Intestinos - 2 Flashcards
Fator envolvido na gênese das DII:
Desregulação da imunidade da mucosa intestinal, que leva ao surgimento de um processo inflamatório espontâneo provavelmente direcionado contra os germes da microbiota fisiológica
Principal fator de risco para DII:
História familiar positiva (presente em 10-25% dos casos)
Epidemiologia das DII:
- Predominam em pessoas brancas, especialmente judeus
- 2 picos de incidência: 15-40 (principal) e 50-80 anos
- RCU predomina em homens e DC em mulheres
- Marcador genético: NOD2/CARD15 (fortemente associado à DC
Associação entre cigarro e DII:
O fumo protege contra a RCU mas está associado à DC
Associação entre AINE e DII:
Estas drogas podem causar reagudizações das DII e contribuem para o surgimento de doença refratária
Apendicectomia prévia versus DII:
Apendicectomia parece proteger contra RCU
Gastroenterite aguda versus DII:
Certas gastroenterites graves podem servir como estopim para desregulação da imunidade mucosa em indivíduos geneticamente predispostos
Características anatomopatológicas da RCU:
-Doença exclusiva do cólon
-Doença exclusiva da mucosa
-Acometimento ascendente, uniforme e contínuo (sem áreas de mucosa normal entremeadas)
-Em 40-50% dos casos se restringe à mucosa retal (proctite) ou atinge sigmoide (proctosigmoidite)
-30-40%: colite esquerda
-20-30%: pancolite (em alguns casos de pancolite, pode haver comprometimento do delgado distal»_space; ileíte de refluxo)
Obs.: em caso de terapia tópica com enemas de glicocorticoides, pode ocorrer RCU com reto intacto
Aspecto macroscópico das lesões da RCU:
-Desaparecimento do padrão vascular
-Hiperemia, edema, ulcerações/erosões, mucosa friável
-Pseudopólipos secundários ao processo inflamatório em alguns casos
-Mucosa pálida, atrófica (cronicidade)
Obs1.: com o tratamento, a recuperação começa pela extremidade proximal, sendo o reto o último segmento a apresentar melhora
Obs2.: na RCU de longa duração pode ocorrer displasia epitelial»_space; fator de risco para neoplasia
Aspecto radiográfico da RCU de longa duração:
- Perda das haustrações
- Espessamento da m. lisa com aspecto de “cano de chumbo”
Características anatomopatológicas da DC:
- Pode acometer qualquer parte do tubo digestivo (da boca ao ânus)
- Não acomete o TGI de maneira homogênea (pode haver alterações microscópicas à distância dos locais de alteração macroscópica
- Lesões salteadas
- Alterações inflamatórias tipicamente transmurais (pode complicar com estenoses de alças e formação de fístulas)
- 1/3 dos pacientes apresenta fístulas perianais (diferencia da RCU)
- Granulomas não caseosos em biópsias em até 30% dos casos
- Acometimento predominante em cavidade oral (em 5% dos casos)
- Invasão da serosa por tecido adiposo
Lesão inicial da DC:
Úlceras aftoides. Podem evoluir de duas maneiras:
1- extensão lateral de forma linear»_space; aspecto de “pedras de calçamento”
2- Aprofundamento através das camadas da parede intestinal (podendo formar fístulas para mesentério e órgãos vizinhos)
Locais mais acometidos pela DC:
Íleo distal e cólon ascendente
Manifestações clínicas da RCU:
-Episódios de diarreia invasiva (com sangue, muco e pus) intercalados por períodos assintomáticos. Pode estar acompanhada de febre.
-Em geral, início insidioso dos sintomas
-Tenesmo e cólicas abdominais baixas
-Anemia ferropriva (perda crônica de sangue)
-Hipoalbuminemia nas colites extensas (perda de proteína por exsudação a partir de um cólon inflamado)
Obs.: se tiver acometimento só de retossigmoide, as fezes podem estar endurecidas e haver constipação
Manifestações clínicas da DC:
- Diarreia crônica invasiva
- Dor abdominal
- Febre, anorexia e perda de peso
- Massa palpável em QID (pode ser uma alça edemaciada ou um abscesso intra-abdominal)
- Doença perianal
Obs.: o acometimento extenso e crônico do intestino delgado pode levar à síndrome disabsortiva grave»_space; desnutrição e debilidade crônica.
Complicações das DII:
- Sangramentos (hematoquesia é muito mais comum na RCU)
- Megacólon tóxico
- Estenoses
- Fístula
- Câncer
Como surge o megacólon tóxico:
Surge devido ao acometimento da camada muscular pelo processo inflamatório. Todo o cólon ou parte dele pode se dilatar (principalmente transverso e cólon direito)
Obs.: o megacólon tóxico deve ser tratado clinicamente de maneira intensiva. Ausência de resposta em 12-24 horas»_space; colectomia
Obs.: apesar de a protocolectomia ser curativa na RCU, ela não deve ser feita na vigência de um quadro franco de megacólon tóxico. Deve-se ressecar a área afetada (colectomia subtotal) com ileostomia terminal e fechamento à Hartmann do coto retal.
Obs.: na fase aguda de uma colite deve-se evitar o uso de antidiarreicos, pelo risco de causarem megacólon tóxico
Critérios diagnósticos do megacólon tóxico:
-Distensão colônica > 6 cm da radiografia Pelo menos 3 dos seguintes: -Febre > 38 -FC > 120 -Leucocitose com neutrofilia -Anemia Pelo menos 1 dos seguintes: -Desidratação -Alteração do nível de consciência -Distúrbios eletrolíticos -Hipotensão arterial Obs.: agentes que promovem hipomotilidade (codeína, anticolinérgicos) devem ser evitados
Quais as complicações do megacólon tóxico?
Perfuração e peritonite séptica
Estenoses nas DII:
Decorrem do comprometimento repetitivo e grave dos planos profundos da parede intestinal. Mais comuns na DC
-Sintomas de obstrução intestinal parcial
Fístulas nas DII:
As fístulas transmurais são típicas da DC. Podem resultar em massas inflamatórias e abscessos. Fístulas mais comuns: -Enteroentéricas -Enterovesicais -Enteromesentéricas -Enterocutâneas -Retovaginais -Fístulas e abscessos perianais
Obs.: a DC pode se apresentar inicialmente, em alguns casos, a partir de uma fístula enterocutânea no pós-operatório de apendicectomia (apendicite diagnosticada de forma errônea)
Câncer e RCU:
Essa complicação está associada a 2 fators:
- Extensão do acometimento da mucosa
- Duração da doença (> 8 anos)
- *A gravidade do episódio inicial não é fator de risco para o câncer de cólon
- O risco de CA de cólon é ainda maior quando há colangite esclerosante associada
- Colono e biópsias de vigilÂncia são feitas depois de 8 anos de RCU e repetidas a cada 1-2 anos.
- Se encontrar displasia > repetição do exame
- Displasia confirmada > colectomia
Câncer e DC:
DC também aumenta o risco de adenocarcinoma colorretal, porém a magnitude do risco não é tão acentuada como na RCU. A mesma conduta profilática (colono a cada 1-2 anos após 8 anos) é indicada
Gravidez e DII:
- A RCU em atividade tende a piorar durante o período gravídico.
- O uso de sulfassalazina e corticóides não está contraindicado
- Deve-se repor ácido fólico (a sulfassalazina interfere com a absorção desta substância)
Manifestações articulares das DII:
Presentes em 25% dos pacientes
-Oligoartrite periférica (principalmente grandes articulações de membros inferiores) > tem relação com a atividade da doença
-Espondilite anquilosante > não tem relação com a atividade da doença
Obs.: em geral a artrite é não deformante, com caráter migratório e o líquido sinovial mostra apenas processo inflamatório
Manifestações cutâneas das DII:
15% dos pacientes
- Eritema nodoso: tem relação com a atividade da doença
- Pioderma gangrenoso (mais comum na RCU): úlceras em geral indolores; não tem relação com a atividade da doença
- Úlceras aftosas orais
Manifestações oculares das DII:
5% dos pacientes
- Uveíte (não tem relação com a atividade da doença)
- Conjuntivite
- Episclerite
Manifestações hepáticas das DII:
Elevação das provas de função hepática > normalmente representam hepatite focal e esteatose hepática (lesões não progressivas).
Pode ocorrer condições inflamatórias das vias biliares:
-Pericolangite
-Colangite esclerosante: inflamação progressiva das vias biliares (extra e/ou intra-hepáticas) > obstrução biliar. Clínica: icterícia; episódios intermitentes de colangite. Transaminases e FA muito elevados. Diagnóstico por CPRE ou colangiografia trans-hepática. É o principal fator de risco para o surgimento de colangiocarcinoma
Manifestações renais das DII:
- Cálculos de oxalato de cálcio: má absorção > hiperoxalemia > hiperoxalúria > cálculos; É uma complicação da enterite de Crohn (acomete o delgado)
- Cálculos de ácido úrico
- Uropatia obstrutiva
Outras manifestações extra-intestinais das DII:
- Osteoporose/osteomalácia
- Retardo de crescimento em crianças
- Hipercoagulabilidade > TVP, TEP, AVC…
Diagnóstico da RCU:
- Retossigmoidoscopia com biópsias (comprometimento uniforme e contínuo com perda do padrão vascular da mucosa, friabilidade, ulcerações e pseudopólipos em casos avançados).
- Colonoscopia com biópsias: indicada em suspeita de doença grave (6 ou mais evacuações por dia), mas é contraindicada na suspeita de megacólon tóxico.
Diagnóstico da DC:
-Ileocolonoscopia com biópsias (comprometimento salteado, com úlceras aftosas que podem coalescer e dar o aspecto de pedras de calçamento).
Podem ser encontrados granulomas não caseosos no histopatológico.