Ética e Deontologia Flashcards

1
Q

Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses - informações

A
  • Construídos com base nas declarações universais, esforçam-se por traduzir o sentimento ético expresso nestas, adaptando-o, no entanto, às particularidades de cada país e de cada grupo profissional.
  • Propõem linhas orientadoras da prática profissional e sanções, segundo princípios e procedimentos explícitos, para os infratores da mesma.
  • Os códigos de ética são dificilmente separáveis da deontologia profissional, daí que muitas vezes os termos ética e deontologia são utilizados indiferentemente.
  • Existem inúmeros códigos de deontologia, sendo estes da responsabilidade de associações ou ordens profissionais.
  • Alguns códigos não apresentam funções normativas e vinculativas, oferecendo apenas uma função reguladora.
    o Ex.: Princípios éticos da Ordem dos Psicólogos Portugueses – meramente um instrumento consultivo.
  • Embora os códigos pretendam oferecer uma reserva moral ou uma garantia de conformidade com os Direitos Humanos, estes podem, por vezes, constituir um perigo de monopolização de uma determinada área ou grupo de questões, relativas a toda a sociedade, por um conjunto de profissionais.
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2
Q

Porque é que é necessário haver regulamentação ética?

A
  • Guiar a conduta profissional dos/as psicólogos/as
  • Passo essencial na profissionalização de uma profissão
  • Os Princípios Éticos especificam os direitos e responsabilidade dos profissionais nas suas relações com os outros e com as pessoas a quem prestam os seus serviços, incluindo um conjunto de procedimentos, normas e valores comuns
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3
Q

Princípios Éticos Gerais

A

A. Respeito pela dignidade e direitos da pessoa.
* Respeitar autonomia do cliente e diferenças individuais
B. Competência
* Constante atualização de conhecimentos
* Prática orientada e fundamentada em evidência científica
* Antecipar resultados da intervenção
* Pesar potencial dano no cliente  Descrédito para a profissão
* Encaminhar?
C. Responsabilidade
* Individual: Intervir em prol do bem-estar da pessoa
* Profissional:
o Ter consciência de que representa uma classe profissional
o Adotar comportamento que a dignifique
* Social: Intervir em prol do bem-estar da comunidade
D. Integridade
Evitar conflitos de interesse que possam levar ao não cumprimento dos princípios éticos  garantia de confiança pela nossa conduta
E. Beneficência e não maleficência
* Pessoa e seu bem-estar como foco
* Não intervir para prejudicar ou provocar dano, seja por ação ou omissão

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4
Q

Princípios Éticos Específicos

A
  1. Consentimento informado
  2. Privacidade e confidencialidade
  3. Relações profissionais
  4. Avaliação psicológica
  5. Prática e intervenção psicológicas
  6. Ensino, formação e supervisão profissional
  7. Investigação
  8. Declarações públicas
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5
Q

Princípio específico: Consentimento informado - definição

A

O/a cliente foi informado sobre o ato psicológico, honorários, confidencialidade e limites éticos e legais e expressa o seu acordo de uma forma livre. Pode a qualquer momento interromper a relação profissional com o/a psicólogo/a

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6
Q

Princípio específico: Consentimento informado - Objetivos

A
  • Promover o sentido da autonomia, responsabilidade e capacidade de tomada de decisão
  • consciência do que esperam dele e o que esperar do psicólogo - gestão de expectativas
  • compromisso do psicólogo com o cliente
  • prevenir questões éticas
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7
Q

Princípio específico: Consentimento informado - aspetos a ter em consideração

A
  1. Capacidade do cliente em tomar decisões conscientes: caso esta capacidade esteja comprometida, deverá ser um familiar ou tutor legal a assumir a responsabilidade do consentimento informado
  2. Compreensão da informação: o psicólogo deverá transmitir a informação de forma clara e certificar-se que o cliente compreendeu:
    * Benefícios e riscos do processo
    * risco de abandonar a terapia
    * alternativas ao processo
  3. Voluntarismo: o cliente consente em entrar livremente no processo de tomada de decisão
    * Terá de estar psicologicamente e legalmente capaz de dar este consentimento
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8
Q

Caso prático do João: consentimento informado (2)

A

“João” de 17 anos
Pedido de consulta feito pela mãe
“Orientação vocacional e definição de objetivos acordo, médio e longo prazo”
Ao longo das sessões:
* recusou a realização de tarefas
* demonstrou frustração e revolta
* revelou que era vítima de violência por parte dos pais
Na consulta seguinte: falei com a mãe que relatou que é vítima de violência por parte do filho
Contato com o pedopsiquiatra: caso seguiu para a CPCJ a pedido da mãe
* Reflita sobre de que forma o princípio específico do consentimento informado é relevante neste caso?
* Identifico os cursos de ação possíveis, neste caso.
* Qual o curso de ação que teria seguido o caso fosse o psicólogo?

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9
Q

Princípio específico: privacidade e confidencialidade - definição

A

O psicólogo tem o dever de garantir a privacidade e confidencialidade de toda a informação em relação ao seu cliente
Apesar de ser quase obrigatória a existência de contratos de confidencialidade e de privacidade, o psicólogo precisa de desenvolver um sentido ético e profissional para determinar quando é que a confidencialidade pode ser quebrada

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10
Q

Princípio específico: privacidade e confidencialidade - premissa

A

Premissa: os clientes estão profundamente envolvidos na relação interpessoal e têm o direito de esperar que tudo o que eles disserem será mantido em privado
* Se procurarmos desenvolver o sentimento de confiança e de abertura, temos o dever e obrigação ética de manter a confidencialidade das relações e das transações de conteúdo.

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11
Q

Princípio específico: privacidade e confidencialidade - privacidade

A

Privacidade: a liberdade dos indivíduos em por eles próprios escolher o momento e as circunstâncias, assim como extensão, em que as suas crenças, comportamentos e opiniões são partilhadas com os outros

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12
Q

Princípio específico: privacidade e confidencialidade - confidencialidade e limites

A

Confidencialidade: responsabilidade ética dos profissionais de saúde mental em proteger e salvaguardar os clientes da divulgação não autorizada de informação dada no processo e contexto terapêuticos.
Limites da confidencialidade: Quais as circunstâncias em que se quebra a confidencialidade? Não há uma resposta absoluta para esta pergunta
Contudo, o psicólogo deverá revelar certas informações quando:
* provocar risco de danos para o cliente
* há uma situação em que o cliente se poderá tornar um perigo para si e para os outros
* quando o próprio cliente pede a anulação da confidencialidade
* quando o tribunal requer informação relativa à relação terapêutica

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13
Q

Caso prático João: privacidade e confidencialidade (3)

A

“João” de 17 anos
Pedido de consulta feito pela mãe
“Orientação vocacional e definição de objetivos acordo, médio e longo prazo”
Ao longo das sessões:
* recusou a realização de tarefas
* demonstrou frustração e revolta
* revelou que era vítima de violência por parte dos pais
Na consulta seguinte: falei com a mãe que relatou que é vítima de violência por parte do filho
Contato com o pedopsiquiatra: caso seguiu para a CPCJ a pedido da mãe
* Reflita sobre de que forma o princípio específico da privacidade e confidencialidade é relevante neste caso?
* Identifique os cursos de ação possíveis neste caso.
* Qual o curso de ação que teria seguido caso o “João” fosse maior de idade?

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14
Q

O processo de tomada de decisão ética em Psicologia: Modelo de James Rest

A

Passo 1. O profissional reconhece que está perante um dilema ético
* Os profissionais familiarizados com um Código de Ética ou Deontológico (ex. OPP), conhecem as suas responsabilidades para com os clientes e a necessidade de serem justos para com a sociedade e consigo próprios
* E reconhecem situações em que, por exemplo, a confidencialidade, o perigo de provocar mal-estar nos seus clientes, a atração no atendimento dos clientes, e outras questões inerentes às intervenções psicológicas, podem gerar conflitos e dilemas
Passo 2. O profissional pesa vantagens e desvantagens dos vários cursos possíveis de ação
Esses cursos de ação baseiam-se na ordenação, pelo profissional, de alguns princípios orientadores da sua intervenção, tais como:
* Veracidade: dizer a verdade
* Privacidade: respeitar as outras pessoas e a sua autoria/propriedade
* Autonomia: respeitar o direito da pessoa para determinar o curso da sua vida, o seu destino
* Manter as promessas: cumprir o que se promete
* Parentalismo: salvaguardar os direitos dos que não o podem fazer por si próprios
* Autodesenvolvimento: melhorar-se
* Não maleficência: não fazer mal/não prejudicar outros
* Igualdade: em termos gerais, tratar toda a gente do mesmo modo
* Inviolabilidade: acreditar no valor de cada ser humano, de cada ser vivo
A hierarquização destes princípios para guiar a decisão final, deve resultar da reflexão cuidadosa dos seus valores e dos resultados esperados com o curso de ação escolhido

Ao adotar este modelo de decisão, é importante colocarmos então algumas questões, à medida que o aplicamos, como por exemplo:
* De que modo(s) e em que medida, a decisão do psicólogo/a afeta outras pessoas?
* Quais são os princípios mais importantes que vai considerar?
* Que valores positivos devem ser potencializados? E que valores negativos devem ser minimizados?
* Que relação ou comparação podemos realizar entre as consequências esperadas com a nossa decisão e o princípio dominante que estamos a seguir?
* Que plano de ação pode ser desenvolvido, então, para respeitar tais princípios e valores?
* De que modo pode o psicólogo/a agir sob esses princípios? Que preço pode o psicólogo pagar por atuar assim? Que consequências, reflexos, terá, para a sua profissão, e para a sua prática futura, o seu modo de atuar?
Passo 3: As competências e atitudes dos profissionais são muito importantes nesta fase. Isto porque é neste passo que os profissionais devem criar um plano de ação, com alguns cursos de ação possíveis, que ajudará a resolver o dilema com que se debatem.
Passo 4: Pôr o seu plano em prática. Por vezes isto traz novas questões e problemas, e até a possibilidade de saída da instituição ou entidade onde se trabalha…

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15
Q

O processo de tomada de decisão ética em Psicologia: Modelo de Holly Stadler

A

Passo 1: Identificar princípios morais conflituantes. Tomemos um exemplo:
* Usar os princípios da não maleficência e da beneficência, para atuar de modo proactivo a promover o bem e prevenir o mal aos nossos clientes
* Usar os princípios da autonomia e da justiça, para promover a autodeterminação nos clientes e sermos justos
* Contudo, há situações onde estes princípios podem conflituar entre si, e criar um dilema ético Um exemplo breve pode ser: Imaginarmos a posição favorável de muitos médicos e técnicos de saúde, atualmente, no nosso país, em relação à eutanásia, e interrogarmo-nos, a propósito, com base no princípio da autodeterminação:
o Será que este é um direito autónomo de quem sofre ativamente devido a uma doença incurável?
o Ou devemos olhar para esta situação a partir dos princípios da não maleficência ou beneficência, e prevenir o sofrimento até à morte de quem sofre por tal doença?

Passo 2: Atuar com uma estratégia de raciocínio moral
Este segundo passo implica quatro procedimentos chave:
* Recolher mais informação sobre o cliente, o código deontológico, e as leis do país ou região
* Analisar eventuais circunstâncias especiais que circundam um determinado caso
* Ordenar os princípios que vamos considerar - i.e., delinear uma estratégia de raciocínio moral, tendo em conta os nosso valores e entendimentos do problema
* Desenhar um plano de ação em conformidade, consultando colegas para recolha de ideias adicionais

Passo 3. Preparar a ação
Adotar uma estratégia de resolução de problemas: identificar resultados desejados (i.e., proteger o cliente, a confidencialidade), listar cursos de ação possíveis e desejados, avaliar o impacto dessas ações para o cliente, para outros relacionados, e para a sociedade; identificar valores não morais conflituantes relacionados com considerações religiosas ou financeiras, por exemplo; e testar um curso de ação, em termos de universalidade, da sua publicidade e justiça

Passo 4. Atuar
* Colocar em prática a sua decisão ética - esta fase pode exigir que o psicólogo/a se envolva em ações de reforço do seu próprio ego - no caso, por exemplo, em que é muito difícil para si levar a cabo a decisão
* Pode pedir, por exemplo, a um colega, que o faça, através de um acordo; pode tentar visualizar todo o curso da ação e os impactos positivos da mesma,…deve, também, nesta fase, avaliar o seu curso de ação, já em marcha no terreno

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16
Q

O processo de tomada de decisão ética em Psicologia: Modelo da Associação Canadiana de Psicologia

A
  1. Identificar as questões e práticas eticamente mais relevantes
  2. Desenhar cursos de ação alternativos para resolver o conflito
  3. Análise cuidadosa dos efeitos a curto, médio e longo prazo, de cada um desses cursos de ação, no cliente, família, colegas, supervisores e empregadores eventuais, sociedade, profissão e instituição de filiação do psicólogo/a
  4. Após aplicar os princípios de respeito pela dignidade da pessoa, cuidado responsável, integridade na relação de ajuda e responsabilidade para com a sociedade, os valores do psicólogo, cliente, e sociais, e os princípios deontológicos mais relevantes - escolher então um curso de ação
  5. Agir e comprometer-se com a sua responsabilidade pelas consequências do seu curso de ação.
  6. Avaliar o curso de ação
  7. Corrigir qualquer consequência negativa da decisão, continuar a assumir responsabilidade pelas suas decisões, e se o dilema ético não ficar resolvido, repetir os passos do processo, e consultar colegas que possam ajudar objetivamente no processo
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17
Q

O processo de tomada de decisão ética em Psicologia: Abordagem Integrativa de Schultz

A

Passo 1. Os princípios valorizados em cada um dos modelos podem conjugar-se nos seguintes seis:
* Integridade da vida
* Não querer prejudicar os outros
* Manter as promessas
* Cuidar de modo responsável
* Assumir responsabilidade social
* Respeitar o direito das pessoas para decidirem o seu destino

Passo 2. Gerar alternativas de ação e analisar os riscos e benefícios de cada uma delas

Passo 3. Assegurar a recolha de informação adicional e/ou consultar colegas

Passo 4. Analisar os resultados prováveis de cada curso de ação

Passo 5. Até aqui demos passos racionais, muito assentes em dimensões cognitivas, daí que o próximo passo equacione as questões mais emocionais e os sentimentos. Se tiverem tempo, os psicólogos devem ponderar usar técnicas como:
* Procura – um passeio solitário num parque ou bosque deixando as emoções emergirem e interagirem com o dilema ético que enfrentam
* Incubação – “dormir sobre o assunto”
* Projetar no tempo – projetar a situação no futuro, fantasiando sobre vários cenários
Passo 6. Agir

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18
Q

Caso prático “J” (6-7)

A

Um psicólogo escolar atendeu por diversas vezes J., um jovem de 17 anos.
Inicialmente, J. veio falar com o psicólogo, referenciado por um docente, diretor de turma.
Os docentes queixavam-se que J. tinha comportamentos inadequados na sala de aula, enquanto ambiente de trabalho e, por isso, começava a perturbar bastante o clima de realização na sala de aula, com os seus comportamentos disruptivos (falar para o lado, atirar papelitos aos colegas, responder de forma jocosa, fazendo rir a classe, dormitar, esticado na secretária, ar de aborrecido, aderindo intermitentemente às tarefas propostas, etc.).
Ao longo de vários meses, desenvolveu com o psicólogo uma boa relação e tornou-se então frequente ser o próprio J. a procurar agora o psicólogo para conversar.
Numa dessas ocasiões, J. contou que tinha arranjado um emprego em part-time, numa loja, e que ganhava já para si algum dinheiro, e que tirava até algum dinheiro extra, levantando de vez em quando, um pequeno produto da loja, algo que não fizesse grande diferença, e vendendo-o depois cá fora.
Quando o psicólogo conseguiu obter mais informação específica sobre esta questão, ficou convencido que estava perante um comportamento de roubo.
De repente ficou sem saber o que fazer porque, no início da relação de ajuda, tinha assegurado a J., que “O que se falava ali, no seu consultório, nunca saía dali, do seu consultório”.
Quais são as questões éticas neste caso?
Que princípios éticos são da maior importância nesta situação? Que valores estão em jogo?
Que riscos e benefícios se relacionam com a consideração e aplicação de tais princípios?
Será que posso esperar um dia ou dois para decidir o que fazer?
Qual é a melhor maneira de ajudar o J., e ao mesmo tempo evitar que ele continue a roubar?
Escolha um modelo de ajuda à decisão e procure aplicá-lo com rigor a este caso, ensaiando o papel de um(a) psicólogo(a)

19
Q

Caso prático: Pareceres da Comissão ética da OPP (7-9)

A

Por favor, leia os pareceres individualmente e reflita sobre eles à luz dos modelos apresentados.
“Se tivesse de tomar uma decisão com base no parecer o que consideraria?
Parecer 35 – Gravação de Conteúdos em Intervenção Psicológica
Parecer 43 – Duplicação de Intervenções
Parecer 55 – Utilização de Inventários em Investigação Online

20
Q

Os processos de intervenção e de investigação: Comunalidades - introdução

A

Sanz-Oro (2000): O/a psicólogo/a pode ser considerado/a um/a investigador/a da ação (cientista prático) e a avaliação das suas intervenções, uma forma específica de investigação-ação

21
Q

Os processos de intervenção e de investigação: Comunalidades - 1º fase

A

Por exemplo, uma primeira fase da investigação consiste em identificar o que se vai investigar. Na intervenção, essa fase consiste em identificar quais são as necessidades dos clientes, alvo da ação.
* Nesta fase, num modelo de investigação-ação, procura-se responder a uma série de questões específicas, tais como: “O trabalho do/a psicólogo/a é eficaz?” “Que efeitos produz?” “Há melhorias nos clientes como resultado dos modelos de intervenção psicológica adotados?”

22
Q

Os processos de intervenção e de investigação: Comunalidades - 2º fase

A

Segunda fase da investigação: formular o desenho da investigação.
* Na intervenção, esta fase corresponde à formulação de metas a alcançar no processo de intervenção.
* A seleção do desenho de investigação a seguir e a utilização das metodologias correspondentes depende dos recursos, do contexto onde trabalha o/a psicólogo/a e das questões que deseja investigar.
* A finalidade de qualquer estudo é alcançar conclusões que estejam bem fundamentadas, e estas só se conseguem obter se o desenho de investigação estiver cuidadosamente selecionado.
* Algo semelhante se quer atingir com a intervenção psicológica: garantir resultados previamente definidos com uma magnitude significativa e que perdurem no tempo.

23
Q

Os processos de intervenção e de investigação: Comunalidades - 3ª fase

A

Terceira fase: quando se desenha um estudo de investigação, há que ter em conta, tal como na intervenção, os aspetos éticos, (e.g., consentimento informado, confidencialidade dos dados na análise de resultados).
* A terceira fase de um processo de intervenção consiste em estabelecer os métodos que asseguram a integridade do tratamento e a medida dos ganhos, respondendo à questão “Até que ponto (neste caso) a intervenção que tinha sido pensada foi realmente levada a cabo?”(Fairchild, 1986).
* Encontrar métodos pragmáticos para determinar se as intervenções estão a produzir os efeitos esperados. Estes efeitos não se podem obter sem a existência de medidas sólidas, que permitam comprovar as mudanças produzidas.
* Os resultados das intervenções dependem também do tipo de informantes, isto é, do facto da eficácia e validade social ter sido avaliada pelos clientes, psicólogos, outros interessados, avaliadores ou observadores externos.

24
Q

Os processos de intervenção e de investigação: Comunalidades - 4ª fase

A

Quarta fase: a recolha de dados. Nesta fase, é muito importante a cooperação entre os psicólogos e os clientes. Pode melhorar muito se, desde o início, contar com a participação dos psicólogos.
* Os clientes também se sentirão mais implicados, se perceberem as finalidades que se querem alcançar com o projeto de investigação /Intervenção
* A recolha de dados pode fazer-se através de registos escritos, orais, online, ou observações de condutas (Johnson & Whitfield, 1991).
* Nesta fase do processo investigativo, as questões éticas voltam a ser muito consideradas, especialmente, o consentimento dos participantes e a confidencialidade no tratamento dos dados. O mesmo se deve garantir nas intervenções.

25
Q

Os processos de intervenção e de investigação: Comunalidades - 5ª fase

A

A quinta fase da investigação é a análise dos dados, e nesta, alguns profissionais assustam-se e não querem participar, uma vez que veem a investigação sujeita a análises estatísticas excessivamente complexas.
* No entanto, atualmente, com a existência de programas estatísticos assistidos por computador, esta tarefa fica facilitada. Além disso, se o desenho for também qualitativo, ou misto, utilizam-se métodos descritivos, o que produz uma menor recusa da parte dos profissionais envolvidos na pesquisa.

26
Q

O recurso à Tecnologia em Psicologia: vantagens e desvantagens - Introdução

A
  • Com a (r)evolução tecnológica, o recurso às ferramentas online para investigar em Psicologia, normalizou-se (e.g., Walch et al., 2020)
  • A que se deveu? À utilização crescente das TIC, pelas vantagens e facilidade de acesso
  • 2020: investigação baseada nas TIC intensificou-se em contexto de pandemia Covid-19 (necessidade de distanciamento físico, teletrabalho) (e.g., Lin et al., 2020; Mensah, 2021): necessidades de formação e treino no uso das TIC em Psicóloga
  • A recolha de dados online define a recolha de informação direta, a partir de participantes que acedem a formulários e/ou instrumentos distribuídos através da internet (Andrade, 2020).
27
Q

O online é agora o modo dominante para recolha de dados quantitativos e de informação qualitativa - Estudos quantitativos e qualitativos (e mistos) podem beneficiar da recolha online?

A

Sim

28
Q

O online é agora o modo dominante para recolha de dados quantitativos e de informação qualitativa - Foquemo-nos no Caso dos Estudos Qualitativos

A
  • Uso extenso de entrevista, menor dos inquéritos/questionários – autores como Braun et al. (2021) demonstram a utilidade destes últimos
  • Em geral, recorrem ao uso de questões abertas, numa sequência flexível, respostas construídas pelos participantes, fornecendo informação relevante quanto aos significados atribuídos, processos, permitem uma abordagem profunda e acesso à linguagem e terminologia dos próprios participantes
  • Existência de preconceitos sobre a inadequação dos inquéritos como instrumento de investigação qualitativa: ideia de que os questionários e inquéritos não permitem profundidade, recolha em larga escala e superficial
29
Q

O online é agora o modo dominante para recolha de dados quantitativos e de informação qualitativa - Estudos qualitativos: uso de inquéritos online (vantagens)

A

Vantagens:
* diversidade de questões e perspetivas, útil se a população é ampla, diversa, e/ou desconhecida, ou quando se procura recolher perspetivas de diferentes grupos (ex., de terapeutas distintos sobre o papel percebido da classe social dos clientes na adesão ao processo)
* Garantem maior representatividade, mais participantes, heterogeneidade e inclusão dos menos visíveis, uma questão ética muito importante (within-group voices), devido ao maior acesso aos indivíduos mais dispersos

30
Q

O online é agora o modo dominante para recolha de dados quantitativos e de informação qualitativa - Estudos qualitativos: uso de inquéritos online (desvantagens)

A

Desvantagens:
* requerem literacia digital e arriscamo-nos a excluir participantes com competências limitadas no uso das TIC
* Embora tranquilizem os participantes, que não precisam de se preocupar com a ortografia ou gramática corretas , dada a “fratura digital” amplamente reconhecida , corre-se o risco de excluir inadvertidamente alguns dos grupos menos privilegiados e mais vulneráveis da sociedade.
* Estes fatores de risco têm de ser considerados durante o planeamento da recolha

31
Q

O online é agora o modo dominante para recolha de dados quantitativos e de informação qualitativa - Estudos qualitativos: uso de inquéritos online (crítica ao uso de inquéritos online)

A

Crítica ao uso de inquéritos online:
* perde-se a profundidade, quando comparado com o uso de entrevistas
* Crença baseada na idealização do que os inquéritos qualitativos não conseguem oferecer e do que as entrevistas conseguem oferecer
* Mas o inquérito online pode não ser um impedimento ao alcance da profundidade e complexidade, já que os inquéritos online requerem que reconceptualizemos e avaliemos a riqueza da informação obtida em termos do conjunto de dados como um todo, e não em termos individuais

32
Q

O online é agora o modo dominante para recolha de dados quantitativos e de informação qualitativa - Inquéritos qualitativos online podem ser mais apropriados quando:

A
  • queremos estudar tópicos muito sensíveis
  • temos uma população dispersa, difícil de envolver ou aceder e/ou com grande diversidade, grupos raros se procura uma vasta gama de perspetivas ou posicionamentos
  • o tópico se adapta a uma “lente de grande ângulo”
  • o tópico pode ser explorado adequadamente num inquérito porque o seu foco é bastante específico
33
Q

Vantagens da Recolha de Dados Online - Amostra e participantes

A
  • Controlo dos custos, com o tipo de investigação e com o papel do investigador
  • A possibilidade do viés do investigador afetar as respostas diminui.
  • A perceção de privacidade, confidencialidade e conforto por parte dos participantes é aumentada
  • Participantes podem consultar as respostas, sem que estas sejam influenciadas pela desejabilidade social
34
Q

Vantagens da Recolha de Dados Online - Características da investigação

A
  • Controlo dos participantes durante a sua participação e preenchimento: autoadministração (na presença de um psicólogo), não há tanta pressão social (e.g., para terminar)
  • Acesso de forma rápida, em qualquer momento, facilidade para os participantes com disponibilidade reduzida
  • Flexibilidade geográfica
35
Q

Vantagens da Recolha de Dados Online - Outras

A
  • Facilita a realização de estudos longitudinais ou de follow-up
  • Realçam-se os custos reduzidos com materiais e de recursos humanos, já que, neste caso, o tempo para a recolha não depende da presença de um investigador
  • Quanto aos instrumentos, facilidade de divulgação e de apresentação do questionário, e de resposta e armazenamento dos dados
  • Os programas facilitam a resposta as pessoas, o armazenamento e organização dos dados para posterior tratamento
  • Possibilita experiências psicológicas em rede: uma extensão natural das experiências psicológicas num computador em laboratório
  • Os participantes acedem a um laboratório informático (um servidor web) através de um navegador, e interagem com a experiência, da mesma forma que o fariam num laboratório, utilizando um monitor, um rato e um teclado
  • Ao contrário dos inquéritos online, em que o objetivo é inferir características da população alvo, o objetivo aqui é apenas um estudo específico de causalidade
  • Existem programas que facilitam a desagregação entre as respostas às questões e os dados pessoais - facilitam a garantia de confidencialidade
  • Possibilidade de associar os programas a servidores protegidos-uma garantia de confidencialidade e segurança dos dados
  • Possibilidade de recolha abrangente com poucos recursos materiais - uma resposta ecológica e segura, que leva à manutenção da investigação com recurso a questionários
36
Q

Desvantagens da Recolha de Dados Online

A
  • Em muitos contextos, o acesso a internet é deficitário, impossibilitando o uso da tecnologia de maneira confortável e vantajosa
  • O preenchimento de questionários online pode ser completado em períodos diferentes, entretanto, os estados de ânimo, as questões motivacionais, podem alterar-se
  • Outro ex: no momento em que os participantes decidem terminar o preenchimento do questionário, o link poderá não estar disponível, o que pode diminuir, também, o número de respostas, ou causar viés nas conclusões, que podem não refletir a realidade de pesquisa
  • Por falta de experiência, muitos participantes podem submeter repetidamente as suas respostas, o que pode enviesar, também, os resultados
  • No que diz respeito ao investigador/a, ausência deste no momento da recolha online pode limitar a entrega e comprometimento dos participantes na recolha, levando alguns a abandonarem o questionário, sem sequer o iniciarem ou ao seu preenchimento parcial
  • Em caso de dúvidas ou dificuldades na interpretação das questões, os participantes não as conseguem dissipar, tornando as respostas mais subjetivas que esperadas
  • As questões podem suscitar reações emocionais ou preocupações, que requerem a atenção e apoio do psicólogo, neste caso, ausente
  • Quanto aos instrumentos e suas propriedades - destaca-se a forma como chegam aos participantes, via email e/ou outras plataformas digitais - podem chegar como spam ou caírem na caixa de lixo, que muitos potenciais participantes acabam por apagar, sem os terem lido por se confundirem com vírus ou por terminar o período de vigência, definido automaticamente pelo sistema ou proprietário da caixa de correio
  • Neste sentido, os protocolos enviam-se para um número considerável de potenciais participantes, no entanto, a maioria acaba por não tomar contacto com os instrumentos
  • Dependendo da natureza de cada investigação, alguns instrumentos são mais extensos  A experiência demostra que, nestes casos, aumenta o índice de desistências, de missings e viés nos resultados, muitas vezes justificadas pela falta de cultura científica e/ou de literacia dos participantes
  • Esta questão é mais crítica em contextos socioculturais com índices de desenvolvimento e de literacia mais baixos
37
Q

Recomendações para a prática

A
  • Garantir a resposta ao consentimento informado, excluindo o nome e outras informações de contacto, caso estas não sejam importantes para investigação futura, ou, caso sejam necessários, usar, por exemplo, uma página separada
  • Variar os métodos de coleta (web + entrevistas telefónicas + entrevistas pessoais) - abordagem multimodal
  • Verificar a funcionalidade do instrumento, depois de ser inserido e praticar o processo de inserção, transferência e análise dos dados, antes de o submeter para coleta de dados
  • Descarregar frequentemente os dados para não sobrecarregar a base de dados e ajustar corretamente a plataforma de recolha para que possibilite a cada participante e questão, uma única submissão
  • Prever a possibilidade de recompensas conforme a realidade, nomeadamente, participação grátis em cursos propostos ou ministrados pela equipa de investigação, a disponibilização do resultado dos estudos e, em certos casos, ponderadas as questões éticas, disponibilizar condições para aceder a internet, caso esta seja a principal limitação
38
Q

Recursos para formação e treino

A
  • WebSM website: dedicado a questões metodológicas relacionadas com os inquéritos online e as questões do uso da internet na pesquisa em Psicologia. http://www.websm.org/
  • Ligação a materiais pedagógicos e a outros recursos, atualizados em 2019: http://ati-birnbaum.netfirms.com/
  • Site para aprendizagem de construção e gestão de estudos experimentais online (Reips, 2000): https://wextor.eu/wextor/en/
  • A este propósito, conhecer o programa Authorware – permite criar experiências de aprendizagem online
  • The Complete Survey Design Checklist: https://www.survicate.com/
39
Q

Usos e Abusos da tecnologia nas intervenções Psicológicas - Nível 1. Ótica do Utilizador

A

Usos:
* Acesso a informação organizada
* Potencia a reflexão pessoal
* Facilita a comunicação com pessoas de suporte, modelos de carreira
* …
Abusos:
* Não atender à evidências de validade das ferramentas/informação consultada
* Dependência excessiva (confiança cega em algoritmos, para guiar as suas escolhas/comportamento)
* Ex. Intervenção Psicológica vocacional: Filtro de informações com base em algoritmos predefinidos – estreitamento das possibilidades

40
Q

Usos e Abusos da tecnologia nas intervenções Psicológicas - Nível 2. Uso Recursos Existentes

A

Usos:
* Receber formação no recurso em causa
* Perceber o racional teórico, potencialidades(limitações do recuso
* Contribuir para a avaliação da ferramenta (de forma continua ao longo do tempo)
* Desenvolver competências digitais e tecnológicas
* Ter conhecimentos sobre a eficácia das intervenções-ingredientes críticos
Abusos:
* Implementar recursos não adaptados à população-alvo
* Confiar “todo o trabalho” na ferramenta
* Não verificar a qualidade/atualidade dos recursos
* Violar os princípios éticos e deontológicos da prática psicológica

41
Q

Usos e Abusos da tecnologia nas intervenções Psicológicas - Nível 3. Produção de Conteúdos

A

Usos:
* Pratica baseada em evidência
* Trabalho colaborativo e interdisciplinar (psicologia, engenharia, comunicação, direito…).
* Conhecimentos e práticas de segurança e proteção de dados
* Desenvolver um sistema de formação/manual do recurso em causa
* Seguir códigos de ética e deontologia profissional e orientações de entidades científicas
* Testar validade do recurso (sensibilidade cultural…)
Abusos:
* Confusão entre Intervenção Psicológica e Ensino-aprendizagem (Se houver uma confusão entre esses dois contextos, pode ocorrer que práticas educacionais sejam erroneamente consideradas como intervenção psicológica, ou vice-versa)
* Dificuldades de comunicação entre diferentes áreas de conhecimento e códigos de ética profissional
* Não considerar dificuldades de acessibilidade a públicos mais desfavorecidos
* Interesse económico de algumas ferramentas (em vez de priorizar efetivamente a qualidade da intervenção psicológica) – e.g. Marketing oferta formativa
* Recolha abusiva de dados dos utilizadores
* Acesso a resultados e instrumentos de Avaliação Psicológica por não psicólogos

42
Q

Benefícios da tecnologia nas intervenções psicológicas

A

Potenciais Benefícios:
Acessibilidade
* Menos viagens / Custos; Disponibilidade contínua
* Diversos canais de informação: Wikis, blogs, sites de redes socias, e sites de partilha de vídeos
Avaliação: Mais rapidez na cotação e feedback imediato
Acesso a profissionais a distância: As intervenções a distância podem ser fornecidas por e-mail, chat, telefone ou videoconferência e variam desde profissionais respondendo a perguntas simples até o fornecimento de aconselhamento
Acesso a pares e redes de suporte: facilidade de comunicar com empregadores, colegas e família promovendo o apoio e estabelecimento de redes
Melhor relação Custo-benefício: O custo de processamento de dados é bastante reduzido comparativamente a outros recursos físicos.

43
Q

Desafios comuns aos 3 níveis de uso da tecnologia nas intervenções psicológicas

A
  • Garantir a qualidade da avaliação
  • Assegurar que a qualidade da Informação é precisa e relevante
  • Suporte do profissional quando necessário
  • Intervenção à distância (competências técnicas)
  • Apoio de colegas e profissionais através das redes sociais (viés de informação)
  • Questões de privacidade e confidencialidade
  • Implementação dos recursos nas organizações
  • Competências e credenciais do profissional
  • Igualdade no acesso (exclusão digital)
  • Formação e participação dos técnicos
  • Educar para a privacidade nos media (clientes e técnicos)
  • Supervisão e intervisão
  • Ética e Deontologia
  • Alfabetização digital
44
Q

Papel dos profissionais

A
  1. Assumir Responsabilidade e Participação no desenvolvimento tecnológico
  2. Investir no desenvolvimento de Competências de Intervenção
  3. Contribuir para o estudo e disseminação de boas práticas de Intervenção a distância/uso das tecnologias