P2 AULA 4- IMUNOLOGIA DA GESTAÇÃO Flashcards
1
Q
AULA 4- IMUNOLOGIA DA GESTAÇÃO
A
- O Processo Inicial• Fertilização:
• Os espermatozoides ascendem pelo trato reprodutor feminino até a trompa de Falópio, onde encontram o ovócito durante o período de ovulação.
• Os gametas masculino e feminino unem seus pronúcleos, formando o zigoto.
• Desenvolvimento do Blastocisto:
• Após sucessivas divisões celulares, o zigoto forma um blastocisto.
• O blastocisto é composto por:
• Trofoblasto (camada externa): Origina a placenta.
• Massa celular interna: Origina o embrião propriamente dito. - Implantação no Útero• O blastocisto chega ao útero e se implanta no endométrio cerca de 5 a 7 dias após a fertilização.
• Apenas 20% das mulheres engravidam em um mês de relações desprotegidas, mostrando a complexidade e os mecanismos regulatórios desse processo.
Afinidade entre útero e embrião:
• O endométrio precisa ser receptivo e reconhecer o embrião como “inofensivo” para permitir a implantação.
- Adaptação do Endométrio• O endométrio desempenha papel crucial na tolerância imunológica:
• Deve evitar rejeitar o embrião, que é semialogênico (meio “estranho” ao organismo materno, pois contém antígenos paternos).
• Para isso, o tecido endometrial passa por transformações celulares, tornando-se um ambiente tolerante.
Decídua:
• Após a implantação, o endométrio é modificado e denominado decídua, preparado especificamente para sustentar a gestação.
- Diferenciação do Trofoblasto• Durante a implantação, o trofoblasto se diferencia em:
• Citotrofoblasto: Camada interna.
• Sinciciotrofoblasto: Camada externa invasiva que penetra no endométrio.
• Produz hormônios importantes, como o hCG.
• Atua como barreira e interface entre o embrião e o sistema imunológico materno. - Participação do Sistema Imune• A implantação envolve a presença de várias células do sistema imunológico no local:
• Macrófagos: Auxiliam na remodelação vascular e na regulação inflamatória.
• Células dendríticas: Apresentam antígenos e modulam a resposta imune.
• Células NK uterinas (uNK):
• Não citotóxicas.
• Auxiliam na remodelação das artérias espiraladas para garantir o suprimento sanguíneo adequado ao feto.
• Células T reguladoras (Tregs):
• Mantêm a tolerância imunológica, suprimindo reações contra o embrião. - Importância Imunológica• A relação entre o sistema imunológico materno e o embrião é um equilíbrio delicado entre tolerância e defesa:
• Tolerância:
• O sistema imunológico materno “aceita” o embrião, evitando ataques imunológicos.
• Defesa:
• Mantém proteção contra infecções no ambiente uterino.
2
Q
PRINCIPAIS ADAPTAÇÕES IMUNOLÓGICAS: TOLERÂNCIA
1
A
- Tolerância Imunológica na Gestação• Conceito:
• Durante a gestação, o sistema imunológico materno não entra em imunossupressão, mas adapta-se para tolerar o embrião, que é geneticamente diferente (semialogênico).
Remodelamento das Artérias Uterinas Espiraladas:
• Importância: • Durante a gestação, as artérias uterinas precisam ser convertidas em vasos de baixa resistência para garantir o fluxo sanguíneo adequado ao feto. • Processo: 1. Primeira fase: • Perda de continuidade do endotélio vascular, promovendo espaçamento entre as células endoteliais. 2. Segunda fase: • Migração do trofoblasto (EVT - extravillous trophoblast) para dentro do lúmen vascular. • Formação de um pseudoendotélio, permitindo que o vaso se torne mais dilatado e menos resistente.
- Leucócitos Deciduais• Decídua:
• É o tecido endometrial modificado, essencial para a implantação e suporte do embrião.
• Composição:
• Principais leucócitos presentes:
• Células NK uterinas (uNK): 70% do total.
• Macrófagos: 20-25%.
• Células dendríticas (DCs): 1-2%.
• Células T: 3-10%.
Equilíbrio entre Citocinas:
• Durante a gestação, é essencial um equilíbrio entre citocinas pró-inflamatórias e anti-inflamatórias: • Pró-inflamatórias: Necessárias para implantação e remodelamento inicial. • Anti-inflamatórias: Importantes para manutenção da tolerância ao embrião.
Progesterona:
• Produzida inicialmente pelo corpo lúteo, e posteriormente pela placenta (a partir da 8ª semana). • Ajuda a modular a resposta imune materna.
- Células Natural Killer Uterinas (uNK)• Função Geral:
• Em contextos normais, as células NK possuem alta atividade citotóxica, eliminando células infectadas ou com MHC alterado.
• Na gestação, a citotoxicidade é suprimida para evitar danos ao embrião.
• NK endometriais (eNK) e deciduais (dNK):
• Diferenciação mediada por TGF-beta e IL-15.
• Funções na gestação:
• Remodelamento vascular: Produzem fatores angiogênicos, como VEGF e PLGF.
• Baixa citotoxicidade: Permitem a implantação do embrião.
Alterações na Pré-eclâmpsia:
• Na pré-eclâmpsia, há uma redução na produção de PLGF, o que prejudica o remodelamento vascular e o fluxo sanguíneo para o feto.
3
Q
PRINCIPAIS ADAPTAÇÕES IMUNOLÓGICAS: TOLERÂNCIA
2
A
- Função dos Macrófagos• Macrófagos Deciduais:
• São células apresentadoras de antígenos (APCs) importantes na modulação imunológica durante a gestação.
• Atuam no remodelamento das artérias espiraladas e na produção de citocinas reguladoras.
• Ativação de M2:
• Durante a gestação, predomina o perfil M2 (anti-inflamatório) dos macrófagos.
• Eles produzem citocinas como IL-10 e TGF-beta, que favorecem a tolerância imunológica ao embrião. - Papel das Células Dendríticas• No início da gestação, as células dendríticas são imaturas, reduzindo sua capacidade de ativação imunológica e permitindo maior tolerância ao embrião.
• Posteriormente, elas auxiliam na ativação de linfócitos T reguladores (Tregs) e no equilíbrio entre respostas Th1 e Th2. - Células NK Uterinas (uNK)• Diferença entre uNK e NK “convencionais”:
• As uNK possuem menor citotoxicidade.
• Sua diferenciação é mediada por IL-15 e TGF-beta.
• Funções das uNK:
• Remodelamento das artérias espiraladas.
• Produção de fatores angiogênicos como VEGF e PLGF.
• Alterações em complicações gestacionais:
• Na pré-eclâmpsia, há redução do PLGF e disfunção das uNK, resultando em insuficiência do fluxo sanguíneo ao feto. - HLA-G e Tolerância Imunológica• O HLA-G é uma molécula específica do trofoblasto e desempenha um papel crítico na tolerância imunológica:
• Ele se liga a receptores KIR nas uNK, reduzindo sua citotoxicidade e promovendo a aceitação do embrião.
• Os trofoblastos extravilosos não expressam HLA de classe 1 e 2 convencionais, o que evita sua rejeição pelo sistema imune materno. - Estágios Imunológicos da Gestação• Primeiro Trimestre:
• Ambiente pró-inflamatório associado à implantação do blastocisto e remodelamento vascular.
• Segundo Trimestre:
• Predomínio de perfil Th2 (anti-inflamatório), essencial para a manutenção da gestação.
• Terceiro Trimestre:
• Retorno do perfil pró-inflamatório, com aumento de citocinas inflamatórias (como TNF-alfa), necessário para iniciar o trabalho de parto. - Equilíbrio Th1/Th2• Durante a gestação, é essencial o equilíbrio entre respostas Th1 e Th2:
• Th1 (pró-inflamatório): Predomina no início (implantação e remodelamento).
• Th2 (anti-inflamatório): Predomina na maior parte da gestação.
• Desequilíbrios podem levar a complicações:
• Exemplo: Na pré-eclâmpsia, ocorre aumento exagerado de Th1, comprometendo a tolerância imunológica.
4
Q
GESTAÇÃO E DOENÇAS TH1 E TH2
A
5
Q
E QUANDO NEM TUDO DEU CERTO?
1
A
- Desequilíbrio Imunológico• A falha na adaptação imunológica pode levar a um aumento de citocinas pró-inflamatórias e redução de citocinas anti-inflamatórias e progesterona.
• Consequências:
• Infertilidade.
• Falha de implantação.
• Abortos de repetição.
• Pré-eclâmpsia.
• Crescimento Intrauterino Restrito (CIUR). - Infertilidade• Definida como a ausência de gestação após 1 ano de tentativas regulares e desprotegidas.
• Infertilidade sem causas aparentes:
• Em cerca de 15% dos casos, nenhuma causa específica é encontrada nas mulheres (útero, trompas e ovários normais) ou nos homens (espermatozoides normais).
• Pode estar associada a falhas na modulação imunológica uterina. - Falha de Implantação• Definição:
• Ocorre quando o embrião não consegue se implantar ou manter sua implantação no útero.
• Mecanismo:
• Após a fertilização, o blastocisto alcança o útero e inicia o processo de implantação.
• Em casos de falha, mesmo que ocorra produção de beta-hCG, os valores são baixos e insuficientes para sustentar a gestação.
• Algumas vezes, forma-se o saco gestacional, mas não o embrião.
• Fatores de risco genéticos:
• Mulheres com genótipo KIR-AA combinado com HLA-C2 fetal apresentam maior risco de falha de implantação e pré-eclâmpsia. - Pré-eclâmpsia• Definição:
• Doença identificada após 20 semanas de gestação, associada a hipertensão e comprometimento de órgãos-alvo.
• Fisiopatologia:
• Relacionada a uma segunda onda incompleta de invasão trofoblástica e remodelamento insuficiente das artérias espiraladas.
• Isso resulta em vasos sanguíneos de alta resistência, comprometendo o fluxo sanguíneo para o feto.
• Manifestações graves:
• A pressão elevada pode levar a convulsões (eclâmpsia).
• O tratamento definitivo é a retirada da placenta. - Crescimento Intrauterino Restrito (CIUR)• Definição:
• Condição em que o feto apresenta peso ou tamanho abaixo do esperado para a idade gestacional.
• Relação com a pré-eclâmpsia:
• Fisiopatologia semelhante, com insuficiência do remodelamento vascular e fluxo sanguíneo inadequado para o feto.
6
Q
E QUANDO NEM TUDO DEU CERTO?
2
A
- Modelo de Dois Estágios
Este modelo explica o desenvolvimento de complicações gestacionais como a pré-eclâmpsia, dividido em duas etapas principais:
Etapa -1 (Pré-Concepção)
• Imunorregulação deficiente para antígenos paternos: • Antes da gravidez, a exposição ao sêmen do parceiro ajuda na adaptação imunológica ao material genético paterno. • Trocas frequentes de parceiro podem ser um fator de risco, pois comprometem essa tolerância imunológica. • Implicações: • A falta de exposição adequada ao material paterno pode contribuir para o desenvolvimento de pré-eclâmpsia.
Etapa 1 (8-18 semanas de gestação)
• Placentação insuficiente: • Envolve remodelamento incompleto das artérias espiraladas pelo trofoblasto. • Resulta em fluxo sanguíneo inadequado para o feto, causando hipóxia e estresse oxidativo na placenta. • Consequências: • Compromete o desenvolvimento saudável da placenta e predispõe a complicações como pré-eclâmpsia e CIUR.
Etapa 2 (20-42 semanas de gestação)
• Resposta inflamatória sistêmica exacerbada: • Nesta etapa, a disfunção placentária progride, desencadeando a liberação de fatores inflamatórios e angiogênicos na circulação materna. • Manifestações clínicas: Proteinúria, hipertensão, aumento de enzimas hepáticas e plaquetopenia.
- Relação entre Estresse Oxidativo e Invasão Trofoblástica• Representação esquemática:
• <8 semanas:
• Falha inicial na invasão trofoblástica e estresse oxidativo elevado.
• Pode levar a aborto precoce.
• 9-11 semanas:
• Perfusão uteroplacentária insuficiente.
• Resulta em pré-eclâmpsia ou crescimento intrauterino restrito (CIUR).
• >12 semanas:
• Perfusão normal e invasão trofoblástica adequada.
• Garante uma gestação bem-sucedida.
Pré-eclâmpsia como “um aborto que deu certo”:
• A pré-eclâmpsia pode ser vista como uma falha no processo de adaptação imunológica e placentária, que não culmina em aborto, mas em complicações graves na segunda metade da gestação.
- Pré-eclâmpsia• Fisiopatologia:
• Inflamação exagerada e disfunção vascular resultam em resistência vascular aumentada, limitando o fluxo sanguíneo ao feto.
• Os sintomas incluem hipertensão, proteinúria e edema.
• Tratamento:
• A remoção da placenta é o único tratamento definitivo.
• Medidas de suporte incluem controle da hipertensão e monitoramento da saúde materna e fetal. - Considerações Finais• Adaptações imunológicas:
• São fundamentais para a implantação e manutenção do blastocisto.
• Patologias associadas:
• Infertilidade, falha de implantação, aborto de repetição, pré-eclâmpsia e CIUR.
• Pesquisa em andamento:
• Estudos investigam o papel do HLA-G e do antígeno leucocitário humano em distúrbios autoimunes e gestacionais.
• Diagnóstico:
• Biomarcadores são promissores para o diagnóstico precoce de complicações gestacionais.