Diarreia Aguda e Desidratação Flashcards
Diarreia aguda
Conceito
- Eliminação anormal de fezes amolecidas ou líquidas com frequência superior ou igual a três vezes por dia (ou mais frequente do habitual para o indivíduo)
- Pode ou não acompanhado por náuseas, vômitos, febre e dor abdominal.
Diarreia aguda
Em neonatos
- Neonatos e lactentes em aleitamento materno exclusivo podem apresentar padrão de diarreia aguda sem que seja diarreia aguda
Diarreia aguda
Disenteria: conceito
- Diarreia com a presença de sangue e/ou leucócitos nas fezes.
Diarreia aguda
Duração
Aguda
- Autolimitada, com duração média de 7 dias
Persistente
- Quadro diarreico se estende por 14 dias
Diarreia aguda
Etiologia
- Pode ter causas infecciosas e não infecciosas.
- Mundialmente, as causas infecciosas apresentam prevalência e impacto maiores na saúde das crianças, principalmente nas menores de 5 anos
- É a segunda causa de morte e uma das principais causas de desnutrição em crianças menores de 5 anos
Diarreia aguda
Causas não infecciosas
- Alergias, intolerâncias e erros alimentares, além de alguns medicamentos.
Diarreia aguda
Causa infecciosa
Vírus
- Rotavírus (ocorrencia universal, principal responsável em países desenvolvidos e subdesenvolvidos)
- Norovírus (calicivírus - diarreia associadas a surtos endêmicos transmitidos por água ou alimentos), astrovírus, coronavírus e adenovírus entérico são os mais prevalentes.
- Os vírus são altamente infectantes e necessitam de baixa carga viral para causar doença
Bacteriana e parasitária
- Mais prevalentes nos países em desenvolvimento e têm pico de incidência nas estações chuvosas e quentes.
Agentes parasitários
- Cryptosporidium parvum, Giardia intestinalis, Entamoeba histolytica e Cyclospora cayetanensis.
- Diarreia aquosa que melhora e volta
Diarreia aguda
E. coli enterotoxigênica
Característica
- Diarreia do viajante e do lactente
Clínica
- Diarreia líquida, abundante, sem sangue
- Dor abdominal
- Febre baixa
Mecanismo de ação
- Diarreia secretora
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Diarreia aguda
E. coli enteroinvasiva
Característica
- Maior de 2 anos e adultos
Clínica
- Disenteria
- Febre e cólica
- Mal-estar
- Assemelha-se a shigella
Mecanismo de ação
- Invade o enterócito
Diarreia aguda
Shigella
Característica
- S. sonei mais frequente, sem gravidade
- S. flexineri endêmico em países em desenvolvimento
- S. dysatearea tipo 1 toxina shiga
- Diarreia do viajante
Clínica
- Diarreia secretora
- Enterocolite
- SHU (Síndrome Hemolítica Urêmica)
- Febre alta, dor abdominal intensa
Mecanismo de ação
- Acomete intestino delgado e grosso
- Toxina shiga + invasão celular
Diarreia aguda
Salmonella
Característica
- Mais de 2.000 sorotipos
- Lactentes, idosos e indivíduos imunocomprometidos
- Animais são reservatórios
Clínica
- Diarreia, náuseas, vômitos, dor abdominal, febre moderada
Mecanismo de ação
- Invasão de mucosa + infecção sistêmica
Diarreia aguda
Clostridium difficile
Característica
- Uso prévio de ATB
- Diarreia nosocomial
Clínica
- Diarreia líquida ou disenteria
Mecanismo de ação
- Diarreia secretora
- Colite pseudomembranosa
Diarreia aguda
Fisiopatologia
- Dependendo do fator de virulência do microorganismo, pode haver quatro mecanismos fisiopatológicos de diarreia aguda: mecanismo osmótico, secretor, inflamatório e de alteração da motilidade.
- Em algumas situações, há sobreposição ou evolução sequencial desses mecanismos, podendo a diarreia apresentar mais de uma forma clínica. Um exemplo é o quadro de disenteria causada pela Shigella sp. que frequentemente é precedido por diarreia aquosa.
Diarreia aguda
Clínica
- Quanto maior o potencial invasivo do patógeno, maior os sintomas
- Em algumas situações, os micro-organismos podem atingir a circulação sistêmica, afetando órgãos à distância, como articulações, fígado, baço e sistema nervoso central.
- Complicações: desidratação e desnutrição
Diarreia aguda
Diagnóstico
- Diagnóstico clínico
Anamnese
- Com história detalhada avaliando duração da diarreia
- Característica das fezes
- Número de evacuações por dia e sintomas associados (vômitos, febre, apetite, sede)
- História epidemiológica e patológica pregressa
- Medicamentos em uso.
Exame físico
- Deverá ser completo, incluindo avaliação nutricional, já que a desnutrição é fator de risco para quadros mais graves e evolução para diarreia persistente.
- Classifica-se o estado de hidratação do paciente
Hidratação
Gráfico
Diarreia aguda
Exames laboratoriais
- Não é necessária como rotina para o tratamento da diarreia aguda.
- Reservada para os casos de evolução atípica, grave ou arrastada, presença de sangue nas fezes, lactentes menores de 4 meses e os pacientes imunodeprimidos.
- Principais: Coprocultura, TSA (teste de sensibilidade a antibióticos), bacterioscopia de fezes
Diarreia aguda
Tratamento
- A terapia de reidratação oral (TRO) e o suporte nutricional representam os pilares para o tratamento da diarreia aguda.
- Plano de tratamento de acordo com a avaliação do estado de hidratação do paciente
Diarreia aguda
Plano A
Sem desidratação
- A criança com diarreia aguda sem desidratação pode ser tratada em casa.
- Orienta-se aumentar a oferta de líquidos e, após cada evacuação diarreica, oferecer água de arroz, chá, sucos, sopas ou SRO, de 50 a 100 mL para menores de 2 anos, de 100 a 200 mL para crianças de 2 a 10 anos e, acima de 10 anos, o quanto aceitar.
- Deve-se orientar os familiares sobre os sinais de desidratação e gravidade.
- Não oferecer refrigerantes nem adoçar chás e sucos
Diarreia aguda
Plano B
Desidratado leve-moderado
- Na criança com diarreia e desidratação de leve a moderada (5 a 10% de perda), realiza-se a reposição com 50 a 100 mL/kg em 4 a 6 h, oferecendo SRO em pequenos volumes, com frequência e sob supervisão de profissional de saúde, com avaliações periódicas.
- Em casos de vômitos persistentes, deve-se tentar a administração da SRO por sonda nasogástrica (via eficaz), 20 mL/kg/hora, durante 4 a 6 h.
- Apenas durante o período de reidratação não se deve alimentar a criança, exceto se ela estiver em aleitamento materno.
- Quando estiver hidratada, aceitando a alimentação, passa-se para o Plano A
Diarreia aguda
Plano C
Desidratação grave
- A criança com diarreia e desidratação grave (> 10% de perda) necessita de hospitalização e hidratação endovenosa para restabelecer rapidamente a perfusão aos órgãos vitais.
- Este plano compreende duas fases: fase rápida, de expansão, e fase de manutenção e reposição
- Outros critérios para a hidratação venosa são: vômito intratável, falha na TRO por via oral ou sonda nasogástrica, diarreia profusa, íleo paralítico, irritabilidade, sonolência ou ausência de melhora após 24 h da administração da SRO
Diarreia aguda
Desnutrição na diarreia aguda
- A desnutrição e a deficiência de micronutrientes deprimem a resposta imune, sendo, por isso, fatores de mau prognóstico na diarreia aguda, uma vez que propiciam quadros mais graves, arrastados, com maior taxa de mortalidade e deixam a criança vulnerável a novos episódios de diarreia aguda e outras doenças infecciosas.
- É importante incentivar e manter o aleitamento materno, mesmo durante o período da reidratação oral.
- Recomenda-se alimentação normal para a idade, com alto valor nutricional, durante o período da diarreia, corrigindo possíveis erros alimentares.
- Não há necessidade, na maioria das vezes, de diluir o leite ou fórmulas sem lactose para as crianças que já não estão em aleitamento materno.
Diarreia aguda
Medicações
- Zinco: menores de 5 anos com diarreia aguda durante um período de 10 a 14 dias, na dose de 20 mg/dia (10 mg até 6 meses de idade, pelo mesmo período).
- Antieméticos: são desnecessários para o manejo da diarreia aguda e não conferem benefício, além de terem efeitos sedativos, o que pode atrapalhar a TRO; entretanto, novas evidências indicam que crianças com vômitos persistentes, tratadas com ondansetrona, apresentam menor risco de admissão hospitalar.
- Probióticos: podem ser úteis para reduzir a gravidade e a duração da diarreia aguda infecciosa infantil.
- Antiperistálticos: como a loperamida, não são recomendados no tratamento da diarreia aguda em crianças, pois aumentam a gravidade e as complicações da doença, particularmente na diarreia invasiva.
- Droga anitissecretora (racecadotril): inibe a encefalinase e pode reduzir o tempo de diarreia, com boa tolerância para uso em crianças.
Diarreia aguda
Antibioticoterapia
- Os quadros de diarreia aguda, em geral, são autolimitados e, portanto, o uso racional de antibióticos evita o aparecimento de complicações como resistência bacteriana, aumento do risco de SHU, no caso de E. coli produtora de toxina shiga, e prolongamento da duração da diarreia por Salmonella.
- Ciprofloxacino: 15 mg/kg a cada 12 horas, via oral, por 3 dias.
- Ceftriaxona: 50 a 100 mg/kg, via intramuscular, uma vez ao dia, por 2 a 5 dias, como alternativa.
- Segundo ESPGHAN (2014), em crianças, a azitromicina pode ser usada na dose de 12 mg/kg no primeiro dia, seguido por 6 mg/kg por mais 4 dias.
Diarreia aguda
Prevenções
- Aleitamento materno exclusivo durante os 6 primeiros meses, acompanhado de alimentação complementar adequada para a idade, além do consumo de água tratada, alimentos adequadamente preparados e acondicionados, esgotamento sanitário apropriado e medidas de higiene, principalmente lavagem adequada das mãos.
- A vacinação para rotavírus reduziu o número de hospitalizações e mortalidade por diarreia aguda.
- A imunização contra o sarampo pode reduzir a incidência e a gravidade das doenças diarreicas e, por isso, deve ser feita para todos os lactentes na idade recomendada.