Modelos de Intervenção Psicológica Flashcards
O que é a psicoterapia? Frank & Frank
Consiste num processo relacional, interpessoal e sistemático que implica uma série de contatos mais ou menos estruturados, destinados a proporcionar alívio, crescimento e modificação de sentimentos, cognições e comportamentos, mediante o recurso a um racional de compreensão e explicação do problema/queixa, que se materializa em técnicas terapêuticas veiculados por terapeutas treinados, cujas capacidades são reconhecidas e aceites pelo paciente e respetivo grupo social de pertença
O que é a psicoterapia? - Wampold
É um tratamento individualizado, primordialmente interpessoal, assente em princípios psicológicos e envolve um terapeuta treinado e um cliente com uma dada perturbação, problema ou queixa.
O que é a psicoterapia? - definição geral
Método de tratamento fundamentado em diferentes conceitos teóricos e técnicos que têm como objetivo a modificação de problemas emocionais, cognitivos e comportamentais
A que se destina a psicoterapia?
Todos aqueles para os quais fatores psicológicos são responsáveis ou contribuem de forma significativa para mal-estar ou incapacidade:
* Perturbações psicopatológicas
* Dificuldades de ajustamento a situações de vida
* Conflito com as normas sociais
* Busca de autoconhecimento
* Melhor qualidade de vida
Principais motivos para a procura da psicoterapia?
Humor depressivo
Ansiedade
Problemas conjugais e familiares
Stress e somatização
Álcool e drogas
Em que difere a psicoterapia da ajuda informal de amigos e familiares?
- Os terapeutas são treinados;
- A sua atividade é sistematicamente orientada por uma teoria articulada que explica as fontes dos problemas e prescreve formas de modificá-los.
Em que difere a psicoterapia dos procedimentos médicos?
- Assenta essencialmente em formas de comunicação simbólica (vs. intervenções no corpo);
- Preocupa-se com o conteúdo do sintoma e o seu significado na vida do paciente.
- Todas as formas de psicoterapia dependem mais da influência pessoal do terapeuta e da relação terapêutica.
Em 2000, Kazdin estimava existirem mais de 500 variedades de psicoterapia que diferem quanto aos:
- Objetos (comportamentos, cognições, emoções, conflitos internos)
- Objetivos (modificar ou corrigir, insight, crescimento)
- Métodos/técnicas
- Modalidades/settings (individual, grupo, familiar)
- Frequências das sessões/duração do tratamento
CONTUDO: As diferentes “escolas” terapêuticas podem ser vistas como variações fenotípicas que refletem combinações particulares de um número limitado de conceções genotípicas mais básicas
Quais as semelhanças entre as diferentes formas de psicoterapia?
- Uma relação intensa e assimétrica;
- Um setting (local seguro) e um contrato;
- Uma teoria ou esquema conceptual;
- Procedimentos
Quais as semelhanças entre as diferentes formas de psicoterapia? - Modelo do fator comum (The common factor model)
- Uma ligação emocionalmente intensa entre o terapeuta e o paciente
- Um ambiente de cura confidencial onde a terapia ocorre
- Um terapeuta que fornece uma explicação para o sofrimento emocional que é psicologicamente fundamentada e culturalmente enraizada
- Uma explicação que seja adaptativa e seja aceite pelo paciente
- Um conjunto de procedimentos ou rituais em que o paciente e o terapeuta se envolvem, levando o paciente a realizar algo que seja positivo, útil ou adaptativo
Principais modelos de terapia
- Teorias psicanalíticas/Psicodinâmicas
- Teorias Comportamentais
- Teorias Cognitivas
- Teorias Existenciais-humanistas
- Teorias Sistémicas
- Teorias Construtivistas
Modelos de terapia e papel do terapeuta
- Psicoterapia como forma de tratamento para as perturbações psiquiátricas
Papel do terapeuta como técnico especializado, veiculador de técnicas e metodologias especializadas, com o objetivo de conseguir a remissão da psicopatologia - Psicoterapia como um processo educacional ou de aprendizagem
Papel do terapeuta como um técnico, educador/tutor a quem cabe motivar o paciente para um processo de aprendizagem que facilite a aquisição de novas formas de compreensão e novas competências - Psicoterapia como um processo corretivo ou de reforma
* Representada pelos críticos do sistema de saúde mental.
* A terapia é percebida como uma forma de repressão política, destinada a controlar ou recuperar aqueles que se desviam das normas sociais
* Papel pouco positivo do psicoterapeuta: poder, autoridade, possibilidade de controlar a liberdade dos pacientes - Psicoterapia como redenção
Paralelo da psicoterapia com a religião e com a busca da transcendência espiritual
Terapia Cognitivo-Comportamental
ver imagem (2)
Eficácia da psicoterapia
Smith & Glass (1962, 1977)
Recorreram à meta-análise para agregar os resultados de todos os estudos que comparavam a psicoterapia com um grupo de controlo de controlo de modo a estimar o tamanho do efeito da psicoterapia (Effect Size)
1ª Meta-análise (375 estudos): Effect size = .68
2ª Meta-análise (475 estudos): Effect size = .85
Effect size médio = 0.8 (79% dos pacientes no grupo experimental melhoram contra 21% no grupo de controlo);
A eficácia da psicoterapia é superior a muitos tratamentos médicos (e.g., vacina da gripe, cirurgia às cataratas, etc.);
A eficácia da psicoterapia é equivalente à dos tratamentos farmacológicos para problemas emocionais, mas o seu efeito é mais duradouro;
A eficácia da psicoterapia conduzida em contexto naturalista é equivalente à conduzida no contexto de Randomized Controlled Trials (RCTs).
Wampold (2007) sugere que a psicoterapia é mais eficaz que a maioria das intervenções médicas.
Eficácia da psicoterapia - Problemas metodológicos
- Avaliação da melhoria: Os critérios de melhoria variam de acordo com as escolas terapêuticas, dificultando comparações.
- Distinguir efeitos da psicoterapia: É complicado separar os efeitos da psicoterapia de outras experiências de vida simultâneas.
- Sessões psicoterapêuticas vs. vida cotidiana: As sessões representam uma pequena parte da vida, e a melhoria pode ser resultado de ajuda informal ou mudanças na vida.
- Diferenças entre abordagens: Pesquisas não mostram grandes diferenças na eficácia entre diferentes abordagens psicoterapêuticas.
Eficácia da psicoterapia - O veredicto do “Dodo Bird”
“Everyone has won and all must have prizes”. Essa expressão sugere que, na psicoterapia, as diferentes abordagens terapêuticas têm resultados semelhantes e eficazes, independentemente da orientação específica do terapeuta.
Wampold (2001): less than 1% of variance outcomes due to orientation –> Defensor da ideia do “Dodo Bird Verdict”. Ele argumenta que a relação terapêutica e os fatores comuns, como empatia, aliança terapêutica e esperança, desempenham um papel mais importante nos resultados terapêuticos do que a abordagem terapêutica específica escolhida.
Eficácia da psicoterapia - Asay & Lambert (1999) – o que faz a terapia funcionar?
40% - Cliente e fatores extra-terapia
30% - Fatores comuns
15% - Placebo
15% - Técnicas
Eficácia da psicoterapia - Razões possíveis para explicar a equivalência na eficácia terapêutica
- Globalidade do diagnóstico psiquiátrico com base na qual se estabelecem os grupos de pacientes que integram a investigação comparativa, negligenciando características psicológicas mais subtis que poderiam proporcionar resultados diferenciais (e.g., locus de controlo interno vs. externo)
- Fatores comuns a todas as formas de intervenção psicoterapêutica. Frank & Frank (1991) referem 6 fatores que são comuns a todas as psicoterapias:
* Relação terapêutica
* Promoção da esperança
* Experiências novas de aprendizagem
* Ativação emocional
* Promoção da autoeficácia
* Oportunidades de prática
Fatores comuns
Variáveis do Psicoterapeuta nomeadamente a relação entre paciente e terapeuta e mais concretamente a qualidade da chamada aliança terapêutica
De igual modo, as causas mais frequentes para os efeitos de detioração do estado do paciente são as variáveis do terapeuta
Freud em 1905 referia que o que curava as neuroses não era medicina mas sim a personalidade do médico
Fatores associados ao cliente:
* Expetativas
* Motivação
* Envolvimento
História da psicoterapia
A origem da psicoterapia é usualmente atribuída a Freud, mas remonta à segunda metade do séc. XIX
1. “Moral treatment” (1860-1890): Philippe Pinel , Psiquiatra francês, iniciou tratamentos não violentos e não-médicos
2. Movimento psicoterapêutico americano (1880-1920)
* Pós-guerra – modelo somático/rejeição dos tratamentos psicológicos/ favoreciam o tratamento físico
* Franz Anton Mesmer, (precursor da hipnose/psicoterapia praticada por leigos)
* Boston School of Psychotherapy (promoção do estudo da Psicopatologia)
* Lightner Witmer (figura chave na Psicologia Clínica)
3. Psicanálise (século XX)
* Clark Conference, 1909 (introdução da psicanálise nos EUA)
* Domina a psiquiatria e psicoterapia durante a 1ª metade do século XX
4. Behaviorismo
* Watson e Mary Cover Jones (figuras importantes)
* Assume relevância a partir dos anos 60
5. Humanismo: Principal alternativa à Psicanálise durante as 2 décadas que se seguiram à 2ª Guerra Mundial
6. Modelos Psicanalistas: Freud até às Psicoterapias Dinâmicas Breves
7. Modelos Humanistas: Rogers até à terapia Gestalt e Terapia Centrada nas Emoções
8. Modelos Comportamentais
Psicoterapia influenciada por 3 campos distintos
- Teoria da aprendizagem: A psicopatologia deve ser objetivada; enfatiza os processos comportamentais
- Perspetivas psicanalíticas: A psicopatologia pode ser compreendida; Pode ser intervencionada;
- Perspetivas humanistas: Os problemas psicológicos devem ser personalizados (cada indivíduo deve ser tratado de forma personalizada)
Perspetivas psicanalistas
Psicanálise (modelo teórico, orientação terapêutica) vs. Terapia Psicodinâmica segundo a APA (mais relacionada com a intervenção).
De acordo com muitos terapeutas que praticam esta orientação terapêutica, os termos “psicanálise” e “terapia psicodinâmica” são frequentemente usados de forma intercambiável. No entanto, a distinção básica é mais relevante no contexto da terapia.
A psicanálise, em particular, tem dois significados:
1. é uma teoria para compreender apresentações clínicas e talvez até mesmo pessoas em geral (não apenas problemas de saúde mental (apresentações clínicas) em um contexto terapêutico, mas também para compreender aspectos do funcionamento humano em geral.)
2. é usado para descrever uma forma de psicoterapia intensiva no sentido mais clássico, que envolve tratamento a longo prazo, muitas vezes por anos.
A terapia psicodinâmica é em grande parte psicanalítica e parte de suas premissas sobre o funcionamento da mente são baseadas na teoria psicanalítica. No entanto, a técnica difere radicalmente de um tratamento psicanalítico tradicional. É breve - 15 sessões não seriam incomuns - e muitas vezes possui um número semelhante de sessões à terapia cognitivo-comportamental (CBT) (Nº de sessões reduzido para evitar dependência). Geralmente, é realizada uma vez por semana e ocorre presencialmente. O terapeuta pode não ser um psicanalista certificado, mas alguém que foi treinado em psicanálise ou terapia psicodinâmica e considera essa sua orientação terapêutica.
A perspetiva psicanalítica refere-se a teorias e métodos terapêuticos baseados nas obras originais de Freud. Já a perspetiva psicodinâmica geralmente dá menos ênfase à sexualidade e atribui mais importância à influência do ambiente social.
Livros clássicos da psicanálise:
* Studies on Hysteria(1893-1895/1955)
* Psychopathology of everyday life (1901/1960)
* The interpretation of Dreams (1900/1953)
Quem era Freud?
Freud formou-se em Medicina na Universidade de Viena, em 1881, e especializou-se em Psiquiatria. Trabalhou num laboratório de Fisiologia e deu aulas de Neuropatologia no instituto onde trabalhava.
Por dificuldades financeiras, não pode dedicar-se integralmente à vida acadêmica.
Começou, então, a fazer clínica atendendo pessoas com “problemas nervosos”.
Obteve, ao final da residência médica, uma bolsa de estudo para Paris, onde trabalhou com Jean Charcot, psiquiatra francês que tratava as histerias com hipnose
Em 1886, retornou a Viena e voltou à clínica e seu principal instrumento de trabalho na eliminação dos sintomas dos distúrbios nervosos passou a ser a sugestão hipnótica
Freud achava que a hipnose permitia chegar ao inconsciente e trazê-lo para o consciente, permitindo aceder a desejos recalcados, traumas…
Em Viena, o contato de Freud com Josef Breuer, médico e cientista, também foi importante para a continuidade das investigações. Nesse sentido, o caso de uma paciente de Breuer foi significativo.
Ana O. apresentava um conjunto de sintomas: paralisia com contratura muscular, inibições e dificuldades de pensamento (Perturbação dissociativa e Perturbação somatoforme: problema que não consegue ser explicada através da medicina -ex. não conseguir andar).
Esses sintomas tiveram origem na época em que ela cuidara do pai doente.
No período em que cumprira essa tarefa, ela havia tido pensamentos e afetos que se referiam a um desejo de que o pai morresse. Estas ideias e sentimentos foram reprimidos e substituídos pelos sintomas
História do movimento psicanalítico
Breur notou que Anna O. murmurava palavras durante as ausências. Breuer, repete as palavras murmuradas e incita à associação de ideias.
Anna O., sob hipnose, reproduzia as fantasias, devaneios; Verificava-se alívio, bem-estar…até uma nova ausência. As ausências cessavam pela revelação das fantasias formadas: “Cura pela palavra”/ “Limpeza da Chaminé” (Freud chamava à melhoria pela hipnose, a cura pela palavra)
Hipnose: estado alterado de consciência que possibilita o acesso ao subconsciente, onde se encontram emoções, sentimentos, hábitos e memórias de longo prazo que não podemos controlar no nível consciente
Anna O. tinha 21 anos, altos dotes intelectuais e manifestava perturbações físicas e psíquicas mais ou menos graves:
* Uma paralisia de ambas as extremidades do lado direito, com anestesia, sintomas que se estendiam por vezes ao lado esquerdo
* Perturbações dos movimentos oculares e várias alterações da visão
* Dificuldade de manter a cabeça erguida
* Tosse nervosa intensa
* Repugnância pelos alimentos e impossibilidade de beber durante várias semanas (apesar da sede)
* Redução da faculdade de expressão verbal (impedi-a de falar ou entender a língua materna)
* Estados de ausência (confusão, delírio, alteração da personalidade).
Repugnância pela água: “A certa altura tendo ido ao quarto da sua dama de companhia, de quem não gostava, viu beber num copo o seu cão, um animal nojento, Nada disse”. Contou este episódio com expressão clara de repugnância, nojo e cólera. Após o relato do episódio sob hipnose, pediu para beber. A perturbação desapareceu definitivamente.
Perturbações visuais: “Certa altura enquanto cuidava de seu pai, este perguntou-lhe as horas. Estando Anna O. com os olhos marejados de lágrimas, não podia ver distintamente, forçou a vista, aproximou os olhos do relógio, cujo mostrador lhe pareceu muito grande (efeito de convergência visual) e esforçou-se por reprimir as lágrimas para que o seu pai não as percebesse”.
Paralisia: “Uma noite velava muito angustiada junto ao seu pai doente e com febre. Estava em grande ansiedade porque esperavam um cirurgião para operar o seu pai. Anna colocou o braço direito sobre o espaldar da cadeira. Caiu em estado de semi-sonho e viu, como se viesse da parede uma cobra negra que se aproximava do seu pai enfermo para mordê-lo. Quis afastá-la mas estava como que paralisada, com o braço direito adormecido, insensível. Quando ela o contemplou os seus dedos transformaram-se em cobrinhas cujas cabeças eram coveiras. Provavelmente procurou afastar a cobra, mas não conseguiu. Quando a cobre desapareceu, aterrorizada quis rezar, mas não encontrou palavras e idioma algum, até se lembrar de uma poesia infantil em inglês, pôde então pensar e rezar em inglês”.
Breuer denominou método catártico o tratamento que possibilita a libertação de afetos e emoções ligadas a acontecimentos traumáticos que não puderam ser expressos na ocasião da vivência desagradável ou dolorosa. Esta libertação de afetos leva à eliminação dos sintomas.
Freud, na sua Autobiografia, afirma que desde o início de sua prática médica usara a hipnose, não só com objetivos de sugestão, mas também para obter a história da origem dos sintomas. Posteriormente, passou a utilizar o método catártico
Conceito de Histeria
Hipócrates pensava que a causa da histeria fosse um movimento irregular de sangue do útero para o cérebro.
Jean-Martin Charcot (1825-1893) foi o primeiro a considerar a histeria como um estado dinâmico da mente mais do que uma doença estrutural do cérebro
A histeria e a neurose histérica correspondem, segundo alguns autores, no DSM-5 e no CID-10, principalmente às categorias das perturbações dissociativas e somatoformes
Os estudos convergem no sentido de mostrar uma associação com trauma e/ou abuso, negligência na infância; no entanto a investigação é escassa ao esclarecer esta associação
Algumas experiências podiam ser positivas mas por serem desejos recalcados, estavam ao nível do inconsciente.
Freud abandonou as perguntas no trabalho terapêutico com os pacientes e deixou-os dar livre curso às suas ideias, observou que, muitas vezes, eles ficavam embaraçados, envergonhados com algumas ideias ou imagens que lhes ocorriam.
A esta força psíquica que se opunha a tornar consciente, a revelar um pensamento, Freud denominou resistência. E chamou de repressão o processo psíquico que visa encobrir, fazer desaparecer da consciência, uma ideia ou representação insuportável e dolorosa que está na origem do sintoma. Estes conteúdos psíquicos “localizam-se” no inconsciente
Relativamente ao tratamento, as perspetivas psicodinâmicas procuram ajudar o indivíduo a perceber porque estão ansiosos e de que forma estão a lidar ineficazmente com a ansiedade
O objetivo do terapeuta é através da interpretação aumentar a consciência do indivíduo
sobre preocupações e conflitos inconscientes. Ex. O psicanalítico dizer à Ana.O “estava aqui a pensar que algumas das suas dificuldades passem por você desejar que o seu pai estivesse morto”
As dificuldades psicológicas são percebidas à luz de experiências desenvolvimentais adversas passadas que desencadearam conflitos não resolvidos ou estratégias de coping maladaptativas
Anna O. subjugava a emoção; não permitia a descarga da emoção de forma apropriada (palavras e ações). Durante o relato sob hipnose:
* A expressão da emoção era intensa, como se tivesse estado presa.
* O sintoma atingia a máxima intensidade, quando durante o tratamento se ia chegando à sua causa.
* Desaparecia completamente quando a causa se esclarecia
* A recordação sem expressão emocional era inútil
Conclusões de Freud
“Os histéricos sofrem principalmente de reminiscências”(1893); os seus sintomas são resíduos mnésicos de experiências traumáticas.
* Recordam acontecimentos dolorosos que se deram há muito tempo
* Ficam presos emocionalmente a esses momentos
* Não se desembaraçam do passado e alheiam-se por isso da realidade e do presente.
* Fixação anormal da vida psíquica no passado traumático: neurose.
* A emoção era a essência da doença e da cura
Os psicanalistas consideram que na histeria os pacientes reprimem memórias e lembranças passadas que são de grande intensidade emocional e, nestes casos, a ansiedade sentida é “convertida” ao nível corporal.
As diversas manifestações corporais que podem ser sentidas pelo doente podem-se dividir em distúrbios sensoriais e distúrbios motores:
Distúrbios sensoriais:
* podem afetar os sentidos da visão, audição, paladar e olfato;
* podem afetar a hipersensibilidade total;
* podem sentir dores fortes em alguma zona do corpo, sem que haja qualquer causa orgânica.
Distúrbios motores:
* paralisia total;
* tremores e convulsões;
* afonia, náuseas, vómitos, etc.
As observações de Breuer também indicam a existência de diferentes estados de consciência: Consciente (estado ligado à consciência) e Inconsciente (estado desligado da consciência)
Segundo Breuer os sintomas histéricos aparecem em estados mentais “hipnoides”. As excitações nestes estados “hipnoides” tornam-se patogénicas, porque não encontram as condições para a descarga normal do processo de excitação. Origina-se então o sintoma que se insinua como um corpo estranho no estado normal.
Onde existe o sintoma existe uma amnésia, cujo preenchimento suprime as condições que conduzem, à produção do sintoma.
Em Estudos sobre a Histeria (1895) da autoria de Breuer e Freud, documentam o trabalho necessário para ir da consciência até aos pensamentos que lhes estão subjacentes. Nesse tempo recorria-se à hipnose.
O seu efeito terapêutico dependia demasiadamente da pessoa, do hipnotizador, e das suas sugestões. Por isso, sempre tinha o perigo do efeito terapêutico se extinguir o desfazer do laço emocional entre o terapeuta e o paciente.
Era preciso descobrir um outro método para alcançar o inconsciente – um método que, além disso, estivesse de acordo com a racionalidade e atitude não autoritária de Freud.
Freud prescindiu da hipnose. Conseguia então que os doentes estabelecessem ligações entre as cenas patogénicas esquecidas e os seus resíduos (sintomas).
Freud confirmou que as recordações esquecidas não se perdem. Estavam prontas a surgir em associação a factos ainda sabidos, mas alguma força as detinha.
Atualmente, consideramos a substituição da hipnose pela chamada “associação livre” como o verdadeiro nascimento da psicanálise.
A seguir à interpretação dos sonhos, a associação livre é a segunda via régia para penetrar no inconsciente.
1885-1897: A Fase Pré-analítica
Joseph Breuer (médico), Viena: no trabalho com a sua paciente Anna O., consegui retraçar os seus numerosos sintomas histéricos até à sua origem em experiências psíquicas que se tinham tornado inconscientes.
Jean-Martin Charcot (médico e cientista francês que trabalhou nos domínios da neurologia e da psiquiatria), Paris: Histeria como afeção neurológica.
“Quase ao mesmo tempo em que Breuer praticava a talking cure com a sua paciente, começava Charcot, em Paris, com as suas doentes histéricas da Salpêtrière, as investigações de onde havia de surgir nova conceção da doença”
Foi seu discípulo Pierre Janet que tentou penetrar mais intimamente nos processos psíquicos particulares da histeria.
Hippolyte Bernhein (médico neurologista francês): Nas suas demonstrações com hipnose , provou que o comportamento e ações humanas podem ser motivados por processos de pensamento de que a pessoa não tem consciência.
Bernheim demonstrou que as pessoas sob hipnose só aparentemente tinham perdido a lembrança de factos ocorridos, sendo possível despertar nelas tais factos no estado normal de consciência. Perante a insistência, as pacientes lembravam-se do que tinha acontecido sob um estado de consciência diferente.
Freud passou a insistir com os pacientes quando estes referiam não se lembrarem de mais nada. Freud assegurava-lhes que sabiam.
A Psicanálise em si: Os anos de solidão de Freud: 1897-1908
Fase de solidão, fermentação intelectual.
Mantinha correspondência com o seu amigo Fliess e com a sua ajuda estabeleceu os fundamentos práticos e teóricos da psicanálise, concebeu o método da associação livre. Abandonou a hipnose.
Começou a ver a neurose como o resultado de um conflito inconsciente, em cujo cerne estavam fantasias derivadas dos instintos relacionadas com a sexualidade (conflitos edipianos)
Os princípios do movimento psicanalítico: 1907/8-1920
Jung, Adler, Stekel, Abrham, Frenczi, Jones e Rank
* Primeiro congresso psicanalítico em Salzburgo e inaugurado um jornal
* Crescimento do movimento psicanalítico.
Freud, Jung e Ferenczi em Viena
Freud convidou médicos a ingressar no seu Instituto Psicanalítico em Viena, Áustria, para compartilhar sua empolgação e conhecimento sobre o funcionamento interno da mente. Tanto Carl Jung quanto Sándor Ferenczi fizeram parte desse círculo por um tempo e ambos saíram e, com o tempo, formaram suas próprias escolas de pensamento. Ambos também rejeitaram a teoria freudiana da pulsão, mas por razões muito diferentes. Jung tinha uma visão menos biológica e mais espiritual do ser humano. Ele acreditava que os seres humanos têm uma auto-organização transpessoal que nos guia numa jornada pessoal de individuação. De forma muito diferente, Ferenczi permaneceu fiel ao pensamento original de Freud de que o trauma sexual era real e causador de transtornos psicológicos. Para consternação de Freud, Ferenczi defendia uma forma ativa e interpessoal de psicanálise, totalmente diferente da neutralidade estudada de Freud. Por muitos anos, ele foi completamente ostracizado e excluído de todo o pensamento psicanalítico. No entanto, atualmente, ele é reconhecido como um importante precursor tanto na teoria quanto na prática, especialmente na escola de pensamento relacional americana, e a sua reputação e importância agora são reconhecidas (Mitchell & Black, 1995).
Modelos de Freud - 1. Modelo do Afeto/Trauma
O significado oculto dos sintomas deve ser descoberto e conscientemente revivido, juntamente com o seu afeto associado, a fim de efetuar uma “cura”. Este foi o primeiro dos modelos de Freud sobre o funcionamento da mente que se tornou conhecido como o modelo de trauma afetivo, um modelo que ressoa fortemente com as abordagens psicanalíticas atuais que tratam o trauma relacional precoce através de uma relação terapêutica de suporte que se assemelha à díade mãe-bebê.
.O modelo de trauma afetivo propôs que os sintomas das pacientes histéricas tinham um significado psicológico oculto relacionado com traumas emocionais importantes que a paciente tinha reprimido (Freud, 1893a, 1893b, 1893c, 1893d).
Observações de sinistrados da Guerra Franco-Prussiana
A paralisia histérica parecia estar relacionada com experiências traumáticas na frente de batalha e que eram aliviadas quando o indivíduo era capaz de falar sobre os terríveis acontecimentos
Elevada frequência de abuso sexual na infância dos seus pacientes histéricos
Analogia com o traumatismo de guerra, acontecimentos externos dolorosos como a sedução na infância podiam submergir o “aparelho mental” deixando-o incapaz de lidar com os afetos resultantes.
Raízes na “Psiquiatria Dinâmica” Pré-analítica
* Charcot (1882)
* Janet (1889)
Trabalho com Breuer e caso clínico Anna O.
Determinados conteúdos (e.g., pensamentos, memórias) não são integrados na nossa auto-organização dominante e, como tal, existem fora da consciência;
Estes conteúdos, dada a sua natureza desintegrada, exercem uma forte influência patogénica sobre os nossos comportamentos, pensamentos e sentimentos.
Cada experiência possui uma “quota de afeto” que é normalmente descarregada através da experiência consciente – e.g., falar acerca da experiência – e integrada da sua associação com outros conteúdos mentais.
É especialmente difícil , experiências acompanhadas de grande quantidade de afeto como os traumas – associarem-se a outros conteúdos.
Na histeria, nenhuma destas tarefas – descarregamento do afeto e associação a outros conteúdos – é realizada com sucesso.
O afeto permanece “estrangulado” e a memória da experiência desintegrada (i.e., não ligada ou associada a outros conteúdos).
A estrangulação do afeto + isolamento associativo =
desenvolvimento de sintomas histéricos
O tratamento dos sintomas implica, assim, des-estrangular/desbloquear o afeto através de uma resposta adequada – e.g., resposta verbal – e promover a associação da memória traumática a outros conteúdos.
Nos Estudos sobre a histeria (1895/1969), Freud e Breuer introduzem suas ideias sobre a doença, como sendo originária de uma fonte da qual os pacientes relutam em falar ou mesmo não conseguem discernir sua origem.
A origem seria encontrada num trauma psíquico ocorrido na infância, em que uma representação atrelada a um afeto aflitivo teria sido isolada do circuito consciente de ideias, sendo o afeto dissociado desta e descarregado no corpo.
Através da hipnose, os pacientes conseguiam reencontrar a lembrança traumática, tendo assim a oportunidade de reagir a esta por suas palavras, aliviando seus sintomas.
Modelos de Freud - 2. Modelo Topográfico
Começou a ver a neurose como o resultado de um conflito inconsciente, em cujo cerne estavam fantasias derivadas dos instintos relacionadas com a sexualidade (conflitos edipianos)
A sexualidade infantil e o papel da experiência corporal no início do desenvolvimento tornaram-se um dos pilares do pensamento psicanalítico.
O termo “topográfico” implica um modelo espacial no qual diferentes funções psicológicas se encontram em diferentes locais.
A divisão da mente nos sistemas inconsciente, pré-consciente, e consciente, foi introduzida na segunda fase do trabalho de Freud (1897-1923), contendo ainda ecos das localizações cerebrais, que relembravam a carreira prévia de Freud
como neurologista.
A interpretação dos Sonhos” (1900)
Analogia do Iceberg:
Consciente: topo do iceberg – a pequena quantidade de atividade mental que conhecemos (pensamentos, perceções)
Pré-consciente: Parte submersa do iceberg - coisas das quais poderíamos estar cientes se quiséssemos ou tentássemos (memórias, conhecimento armazenado, estado de sonho, experiências recentes);
Inconsciente: parte mais funda e submersa do iceberg - coisas das quais não temos consciência e das quais não podemos ter consciência (instintos-sexual e agressivo, traumas, medos, paixões, motivos violentos, desejos irracionais, experiências vergonhosas, necessidades egoístas)
* O ID faz parte da mente inconsciente e compreende os dois instintos: Eros e Thanatos
Modelo Topográfico – Inconsciente
Forma-se a partir do recalcamento
Rege-se pelo processo primário
Os seus conteúdos, fortemente investidos de energia pulsional, procuram retornar à consciência (retorno do recalcado); mas não podem ter acesso à consciência senão nas formações de compromisso, depois de terem sido submetidos às deformações da censura
A sua existência é demonstrada pelas suas manifestações:
* Sintomas neuróticos: “realização deformada de um desejo inconsciente”
* Sonhos: “Realização (disfarçada) de um desejo (recalcado)”
* Atos falhados
Atos falhados
* Não acontecem por acaso, têm sempre algum sentido e existem por algum motivo.
* Quando há um ato falhado, é porque existe um conflito entre a intenção consciente do sujeito e o seu inconsciente recalcado.
* São atos em que o resultado desejado é substituído por outro que o indivíduo não controla. Podem ser representados por lapsos de linguagem, erros de leitura ou de escrita, lapsos de memória, etc.
* Nos atos falhados existe uma intenção consciente e outra intenção escondida. Nestes atos há um conflito onde estão presentes duas tendências contraditórias e com finalidades opostas.
Modelo Topográfico - Pré-consciente
Processos psicológicos inconscientes em “termos descritivos” (o indivíduo não está ciente deles), mas acessíveis à consciência.
Rege-se pelo processo secundário
Está separado do sistema inconsciente pela censura que não permite que os conteúdos inconscientes passem para o pré-consciente sem sofrerem transformações, tornando-os assim aceitáveis para o sistema consciente.
O foco mudou da realidade externa e o seu impacto nos processos psicológicos para o próprio mundo interno.
Durante a maior parte da sua vida Freud viu o mundo interno como dominado pela luta do homem com os seus instintos ou impulsos
Freud considerou os instintos como necessidades de desenvolvimento básicas instituídas a partir de fantasias que requeriam expressão e gratificação.
Instintos ou impulsos estão na origem quer do desenvolvimento normal quer na origem da perturbação.
* Instintos de morte ( agressivos, destrutivos)
* Instintos de auto preservação
Os instintos são componentes do sistema inconsciente e têm necessidade inata de descarga.
No esquema clássico, os desejos instintivos têm uma fonte, um fim e um objeto.
Exemplo:
* Fonte: Corpo, dores de fome
* Fim: sucção/saciação da fome
* Objeto: Seio materno
A presença do objeto e a sua qualidade é memorizada e da próxima vez que o bebé sentir fome, a memória do seio é reativada e a fantasia é mais uma vez estabelecida.