Teoria Geral do Crime — Introdução Flashcards
Qual é o objetivo da Teoria Geral do Crime?
A compreensão dos elementos necessários à configuração do crime, bem como os pressupostos para a imposição da sanção penal.
O que é uma infração penal sob os enfoques formal e material?
Sob o enfoque formal, uma infração penal é aquilo que está rotulado em uma norma penal incriminadora.
Sob o enfoque material, é um comportamento humano que causa relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado.
Qual é o conceito analítico de infração penal?
O conceito analítico de infração penal é composto por fato típico, ilícito e culpável.
Quais são as espécies de infração penal e como se diferenciam?
As espécies de infração penal são o crime (delito) e a contravenção penal (crime anão, delito liliputiano ou crime vagabundo).
Elas se diferenciam apenas em natureza axiológica (de valor), onde condutas mais graves são etiquetadas como crimes e as menos lesivas como contravenções penais.
Cite dois exemplos de comportamentos que foram reclassificados de contravenção penal para crime.
Porte ilegal de arma foi contravenção penal até 1997, e fornecer bebida alcoólica para criança ou adolescente foi contravenção penal até 1990.
Ontologicamente, quais são as diferenças entre crime e contravenção penal?
Ontologicamente, crimes e contravenções penais são idênticos, não há diferença.
Como se diferenciam as penas privativas de liberdade impostas a crimes e a contravenções penais?
Crimes são punidos com penas mais severas, como reclusão ou detenção, enquanto contravenções penais são punidas com penas menos severas, como prisão simples.
É possível cumprir a pena de prisão simples em regime fechado?
Não, segundo o STF, não se pode cumprir a pena de prisão simples em regime fechado. No entanto, uma doutrina minoritária defende que isso é possível na hipótese de regressão de regime.
Qual é a espécie de ação penal utilizada para perseguir contravenções penais?
As contravenções penais são todas perseguidas mediante ação penal pública incondicionada.
Qual é a regra geral para a ação penal nos crimes e quais são as exceções?
Em regra, os crimes são processados mediante ação penal pública incondicionada. No entanto, podem ser de ação penal de iniciativa privada ou pública condicionada quando a lei dispuser em sentido contrário.
A tentativa de contravenção penal é punível?
Não, a tentativa de contravenção penal não é punível.
A lei penal brasileira pode ser aplicada a fatos praticados fora do território nacional?
Sim, é possível a aplicação da lei penal brasileira a fatos praticados fora do território nacional.
Em que situação a lei brasileira é aplicável a contravenções penais?
A lei brasileira é aplicável a contravenções penais somente quando praticadas no território nacional.
Qual é a competência para processar e julgar crimes segundo o art. 109 da CRFB/88?
O processo e julgamento de crimes serão de competência da Justiça Federal sempre que incidirem uma das hipóteses do art. 109 da CRFB/88, sendo residual a competência da Justiça Estadual.
Qual é a competência para processar e julgar contravenções penais?
As contravenções penais serão sempre de competência da Justiça Estadual, exceto nos casos de foro por prerrogativa de função, cabível quanto às condutas cometidas no exercício do cargo e em razão dele.
Qual é o limite de cumprimento da pena pelo cometimento de crime?
O cumprimento da pena pelo cometimento de crime não excederá os 40 anos.
Qual é a duração máxima da pena de prisão simples por contravenção penal?
A duração da pena de prisão simples não poderá ser superior a 5 anos.
Qual é o período de prova da sursis para crimes?
O período de prova da sursis para crimes é de 2 a 4 anos.
Qual é o período de prova da sursis para contravenções penais?
O período de prova da sursis para contravenções penais é de 1 a 3 anos.
É possível a imposição de prisão preventiva pela prática de contravenção penal?
Não.
É possível a imposição de prisão temporária pela prática de contravenção penal?
Não.
É possível o confido de bens que configurem produto de contravenção?
Não, somente é possível o confisco de bens que configurem produto de crime.
Qual é o efeito da ignorância ou errada compreensão da lei nas contravenções penais?
Nas contravenções penais, a ignorância ou a errada compreensão da lei, quando escusáveis, podem fazer com que a lei deixe de ser aplicada.
Qual é o efeito da ignorância ou errada compreensão da lei nos crimes?
Tratando-se de crime, o desconhecimento da lei é inescusável, podendo no máximo servir de atenuante.
Quem pode ser considerado sujeito ativo de uma infração penal?
O sujeito ativo de uma infração penal é a pessoa que pratica a infração, sendo qualquer pessoa física capaz de discernimento e autodeterminação, com 18 anos completos.
Quais são as 3 correntes doutrinárias sobre a possibilidade de pessoa jurídica figurar como sujeito ativo de um crime?
PJ não pode praticar crimes, sendo responsabilizada apenas administrativamente, tributariamente e civilmente.
PJ não pode praticar crimes, mas admite-se a responsabilidade penal jurídica quando há relação objetiva entre o fato típico e a empresa.
PJ pode cometer crimes ambientais e sofrer pena, sendo um ente autônomo e distinto dos seus membros, mas a responsabilização está associada à atuação de uma pessoa física com dolo ou culpa.
O que acontece se uma pessoa jurídica for dissolvida durante a apuração ou processo criminal?
Até o momento em que se dê a liquidação, a pessoa jurídica deve responder por suas obrigações, desde que a pena seja compatível.
Pode uma pessoa jurídica de direito público ser responsabilizada penalmente por delito ambiental?
Há divergência.
Alguns defendem que não pode sofrer punição criminal por diversos motivos, como a reprimenda constituir um ônus para a sociedade e o absurdo de o Estado aplicar pena em si mesmo.
Outros defendem a possibilidade, dado que a lei não excepcionou as pessoas jurídicas de direito público.
O STJ já admitiu a possibilidade de responsabilização penal no caso de sociedades de economia mista.
Como o crime se classifica quanto ao sujeito ativo? (3)
- Comum
- Próprio
- De mão própria
O que caracteriza um crime comum quanto ao sujeito ativo?
Um crime comum é caracterizado por não exigir qualidade ou condição especial do agente.
Exemplo: homicídio.
O que caracteriza um crime próprio quanto ao sujeito ativo?
Um crime próprio é caracterizado por exigir qualidade ou condição especial do agente.
Exemplo: peculato.
O que caracteriza um crime de mão própria quanto ao sujeito ativo?
Um crime de mão própria exige, além de qualidade ou condição especial do agente, que a execução do crime seja praticada exclusivamente por ele, sendo a conduta infungível.
Exemplo: falso testemunho.
Vítima e sujeito passivo são sinônimos?
Não, vítima e sujeito passivo não são sinônimos. É possível a existência de vítima que não seja sujeito passivo.
Quem pode ser considerado vítima?
Vítima pode ser uma pessoa ou um grupo de pessoas, físicas ou jurídicas, ou ainda entes abstratos, que sofrem intervenções em seus direitos, por ação ou omissão de terceiros, dela própria, ou por casos fortuitos ou de força maior.
Como a vítima se relaciona com o sujeito passivo quando há crime?
Havendo crime, sujeito passivo e vítima se reúnem na mesma pessoa.
Quais foram as 3 fases distintas da importância da vítima para o estudo da criminalidade?
Protagonismo: a vítima assumia o protagonismo no estudo do crime, sendo preponderante para a definição da forma como o delinquente seria apenado, durante a era da Justiça Privada.
Neutralidade: o Estado assumiu a regulamentação do crime, a vítima perdeu protagonismo, e a pena passou a ser uma garantia coletiva, superando a Justiça Privada.
Redescobrimento: entendeu-se fundamental o estudo da vítima e de seu comportamento para compreender o crime como um todo, observando a relação entre as consequências suportadas pela vítima e o crime praticado.
O que é a “cifra negra” ou “cifra oculta” no estudo da vítima?
A “cifra negra” ou “cifra oculta” é a parcela de delitos cometidos que não são comunicados pelas vítimas às autoridades responsáveis pela apuração.
Quais são as classificações de vítimas segundo Mendelsohn?
Vítimas ideais, vítimas por ignorância, vítimas provocadoras, vítimas agressoras.
O que são vítimas ideais segundo Mendelsohn?
Vítimas ideais são aquelas que não têm nenhuma vinculação com a ação delitiva.
O que são vítimas por ignorância segundo Mendelsohn?
Vítimas por ignorância são aquelas menos culpadas que o delinquente.
O que são vítimas provocadoras segundo Mendelsohn?
Vítimas provocadoras são aquelas tão culpadas quanto o delinquente.
O que são vítimas agressoras segundo Mendelsohn?
Vítimas agressoras são aquelas únicas culpadas por estarem em tal situação.
Quais são as classificações de vítimas segundo Jimenez de Asúa?
Indiferentes, indefinidas ou indeterminadas, determinadas.
O que são vítimas indiferentes segundo Jimenez de Asúa?
Vítimas indiferentes são aquelas não definidas anteriormente pelo autor do crime.
O que são vítimas indefinidas ou indeterminadas segundo Jimenez de Asúa?
Vítimas indefinidas ou indeterminadas são aquelas que sofrem, de maneira absolutamente genérica, todos os tipos de agressões da sociedade moderna, do desenvolvimento e do progresso científico, como em casos de terrorismo e crimes cibernéticos.
O que são vítimas determinadas segundo Jimenez de Asúa?
Vítimas determinadas são aquelas atingidas pelo delinquente que visava ao cometimento do delito especificamente contra elas.
Quais são as classificações de vítimas falsas e reais segundo Guglielmo Gulotta?
Falsas: simuladas, imaginárias.
Reais: fungíveis (inteiramente inocentes ou vítimas ideais), acidentais, indiscriminadas, infungíveis, imprudentes, alternativas, provocadoras, voluntárias.
O que são vítimas falsas segundo Guglielmo Gulotta?
Vítimas falsas são divididas em simuladas, que atuam conscientemente ao provocar o movimento da máquina judiciária, e imaginárias, que erroneamente acreditam ter sido objeto de uma agressão criminal.
O que são vítimas reais fungíveis segundo Guglielmo Gulotta?
Vítimas reais fungíveis (inteiramente inocentes ou vítimas ideais) são aquelas que não intervêm para que se desencadeie o fato delitivo.
O que são vítimas reais acidentais segundo Guglielmo Gulotta?
Vítimas reais acidentais são aquelas colocadas por azar no caminho dos delinquentes.
O que são vítimas reais indiscriminadas segundo Guglielmo Gulotta?
Vítimas reais indiscriminadas são aquelas que não se vinculam de nenhuma forma com o infrator.
O que são vítimas reais infungíveis segundo Guglielmo Gulotta?
Vítimas reais infungíveis são aquelas que desempenham certo papel na gênese do delito, sendo insubstituíveis na dinâmica criminal.
O que são vítimas reais imprudentes segundo Guglielmo Gulotta?
Vítimas reais imprudentes são aquelas que omitem as precauções mais elementares, facilitando a concretização de um crime.
O que são vítimas reais alternativas segundo Guglielmo Gulotta?
Vítimas reais alternativas são aquelas que deliberadamente se colocam em posição de ser vítimas ou vitimário, como em um duelo.
O que são vítimas reais provocadoras segundo Guglielmo Gulotta?
Vítimas reais provocadoras são aquelas que fazem surgir o delito, como represália ou vingança pela prévia intervenção da vítima, como no homicídio privilegiado pela injusta provocação da vítima.
O que são vítimas reais voluntárias segundo Guglielmo Gulotta?
Vítimas reais voluntárias são aquelas cujo delito é resultado da instigação da própria vítima ou de um pacto livremente assumido, como na eutanásia.
Quais são as classificações de vítimas segundo Elias Neuman?
Individuais, familiares, coletivas.
O que são vítimas individuais segundo Elias Neuman?
Vítimas individuais são todas as pessoas físicas que figuram no polo passivo de um crime.
O que são vítimas familiares segundo Elias Neuman?
Vítimas familiares são aquelas submetidas a maus-tratos e agressões produzidas no âmbito familiar ou doméstico.
O que são vítimas coletivas segundo Elias Neuman?
Vítimas coletivas são aquelas cuja lesão ou perigo se dá em relação a bens jurídicos cujo titular não é a pessoa física, como em crimes contra os consumidores e delitos contra o sistema financeiro.
O que é vitimização e quem é o vitimário?
Vitimização é a ação ou efeito de alguém se autovitimar ou vitimizar outrem.
Aquele que pratica um ato que faz surgir uma vítima é denominado vitimário. Em todas as situações de vitimização existe um vitimário e uma vítima, podendo ocorrer de ambas as condições figurarem numa única pessoa (e.g., autolesão).
Em quantas e quais situações a vítima pode colaborar com o deslinde do fato criminoso?
A vítima pode colaborar com o deslinde do fato criminoso em muitas oportunidades, atuando de forma imprudente, negligente ou se colocando em situação de risco (precipitação da vítima).
Quais são as 3 situações de vitimização?
Apenas o vitimário é o culpado.
A vítima é a única culpada, como no caso de suicídio não induzido, auxiliado ou instigado.
Há uma correlação de culpas entre o vitimário e a vítima, onde:
- a vítima é menos culpada que o vitimário, por exemplo, um turista estrangeiro que ingressa por curiosidade em um bairro perigoso e é assaltado.
- a vítima é tão culpada quanto o agressor, como em uma disputa de racha.
- a vítima é mais culpada que o agressor, como em um homicídio privilegiado.
Há isenção de pena em caso de concorrência de culpa entre vítima e vitimário?
Não, não há isenção de pena mesmo que a vítima haja com maior culpa que o vitimário, pois não existe compensação de culpas em Direito Penal.
Contudo, é de fundamental importância a análise do grau de culpa do vitimário para a fixação de sua pena.
O que é vitimização primária segundo Marwin Wolfgang?
Vitimização primária refere-se à vítima personalizada ou individual.
O que é vitimização secundária segundo Marwin Wolfgang?
Vitimização secundária refere-se geralmente a estabelecimentos comerciais, sendo a vítima impessoal, comercial e coletiva, mas não tão difusa a ponto de incluir a comunidade.
O que é vitimização terciária segundo Marwin Wolfgang?
Vitimização terciária refere-se a uma vitimização muito difusa que se estende à comunidade em geral.
O que é vitimização mútua segundo Marwin Wolfgang?
Vitimização mútua refere-se aos casos em que os participantes estão engajados em atos mutuamente consensuais.
O que é vitimização primária segundo outra classificação que não a de Marwin Wolfgang?
Vitimização primária é aquela que decorre direta e imediatamente da prática delitiva, como uma pessoa que sofre uma lesão corporal.
O que é vitimização secundária segundo outra classificação que não a de Marwin Wolfgang?
Vitimização secundária é o produto da equação que envolve as vítimas primárias e o Estado em face do exercício do controle formal. É o ônus que recai na vítima em decorrência da operação estatal para apuração e punição do crime, como ter que seguir a uma delegacia, aguardar para ser atendida, passar por exame de corpo de delito e prestar depoimento em juízo.
O que é vitimização terciária segundo outra classificação que não a de Marwin Wolfgang
Vitimização terciária é provocada pelo meio social, normalmente em decorrência da estigmatização trazida pelo tipo de crime, como no caso de vítimas de crimes contra a dignidade social.
O que é o sujeito passivo de uma infração penal e como ele se classifica?
O sujeito passivo de uma infração penal é a pessoa ou ente que sofre as consequências da infração penal. Pode ser uma pessoa física, jurídica, ou mesmo um ente indeterminado (coletividade, família etc.).
Classifica-se em:
- Constante (mediato, formal, geral ou genérico): o Estado, interessado na manutenção da paz pública e da ordem social.
- Eventual (imediato, material, particular ou acidental): o titular do interesse penalmente protegido, como uma pessoa física, jurídica ou coletividade sem personalidade jurídica.
O que caracteriza o sujeito passivo eventual e como ele pode ser classificado?
O sujeito passivo eventual é o titular do interesse penalmente protegido e pode ser classificado como:
- Comum: quando o tipo penal não exige qualidade ou condição especial do ofendido, como no crime de homicídio.
- Próprio: quando o tipo penal exige qualidade ou condição especial do ofendido, como no crime de infanticídio, onde o sujeito passivo só pode ser o nascente ou o neonato.
Como se classificam os crimes quando os sujeitos ativo e passivo são comuns ou próprios?
Quando os sujeitos ativo e passivo são comuns, os crimes são classificados como bicomuns. Quando são próprios, denominam-se bipróprios.
odem os animais ser vítimas de crimes segundo a doutrina atual?
mbora os animais sejam considerados bens para o Direito Civil e Penal, há correntes doutrinárias que questionam esse tratamento:
Teoria do bem-estar: sustenta a necessidade de um tratamento humanitário baseado na condição de seres sencientes dos animais.
Teoria abolicionista: defende que os animais são sujeitos de direitos no pleno alcance dessa expressão, resultando na impossibilidade de qualquer exploração pelo homem.
Há críticas a ambas as teorias e surgem propostas como o abolicionismo pragmático e a concepção de uma dignidade própria dos animais. No Brasil, o art. 225, § 1º, VII, da CF veda práticas cruéis contra animais, e há penas para maus tratos, com maior rigor quando se trata de animais domésticos.
Pode o homem ser, ao mesmo tempo, sujeito ativo e passivo do crime?
Não, pois ninguém pode ser responsabilizado por conduta que não excede sua esfera individual (princípio da alteridade).
No entanto, Rogério Greco sustenta que o crime de rixa é uma exceção.
O que é o objeto material do crime?
O objeto material do crime é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa.
É possível a existência de crime sem objeto material?
Sim, é possível em casos de delitos de mera conduta (e.g., reingresso de estrangeiro expulso) e em crimes omissivos puros (e.g., omissão de socorro).
Crimes formais podem ter ou não objeto material, enquanto crimes materiais sempre possuem objeto material, pois o resultado deve produzir-se sobre uma pessoa ou coisa.
O que caracteriza a ausência ou a impropriedade absoluta do objeto material no crime?
A ausência ou impropriedade absoluta do objeto material faz surgir a figura do crime impossível ou quase-crime, conforme previsto no art. 17 do CP.