Transplante Flashcards
Resumo da História da transplantação
A transplantação de órgãos tem início na primeira metade do século XX, em que houveram múltiplos transplantes renais em animais e humanos - quer de dadores animais, ou humanos – em variadíssimas localizações anatómicas.
A grande maioria das técnicas cirúrgicas hoje usadas foram inventadas no final dos sécs. XIX e do XX, mas não haviam condições para serem realizadas em segurança, uma vez que não existia nem anestesia, cuidados intensivos, ou técnicas complementares como agora temos (ex: laparoscopia, na qual se inclui a robótica).
Assim, as técnicas básicas (o que se liga e a quê; como é que se reconstroem estruturas depois de remover outras) continuam a ser feitas praticamente da mesma maneira, mas com outro apoio técnico.
O que é que Alexis Carrel percebeu ser fundamental para o transplante renal?
Alexis Carrel percebeu que os resultados dos transplantes dependiam sobretudo de fatores biológicos, a técnica era feita com base no conhecimento de que um rim tem de ser ligado a:
- uma veia para drenar a sua perfusão;
- uma artéria para ser perfundida;
- um ureter para expulsar a urina.
No entanto, a técnica não resultava graças aos fatores biológicos que influenciavam (estes seriam o sistema imunitário do doente).
Qual foi o primeiro transplante de órgão sólido realizado com êxito no mundo?
Foi um transplante renal feito em Boston (EUA), em 1954, cuja sobrevida foi de 9 anos. Deu-se entre 2 gémeos homozigóticos, ultrapassando fatores biológicos (incompatibilidade imunológica).
Apartir de que década se iniciou a transplantação mais abragente?
Desde 1960, houve um aumento na taxa de sucesso dos transplantes entre dadores e recetores - sendo estes
familiares, ou ñ (dador cadáver) - devido ao desenvolvimento da imunologia e consequente uso de
imunossupressores. Assim, a transplantação assenta na imunossupressão.
Qual é o pilar da transplantação?
Imunossupressão
Datas importantes da história da transplantação
Em 1963, nos Estados Unidos, foi feito o primeiro transplante de fígado no mundo, sendo que nesta altura
só se usavam corticoides e azatioprina.
Em 1967 ocorreu o primeiro transplante cardíaco.
Em 1968, foi feito o primeiro transplante de fígado na Europa (havia um português na equipa).
Em que condições foi realizado o 1º transplante renal?
O primeiro transplante de rim foi feito em Portugal em 1969 pelo Professor Linhares Furtado (um pioneiro no transplante a nível nacional e mundial), cuja dadora era irmã do recetor (dador vivo).
Na tentativa de ultrapassar os fatores biológicos, foram administrados corticoides e um soro anti-linfocitário. No entanto, o recetor sofrera uma reação anafilática contra o soro administrado, pelo que acabou por falecer com uma Hepatite B fulminante.
Qual era o GRANDE problema dos primeiros imunossupressores?
Assim, continuávamos com o problema biológico, visto que utilizávamos imunossupressores que não eram seguros (não havia a verificação dos vírus)!!
Qual foi a lei imposta em Portugal, em 1976, relacionada com a transplantação?
Em 1976, aprovou-se, em Portugal, a colheita de dadores cadáver - toda a gente seria dadora, a não ser que houvesse alguma manifestação escrita em vida do contrário.
Nesta época, gerou-se uma grande polémica relativamente ao conceito de morte cerebral.
Qual foi o Grande turning point dos imunossupressores?
Nos anos 80, surgiu a associação da azatioprina (mielosupressor e, portanto, anti-proliferativo) com a
cortisona, alcançando-se resultados satisfatórios.
O grande turning point da imunossupressão ocorreu com o aparecimento da ciclosporina(anticalcineurínico), descoberto em 1978. Foi descoberta acidentalmente ao ser testada como possível
antibiótico, tendo-se verificado que era, de facto, um fármaco imunossupressor.
Ao ser lipossolúvel, fazia com que os cientistas duvidassem se era a ciclosporina que tinha este efeito imunossupressor, ou se era o meio onde o cultivavam (azeite).
Ninguém queria desenvolver este fármaco, pois eram feitos poucos transplantes por ano e os laboratórios
achavam que os ganhos não iam compensar os gastos.
Após 10 anos, em vez de apenas 10 unidades de transplantação, havia 1000, pelo que a ciclosporina passou
a ser um fármaco milionário. Ainda hoje os anti calcineurina são utilizados na transplantação (mais o
tacrolimus).
Que associação foi criada, em Portugal, no ano de 1993?
Foi criado o RENNDA (Registo Nacional de Não-Dadores), ou seja, antes deste registo éramos todos obrigados a ser dadores, pelo que agora é obrigatório recorrer-se a este registo antes de realizar a colheita.
Que cirurgia foi efetuada pela primeira vez em 1995?
Em 1995 o Prof. Linhares Furtado realizou o primeiro transplante hepático em dominó/sequencial: doente com PAF recebeu um fígado saudável de um cadáver e doou o seu fígado (estruturalmente normal) a um doente com um fígado estruturalmente anormal (ex: patologia maligna).
O que é a PAF (Polineuropatia Amiloidótica Familiar)?
Patologia hereditária na qual o fígado produz uma proteína anormal que lesa outros órgãos. Esta deposita-se principalmente no Sistema Nervoso Periférico, provocando alterações da marcha e alterações no Sistema Nervoso Autónomo (diarreias, emagrecimento profundo, etc).
Só tem expressão clínica na terceira década da vida, mas nos adultos manifesta-se 5 anos após o transplante.
Assim, muitos pacientes desenvolveram PAF iatrogénica. Estes doentes tiveram de ser retransplantados, mas, desta vez, com fígados de cadáveres. O problema surgiu quando estes doentes já tinham ultrapassado os critérios para poderem ser retransplantados (idade, outras patologias associadas, etc), ficando restritos às consequências da PAF (feridas, amputações, diarreias, falta de qualidade de vida, ficam acamados). Assim, apesar de ser pouco, é uma técnica que continua a ser usada
Se um doente começa a desenvolver polineuropatia (PAF), este é um processo irreversível, mesmo depois de serem retransplantados?
Depende do grau de doença, da idade e da patologia associada. Por exemplo, se o doente for diabético a polineuropatia vai progredir. No entanto, se o doente for retransplantado e não tiver outras patologias associadas, a doença não progride, mas as lesões neurológicas instaladas são permanentes.
Assim, o retransplante tem de ser feito numa fase em que o doente ainda não tenha nenhuma doença muito avançada, caso contrário não faz sentido estar a retransplantar.
A idade do doente também é muito importante para todas as doenças, por exemplo no transplante de pâncreas em doentes com diabetes melittus tipo I, estes passam a ser doentes diabéticos tratados por insulina de um pâncreas que recebem. As artérias deste doente já terão alguma aterosclerose, mas este processo é atenuado pela transplantação, apesar de não desaparecer devido ao envelhecimento natural. O doente, ao envelhecer, vai progredir na aterosclerose mesmo com o transplante (apesar de ser uma progressão ser mais lenta).
Quem são as 3 peças importantes do processo de transplantação?
- Recetor
- Dador
- Imunossupressão: o intermediário
Caracterize o Recetor
Pessoa com uma doença que destruiu a função de um órgão, (or exemplo, o fígado ou o rim).
No entanto, no rim ainda há a perspetiva da hemodiálise e da dialise peritoneal (técnicas de substituição renal).
No fígado existem apenas técnicas muito temporárias - 1 ou 2 dias para manter o doente à espera de transplante.
Em relação ao coração, também já existem alguns corações artificiais que também podem ser utilizados;
Caracterize o Dador
Fornece o órgão funcional. Pode ser cadáver ou um dador vivo, sendo que o cadáver pode ser em morte cerebral ou em paragem cardiorrespiratória;
O que torna um transplantado um “doente especial”?
Antigamente um doente transplantado chegava a uma urgência desde Bragança até ao Algarve e ninguém lhe tocava, pegavam nele metiam-no numa ambulância rapidamente e mandavam-no para a unidade de transplantação onde tinha sido transplantado. Isto porque estes doentes eram imunossuprimidos e geravam medo, mas, hoje em dia, já todos os médicos nas urgências sabem de uma forma, ou de outra, pelo menos manejar a dualidade entre o recetor, o dador e a imunossupressão e compreendem patologias a que estão associadas.
Assim, o doente transplantado:
- pode sofrer ainda da doença que levou ao transplante ou de sequelas da mesma. É uma pessoa com uma doença que levou à necessidade de transplante (por exemplo, diabetes à perda de um rim; alcoolismo à perda do fígado);
- foi sujeito a uma cirurgia de transplante, podendo ser menos agressiva (ex: transplante de rim isolado), ou mais agressiva (transplante hepático, pulmonar ou cardíaco);
- está imunossuprimido, à partida à mais suscetível a infeções e tumores;
- habitualmente utiliza outros fármacos para além dos imunossupressores, seja para combater os efeitos nefastos da imunossupressão, ou para combater/controlar a doença que motivou o transplante.
Quais são os tipos de Imunossupressão?
2
- Natural / Não Deliberada
- Deliberadamente induzida
Caracterize a Imunossupressão Natural / Não Deliberada
Não é causada deliberadamente, mas sim consequência de:
* Tumores malignos (sobretudo em fases mais terminais, ou tumores das células da linha hematológica);
* Infeções - nomeadamente choque séptico (quando o doente está muito infetado deixa de conseguir responder à infeção que já tem, a qualquer outra infeção e também deixa de conseguir reagir contra o órgão transplantado. Assim, tem de se parar a imunossupressão. Quando o doente não tem uma infeção assim tão grave, apenas se baixa a dose de imunossupressão e ajusta a mesma, de acordo com a gravidade);
o Mielosupressão como efeito secundário de fármacos (ex: nolotil em altas doses e ao fim de muito
tempo).
Em qualquer uma destas 3 situações, o sistema imunitário ou está deprimido, ou está envolvido noutra “luta”, pelo que não é necessário suprimi-lo.
Caracterize a Imunossupressão Deliberadamente induzida
10
Através de fármacos induz-se a imunossupressão deliberadamente, entre os quais:
- Corticoesteróides
- Azatioprina
- Inibidores da calcineurina: ciclosporina A e tacrolimus (FK 506) – nefrotóxicos
- Micofenolato mofetil – usa-se bastante no rim e é da família da azatioprina, sendo um antiproliferativo da medula
- Inibidores mTOR: sirolimus e everolimus – potentes anti-fibróticos e anti- proliferativos, mas menos utilizados hoje em dia, porque não são imunossupressores tão potentes. Devido ao efeito de anti-cicatrizante, é complicado utilizá-los imediatamente a seguir ao transplante
- Soros anti-linfocitários
- Anticorpos monoclonais (MAB): baziliximab, rituximab, etc – utilizados sobretudo para tratar rejeições graves e como indutores, de modo a poupar o rim, numa primeira fase dos efeitos deletérios dos anti-calcineurínicos.
- Irradiação;
- Plasmaferese;
- Indução da tolerância imune
Qual a característica que devemos ter em atenção quando vamos utilizar Inibidores da calcineurina como a ciclosporina A e o tacrolimus (FK 506)?
São nefrotóxicos
Em que situações usamos mais o Micofenolato mofetil?
Usa-se bastante no rim e é da família da azatioprina, sendo um antiproliferativo da medula