Ciência e Religiosidade na Era Vitoriana Flashcards
O que é a Felicidade Ilusória defendida por Karl Marx?
Marx queria apontar para a necessidade de libertar o ser humano da “felicidade ilusória” – obra dos credos religiosos –, para o que ele chamava de “felicidade real….
As ciências físicas, biológicas e sociais atingiram na era vitoriana níveis de sofisticação extraordinários, pondo contra a parede os antigos e até então quase inquestionáveis dogmas do cristianismo. A frase dura de Marx resumia toda uma má vontade racional dos saberes científicos para com a religião ocidental.Pressão essa que se abateu sobre uma sociedade contraditória, costumeiramente fiel aos cânones do cristianismo, mas certamente disposta a encaminharnovas formas de encarar a vida sem a ajuda dos elementos chamados popularmente de sobrenaturais.
A avalanche do conhecimento científico: Darwin, Marx e Freud
O século XIX resulta em um tempo de avanços científicos significativos, que tem relação com o desenvolvimento de novas mercadorias e materiais, bem como com a necessidade de se justificar – ou criticar – tal expansão industrial…
Embora se possa citar inúmeros grandes cientistas e pesquisadores do período, talvez não haja nomes mais significativos para a ciência do Ocidente quanto o trio Charles Darwin (1809-1882), Karl Marx (1818-1883) e Sigmund Freud (1856-1939).
Charles Darwin
foi o responsável em desenvolver estudos sobre as origens das espécies e a compor a “Teoria da Evolução”. Esse conjunto de conhecimentos, que em última instância propunha a existência de processos naturais para o surgimento e a transformação da vida, chocou-se diretamente com as crenças cristãs baseadas na Bíblia a respeito de um ser divino criador do universo e de todos os seres vivos
Karl Marx
pensador alemão, por sua vez, ao propor o materialismo dialético para explicar as transformações históricas da sociedade, focou no ser humano a responsabilidade última e total pelas ações que transformaram a sociedade humana ao longo do tempo, No materialismo dialético, as divindades e os elementos de fora da história são barrados como explicações do mundo e da sociedade
Sigmund Freud
elaborou novas explicações para os problemas psicológicos do ser humano, atribuindo-os à complexidades internas do homem pouco conhecidas da medicina de então. Minimizou assim a questão da culpa e do pecado na existência humana, temas sempre presentes na teologia cristã, tanto católica quanto protestante.
Quais foram as contribuições desses 3 pensadores para a sociedade?
As contribuições desses três pesquisadores à ciência moderna foram de fundamental importância para a transformação do século XIX em um tempo de proeminência do saber científico e racional sobre qualquer outro tipo de explicação religiosa. O conjunto de ciência e saberes finos elaborado no século XIX gerou grande ceticismo religioso e promoveu o aumento do número de ateus e agnósticos, particularmente na Europa, por tanto tempo o centro da religião cristã, sede do catolicismo e berço da Reforma protestante.
a obra desses três cientistas caiu como uma avalanche sobre as convicções religiosas, provocando uma enorme reação de padres, pastores e teólogos na Europa e nos Estados Unidos. E apesar da atitude defensiva que tomou, a própria religião jamais foi a mesma depois desses três cientistas. Reelaborações vieram, no sentido de readequar as religiões ao novo tempo ou de preparar apologeticamente as comunidades religiosas do Ocidente para novas batalhas contra o pensamento científico.
A crise da religião no catolicismo e no protestantismo
Não somente o protestantismo mas também a religião católica sofreu os impactos da modernidade
No catolicismo, novas devoções surgiram, como forma de manter a fé atraente às velhas e novas gerações de fiéis e de resistir ao racionalismo proveniente dos países de fala inglesa e germânica.Devoções como a do “Sagrado Coração de Jesus”, voltadas para a classe média, buscavam filiar seguidores apelando romanticamente para o aspecto sacrificial da vida religiosa. Tais religiosidades não desejavam um choque direto com a mente científica, mas buscavam o resgate da fé cristã e a manutenção de sua influência sobre as famílias
Os protestantes
Ciência e Religiosidade na Era Vitoriana
Examinar a questão do progresso científico e da religiosidade no século XIX. Entender as tensões e correspondências entre ciência e religião no âmbito da sociedade burguesa e da expansão do capital.
Introdução
A famosa e controversa frase do cientista social, economista e filósofo KarlMarx– “A religião é o ópio do povo” – talvez seja uma das mais conhecidas e repetidas afirmações da história humana. Ela se encontra na obraCrítica da filosofia do Direito de Hegel, publicada em 1844. Com ela,Marx queria apontar para a necessidade de libertar o ser humano da “felicidade ilusória” – obra dos credos religiosos –, para o que ele chamava de “felicidade real”. Embora filho de judeus convertidos ao luteranismo, Marx tornou-se ateu em sua juventude e acabou por realizar a melhor crítica da religião feita pelas ciências humanas, por volta da metade do século XIX.
A crítica de Marxacontece em um contexto extremamente problemático para a religião no Ocidente, particularmente para a cristã em suas duas vertentes mais importantes, o catolicismo e o protestantismo.As ciências físicas, biológicas e sociais atingiram na era vitoriana níveis de sofisticação extraordinários, pondo contra a parede os antigos e até então quase inquestionáveis dogmas do cristianismo. A frase dura de Marx resumia toda uma má vontade racional dos saberes científicos para com a religião ocidental.Pressão essa que se abateu sobre uma sociedade contraditória, costumeiramente fiel aos cânones do cristianismo, mas certamente disposta a encaminharnovas formas de encarar a vida sem a ajuda dos elementos chamados popularmente de sobrenaturais.
A presente aula se propõe a examinar os conflitos da ciência com as diferentes religiões professadas na Europa e nos Estados Unidos ao tempo de Marx e de outros cientistas críticos. Reconhecemos que tais conflitos se expunham à luz dos interesses da burguesia e da necessidade que o capitalismo tinha tanto da religião quanto da tecnologia resultante da ciência.
A avalanche do conhecimento científico: Darwin, Marx e Freud
O século XIX resulta em um tempo de avanços científicos significativos, que tem relação com o desenvolvimento de novas mercadorias e materiais, bem como com a necessidade de se justificar – ou criticar – tal expansão industrial. Renato Ortiz (1991) lembra, usando literalmente as palavras de Bertrand Gille, que “o progresso econômico passa necessariamente pelo progresso técnico” (GILLE apud ORTIZ, p. 28). A tecnologia, por sua vez, baseia-se no refinamento do conhecimento científico em todos os campos do saber. O século XIX contemplou essas possibilidades todas dentro desse quadro de expectativas econômicas.
Embora se possa citar inúmeros grandes cientistas e pesquisadores do período, talvez não haja nomes mais significativos para a ciência do Ocidente quanto o trio Charles Darwin (1809-1882), Karl Marx (1818-1883) e Sigmund Freud (1856-1939).O primeiro, inglês, foi o responsável em desenvolver estudos sobre as origens das espécies e a compor a “Teoria da Evolução”. Esse conjunto de conhecimentos, que em última instância propunha a existência de processos naturais para o surgimento e a transformação da vida, chocou-se diretamente com as crenças cristãs baseadas na Bíblia a respeito de um ser divino criador do universo e de todos os seres vivos. Marx,pensador alemão, por sua vez, ao propor o materialismo dialético para explicar as transformações históricas da sociedade, focou no ser humano a responsabilidade última e total pelas ações que transformaram a sociedade humana ao longo do tempo, No materialismo dialético, as divindades e os elementos de fora da história são barrados como explicações do mundo e da sociedade.Sigmund Freud,alemão como Marx,elaborou novas explicações para os problemas psicológicos do ser humano, atribuindo-os à complexidades internas do homem pouco conhecidas da medicina de então. Minimizou assim a questão da culpa e do pecado na existência humana, temas sempre presentes na teologia cristã, tanto católica quanto protestante.
As contribuições desses três pesquisadores à ciência moderna foram de fundamental importância para a transformação do século XIX em um tempo de proeminência do saber científico e racional sobre qualquer outro tipo de explicação religiosa. O conjunto de ciência e saberes finos elaborado no século XIX gerou grande ceticismo religioso e promoveu o aumento do número de ateus e agnósticos, particularmente na Europa, por tanto tempo o centro da religião cristã, sede do catolicismo e berço da Reforma protestante.
Como vemos, sem diretamente mover campanha contra as religiões,a obra desses três cientistas caiu como uma avalanche sobre as convicções religiosas, provocando uma enorme reação de padres, pastores e teólogos na Europa e nos Estados Unidos. E apesar da atitude defensiva que tomou, a própria religião jamais foi a mesma depois desses três cientistas. Reelaborações vieram, no sentido de readequar as religiões ao novo tempo ou de preparar apologeticamente as comunidades religiosas do Ocidente para novas batalhas contra o pensamento científico.
A crise da religião no catolicismo e no protestantismo
O teólogo Paul Tillich (1886-1965), alemão que se radicou nos Estados Unidos nos tempos do nazismo, escreveu em uma de suas principais obras –A era protestante– de como as religiões originárias da Reforma do século XVI trouxeram ao Ocidente uma influência cultural decisiva, que coincidiu com a ascensão do capitalismo e da sociedade burguesa. Mostra o teólogo como a partir do século XIX essa influência cultural foi cedendo à outros princípios filosóficos e políticos, perdendo o protestantismo o impacto social e político de anteriormente.
Não somente o protestantismo mas também a religião católica sofreu os impactos da modernidade.No catolicismo, em particular nos países onde essa religião era majoritária – caso da França, Portugal, Espanha, Itália –,novas devoções surgiram, como forma de manter a fé atraente às velhas e novas gerações de fiéis e de resistir ao racionalismo proveniente dos países de fala inglesa e germânica.Devoções como a do “Sagrado Coração de Jesus”, voltadas para a classe média, buscavam filiar seguidores apelando romanticamente para o aspecto sacrificial da vida religiosa. Tais religiosidades não desejavam um choque direto com a mente científica, mas buscavam o resgate da fé cristã e a manutenção de sua influência sobre as famílias.
Os protestantes, de uma maneira geral, por causa de suas origens modernas no século XVI, estiveram até o século XVIII mais afinados com os interesses burgueses na vida cotidiana e na cultura.Para os protestantes, a Bíblia era considerada a principal fonte de orientação moral e doutrinária, e sua influência em países como a Inglaterra do século XVII foi determinante para a vitória da classe burguesa e também para alimentar a esperança de melhores condições de vida para os pobres e excluídos.No século XIX, porém, com a contestação da veracidade da Bíblia e da validade de suas afirmações, estabeleceu-se um hiato entre o protestantismo e o desenvolvimento posterior da sociedade burguesa.
Boa parte das igrejas protestantes sentiram-se ameaçadas pelo discurso científico vitoriano. Nos Estados Unidos, por exemplo, o conservadorismo teológico protestante promoveu um discurso anticientífico, baseado na premissa de que a Bíblia seria, como palavra de Deus, um livro perfeito e infalível, pois escrito pelo próprio Deus ou ditado diretamente por ele aos seus escribas terrenos. Portanto, seus ensinos deveriam prevalecer, mesmo que viessem a ser negados pela ciência ou pela racionalidade moderna.
A ciência moderna à religião
Entre católicos e protestantes vitorianos, porém, surgiram tendências bastante diferentes, que procuraram incorporar as críticas da ciência moderna à religião. Indo além, tais líderes religiosos, particularmente teólogos e professores de teologia, passaram a propor uma autocrítica para o cristianismo, que incluísse uma revisão na maneira como a Bíblia era vista e entendida
liberalismo teológico,
aplicou os métodos literários e históricos para ler a Bíblia, procurando entendê-la de maneira menos mística. O liberalismo teológico, por causa desse procedimento autocrítico, foi duramente combatido pelos setores conservadores, tanto na igreja católica quanto nas diversas denominações protestantes. As principais resistências ao liberalismo teológico protestante nos Estados Unidos iniciaram em fins do século XIX um movimento de defesa da Bíblia que haveria de desaguar no fundamentalismo protestante do século XX
O contraponto de ciência e religião como necessidade burguesa
Estariam de fato a ciência e a religião em posição antagônica no século XIX?
a religião prosseguiu a sua marcha. Evidentemente, não morreu como elemento da cultura ocidental e como presença histórica e institucional. Os movimentos internos pelos quais o catolicismo e o protestantismo passaram reforçaram o discurso radical e defensivo mas também possibilitaram que as grandes religiões cristãs enxergassem a modernidade. Os temas contemporâneos entraram em definitivo em suas agendas teológicas e os discursos dos ministros religiosos passaram a incluir, cada vez mais frequentemente as temáticas do mundo moderno. Sem perder o tom fundamental da religião, que é a expressão da fé no divino.
Lembremos também que outras religiões e expressões de fé surgiram ao longo do século XIX nos diversos recantos do mundo ocidental. Fenômenos como o sincretismo – ou seja, a elaboração religiosa que se faz com elementos de diferentes religiões – tornaram-se frequentes, em particular na periferia do Ocidente, como no Brasil
Qual a relação entre o capitalismo e a religião?
o capitalismo jamais quis extirpar a religião da sociedade burguesa, pois a religião é um elemento importante no controle da sociedade e no estabelecimento dos hábitos desejados pelas classes dominantes.O fenômeno do século XIX aponta para uma necessária acomodação entre a religião e o saber científico no mundo burguês.
Particularmente a classe média viu-se colhida por esse grande conflito: o de ter de apurar seu cotidiano com base na religiosidade de seus membros, em meio a um discurso cada vez mais racional e pragmático promovido nas escolas e no ambiente de trabalho. Um choque inevitável e proposital, constituindo-se em mais um elemento contraditório produzido pelos valores burgueses, que em última instância eliminam a compreensão clara da realidade no cotidiano das classes submetidas a tais valores.
Conclusão
areligião e a ciência, no mundo vitoriano, puseram-se em franco conflito.
ideias da ciência agridem a religião e visam a sua destruição. É fato de queesses discursos de oposição entre ciência e fé religiosa são frequentes e seus respectivos defensores procuram mostrar a inviabilidade do convívio entre elas.
em perspectiva histórica, o discurso racional da ciência e o discurso sobrenatural da religião fazem parte do mesmo pacote da ideologia burguesa, que se consagrou no século XIX como o fundamento da cultura de uma época.Assim, o conflito da ciência e da religião é, no mundo burguês, necessário para a manutenção da ordem capitalista.Portanto, não antagônicos, se levarmos em conta o resultado final buscado pela burguesia real