Doenças mieloproliferativas Flashcards

1
Q

O que são doenças mieloproliferativas?

A

Neoplasias mieloproliferativas (MPNs) ou doenças mieloproliferativas crónicas (MPDs) são distúrbios clonais das células estaminais caracterizados por:

  • leucocitose
  • eritrocitose
  • trombocitose
  • hipercelularidade da MO
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2
Q

Qual é a caraterística definidora das doenças mieloproliferativas (MPNs)?

A

É a falência de resposta de uma célula estaminal multipotente transformada, aos mecanismos normais de feedback, reguladores das células hematopoiéticas.

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3
Q

Quais são as doenças mieloproliferativas?

A
  • Leucemia Mielóide Crónica
  • Policitemia Vera
  • Trombocitemia Essencial
  • Mielofibrose Primária
  • Outros (raros): ex. Sdr. hipereosinofílico, doenças de mastócitos, leucemias eosinofílica e neutrofílica crónica.
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4
Q

Qual a diferença entre uma doença mieloproliferativa e uma doença mielodisplásica?

A
  • As neoplasias mieloproliferativas resultam essencialmente de aumento da proliferação de células mielóides, enquanto as síndromes mielodisplásicas cursam, sobretudo, c/compromisso da diferenciação das células mielóides.
  • Existem, contudo, várias doenças nas quais existe uma sobreposição entre proliferação e falha na diferenciação.
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5
Q

Complicações das MPN e transformação em leucemia aguda

A
  • Complicações das MPNs resultam de uma produção excessiva de uma ou mais linhagens sanguíneas.
  • Todas podem ser associadas a uma evolução clonal e transformação blástica em leucemia aguda, porém, com a exceção da CML, é uma complicação infrequente e tardia.
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6
Q

Epidemiologia da leucemia mielóide crónica

A

• É a doença mieloproliferativa mais comum.
• 1.3/100.000 indivíduos / ano.
• ↑ com a idade - Pico de incidência – 5ª/6ª década.
• 15 – 20% das leucemias.
• Bi- ou trifásica (estas duas ou três fases dizem respeito à
progressão natural – ou seja, sem intervenção terapêutica – da doença. De facto, a grande maioria dos doentes com leucemia mielóide crónica são diagnosticados na primeira fase da doença, a qual é de cariz indolente, designando-se por fase crónica).

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7
Q

Apresentação clínica da LMC

A
  • Até cerca de 40% dos pacientes com CML são inicialmente assintomáticos.
  • Outros pacientes exibem fadiga, letargia, dispneia, perda de peso, equimoses e saciedade precoce.
  • Ao exame objectivo, é frequente esplenomegalia (20-70%).
  • Testes laboratoriais:
    • Leucocitose – WBC>25x10^9/L
    • Células precursoras no sangue periférico (esp. mielócitos) mas sem excesso de blastos (não se encontram muitas células imaturas no sangue periférico – caso contrário, o quadro seria + sugestivo de leucemia aguda).
    • Anemia; Plaquetas normais ou aumentadas;
    • Aumento do ácido úrico e LDH.
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8
Q

O que carateriza a fase crónica da LMC?

A
  • Os pacientes são tipicamente diagnosticados durante esta fase.
  • Caracteriza-se por um estado indolente com a duração entre 3-5 anos.
  • Leucocitose com eosinofilia e basofilia (>20%) mas poucos blastos (<5%).
  • Com controlo das contagens do sangue periférico, durante este período os pacientes são essencialmente assintomáticos.
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9
Q

Quais os achados no esfregaço de sangue periférico na LMC?

A

Demonstra células mielóide em todas as fases de
desenvolvimento granulocítico, incluindo mieloblastos
imaturos (habitualmente <5%), mielócitos, metamielócitos,
basófilos, eosinófilos, células em banda e neutrófilos.

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10
Q

O que carateriza a fase acelerada da LMC?

A
  • Caracterizada por febre, perda involuntária de peso, agravamento da esplenomegalia e dor óssea relacionada com o rápido turnover da medula.
  • Independentemente da terapêutica, há aumento dos
    leucócitos e do nº de blastos em circulação (10-19%).
  • O aumento percentual dos basófilos no sangue periférico (>20%) resulta na produção de histamina, com sintomas de prurido, diarreia e flushing.
  • Durante esta fase pode haver aumento da esplenomegalia, trombocitopenia persistente, ou trombocitose e leucocitose, com novas anomalias citogenéticas clonais nas células da medula.
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11
Q

O que carateriza a fase blástica da LMC?

A
  • Marca a evolução para leucemia aguda.
  • A MO é substituída por ≥20% de blastos acompanhado de perda dos elementos celulares maduros normais na medula e na periferia e proliferação de blastos extramedulares.
  • A morte ocorre em poucas semanas a meses.
  • 2/3 dos pacientes desenvolvem AML.
  • Os restantes 1/3 desenvolvem ALL, um achado que confirma que a célula neoplásica inicial é uma célula precursora inicial capaz de diferenciação em multilinhagem.
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12
Q

Qual a particularidade da LMC dentro das MPNs?

A
  • De entre as MPNs é única na sua história natural. incluindo a transformação inevitável em leucemia aguda.
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13
Q

O que é o cromossoma de Filadélfia?

A
  • Mais de 35% de pacientes com CML têm uma expansão clonal de uma célula progenitora que adquiriu o cromossoma Philadelphia (Ph).
  • Resulta de uma translocação equilibrada entre os
    cromossomas 9 e 22 t(9;22)(q34;q11).
  • Esta translocação justaposiciona o gene ABL do cr 9 (região q34) para o gene BCR no cr 22 (região q11) e gera o gene de fusão oncogénico BCR/ABL.
  • A proteína BCR/ABL, é uma tirosina quinase constitutivamente activa e desregulada que induz o fenotipo leucémico nas células precursoras hematopoieticas.
  • A expressão da proteína de fusão BCR/ABL activa múltiplas vias de transdução de sinal a jusante o que permite a proliferação independente da regulação pela citocina ou estroma, tornando a célula resistente à quimioterapia e à apoptose.
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14
Q

Quais os tipos de transcritos de fusão na LMC?

A
  • Em quase todas as leucemias mielóides crónicas, verifica-se a formação dos transcritos de fusão e13a2 ou e14a2. Por sua vezes, estes transcritos codificam para uma oncoproteína de fusão designada por p210BCR-ABL.
  • Por seu turno, a formação do transcrito de fusão e1a2 (o qual origina a proteína p190BCR-ABL, que é mais pequena que a p210) é característica das leucemias linfoblásticas com translocação BCR-ABL.
  • Não obstante, quase um terço destas leucemias linfoblásticas cursa com a produção de transcritos típicos das leucemias mielóides crónicas, nomeadamente os transcritos e13a2 e e14a2. Note-se que as leucemias linfoblásticas produtoras de e13a2 e e14a2 revelam-se de difícil distinção face a evoluções de leucemias mielóides crónicas para crises blásticas linfóides.
  • Existem outros transcritos menos frequentes, de entre os quais se destaca o e19a2. Este transcrito é típico da leucemia granulocítica crónica, a qual constitui uma condição mais benigna que a leucemia mielóide crónica.
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15
Q

O cromossoma de filadélfia em leucemias linfoblásticas agudas

A

– O cromossoma Filadélfia não é exclusivo das leucemias
mielóides crónicas, surgindo também num subtipo de leucemias linfoblásticas agudas (constituindo um factor de mau prognóstico nestasn leucemias, embora tal panorama se esteja a alterar). Nas leucemias linfoblásticas, o cromossoma Filadélfia aparece mais frequentemente em
adultos que em crianças.
- Ocorre em 25% dos adultos com ALL e 5% das crianças com ALL.

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16
Q

Como é que a proteína BCR-ABL está implicada na leucemiogénese?

A
  • A proteína ABL é uma tirosina cínase citoplasmática, cuja actividade depende do seu domínio SH1.
  • Em situações normais, tal actividade encontra-se bastante controlada.
  • Contudo, aquando de fusões BCR-ABL, esta proteína adquire capacidade de auto-dimerização, o que resulta num aumento e desregulação da sua actividade de tirosina cínase.
  • Consequentemente, a célula passa a registar maior proliferação, menor resposta a estímulos apoptóticos, e diferente adesão ao estroma da medula óssea (o que resulta numa maior quantidade de precursores no sangue periférico).
  • A hematopoiese normal fica suprimida durante
    a doença em actividade.
  • As células estaminais normais persistem e
    voltam a proliferar quando a doença fica
    controlada, após terapêutica;
17
Q

É possível haver LMC Ph-?

A
  • A maioria das leucemias mielóides crónicas cursa com cromossoma Filadélfia ou, alternativamente, c/translocações + raras e complexas envolvendo o
    cromossoma 22.
  • De qualquer modo, mesmo na ausência de cromossoma
    Filadélfia detectável citogeneticamente, os pacientes c/leucemia mielóide crónica apresentam translocação BCR-ABL, neste caso detectável apenas a nível subcitogenético (+ raro).
  • Assim, quando o cromossoma Filadélfia não é encontrado por estudo citogenético, dever-se-á procurar, por FISH
    ou métodos moleculares, o produto do transcrito do gene BCR-ABL.
  • Pior px.
18
Q

Qual o mecanismo de ação do imatinib?

A
  • O imatinib constitui um potente inibidor competitivo do BCR-ABL, competindo seletivamente com o ATP pelo local de ligação a esta cínase de tirosina (note-se que o ATP é necessário como dador de fosfatos p/que o BCR-ABL possa fosforilar os seus subtratos – assim, ao impedir a ligação do ATP, o imatinib impede a fosforilação dos substratos do BCR-ABL e, por conseguinte, a transdução de sinal).
  • O imatinib não é completamente específico, inibindo também outras tirosina cínases, incluindo o ABL. Tal explica porque é que este fármaco também é usado na terapia do GIST, que resulta de mutações do c-Kit; bem como em alguns tipos raros de neoplasias hematológicas associadas a rearranjos no receptor do PDGF.
19
Q

Como são definidas as respostas aos regimes de tratamento para a CML?

A
  1. Hematológicos - recuperação de contagens normais no sangue periférico.
  2. Citogenéticos - perda do Ph determinado por análise cariotípica clássica ou FISH.
  3. Molecular - uma redução ≥ 3-log transcritos de BCR/ABL abaixo do limite standard por RT-PCR.
20
Q

Os inibidores da tirosina cínase (TKI) curam a CML?

A

Não, apesar da eficácia dos inibidores da tirosina
quinase Bcr-Abl, o transplante de células estaminais hematopoiéticas permanece o único tratamento comprovadamente curativo.

21
Q

Quais as vantagens do dasatinib e nilotinib em relação ao imatinib?

A
  • Com eficácia no tratamento da maioria das mutações pontuais do Bcr-Abl que conferem resistência ao Imatinib (a mutação T315I é uma excepção, conferindo também resistência ao dasatinib e nilotinib). O único fármaco que atua em doentes com mutação T315l é o ponatinib.
22
Q

Quando está indicado realizar transplante em CML?

A
  • O transplante é considerado uma opção APENAS para doentes em fase acelerada ou blástica ou para doentes em fase crónica mas que falharam várias tentativas de múltiplas linhas.
23
Q

Como se trata a fase blástica?

A

Começa-se com QT de indução com regimes utilizados na LMA, seguidamente TKIs, e depois SCT alogénico.

24
Q

Um doente que responde ao tx da CML, deve parar de fazer o TKI?

A

O standard of care para doentes que estão a responder otimamente ao tratamento é continuar com os TKIs indefinidamente.