Trabalho Em Tempos De Mudança Flashcards

1
Q

Introdução

A

O século XIX, marcado por intensas mudanças políticas, sociais, econômicas e materiais, também foi caracterizado pela paixão com que ideólogos burgueses defenderam o trabalho como algo elevado, sagrado, intrínseco ao bom caráter de qualquer um.

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2
Q

A ética do trabalho na era capitalista

Introdução

A

O século XIX, marcado por intensas mudanças políticas, sociais, econômicas e materiais, também foi caracterizado pela paixão com que ideólogos burgueses defenderam o trabalho como algo elevado, sagrado, intrínseco ao bom caráter de qualquer um.

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3
Q

A ética do trabalho na era capitalista

Relacão entre o trabalho e o divino

A

o trabalho aparecia em provérbios e frases de efeito desde a Antiguidade, e como o sentido de positividade a ele relacionado permanecia vivo entre os vitorianos

Por exemplo: “O trabalho constante a tudo vence”; “o trabalho adoça a vida”; “o trabalho é o ornamento do cidadão”; “O trabalho dignifica o homem”.

Se a ética do trabalho é o que dá sentido ao homem, seu inverso, ou seja, a preguiça, pode corromper a humanidade. “Em outras palavras, trabalho e caráter, outro ideal vitoriano, eram companheiros inseparáveis”.

O discurso religioso já proclamava havia muito tempo que trabalho é virtude e preguiça é pecado.Os vitorianos, portanto, apropriam-se muito bem dessa ética e fazem disso um elemento central da cultura burguesa

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4
Q

O trabalho como caminho para o sucesso

A diferença nas relaçoes entre os burgueses e os pobres a respeito do trabalho

A

Por essa ética, o trabalho árduo e constante seria o meio para o alcance do sucesso

A riqueza, o conforto material e o sucesso parecem carecer de uma justificativa de que não foram obtidos de forma indigna ou ilegítima, mas sim pela nobreza do trabalho. O trabalho como um álibi.

É evidente que para as camadas mais baixas das classes médias, tanto quanto para os trabalhadores pobres nas cidades e no campo, toda essa fanfarronice deve ter parecido desnecessária, irrelevante para com sua situação e até mesmo insultante. (…) Não precisavam ser convencidos a trabalhar nem receber conselhos sobre os benefícios do trabalho para seu caráter: trabalhavam porque queriam sobreviver.

Para a classe média vitoriana, o trabalho não é defendido como necessidade para o sustento como é para o pobre, e nem como meio para a ostentação, mas como uma necessidade para o bem estar, já que a produtividade – alcançada pelo trabalho - é considerada virtude.

Em Manifesto Comunista, de 1848, Marx e Engels afirmavam:

A burguesia, desde seu advento, há um século, criou forças produtivas mais variadas e mais colossais que todas as gerações passadas em conjunto. A subjugação das forças da natureza, as máquinas, a aplicação da química à indústria e à agricultura, a navegação a vapor, as estradas de ferro, o telégrafo elétrico, a exploração de continentes inteiros, a canalização dos rios, populações inteiras brotando da terra como por encanto – qual dos séculos anteriores suspeitou que semelhantes forças produtivas dormissem no seio do trabalho social.

(Marx e Engels, p.96)

Astransformações referidas nessa obra clássica foram as bases da sociedade moderna capitalista não apenas porque alavancaram a expansão que alcançou o século atual, mas também porque foram resultado do trabalho humano em todos os níveis

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5
Q

A visao da classe media sobre o trabalho

A

a valorização do trabalho pela classe média reconhece a necessidade do esforço humano para as conquistas sobre a natureza. Não há, contudo, valorização do trabalho operário, por ser considerado repetitivo e alienante. A divisão do trabalho, ao tirar do operário o controle do ciclo produção, tiraria também sua importância

O burguês não era apenas independente, um homem a quem ninguém (exceto o Estado ou Deus) dava ordens, mas as dava ele mesmo. Não era apenas um empregador, empresário ou capitalista, mas socialmente um “senhor”, um “dono” (…). O monopólio do comando – na casa, no negócio, na fábrica – era fundamental para sua própria definição, e seu reconhecimento formal, fosse nominal ou real, é um elemento essencial em todas as disputas industriais desse período.

(Hobsbawm, p. 372)

Para a classe média, o trabalho é meio de ascensão e de acumulação, ou seja, é um instrumento ideológico da defesa do capitalismo. O trabalho, portanto, é um ideal burguês.

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6
Q

O trabalho feminino e o trabalho infantil pela ótica burguesa

A

Não havia, contudo, unanimidade dentro da burguesia. Se o burguês se define pela superioridade em relação às classes baixas, também o fará em relação ao gênero. “Os trabalhadores, como as mulheres, deveriam ser leais e satisfeitos”. Essa ideia de superioridade do homem burguês é uma apropriação ideológica do darwinismo, tão difundido entre os vitorianos. Nesse sentido, o sucesso do homem da classe média é entendido como indício de sua superioridade, alcançado pelo seu talento e trabalho.

A defesa incondicional do trabalho como ideal de felicidade extrapola o mundo dos negócios, alcançando os lares burgueses. Se na casa burguesa ao marido cabia a manutenção do conforto material, às esposas cabia manter a casa, as roupas e os filhos sempre impecavelmente limpos e organizados. Mesmo as mulheres que podiam contar com empregados domésticos não estavam dispensadas do intenso trabalho de administração do lar e de atenção aos maridos.

Gerenciar o lar de classe média significava comprar as provisões, supervisionar os empregados, conservar-se prudentemente dentro do orçamento doméstico, assumir o papel principal na criação dos filhos, com os quais normalmente passavam mais tempo do que seus maridos, presidir com graça o que os contemporâneos costumavam chamar de “suplício doméstico”, sempre dando a melhor impressão possível como anfitriãs.
Havia também outro trabalho que cabia às esposas burguesas do século XIX. Esperava-se que elas fossem firmes e confiáveis colaboradoras dos maridos. (…) Era preciso confortar o marido quando ele voltava cansado do trabalho exaustivo e quase sempre desalentador no mundo lá fora, em que se ocupava de política, negócios, indústria, universidade ou artes; apoiar suas ambições e minimizar seus fracassos.

Importante lembrar que foi nesse contexto que se desenvolveu o movimento pela emancipação feminina. Poder votar, estudar, frequentar universidades (como alunas e professoras), foram importantes reivindicações feministas do século XIX com largo apoio das mulheres da classe média. Sem falar no questionamento ao domínio masculino dentro de casa. Portanto, parece que o ideal do trabalho recebeu das mulheres outros significados, muito marcados pela defesa da emancipação.

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7
Q

Como era divulgado o trabalhar?

A

No século XIX, o ideal do trabalho era eficientemente defendido e propagado através de diferentes meios. Um deles eram os livros de biografias, muito popular no período e que funcionavam como eficaz propaganda da ideologia capitalista. A trajetória de vida de homens que externavam riqueza e que “venceram pelo trabalho” era estímulo à ambição e alento ao esforço diário para o sucesso material.

Os leitores vitorianos podiam, ainda, se deparar com o elogio ao trabalho infantil. A defesa de que o trabalho de crianças – muitas vezes com menos de oito anos de idade – era uma forma de diversão remunerada, servia perfeitamente aos propósitos do capital na medida em que fornecia uma justificativa socialmente aceitável para a exploração do trabalho infantil.

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8
Q

Como era a relação entre o capitalismo e o trabalho?

A

a defesa do trabalho como algo elevado atendia aos interesses do capitalismo no sentido de que funcionava como um incentivo à acumulação, ao mesmo tempo em que servia para maquiar a exploração e a própria luta de classes.

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9
Q

Os comunistas e as suas críticas ao trabalho

A

Em meio a tão bem propagado “evangelho do trabalho”, segundo expressão de Peter Gay, a burguesia vitoriana também teve que dar conta das críticas realizadas por comunistas do período sobre a ultra exploração do trabalho e à agressividade da ambição capitalista. O Manifesto Comunista, de Marx e de Engels, publicado em 1848 em Londres, é a primeira grande tentativa de explicitar toda a lógica do capital e de defender uma outra forma de organização econômica. “O Manifesto comunista fez a humanidade caminhar. Não em direção ao paraíso, mas na busca (raramente bem-sucedida, até agora) da solução de problemas como a miséria e a exploração do trabalho”

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10
Q

Conclusão

A

Defender o trabalho como o sagrado meio de obter riqueza e sucesso também significou fechar os olhos para a exploração sofrida pelo operariado. Negar a importância do trabalho das donas de casa, fossem elas burguesas ou não, foi muito significativo dessa ideologia. Da mesma forma, justificar o trabalho infantil como necessário à boa formação das crianças, minimizando as consequências sociais, pode explicar como o ideal do trabalho atendia exclusivamente à ideologia capitalista. Em meio às intensas mudanças do século XIX (na urbanização, na produção econômica, nas comunicações, na política, na ciência) o discurso sobre o trabalho era importante mecanismo de incentivar a expansão do capital, sem questionar quem eram, de fato, os interessados no trabalho.

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