Juliano Moreira Flashcards
Quais são as principais influências que motivaram Juliano Moreira?
- Emil Kraepelin
- Freud - A primeira vez que um artigo científico de Freud foi citado em conferência brasileira se deu em 1899, por meio de Juliano Moreira.
Como Juliano Moreira percebe a concepção de pessoa e as influências na construção da personalidade?
Juliano Moreira traz uma concepção totalmente embasada em construções sociais, ou seja, diretamente no contato com a cultura. Diferente de Freud, Moreira entende que a percepção de mundo do indivíduo se dá através da consciência, e da forma que este interage com o mundo, muito mais do que através de aspectos inconscientes e primitivos. Também trata da importância da educação para a construção da personalidade, e que falhas nesta podem favorecer o desenvolvimento de psicopatologias.
“A cultura está entre nós, sempre. É no campo da consciência que o mundo se faz e desfaz, é nesse universo da imagem, do som, da ação, da ideia.”
Como Juliano Moreira entrou em contato com as obras de Freud?
Como Juliano Moreira entrou em contato com as obras de Freud?
Resposta: Seu espírito aberto e inquieto não ignorou a psicanálise; tendo domínio do alemão, conhecia as obras de Freud e tinha uma avaliação crítica delas. Numa resenha em que elogiou o livro de Franco da Rocha, “O pansexualismo na doutrina de Freud” (1920), referiu que a Sociedade Brasileira de Neurologia vinha promovendo palestras de divulgação da psicanálise e comentou, com sua ironia peculiar, que esta era pouco conhecida no país porque “No Brasil, em geral os colegas, em obediência à lei do menor esforço, aguardam que as idéias e as doutrinas passem primeiro pelo filtro francês para que nos dignemos a olhá-las contra a luz.”
O que Juliano Moreira apresenta como concepção de pessoa e mundo?
Devido a sua formação médica para ele o desenvolvimento é predominantemente genético, sendo assim propõe que as doenças mentais eram causadas, sobretudo por fatores biológicos possíveis de serem observados através de uma perspectiva orgânica do indivíduo. Esse conceito não era bem aceito na sociedade da época, o Brasil ainda tinha marcas de uma sociedade imperial e escravocrata e estava em alta a discussão de que a mistura de raças era prejudicial para a formação de um país. Sendo assim ele tinha uma visão de mundo moderno, sua trajetória mostra o quanto Moreira era a frente de seu tempo abordando discussões relevantes para a construção de uma sociedade mais justa e capaz.
Qual a associação feita por Moreira e o resultado obtido do levantamento feito, no que diz respeito a mestiçagem?
Moreira associou a mestiçagem ao processomania e que o resultado do levantamento é que a mestiçagem não é um fator para a doença mental, e sim, a predisposição do indivíduo ao processo hereditário.
Para Juliano Moreira, de que forma a degenerescência, em sua visão a respeito dela, pode influenciar no desenvolvimento da paranóia?
Sendo a paranóia originária, pode-se dizer que a educação vivida pelo indivíduo possibilita o crescimento da autofilia, favorecendo-o de modo que, quando instituído, os conflitos com o meio social apresentam-se como os motivos do ponto em que o indivíduo paranóico, instavelmente equilibrado, atinge o desequilíbrio definitivo. Ele compreendia, então, que a real degeneração era “a leira preparada para o cultivo de todas as aberrações”, a partir da variação das influências do meio, da educação e de todo o revés ocasional que possibilite o desenvolvimento da doença.
Conceitue o termo degenerescência de Juliano Moreira.
Degenerescência: Este se baseava na crença de hereditariedade no que diz respeito à transmissão das enfermidades, contudo, extrapola isso ao determinar não só a transferência de pai para filho de determinadas intoxicações, moléstias ou distúrbios adquiridas ao longo da vida, mas o agravamento da doença ao longo dos descendentes até que a família fosse interrompida. Com isso, a degenerescência se estabelecia como “[…] baseada no pressuposto de que haveria progressiva degeneração mental conforme se sucedessem as gerações: nervosos gerariam neuróticos, que produziriam psicóticos, que gerariam idiotas ou imbecis, até a extinção da linhagem defeituosa”.
Explique o termo Mestiçagem desse autor.
Mestiçagem: O caráter social do conceito de hereditariedade faz o combate à mestiçagem aparecer sob uma roupagem de cientificidade. A mestiçagem será considerada negativa para a composição de uma sociedade civilizada em que os padrões de progresso não devem ser ameaçados pela geração de indivíduos suscetíveis de degeneração física e moral, consequência da união de raças diferentes, que ao se cruzarem os transmitem à descendência, formando raças mais fracas.
Porque Moreira afirma que a mestiçagem é um problema social relacionado com a herança genética?
Juliano Moreira afirmou que a degeneração deveria ser atrelada à educação e à saúde, sendo, assim, um problema social. Em consequência dessa perspectiva, Moreira limitou às unidades orgânicas individuais a carga de hereditariedade maléfica que, para ele, seriam expressões de um pathos mental universal que, se aqui se expressava de modo mais recorrente, poderia ser sanado via educação.
Assim, segundo o autor, os problemas relacionados à herança estariam ligados à “má qualidade das gentes que desde os tempos da primitiva colonização”, com suas “más condições de educação”, foram sendo incorporadas ao povo brasileiro. Sendo assim, o problema não estaria na raça, e os “defeitos da nossa população” não deveriam ser “atribuídos à mestiçagem”. Por essa razão, o trabalho de higienização não devia tomar como base “ridículos preconceitos de cores ou castas”, mas os costumes, a educação e a saúde da população.
Juliano vivia em um meio que aceitava o clima tropical e a relação de raças hierárquicas eram tidas como causas da degeneração. Qual a posição de Moreira sobre isso?
Moreira, em conjunto com Peixoto, desenvolveu uma tese na qual afirmando que os climas tropicais em si não dariam origem naturalmente a mais ou menos casos patológicos. A incidência de neurastenia e histeria no Brasil, por exemplo, não era diferente dos índices encontrados na Europa e na América do Sul. Afirmam sobre a importância de um meio social saudável e uma educação eficaz na prevenção do possível aparecimento de doenças mentais.
“O clima não influi em nada sobre os sintomas de diversas psicoses. É no grau de instrução do indivíduo que reside a causa das diferenças que podem se apresentar.”
Descreva a participação de Juliano Moreira na luta contra as degenerações nervosas e mentais (ODA, 2001)
Em um congresso de medicina social, o conceito de degeneração tem que ser amplo, há de abranger até a noção de inadaptabilidade social dos indivíduos. Assim sendo apanha um maior número de casos capazes de serem atingidos pelas medidas de profilaxia susceptíveis de salvaguardar a melhor higiene mental dos povos, sendo as infecções e as intoxicações os maiores fatores deseugenéticos da humanidade e, portanto os maiores inimigos da saúde mental, a providência dos órgãos prepostos a garantir a eficiência da higiene geral do nosso povo tem que confiar a diminuição crescente das cifras das estatísticas das doenças mentais.
As ideias de Juliano Moreira mudaram totalmente a psiquiatria depois do século XIX, tanto os conhecimentos quanto as práticas, qual o motivo dessa mudança e como ele passou a compreender a patologia?
As ideias de Juliano Moreira mudaram totalmente a psiquiatria depois do século XIX, tanto os conhecimentos quanto as práticas, e principalmente a partir do surgimento do conceito de anormal como uma forma de psicopatologia. Que fez a psiquiatria englobar não apenas as doenças mentais propriamente ditas, mas tudo que desvia do comportamento normal, como o dos degenerados, epiléticos, criminosos, sifilíticos e alcoólatras. Para Moreira dizia que a patologia aparece tanto de forma primitiva, quanto de forma secundaria como escoriações, ou outras afecções cutâneas como sarna etc.
Como funcionava a intervenção terapêutica de Moreira, que qual sua contribuição na época?
Juliano Moreira foi, efetivamente, entre nós, o homem piedoso e compadecido médico dos loucos, o homem que afetuosamente sorria à aproximação dos insanos, realizando, desde o primeiro momento, a sua espontânea terapêutica pelo afeto. Ouvia os delírios dos loucos com redobrada paciência, ternura e desvelada consideração escutando as queixas dos melancólicos e as exaltadas narrativas dos agitados. (EL-BAINY, p.6, 2007)
Juliano Moreira e Franco da Rocha implantam um sistema de assistência que ultrapassa os limites da psiquiatria do século XIX. Não se resume mais em apenas assistir o louco no espaço asilar do hospício, mas procura ser o mais amplo possível tentando criar novas formas de assistência para abranger todos os indivíduos, loucos propriamente ditos, os que podem se tornar loucos, ou simplesmente anormais.
Mudança que gerou uma interrupção na prática psiquiátrica. Uma divisão entre a prática baseada no princípio do isolamento no hospício, e o novo modelo proposto por eles, que comporta várias formas como as colônias agrícolas, o manicômio judiciário e a assistência familiar, além do próprio hospício. O novo princípio de hospício demonstra o afastamento do isolamento e a rejeição de medidas de repressão física, como as grades e os coletes de força que até então eram utilizados.
O novo sistema implica, portanto, uma intervenção da psiquiatria nos asilos e fora deles, e se apresenta como fundado no conhecimento científico, em nome do que institui colônias agrícolas para epiléticos e alcoólatras, manicômio judiciário para o criminoso louco, assistência familiar para os alienados que já estão em fase de reintegração na sociedade.
Moreira (1931) que diz que os crimes, na maioria das vezes são expressões de anormalidades mentais, as quais merecem ser estudadas detalhadamente. O pedido de Juliano ao governo foi aceito e houve a criação do primeiro Manicômio Judiciário, onde os psicopatas criminosos são observados e assistidos como doentes, em enfermarias brancas, e não em cárceres escuros. E por fim, cita sobre a assistência familiar, que junto com o hospício, torna a ação psiquiátrica difusa, ou seja, distribuída, e não mais centralizada num único espaço asilar. Em suma, Moreira cria uma série de modalidades e melhorias de assistência que variam de acordo com o grau de liberdade que o doente pode ter, e isso depende do grau de disciplina e de capacidade do paciente.
Moreira se alinhou às correntes que representavam a modernização teórica da psiquiatria e da prática asilar. Ao assumir o Hospício Nacional de Alienados promoveu algumas mudanças, tais como: instalação de laboratórios de anatomia patológica e de bioquímica no hospital; remodelação do corpo clínico, com entrada de psiquiatras/neurologistas e outros especialistas (de clínica médica, pediatria, oftalmologia, ginecologia e odontologia); a abolição do uso de coletes e camisas de força; a retirada de grades de ferro das janelas; a preocupação com a formação dos enfermeiros; o grande cuidado com os registros administrativos, estatísticos e clínicos, entre outros.
A Psiquiatria na época estabelecia uma relação direta entre as doenças mentais e a raça. Qual era a posição de Juliano frente a isto?
Desde a conclusão de seu curso Juliano Moreira busca provar que a questão racial não determinava as doenças. Juliano afirmava que deviam deixar os ridículos preconceitos de cores e castas e realizar um “trabalho de higienização mental dos povos”. Dizia que verdadeiros inimigos das degenerações nervosas seriam a ignorância, o alcoolismo, a sífilis, as verminoses, as condições sanitárias e educacionais.
Discorra sobre as fases pelas quais ocorrem a paranoia.
Existe, pois, um período antecedente de elaboração da paranóia, propriamente
dita; numa fórmula breve, aqui estão as etapas para tal fim.
1) Primitiva e originária autofilia - sentimento inato e fundamental da persona-
lidade - não corrigida e adaptada ao meio, ante incrementada pela educação
defeituosa: egocêntrica resultante.
2) Inadaptabilidade correspondente entre o indivíduo e o meio: interpretação
como hostilidade pessoal.
3) Reação contra o meio. Início das perturbações aparentes. Perseguição ativa
ou passiva, ou ativa-passiva, mas comumente.
