Patologia dos metabolitos Flashcards
Quais as perturbações do metabolismo dos lípidos?
- esteatose
- colesterol: xantomas e aterosclerose
- lípidos complexos: dislipidoses (anomalias genéticas das enzimas lisossomais)
- pseudo-hipertrofia lipomatosa
O que é a esteatose e onde ocorre?
Acumulação excessiva de triglicéridos intracelulares e consequente formação de vacúolos intracelulares.
- transporte de lípidos para as células afetadas em quantidades que excedem a sua capacidade para os metabolizar
- incapacidade da célula para sintetizar proteínas e lipoproteínas necessárias para o transporte de lípidos para o exterior
Ocorre na maioria dos órgãos, sendo mais comum no fígado.
Como se caracteriza a patogenia da esteatose?
A acumulação excessiva de triglicéridos pode resultar num defeito em qualquer uma das seguintes etapas:
- entrada excessiva de ácidos gordos no fígado
- síntese de ácidos gordos aumentada
- oxidação reduzida de ácidos gordos: anóxia
- esterificação aumentada dos ácidos gordos para triglicéridos: álcool
- síntese reduzida de apoproteínas: dietas pobres em proteína, lesão do RER devido a álcool ou tetracloreto de carbono
- secreção comprometida de lipoproteínas do fígado: tóxicos (álcool)
Qual a gravidade da esteatose?
Depende da causa e da quantidade acumulada
- ligeira: sem efeito na função celular
- acentuada: pode alterar a função celular
Lesão reversível (exceto quando ocorrem outras alterações - tetracloreto de carbono)
Qual o aspeto microscópico da esteatose?
Órgãos fixados pela formalina:
- desidratação pelo álcool: dissolução de gordura
- células com vacúolos, por vezes confluentes
- núcleo em posição periférica
Cortes de congelação - coloração pelo Sudan:
- gotas lipídicas vermelhas ou negras
Que zonas dos órgãos são maioritariamente atingidas pela esteatose?
- fígado: esteatose perilobular e centrolobular (anóxia)
- rim: epitélio dos tubos renais (síndroma nefrótico, “diabetes mellitus”, cetose, esteatose fisiológica dos gatos)
- coração: miócitos (anemias graves)
Qual o aspeto macroscópico da esteatose nos diversos órgãos?
Fígado:
- aumento de volume
- cor mais clara
- brilho untuoso
- peso específico diminuído
- consistência friável
Rim:
- cor pálida
- estrias esbranquiçadas e brilhantes na medula
Coração:
- alterações pouco expressivas
- por vezes, zonas com estrias claras
Qual o trajeto do colesterol?
Origem: alimentação, síntese endógena (fígado)
Utilização: membranas celulares, hormonas esteróides
Circulação no plasma: LDL, HDL
Eliminação: hepatócitos (bílis), macrófagos
Qual o aspeto microscópico do colesterol intracelular?
Colesterol acumulado - Pequenas gotas
- inclusão em parafina (espaços vazios) ou cortes por congelação
Células com sobrecarga - Citoplasma com vacúolos e aspeto espumoso
- célula xantomatosa: macrófago hipertrofiado com pequenos vacúolos vazios
- célula de Touton: célula gigante, com numerosos núcleos
Tecido com sobrecarga
- infiltração de células xantomatosas com/sem fibrose e com/sem leucócitos
- xantomatoses viscerais, colesteroloses vesiculares, xantomas cutâneos, histiocitofibromas dérmicos, xantogranulomas)
Qual o aspeto microscópico do colesterol extracelular?
- precipitação de colesterol em grande quantidade no líquido extracelular sob a forma de cristais, geralmente associados às células xantomatosas
- cristais grandes e com forma característica: retangulares (colesterol livre), losângicos (colesterol esterificado)
- inclusão em parafina (espaços vazios) ou cortes por congelação
- corpos estranhos: reação macrofágica e fibrose
- placas aterosclerosas, quistos epidérmicos, colesteatomas
Qual o aspeto macroscópico do colesterol?
- coloração amarelada (xantomatose): placas ou nódulos (xantomas), presença de fibrose (acinzentado) ou hemossiderina (acastanhado)
- cristais (sobrecargas extracelulares): placas ateromatosas, cálculos colesterólicos, focos de necrose, abcessos, quistos epidérmicos
- endurecimento dos tecidos: fibrose (histiocitofibromas dérmicos, xantogranulomas)
Consoante a abundância e distribuição, as células xantomatosas podem formar:
- xantomas: nódulos ou placas, principalmente na pele
- xantomatoses: infiltração generalizada, principalmente nas vísceras (xantomatoses viscerais)
O que são dislipidoses e que células afetam?
Doenças hereditárias raras, cada uma correspondente à acumulação de um tipo particular de lípido complexo em células, devido ao defeito genético de uma enzima lisossomal necessária à degradação dos lípidos.
Provoca hipertrofia das células com sobrecarga e, eventualmente, destruição.
- macrófagos
- neurónios
- células mesenquimatosas
- células parenquimatosas
Como se processam as dislipidoses?
- ausência hereditária de enzimas lisossomais
- alterações de armazenamento nos lisossomas
- processamento anormal
- acumulação de metabolitos insolúveis
- aumento dos lisossomas (acumulação de produtos não digeridos)
- interferência com a função celular normal
As doenças de armazenamento dos lisossomas são classificadas de acordo com a natureza bioquímica da substância acumulada.
O que é a arteriosclerose e quais os seus tipos?
Espessamento e perda de elasticidade das paredes arteriais.
- aterosclerose
- arteriosclerose de Monckeberg: calcificações focais na camada média das artérias musculares de pequeno e médio calibres, sem inflamação associada
- arteriosclerose (hialina e hiperplásica): espessamento difuso da parede arteriolar, estreitamento do lúmen, isquémia os tecidos distais
Quais as principais características da aterosclerose?
Doença das artérias progressiva, caracterizada por placas ateromatosas (fibrose e lípidos) da camada íntima, formadas a partir da deposição de lípidos, proliferação e células musculares lisas, síntese de matriz extracelular.
- placa ateromatosa típica (ateroma): lesão amarelo- esbranquiçada da camada íntima que faz saliência para dentro do lúmen do vaso
Qual o aspeto microscópico da aterosclerose?
- camada fibrosa superficial com miócitos lisos, leucócitos e densa matriz extracelular de tecido conjuntivo (células mortas, lípidos, fendas de colesterol, células espumosas com lípidos e proteínas plasmáticas) a revestir uma zona necrosada
- pequenos vasos em proliferação na periferia
Como se caracteriza a teoria lesional da aterosclerose (patogenia)?
- aterosclerose é uma resposta à lesão crónica ou repetida da célula endotelial causada por hiperlipidémia
- lesão endotelial acompanhada pelo aumento da permeabilidade aos constituintes do plasma (nomeadamente lípidos) e a adesão de monócitos e plaquetas ao endotélio
- monócitos migram para dentro da camada íntima, fagocitam os lípidos (formando-se células espumosas) e proliferam nesta camada
- fatores das plaquetas ativadas e monócitos (PDFG) induzem migração e proliferação dos miócitos lisos da camada média para a íntima: proliferação e síntese de matriz extracelular (colagénio, fibras elásticas, proteoglicanos)
- lípidos extracelulares derivam da passagem de lípidos a partir do lúmen (devido à hipercolesterolémia e células espumosas): a acumulação de colesterol advém de um desequilíbrio entre a sua passagem para o interior e a saída
- miócitos lisos também acumulam lípidos (principalmente colesterol)
- macrófagos produzem enzimas e citoquinas que agravam a lesão
Que complicações estão associadas à aterosclerose?
- calcificação
- úlceras
- predisposição para trombose local
- hemorragia
- atrofia medial
- formação de microêmbolo de colesterol
- dilatação tipo aneurisma
Existem sintomas da aterosclerose?
Permanece assintomática até:
- diminuição do lúmen vascular com necrose e gangrena
- rutura da placa com trombose e oclusão do lúmen (enfarte)
- formação de êmbolos de uma placa ateromatosa (enfartes renais devido a êmbolos)
- diminuição da resistência de um vaso com formação de aneurisma (eventual rutura)
O que é a pseudo-hipertrofia lipomatosa?
Músculo infiltrado e substituído por gordura (substituição de muitas fibras musculares por células adiposas).
- reconhece-se no matadouro, quando se observa uma extensão variável de gordura intramuscular
Qual o aspeto microscópico da pseudo-hipertrofia lipomatosa?
- presença de áreas com fibras musculares e outras em que há substituição por tecido adiposo
- pode estar presente tecido fibroso
Qual o aspeto macroscópico da pseudo-hipertrofia lipomatosa?
- aumento de volume (pseudo-hipertrofia muscular)
- presença de trabéculas branco-amareladas e consistência aumentada (tecido fibroso)
Quais as causas das perturbações do metabolismo dos glúcidos?
Sobrecargas de glicogénio.
- adquiridas: hiperglicémia (diabetes), neoplasias (carcinoma renal)
- congénitas: doenças de armazenamento de glicogénio (glicogenoses)
Qual o aspeto macroscópico da sobrecarga de glicogénio?
- pouco expressivo
- em grandes sobrecargas: aumento de volume do órgão e coloração mais clara
Qual o aspeto microscópico da sobrecarga de glicogénio?
Fixados alcoólicos e coloração com Carmim de Best:
- glicogénio visível a rosa vivo ou vermelho
Fixadores aquosos:
- célula aumentada de volume e muito clara
- contorno celular muito evidente
- núcleo geralmente claro e em posição central (semelhante a célula vegetal)
Quais as perturbações do metabolismo das proteínas (acumulação nos espaços intercelulares)?
- esclerose ou fibrose
- substância hialina
- alterações das fibras elásticas
- substâncias amilóides
- lesões secundárias às perturbações do metabolismo das purinas
O que é a esclerose/fibrose?
Endurecimento de um órgão devido ao colagénio (normal ou anormal), preservando ou alterando a função dos tecidos ou dos órgãos afetados.
Qual o aspeto macroscópico da esclerose/fibrose?
- endurecido
- esbranquiçado
- zonas brilhantes e lisas
Qual o aspeto microscópico da esclerose/fibrose?
- colagénio em feixes espessos e densos
- número variável de fibroblastos
- algumas escleroses podem ter um número elevado de fibras elásticas espessas e irregulares ou fibras reticulares
Qual a distinção entre esclerose sistematizada e mutilante?
A esclerose sistematizada acompanha a trama conjuntiva pré-existente e respeita inteiramente as estruturas tecidulares.
A esclerose mutilante não respeita a topografia pré-existente e desorganiza o tecido, tendo repercussões funcionais mais intensas.
Como se categoriza a esclerose quanto à idade?
Esclerose recente (matriz extracelular laxa):
- consistência mole
- rede de fibrilas
- muito líquido e substâncias solúveis
- rica em células
- numerosos fibroblastos e miofibroblastos
- células inflamatórias
- colagénio III e IV
- pode regredir ou desaparecer
Esclerose antiga (matriz extracelular densa):
- consistência dura
- fibras em feixes espessos e muito refringentes
- pouco líquido e substâncias solúveis
- pobre em células
- fibroblastos e miofibroblastos raros
- sem células inflamatórias
- colagénio I
- estável ou irreversível
Como se categoriza a esclerose quanto à etiologia?
Esclerose pós-inflamatória ou pós-necrótica:
- mais frequentes
Escleroses distróficas:
- secundárias a um processo geral: senescência, insuficiência endócrina, fatores vasculares de hipoxia crónica
- acompanham e acentuam a arquitetura existente
Como se categoriza a esclerose quanto à patogenia?
Escleroses pós-inflamatórias correspondem frequentemente a uma fase de reparação tecidular - citoquinas produzidas por células de reação inflamatória (macrófagos).
Escleroses independentes de qualquer inflamação (fator tipo isquémico, agente físico, agente tóxico ou auto-imunitário)
- esclerose sistémica progressiva (esclerodermia): deposição excessiva de colagénio em diversos tecidos e órgãos, provável origem autoimune
O que é substância hialina?
Deposição de material hialino - homogéneo, vítreo, claro, translúcido, amorfo, denso, eosinófilo e refringente.
Qual o aspeto microscópico da substância hialina?
- homogénea
- acidófila
- sem estrutura
Qual o aspeto macroscópico da substância hialina?
- homogénea
- branca
- brilhante
- translúcida
- densa
- detritos celulares, proteínas plasmáticas, fibrinogénio, imunoglobulinas, lipoproteínas, glicoproteínas, material correspondente a tecido conjuntivo normal ou anormal
Que formas toma a substância hialina?
- gotas hialinas
- cilindros hialinos
- hialinose arteriolar
- pneumopatias com presença de membranas hialinas
Quais as características das gotas hialinas?
- presentes no citoplasma das células epiteliais dos tubos contornados renais
- excessiva reabsorção de proteínas do lúmen dos tubos renais (por endocitose)
- surgem em processos patológicos com proteinúria (por alteração da permeabilidade glomerular)
O que são os cilindros hialinos?
Presença de substância hialina nos tubos renais.
Quais as características da hialinose arteriolar?
- deposição de substância hialina entre as fibras musculares comprimidas
- espessamento da parede do vaso e diminuição do lúmen