Hipertermia Maligna Flashcards
Pacientes suscetíveis à hipertermia maligna (HM) têm anormalidades genéticas no receptor do músculo esquelético que permitem o acúmulo excessivo de cálcio no miócito, mediante estímulo por gatilhos específicos (anestésicos voláteis e succinilcolina, por exemplo). O mecanismo pelo qual isso ocorre envolve a desregulação do transporte de cálcio induzida pelo magnésio através do receptor de rianodina. As manifestações clínicas ocorrem como resultado dessa sobrecarga de cálcio, que leva à contração e colapso muscular sustentado (rabdomiólise), hipermetabolismo celular, metabolismo anaeróbio, acidose e suas sequelas.
No miócito normal a despolarização se propaga através do sistema de túbulos transversos (ou T), que ativa receptores de diidropiridina (DHP) dentro da membrana do túbulo T. Esses receptores, por sua vez, são acoplados aos receptores de rianodina (RYR1), que regulam a passagem de cálcio do retículo sarcoplasmático para o espaço intracelular. O cálcio se combina com a troponina para formar ligações actina e miosina e a contração acontece. A recaptação desse cálcio é feita pela cálcio ATPase cálcio do retículo sarco(endo)plasmático (SERCA), levando ao relaxamento das células musculares.
NA HIPERTERMIA MALIGNA…
Mutações que codificam receptores anormais RYR1 ou DHP são encontradas na maioria dos acometidos. Exposição aos gatilhos, nesses pacientes, leva à saída descontrolada de cálcio do retículo sarcoplasmático para o espaço intracelular, provocando a crise aguda.
A única terapia conhecida, o dantrolene, liga-se ao receptor RYR1 para inibir a liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático.
Aproximadamente 50% dos casos conhecidos de HM são causados por mutações no cromossomo 19, que codifica o RYR1. Aproximadamente 1% é causada por mutação no cromossomo 1, no gene que codifica uma subunidade do receptor DHP ou no gene que codifica a proteína STAC3 no cromossomo 12.
Na vigência de hipertermia maligna, o pior sítio para a monitorização da temperatura corporal é:
Retal
A temperatura central é obtida adequadamente em locais bem perfundidos e onde a temperatura é homogênea. Os principais métodos/sítios são:
nasofaríngeo, esofágico distal, membrana timpânica e cateter de artéria pulmonar.
Atemperatura retaltambém pode refletir com precisão a temperatura central, masmuda lentamente durante alterações rápidas na temperatura corporal, o que acontece nas crises de hipertermia maligna, não sendo então adequada nessa situação.
Um paciente com grande suspeita de hipertermia maligna (HM) em cirurgia anterior irá realizar um novo procedimento. Quais os cuidados? Equipamentos
Em relação aosequipamentos:
-“lavar” o aperelhocom oxigênio de alto fluxo (10 L por minuto) por pelo menos 20 minutos
- manter ofluxo elevadodurante todo o caso
- utilizaranalisador de gases para detectar qualquer vestígio de agente inalatório
- colocarfiltros de carvãonas vias ins e expiratórias (gabarito, letra A)
-retirar os vaporizadoresdo aparelho de anestesia
Um paciente com grande suspeita de hipertermia maligna (HM) em cirurgia anterior irá realizar um novo procedimento. Quais os cuidados? Em relação as drogas
Osagentes desencadeantesde HM são osanestésicos voláteis(por exemplo, sevoflurano , desflurano , isoflurano , halotano) esuccinilcolina; todos os outros medicamentos são seguros.
Os agentes “não desencadeantes” que podem ser administrados com segurançaa pacientes com MHS incluem:
●Todos os agentes anestésicos e sedativos intravenosos, incluindo propofol , cetamina , etomidato , dexmedetomidina e barbitúricos
●Todos os anestésicos locais(por exemplo, lidocaína , bupivacaína , ropivacaína )
●Agentes bloqueadores neuromusculares não despolarizantes(por exemplo, vecurônio , rocurônio )
●Analgésicos e ansiolíticos, incluindo opióides e benzodiazepínicos
●Agentesinalatórios limitados a óxido nitroso e xenônio
A administração perioperatória de dantrolene para profilaxia não é necessária
O parâmetro mais precoce, sensível e específico de hipertermia maligna, em paciente sob anestesia geral com bloqueio neuromuscular e intubação traqueal, é:
aumento da fração expirada de CO2
Condições causadas por mutações pontuais no DNA mitocondrial incluem:
·epilepsia mioclônica com fibras vermelhas irregulares (ou rotas);
·encefalopatia mitocondrial, acidose láctica e episódios semelhantes a acidente vascular cerebral (MELAS)
·neuropatia, ataxia e retinite pigmentosa (NARP)
·Síndrome de Leigh com hereditariedade materna
·neuropatia óptica hereditária de Leber.
Mutações de larga escala no DNA mitocontrial podem levar a:
·síndrome de Kearns-Sayre
·oftalmoplegia externa progressiva
·síndrome de Pearson.
Mutações no DNA nuclear podem causar:
·deficiências dos complexos I a IV
·Deficiência de CoQ10da cadeia de transporte de elétrons
Estima-se que as miopatias mitocondriais tenham incidência de 1 em 4.000e são caracterizadas por fraqueza muscular proximal. Os achados laboratoriais incluem uma proporção muito alta de lactato para piruvato (50-250:1; normal = até 25:1), níveis plasmáticos aumentados de carnitina livre e, ocasionalmente, níveis baixos de folato.A marca registrada das miopatias mitocondriais é a “fibra vermelha irregular (“ragged red fiber)”quando as amostras de biópsia muscular são coradas com coloração tricrômica de Gomori modificada mitocondrial. Fadiga e baixa resistência são características clínicas proeminentes. Distúrbios do movimento como ataxia, distonia, mioclonia, coreia, atetose e tremores também foram descritos.
A anestesia tem um impacto significativo na função mitocondrial. Os anestésicos locais podem interromper a fosforilação oxidativa e diminuir a capacidade bioenergética das mitocôndrias. Midazolam, tiopental, propofol, remifentanil e cetamina têm sido usadoscom segurança. Notavelmente, propofol e midazolam são conhecidos por inibir a cadeia respiratória mitocondrial de maneira dose-dependente. Inclusive, a disfunção mitocondrial é postulada como um mecanismo possível para a síndrome de infusão de propofol.
É seguro usar propofol como indutor anestésico, mas a infusão de propofol por longos períodos provavelmente deve ser evitado. Agentes voláteis como halotano, isoflurano e sevoflurano demonstraram inibir o complexo I da cadeia transportadora de elétrons. A despeito disso, sevoflurano inalatório é amplamente utilizado para indução devido à sua baixa pungência. O isoflurano tem sido recomendado como agente de escolha em pacientes com síndrome de Kearns-Sayre, devido às arritmias observadas com o uso de halotano.
Apesar denenhuma evidência real existire do fato de os anestésicos voláteis serem frequentemente utilizados, vários trabalhos expressaram preocupação de que essas miopatias estejam associadas ao aumento da sensibilidade àhipertermia maligna.ESTA CONCLUSÃO NÃO É SUPORTADA POR QUAISQUER DADOS.
Embora os relaxantes musculares não sejam absolutamente contraindicados com base na literatura e pesquisas atuais, é necessário que os anestesiologistas administrem cautelosamente bloqueadores neuromusculares despolarizantes ou não despolarizantes aos pacientes com doenças mitocondriais e usem monitoramento neuromuscular.Pode ser prudente evitar succinilcolina em pacientes com miopatia extensa para minimizar o risco de hipercalemia, embora o uso seguro de succinilcolina tenha sido documentado. Sugere-se que a anestesia regional só seja realizada quando anormalidades neurológicas da medula espinhal e dos nervos periféricos tenham sido definitivamente descartadas
É importante ressaltar que a coagulação deve ser avaliada, devido à possibilidade de disfunção hepática. Como os pacientes com doenças mitocondriais têm metabolismo aeróbico disfuncional, qualquer aumento na taxa metabólica básica deve ser evitado.Tremores, hipóxia, jejum e hipotensão nesses pacientes podem exacerbar a acidose lácticae, portanto, devem ser evitados.
o aumento da taxa de infecção pós-operatória em pacientes com doenças mitocondriais pode ser devido à baixa atividade mitocondrial hepática, fagocitose pelas células de Kupffer, e diminuição da atividade do sistema reticuloendotelial.
Medidas em disfunção mitocondrial
Talvez, mais importante do que a escolha específica dos agentes anestésicos, sejam as implicações das comorbidades e do estado metabólico dos pacientes. A normotermia deve ser mantida durante as cirurgias e os fluidos intravenosos devem ser aquecidos à temperatura corporal.O Ringer Lactato provavelmente deve ser evitado devido, ao risco de acidose lática preexistente. Finalmente, esses pacientes apresentamrisco aumentado de anormalidades da condução cardíaca e cardiomiopatiaque devem ser levadas em consideração na formulação de um plano anestésico.
Entre os anestésicos voláteis,o halotano é o gatilho mais potente. O óxido nitroso, comparado com os anestésicos voláteis, é um gatilho fraco (informação contida no Stoelting; na verdade, grande parte dos autores considera que o oxido nitrosonão causahipertermia maligna). O xenônio pode ser administrado com segurança a pacientes com histórico de hipertermia maligna.
A distrofia miotônica (DM) é um distúrbio muscular hereditário caracterizado por fraqueza muscular progressiva e perda de peso. Dois tipo merecem consideração:
·DM1(doença de Steinert):Uma mutação no genedistrofia miotônica-proteína quinase (DMPK).
·DM2: Mutação no gene da proteína ligadora de acido nucleico, no cromossomo 3q21
ADM1representa cerca de 98% de todos os casos e é herdada de maneira autossômica dominante. Os sinais e sintomas típicos incluem fraqueza e atrofia muscular (principalmente musculatura distal dos membros e musculatura regida pelos pares cranianos: mm facial, esternocleidomastoideos, temporal, masseter ecordas vocais), miotonia periódica, miopatia progressiva, resistência à insulina, defeitos na condução cardíaca, comprometimento neuropsiquiátrico, catarata, atrofia testicular e calvície frontal em homens. Prolapso da válvula mitral é encontrado em 20% dos pacientes. Os pacientes também podem ter níveis de CK levemente elevados. Descargas miotônicas podem ser identificadas na EMG, bem como na incapacidade de relaxar após um aperto de mão.Durante a gravidez, os sintomas podem ser exacerbados. A atonia uterina e a retenção de placenta também podem complicar o parto vaginal. O bloqueio atrioventricular de primeiro grau é um achado comum no ECG antes do início dos sintomas. ADM2também é chamada de miopatia miotônica proximal. Os pacientes sofrem de miotonia (90% dos afetados), disfunção muscular (82% fraqueza, dor e rigidez) e, menos comumente, defeitos de condução cardíaca, catarata subcapsular posterior iridescente, diabetes mellitus tipo 2 resistente à insulina e disfunção testicular.
NÃO HÁ RELATOS DE CASO NA LITERATURA RELACIONANDO Distrofia Mioclonica COM hipertermia maligna