Doenças mieloproliferativas Flashcards
O que são doenças mieloproliferativas?
Neoplasias mieloproliferativas (MPNs) ou doenças mieloproliferativas crónicas (MPDs) são distúrbios clonais das células estaminais caracterizados por:
- leucocitose
- eritrocitose
- trombocitose
- hipercelularidade da MO
Qual é a caraterística definidora das doenças mieloproliferativas (MPNs)?
É a falência de resposta de uma célula estaminal multipotente transformada, aos mecanismos normais de feedback, reguladores das células hematopoiéticas.
Quais são as doenças mieloproliferativas?
- Leucemia Mielóide Crónica
- Policitemia Vera
- Trombocitemia Essencial
- Mielofibrose Primária
- Outros (raros): ex. Sdr. hipereosinofílico, doenças de mastócitos, leucemias eosinofílica e neutrofílica crónica.
Qual a diferença entre uma doença mieloproliferativa e uma doença mielodisplásica?
- As neoplasias mieloproliferativas resultam essencialmente de aumento da proliferação de células mielóides, enquanto as síndromes mielodisplásicas cursam, sobretudo, c/compromisso da diferenciação das células mielóides.
- Existem, contudo, várias doenças nas quais existe uma sobreposição entre proliferação e falha na diferenciação.
Complicações das MPN e transformação em leucemia aguda
- Complicações das MPNs resultam de uma produção excessiva de uma ou mais linhagens sanguíneas.
- Todas podem ser associadas a uma evolução clonal e transformação blástica em leucemia aguda, porém, com a exceção da CML, é uma complicação infrequente e tardia.
Epidemiologia da leucemia mielóide crónica
• É a doença mieloproliferativa mais comum.
• 1.3/100.000 indivíduos / ano.
• ↑ com a idade - Pico de incidência – 5ª/6ª década.
• 15 – 20% das leucemias.
• Bi- ou trifásica (estas duas ou três fases dizem respeito à
progressão natural – ou seja, sem intervenção terapêutica – da doença. De facto, a grande maioria dos doentes com leucemia mielóide crónica são diagnosticados na primeira fase da doença, a qual é de cariz indolente, designando-se por fase crónica).
Apresentação clínica da LMC
- Até cerca de 40% dos pacientes com CML são inicialmente assintomáticos.
- Outros pacientes exibem fadiga, letargia, dispneia, perda de peso, equimoses e saciedade precoce.
- Ao exame objectivo, é frequente esplenomegalia (20-70%).
- Testes laboratoriais:
• Leucocitose – WBC>25x10^9/L
• Células precursoras no sangue periférico (esp. mielócitos) mas sem excesso de blastos (não se encontram muitas células imaturas no sangue periférico – caso contrário, o quadro seria + sugestivo de leucemia aguda).
• Anemia; Plaquetas normais ou aumentadas;
• Aumento do ácido úrico e LDH.
O que carateriza a fase crónica da LMC?
- Os pacientes são tipicamente diagnosticados durante esta fase.
- Caracteriza-se por um estado indolente com a duração entre 3-5 anos.
- Leucocitose com eosinofilia e basofilia (>20%) mas poucos blastos (<5%).
- Com controlo das contagens do sangue periférico, durante este período os pacientes são essencialmente assintomáticos.
Quais os achados no esfregaço de sangue periférico na LMC?
Demonstra células mielóide em todas as fases de
desenvolvimento granulocítico, incluindo mieloblastos
imaturos (habitualmente <5%), mielócitos, metamielócitos,
basófilos, eosinófilos, células em banda e neutrófilos.
O que carateriza a fase acelerada da LMC?
- Caracterizada por febre, perda involuntária de peso, agravamento da esplenomegalia e dor óssea relacionada com o rápido turnover da medula.
- Independentemente da terapêutica, há aumento dos
leucócitos e do nº de blastos em circulação (10-19%). - O aumento percentual dos basófilos no sangue periférico (>20%) resulta na produção de histamina, com sintomas de prurido, diarreia e flushing.
- Durante esta fase pode haver aumento da esplenomegalia, trombocitopenia persistente, ou trombocitose e leucocitose, com novas anomalias citogenéticas clonais nas células da medula.
O que carateriza a fase blástica da LMC?
- Marca a evolução para leucemia aguda.
- A MO é substituída por ≥20% de blastos acompanhado de perda dos elementos celulares maduros normais na medula e na periferia e proliferação de blastos extramedulares.
- A morte ocorre em poucas semanas a meses.
- 2/3 dos pacientes desenvolvem AML.
- Os restantes 1/3 desenvolvem ALL, um achado que confirma que a célula neoplásica inicial é uma célula precursora inicial capaz de diferenciação em multilinhagem.
Qual a particularidade da LMC dentro das MPNs?
- De entre as MPNs é única na sua história natural. incluindo a transformação inevitável em leucemia aguda.
O que é o cromossoma de Filadélfia?
- Mais de 35% de pacientes com CML têm uma expansão clonal de uma célula progenitora que adquiriu o cromossoma Philadelphia (Ph).
- Resulta de uma translocação equilibrada entre os
cromossomas 9 e 22 t(9;22)(q34;q11). - Esta translocação justaposiciona o gene ABL do cr 9 (região q34) para o gene BCR no cr 22 (região q11) e gera o gene de fusão oncogénico BCR/ABL.
- A proteína BCR/ABL, é uma tirosina quinase constitutivamente activa e desregulada que induz o fenotipo leucémico nas células precursoras hematopoieticas.
- A expressão da proteína de fusão BCR/ABL activa múltiplas vias de transdução de sinal a jusante o que permite a proliferação independente da regulação pela citocina ou estroma, tornando a célula resistente à quimioterapia e à apoptose.
Quais os tipos de transcritos de fusão na LMC?
- Em quase todas as leucemias mielóides crónicas, verifica-se a formação dos transcritos de fusão e13a2 ou e14a2. Por sua vezes, estes transcritos codificam para uma oncoproteína de fusão designada por p210BCR-ABL.
- Por seu turno, a formação do transcrito de fusão e1a2 (o qual origina a proteína p190BCR-ABL, que é mais pequena que a p210) é característica das leucemias linfoblásticas com translocação BCR-ABL.
- Não obstante, quase um terço destas leucemias linfoblásticas cursa com a produção de transcritos típicos das leucemias mielóides crónicas, nomeadamente os transcritos e13a2 e e14a2. Note-se que as leucemias linfoblásticas produtoras de e13a2 e e14a2 revelam-se de difícil distinção face a evoluções de leucemias mielóides crónicas para crises blásticas linfóides.
- Existem outros transcritos menos frequentes, de entre os quais se destaca o e19a2. Este transcrito é típico da leucemia granulocítica crónica, a qual constitui uma condição mais benigna que a leucemia mielóide crónica.
O cromossoma de filadélfia em leucemias linfoblásticas agudas
– O cromossoma Filadélfia não é exclusivo das leucemias
mielóides crónicas, surgindo também num subtipo de leucemias linfoblásticas agudas (constituindo um factor de mau prognóstico nestasn leucemias, embora tal panorama se esteja a alterar). Nas leucemias linfoblásticas, o cromossoma Filadélfia aparece mais frequentemente em
adultos que em crianças.
- Ocorre em 25% dos adultos com ALL e 5% das crianças com ALL.