Trauma vesical Flashcards
Epidemiologia do trauma vesical
- 2ª lesão mais comum do aparelho geniturinário (1ª é trauma renal);
- Corresponde a 20% dos traumas geniturinários;
- 10-30% está associado a trauma uretral (geralmente uretra posterior).
Classificação do trauma vesical
- Grau I: Contusão com possível presença de hematoma intramural;
- Grau II: Laceração extraperitoneal < 2cm;
- Grau III: Laceração extraperitoneal > 2cm ou intraperitoneal <2cm;
- Grau IV: Laceração intraperitoneal > 2cm;
- Grau V: Laceração intra ou extraperitoneal estendida para o colo vesical ou meato uretral (trígono).
Etiologia do trauma vesical
- Iatrogênico
- Perfurante
- Trauma fechado: contusão ou ruptura (extra ou intraperitonial)
Diferença entre trauma vesical com laceração extra e intraperitonial
- Extraperitonial: apesar da lesão na bexiga, não houve lesão em direção à cavidade peritoneal (trauma direto, contragolpe, fraturas pélvicas ou femurais, desgarramento dos ligamentos pubossacros e pubovesicais)
- Intraperitonial: bexiga é retroperitonial, o golpe foi tão grande que, além da bexiga, rompeu o peritônio e extravasou urina
Mecanismo de lesão intraperitonial em caso de bexiga cheia no trauma vesical
Impacto direto no abdômen inferior com bexiga cheia → aumento abrupto de pressão → urina se propaga de maneira radiada → rotura da cúpula vesical → urina flui para cavidade abdominal → peritonite (se urina infectada) ou peritonite química 2-3 dias após (se urina estéril).
Clínica geral do trauma vesical
- Hematúria macroscópica após trauma em abdome inferior (internar se estiver com coágulos)
Clínica do trauma vesical com laceração extraperitonial
- Globo vesical palpável (porque não urina)
- Dor e rigidez suprapúbica
- Dor à compressão da bacia
- Uretrorragia
- Impossibilidade de urinar
- Crepitação na bacia
Clínica de trauma vesical com laceração intraperitonial
- Ausência de globo vesical
- Dor irradiada para o ombro (sinal de Laffont)
- Distensão abdominal levando a dificuldade respiratória e de retorno venoso
- Descompressão brusca positiva
- Irritação peritoneal com febre (tardiamente)
- Impossibilidade de urinar
Diagnóstico de trauma vesical
- RX de bacia: fraturas pélvicas.
- USG abdominal: permite identificar líquido livre na cavidade peritoneal (indica lesão intraperitoneal), coleções paravesicais e retroperitoneais (é acessível mas é necessário enchimento vesical e não avalia fratura pélvica).
- CISTOURETROGRAFIA RETRÓGRADA: padrão-ouro*
- Urografia excretora: avaliar trato urinário superior.
- TC com contraste: politraumas estáveis para avaliar as fraturas e lesões intraperitoneais (pode ser associado à cistografia).
- Cistoscopia (peritonioscopia transcistoscópica): visualização das alças intestinais e epíplon.
- Laparotomia exploratória: no caso de dúvida diagnóstica.
Procedimento e interpretação da cistoureterografia retrógrada no trauma vesical
Procedimento:
a. Fase retrógrada: no 1/3 distal da uretra insere-se sonda e injeta-se contraste de forma a encher a bexiga com ela. Faz então RX em AP, oblíqua D e E.
b. Fase miccional: enquanto paciente urina faz-se RX oblíqua D e E. Após esvaziamento vesical faz RX em AP.
Interpretação
a. Rotura extraperitoneal: RX com aspecto de “gota de lágrima” ou “chama de vela” (extravasamento difuso e irregular do contraste no espaço perivesical).
b. Rotura intraperitoneal: RX com aspecto de “chifre de boi” (contraste extravasa para cavidade peritoneal e se espalha entre as alças intestinais destacando seus contornos).
Exames laboratoriais no trauma vesical
- EAS: hematúria microscópica (95% dos casos ela é macroscópica)
- Cultura de urina: verificar ITU (pode complicar o trauma)
- Hemograma: anemia, alterações de leucograma, plaquetograma.
- U e Cr séricas: função renal.
Tratamento de trauma vesical em contusão
- Inserção de sonda de Folley 3 vias
- Irrigação contínua da bexiga com SF gelado = hidratação
- ATB
- Repouso
- Acompanhamento
Indicação para os tratamentos conservador e cirúrgico do trauma vesical extraperitonial
Conservador: Lesão única e pequena; urina estéril; diagnóstico precoce.
Cirúrgico:
- Múltiplas lesões;
- Grande lesão única;
- Hematúria maciça;
- Coágulos intravesicais persistentes;
- Lesão em colo vesical;
- Lesões associadas.
Conduta nos tratamentos conservador e cirúrgico para o trauma vesical extraperitonial
Conservador: Sonda de Folley por 10-14 dias.
Cirúrgico:
- Incisão suprapúbica longitudinal (acesso transcistoscópio);
- Reparo da lesão transvesicalmente;
- Síntese: sutura contínua, fio absorvível (vycril, categute simples ou cromado) em dois planos (seromuscular e mucosa);
- Cistostomia suprapúbica por contra-abertura (segurança).
Conduta no tratamento cirúrgico da lesão no trauma vesical intraperitonial
- Incisão longitudinal mediana;
- Inspeção da cavidade abdominal;
- Ampliação da lesão: acesso a todas as paredes da bexiga;
- Corrigir lesões extraperitoneais associadas;
- Cistostomia suprapúbica extraperitoneal (contra-abertura);
- Dreno laminar no espaço de Retzius (contra-abertura);
- ATB;
- Sonda de Foley vesical por 7-14 dias;
- Fazer urocultura depois de retirada da sonda.