Rosa. “Aliás todos os sertanejos somos assim.” – Raquel de Queirós. “Ficamos por aqui, insatisfeitos, os seus amigos.” – Carlos Drummond de Andrade. “Dizem que os cariocas somos pouco dados aos jardins públicos” – Machado de Assis. “Esta gente já terá vindo? Parece que não. Saíram há um bom pedaço.” - Machado de Assis. “E os dois, ali no quarto, picamos em mil pedaços as trezentas páginas do livro.” - Paulo Setúbal.

Obs: desgastada pelo uso, a silepse não representa recurso expressivo da língua portuguesa, pelo menos no Brasil.

Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito.” (Guimarães Rosa)

Neste período, o escritor usou o adjetivo “novo” concordando com o sexo da pessoa que fala (masculino) e não com a palavra gente (feminino). Este é um exemplo de silepse, figura de sintaxe ou construção que se caracteriza por concordar com a ideia que se quer transmitir, não com os termos que aparecem na oração.

42
Q

Zeugma

A

Zeugma é uma figura de estilo ou figura de linguagem que consiste na omissão de um ou mais elementos de uma oração, já expressos anteriormente. O zeugma é uma forma de elipse.

Zeugma e a colocação da vírgula
Quando omitimos um termo, a posição do constituinte elidido é, na língua escrita, assinalada por uma vírgula. A expressão em negrito, ou sua cognata, é omitida. Nota-se que a forma suprimida pode não coincidir morfologicamente com o seu antecedente (no ex. 1., a seguir o antecedente é a forma verbal “gosta”, ao passo que a forma omitida e subentendida, é “gosto”). Daí a observação acima de que o constituinte omitido pode não coincidir formalmente com a forma expressa (em gênero, pessoa ou tempo) e sua antecedente, podendo ser uma forma “cognata”, ou “semelhante”. O tipo de semelhança que o zeugma consente é uma questão linguística mais geral.

“Ela gosta de história; eu, de física.”

“Mas, ser planta, ser rosa, mão vistosa,/ De que importa, se aguardar sem defesa,/ Penha a mão, ferro a planta, tarde a rosa?” (Gregório de Matos)

Na terra dele só havia mato, na minha, só prédios.

Meus primos conheciam todos. Eu, poucos.

As quaresmas abriam a flor depois do carnaval, os ipês, em junho.

Eu gosto de futebol; ele, de basquete.

Em casa eu leio jornais; ela, revistas de moda.

Minha professora trabalha na escola particular; minha mãe, na pública.

Ela anda de bicicleta, ele de moto.

Contudo, o zeugma é a omissão de um termo já citado anteriormente que não vai mudar o sentido da frase por conta da omissão de termos.

Diferença entre zeugma e elipse
Na zeugma, o termo omitido já foi mencionado anteriormente. Na elipse o termo ainda não foi mencionado, e é facilmente achado na frase. Esta distinção corresponde a uma interpretação tradicional destes conceitos. Em termos modernos, elipse é o fenômeno linguístico geral que compreende como caso particular o zeugma ou a “elipse” no sentido restrito para que remete a definição mais acima.

43
Q

Zoomorfização

A

Zoomorfização (ou Animalização) é uma figura de linguagem que aproxima e descreve o comportamento humano como de um animal, o homem é tratado como um animal.

Mais do que uma figura de linguagem, a Zoomorfização é uma concepção do Naturalismo. Assim, quando o homem é retratado como um animal, expressa-se a ideia da época, muito influenciada pelo Darwinismo, de que o homem não passa de um ser instintivo, consideravelmente irracional e que é condicionado pelo meio em que vive.

Exemplos
Trecho retirado do livro O cortiço, de Aluísio Azevedo: “(…) via-se-lhes [das mulheres] a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam suspendendo o cabelo todo para o alto do casco [couro cabeludo]; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pêlo, ao contrário, metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas [narizes ou focinhos] e as barbas, fossando [revolver com o focinho] e fungando contra as palmas da mão.”