Família e Sociedade na era Vitoriana Flashcards
Quais foram as transformações ocorridas na “Família ocidental”?
Afrouxamento das estruturas da família burguesa, refletida em uma definida emancipação feminina e o surgimento de grupos de idade situados entre a adolescência e o casamento como categoria separada e mais independente de ‘juventude’ que, por sua vez, teve poderoso impacto nas artes e na literatura. As palavras ‘juventude’ e ‘modernidade’ tornaram-se às vezes quase intercambiáveis; e se ‘modernidade’ significava algo, era uma mudança degosto, da decoração e do estilo.
afamília ocidental e os conceitos que lhe dizem respeito sofreram transformações nesse período intenso da história. Os efeitos do puritanismo protestante nas relações familiares, na Europa e depois nos Estados Unidos, reforçaram a partir do século XVII um modelo de família extremamente recatado, o que não quer dizer que essas mesmas relações, no cotidiano, mantinham-se rigorosamente nos contornos desses catecismos da fé.
Porque dizemos “sociedade patriarcal”?
é inegável que o puritanismo protestante, particularmente na Inglaterra do século XVII, tenha ativado comportamentos contidos e relações endurecidas pela obediência à uma ordem conduzida pelo pai e chefe de família.O Deus cristão, chamado na Bíblia de “Pai”, nesse contexto se fazia representar na família por meio da figura do marido e pai, cabendo aos outros membros da família a obediência sem discussões.
Como se deram as quebras deste conceito (família patriarcal)?
Hobsbawm refere é um princípio de quebra desses modelos ao longo do século XIX. A esposa e os filhos, particularmente os jovens, ocupam posições no âmbito das relações familiares que, mesmo sem ser ainda contundentes e definitivas, modificam a estrutura familiar, em identificação com outras transformações da sociedade burguesa nesse período.
Criam-se, portanto, contradições na família do Ocidente que ao mesmo tempo confirmam e contestam o desenvolvimento da sociedade burguesa. Essa contradição se mostrará necessária para a continuidade da ordem burguesa, sendo uma filigrana cultural para afirmar um novo papel para a família
CONCEITOS DE FAMÍLIA
Em primeiro lugar, devemos ressaltar o fato de que a ideia ou noção do que é uma “família” tem mudado ao longo do tempo e dos diferentes contextos históricos e culturais. A chamada “família nuclear”, formada por um casal de homem e mulher, com seus respectivos filhos, é um dos produtos que nos legou a sociedade ocidental capitalista, em particular no ambiente urbano. Uma construção social temporalmente longa, que acompanha o surgimento da sociedade moderna na Europa no século XV e que se consagra no século XIX.
Percebem-se na família os efeitos da privatização da vida, da dedicação ao trabalho assalariado, da necessidade de uma cultura para a produção e o consumo da mercadoria. À família nuclear coube portanto a tarefa de ser a base de uma sociedade em camadas, sustentando moral e culturalmente as demais instituições e finalmente o próprio Estado.Embora seja a família, nesse discurso, a “base da sociedade”, na prática estabeleceu-se um recolhimento da família às questões mais “caseiras”, diminuindo-se a importância da solidariedade social. A família tornou-se um pequeno e cerrado mundo.
A FAMÍLIA DE CULTURA BURGUESA E O PAPEL DOS SEUS COMPONENTES!!!
Segundo a cultura burguesa, a família devia ser considerada o motivo principal da busca do sucesso material. (…) Portanto, os burgueses convenciam-se de que ganhar dinheiro, fazer discursos, escrever artigos, disputar eleições ou apresentar-se em concertos eram atividades a que se entregavam a fim de ganhar o pão de cada dia devido à responsabilidade de proporcionar á esposa e filhos uma vida tão tranquila e próspera quanto possível.
Qual era o conceito de família burguesa (Família de sucesso)?
Duas coisas aqui precisam ser destacadas: a questão econômica como fundamento da felicidade familiar e o novo status dos seus respectivos membros, a “esposa” e os “filhos”.
Família e sociabilidade na era vitoriana
Estudar a família burguesa e seus procedimentos estabelecidos ao longo do século XIX. Entender o papel da família burguesa no âmbito das sociabilidades e das instituições modernas.
Introdução
Iniciamos esta aula com uma citação do historiador Eric Hobsbawm (1988) a respeito dastransformações que a família ocidental sofreu no século XIX.Segundo ele,houve nesse períodoum
(…)afrouxamento das estruturas da família burguesa, refletida em uma definida emancipação feminina e o surgimento de grupos de idade situados entre a adolescência e o casamento como categoria separada e mais independente de ‘juventude’ que, por sua vez, teve poderoso impacto nas artes e na literatura. As palavras ‘juventude’ e ‘modernidade’ tornaram-se às vezes quase intercambiáveis; e se ‘modernidade’ significava algo, era uma mudança degosto, da decoração e do estilo.
HOBSBAWM, p. 238-239
De fato, afamília ocidental e os conceitos que lhe dizem respeito sofreram transformações nesse período intenso da história. Os efeitos do puritanismo protestante nas relações familiares, na Europa e depois nos Estados Unidos, reforçaram a partir do século XVII um modelo de família extremamente recatado, o que não quer dizer que essas mesmas relações, no cotidiano, mantinham-se rigorosamente nos contornos desses catecismos da fé. Porém, é inegável que o puritanismo protestante, particularmente na Inglaterra do século XVII, tenha ativado comportamentos contidos e relações endurecidas pela obediência à uma ordem conduzida pelo pai e chefe de família.O Deus cristão, chamado na Bíblia de “Pai”, nesse contexto se fazia representar na família por meio da figura do marido e pai, cabendo aos outros membros da família a obediência sem discussões.
O que Hobsbawm refere é um princípio de quebra desses modelos ao longo do século XIX. A esposa e os filhos, particularmente os jovens, ocupam posições no âmbito das relações familiares que, mesmo sem ser ainda contundentes e definitivas, modificam a estrutura familiar, em identificação com outras transformações da sociedade burguesa nesse período.
Criam-se, portanto, contradições na família do Ocidente que ao mesmo tempo confirmam e contestam o desenvolvimento da sociedade burguesa. Essa contradição se mostrará necessária para a continuidade da ordem burguesa, sendo uma filigrana cultural para afirmar um novo papel para a família. É o que veremos nesta lição.
Conceitos de família
Parece-nos absolutamente natural pensar na família do jeito que a conhecemos e que tradicionalmente a vivenciamos. Olhamos para trás e retornamos à experiência de nossos pais e avós. Lembramos de nossa infância e do convívio com o pai, a mãe e os irmãos. As fotografias nos remetem às festas, comemorações e passeios feitos nesse pequeno universo que chamamos de “família”. As instituições com as quais estamos ligados – igrejas, clubes, escolas – enfatizam o mesmo modelo e as mesmas referências. Não é de estranhar que imaginemos ser a família, do jeito que a entendemos, um conceito básico, universal e imutável. Porém, certamente não é assim.
Em primeiro lugar, devemos ressaltar o fato de que a ideia ou noção do que é uma “família” tem mudado ao longo do tempo e dos diferentes contextos históricos e culturais. A chamada “família nuclear”, formada por um casal de homem e mulher, com seus respectivos filhos, é um dos produtos que nos legou a sociedade ocidental capitalista, em particular no ambiente urbano. Uma construção social temporalmente longa, que acompanha o surgimento da sociedade moderna na Europa no século XV e que se consagra no século XIX.
Historiadores, sociólogos e antropólogos têm nos ajudado a entender que no século XIX a sociedade se expôs a uma grande fragmentação de relações.Percebem-se na família os efeitos da privatização da vida, da dedicação ao trabalho assalariado, da necessidade de uma cultura para a produção e o consumo da mercadoria. À família nuclear coube portanto a tarefa de ser a base de uma sociedade em camadas, sustentando moral e culturalmente as demais instituições e finalmente o próprio Estado.Embora seja a família, nesse discurso, a “base da sociedade”, na prática estabeleceu-se um recolhimento da família às questões mais “caseiras”, diminuindo-se a importância da solidariedade social. A família tornou-se um pequeno e cerrado mundo.
Na Antiguidade, encontramos diferentes concepções de família. A ideia de “tribo” nas sociedades da Mesopotâmia, três mil anos antes de Cristo, traduz algo muito mais extenso do que a família nuclear que conhecemos. O chefe do “clã” – uma outra palavra para designar essa organização tribal – pontificava sobre sua(s) esposa(s) e concubinas, irmãos, filhos, netos, serviçais e escravos. No ambiente rude e agropastoril, o grande número de filhos poderia garantir mais braços para cuidar dos rebanhos, de algum tipo de cultivo e também de defesa em caso de guerra. Aqui se enquadram, com variações culturais, sociedade como a dos chamados “patriarcas israelitas”, no Oriente Médio do segundo milênio antes de Cristo. A tribo era uma portanto uma família muito numerosa, se assim podemos comparar, toda ela voltada para a liderança do chefe do clã e para a manutenção dos interesses de sobrevivência do grupo. E vejam que estamos aqui fazendo uma grande generalização, pois de fato tais sociedades marcavam-se por peculiaridades na forma como se organizavam.
Ao longo dos tempos medievais mais tardios o conceito de família também sofreu transformações importantes, no geral ligadas às necessidades da preservação da riqueza material – a posse da terra –, nas mãos das famílias senhoriais. Nesse quadro, somente filhos legítimos tinham seu reconhecimento como destinatários das heranças senhoriais. Relações que geravam filhos bastardos não eram condenadas a princípio por algum tipo de preceito moral. Porém, tais relações excluíam os filhos que delas se originavam da possibilidade do usufruto dos legados paternos. As pressões emanadas da Igreja Católica para exercer um controle moral sobre as relações familiares só se acentuaram a partir de 1215, provenientes da legislação matrimonial elaborada pelo Quarto Concílio de Latrão (cf. CASEY, p. 105-106).
Nesse sentido, os sentimentos de afeto que são hoje apontados como um dos elementos fundamentais determinantes da existência e manutenção da família não compareciam decisivamente na união conjugal ou nas relações filiais. Acima e além desses sentimentos estavam a manutenção da posse da terra e/ou a garantia da existência da linhagem.
O que citamos nos parágrafos anteriores são apenas alguns exemplos muito gerais do que significaram no passado as chamadas relações familiares. Queremos mostrar que não se pode fixar o modelo de família nuclear como historicamente definitivo, nem transferi-lo automaticamente para outro contexto e tempo histórico. Conceituar o que hoje chamamos de família implica em levar em conta diferentes aspectos econômicos, sociais, culturais e políticos.
Há que se considerar esses aspectos todos a fim de que entendamos as peculiaridades inerentes à família burguesa e seus problemas ao longo do século XIX.
A família de cultura burguesa e os papéis de seus componentes
Examinemos mais de perto essa família burguesa do século XIX. Vamos nos valer dos ensinos de Peter Gay (2002):
Segundo a cultura burguesa, a família devia ser considerada o motivo principal da busca do sucesso material. (…) Portanto, os burgueses convenciam-se de que ganhar dinheiro, fazer discursos, escrever artigos, disputar eleições ou apresentar-se em concertos eram atividades a que se entregavam a fim de ganhar o pão de cada dia devido à responsabilidade de proporcionar á esposa e filhos uma vida tão tranquila e próspera quanto possível.
GAY, p. 64
Observemos nesta citação a ênfase burguesa motivadora de qualquer esforço de trabalho: a manutenção, “tão tranquila e próspera quanto possível”, dos membros da família.Duas coisas aqui precisam ser destacadas: a questão econômica como fundamento da felicidade familiar e o novo status dos seus respectivos membros, a “esposa” e os “filhos”.
Em primeiro lugar, observamos que a sociedade capitalista que se estabeleceu com o surgimento da burguesia assumiu como valor maior de sua existência o êxito material do ser humano. Entenda-se esse êxito como a capacidade de multiplicação da riqueza pelo investimento do capital em combinação com o trabalho e a produção da mercadoria. Os ganhos da burguesia possibilitaram um quase ilimitado arco de possibilidades da fruição material, o que foi identificado como a realização da felicidade. A mentalidade burguesa baseada nessa equação generalizou-se, como vimos na aula anterior, estabelecendo-se uma cultura geral burguesa que cooptou, dentre outras instituições, a família, particularmente a de classe média.Assim, propiciar conforto à família e condições materiais de vida compatíveis com os sonhos burgueses tornou-se o ideal a ser buscado pelos provedores e cobrados pelos demais membros, quais sejam, esposa e filhos.Educação, lazer, cuidado pessoal de saúde e de higiene e cosmética, vestuário, despesas com atividades culturais, tornaram-se um amplo e caro conjunto a ser atendido por uma classe social de possibilidades limitadas pelo valor de seus ganhos, desde as rendas e lucros de profissionais liberais, funcionários graduados do governo, dos médios e pequenos negociantes até os diferentes níveis do trabalho assalariado. A família vitoriana estabeleceu-se medindo sua qualidade e felicidade no consumo de bens e serviços. O “pão de cada dia” transformara-se em uma lista de exigências do ser burguês.
Em segundo lugar, o marido/pai, a esposa/mãe e os filhos viram-se alcançados pelos temas caros ao iluminismo e ao liberalismo filosófico, que possibilitaram a eles a experimentação no âmbito individual daquilo que as revoluções burguesas dos séculos XVII e XVIII propuseram como agenda social e política: liberdade e igualdade. Os reflexos dessas bandeiras revolucionárias abriram novos espaços e a experimentação de novos hábitos para a mulher no âmbito da casa e também fora dela, assim como para os filhos, particularmente os jovens. Dessa forma, iniciou-se o processo de experimentação do trabalho fora de casa pela mulher da classe média, experiência essa conhecida pela classe operária desde o século XVII. Filhos entenderam que podiam contestar em alguma medida a imposição das ideias e vontades de seus pais para suas vidas e seu futuro. Alguns deles tentavam se iniciar nas carreiras artísticas – literatura, teatro, por exemplo – ao invés de seguir a orientação paterna de buscar o trabalho considerado “digno” e que dava seguro retorno material.
Isso não quer dizer que ao longo do século XIX romperam-se os laços do velho patriarcalismo no Ocidente. Abriram-se, isto sim, novos campos de contradição, conflitos resultantes do interesse do capital. Concorreram para isso a manutenção da ordem masculina mandante, indispensável para o funcionamento considerado “racional” da máquina burguesa, e os ideais de igualdade e liberdade defendidos pelos iluministas, pais do liberalismo filosófico e político
MODELO DE FAMÍLIA BURGUESA COMO EXPRESSAO DE ORDEM SOCIAL!!!
A família dos sonhos da sociedade burguesa foi construída para ser modelar. Ou seja, ela se concebeu como instituição ideal, ambiente de harmonia, comprometimento e lealdade que, sendo a base social, poderia ser transferida enquanto modelo para as demais instituições e mesmo para o próprio Estado.
apeculiaridade da família como espaço e ambiente gerador das condições ideais de convívio para todos os seus componentes.
Podemos afirmar que…
Evidentemente, a instituição moderna chamada “família” sempre esteve à mercê das contradições inerentes ao gênero humano, de seres tão complexos biologicamente e marcados indelevelmente pela cultura de seu tempo. No entanto, o que se está destacando aqui é a contradição dos novos papéis familiares em função dos antigos, com o resultante conflito irresolvível: a família que deveria ser o modelo de harmonia e perfeição das instituições, guardiã da moral e dos bons costumes de uma sociedade evoluída, via-se a cada dia diante de suas próprias fragilidades.Na raiz desse complexo quadro familiar, o mesmo capitalismo explorador, que ao mesmo tempo precisava de elementos da velha ordem patriarcal e aristocrática, como a hierarquia e a disciplina, ao lado dos princípios que transformavam a sociedade dita burguesa em um conjunto diferenciado de consumidores.
Conclusao
a família burguesa não era a base, e sim a projeção de como deveriam se comportar e sentir homens e mulheres, no mundo governado pelo ideal do consumo.